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    — Desgraçados… — rosnou entre dentes cerrados, o ódio queimando em suas veias como fogo líquido.

    Diferente das outras entidades, não os via com desprezo, nem achava aquilo divertido como alguns de seus semelhantes faziam. Para o líder do principado, não passava de um incômodo irritante. Só… chato.

    Ele havia acabado de segurar com as mãos nuas uma rajada de chamas intensas — invocado com desespero pela pequena Karoline, que jurava que aquilo seria o suficiente para, ao menos, queimá-lo. Mas sequer foi necessário ativar uma defesa: as chamas estalaram nos seus dedos, envolveram seus braços, e se dissiparam como uma brisa morna ao toque de sua pele.

    — Estão zombando de mim!? — vociferou, seus olhos flamejando de fúria.

    O ar ainda dançava com brasas quando uma explosão de luzes cruzou o céu. Uma nova investida — agora, todos haviam sincronizado seus ataques, numa tentativa desesperada de detê-lo. Flechas de energia, lanças de éter… tudo convergia para o mesmo ponto.

    Se não fosse sua destreza demoníaca, aquele teria sido seu fim. Num giro, as asas negras se abriram com um baque seco, e seu corpo rodopiou no ar com uma agilidade inumana, escapando por um triz.

    Cada batida fazia o vento gemer.

    Aproveitou o impulso da evasiva e mergulhou em queda livre, cravando o punho no solo junto aos pés. O impacto reverberou pelo campo de batalha como um trovão. O chão rachou sob ele, ergueu poeira e desorientou os inimigos.

    — Droga! — gritou Karoline, protegendo o rosto do choque.

    Ela recuou, chutando o chão com raiva, mas não teve tempo de reagir.

    A sombra dele cresceu — longa, viva, faminta. E das trevas, ergueu-se uma gaiola de escuridão, feita de correntes que pareciam sussurrar blasfêmias. Estava cercada.

    Vou acabar com isso de vez! Rugia sua mente, tomada por um ímpeto final.

    Tlec!

    Mas então, um estalo. Um estiramento brusco na realidade. O tempo se retorceu como um pano úmido, e tudo foi… puxado para trás.

    Subitamente, estava no céu novamente. Mas o campo de batalha não havia regressado — e diante de si, estava Satoshi. O sangue escorria por seus lábios, e seu braço tremia, como se o esforço para conter a linha temporal tivesse custado mais do que ele podia pagar.

    — Vai mesmo enfrentar cinco exorcistas de uma vez? — disse, ofegante, com a voz quase quebrando.

    Ele… alterou o tempo? Não… ele…

    Antes que pudesse processar o que acontecera, a fumaça abaixo se agitou. passos abafados ecoaram. Ethan emergiu por entre as cinzas, tentando pegá-lo desprevenido. Um jato de água cortou o ar como uma lança, mirando seu flanco.

    Não conseguiu desviar. Ela arranhou sua pele diamantada, e ele fisgou de dor.

    — E vocês acham que me vençam com golpes tão superficiais? — a ferida se curava imediatamente, e quando cerrou os punhos, disparou uma onda de raios que cobriu toda a área…

    Aquela energia… imensa. Zuri ofegou, os olhos arregalados, reconhecendo uma presença ancestral. Por um breve instante, viu Jahiel nele — não em corpo, mas em essência. Era como se a própria máscara de poder que ele usava tivesse se desfeito por um segundo, revelando algo mais profundo, mais antigo… e infinitamente mais devastador.

    Engoliu seco, sentindo a espinha arrepiar.

    — Esse poder… — murmurou para si, erguendo um escudo que tremeluzia, forjado para resistir até mesmo ao fim dos tempos. — Ele ultrapassa… e muito aquele demônio. Mas… sinto menos agressividade. É como se ele não quisesse destruir… só existir.

    O escudo vibrou quando ondas de energia cortaram o ar ao redor. O nariz dela sangrava, mas manteve-se firme. Todos os outros estavam atrás dela, em silêncio — Ethan, Nataly, Karoline, Satoshi… paralisados, como se um único movimento pudesse ser fatal.

    Ele sorria.

    Não era deboche. Era melancolia. Um reconhecimento silencioso.

    — Uma celeste… — disse, com a voz baixa, rouca. — Você é uma das que eu deveria eliminar!

    Zuri avançou um passo.

    — Você…

    — Eu?

    — Quer me eliminar?

    — Quero te enfrentar. Sozinha.

    Ele caiu do céu como um cometa negro, abrindo uma cratera onde aterrissou. A aura — agora em espiral, viva, quase consciente — rechaçou as investidas combinadas de Nataly e Ethan, que tentaram a velha combinação de ar e fogo.

    As chamas sumiram, o vento foi consumido.

    — Não há por que mortes… se eu estou aqui para te matar, não é? — a olhou, e por um segundo, viu algo nos olhos dela.

    Lucidez. Uma verdade nua, crua, que nem mesmo os céus podiam esconder.

    — Verdade… — admitiu, com os olhos baixos. Então, ergueu a única mão que lhe restava, parando as intenções de todos. Com sua aura de líder. — Jura que não machucará mais ninguém?

    Houve um silêncio tenso. Todos recuaram. Medo. Angústia. A dúvida vibrava no ar como uma nota dissonante.

    — Eu? Por mim, sim. Eu não atacarei mais ninguém. Na verdade, nem acho que conseguiria enfrentar tantos exorcistas depois de te matar — Ele deu um passo à frente, casual, quase brincando. — Até eu sei os meus limites.

    — Como assim…?

    — Você matou Jahiel, não foi? Ehr… posso ser mais forte, tecnicamente… mas, em resistência? Sou só levemente mais durável que ela. E… — Girou o braço, e uma onda negra explodiu em todas as direções, afastando todos ao redor num círculo perfeito de trevas — sei que você não foi com tudo.

    — Como você sabe?

    — Pelas sequelas. — Sorriu de lado. — Você se subestimou. É normal… em humanos, os danos são maiores. E sabe por quê? Porque te falta confiança. Mesmo sendo tão fria a ponto de negligenciar a própria vida.

    Sua análise era precisa. Ele não era o mais poderoso dos príncipes, mas seu olhar atravessava intenções como lâminas. Lia a alma dos oponentes com a frieza de um velho general — cada gesto, cada silêncio, dizia mais que palavras.

    Nem parecia que, por trás daquela postura firme, se escondia uma alma sem amor próprio. Fraturada por dentro, mas ainda de pé.

    Ele se via nela, também.

    Zuri permaneceu imóvel, encarando o ser diante de si com olhos de mármore. O peso do mundo nas costas, a vida de todos atrás de si. Não disse nada, mas seu silêncio era uma promessa.

    — Zuri… — sussurrou Nataly atrás dela, com os olhos marejados, sentindo o corpo tremer.

    Não era medo do inimigo — era medo de perdê-la.

    Então o mundo quebrou.

    O cheiro era insuportável. Enxofre. Denso, quente, como uma ferida recém-aberta.

    Rasgões surgiram no céu, como feridas abertas na própria realidade. Portais se multiplicaram — bocas famintas vomitando monstros. Gritos. Rosnados. O chão tremia, como se o inferno estivesse batendo à porta.

    E ela nem se virou.

    Manteve os pés cravados no solo, o olhar fixo no ser à sua frente, como se o caos ao redor fosse apenas ruído.

    A coisa estava ficando feia.

    Mas o pior… o pior ainda estava por vir.

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