Capítulo 308 - Um estalar de dedos
— Não disse que ia acabar com sua lâmina? — A voz dela cortou o ar, entre risos abafados e uma aura flamejante que ondulava como se o próprio espaço estivesse em combustão.
As chamas não apenas queimavam – cantavam, giravam com fúria, celebrando a conquista árdua.
Seu ataque foi uma liberação pura de energia latente, capaz de apagar seres da existência. Quanto à lâmina?
Reduzida a algo menor que um quark.
— O que tem de importante aí? — apontando com o queixo para os destroços da lâmina, como cacos de vidro — Usava para manifestar sua técnica? Ou… fortificar?
Talvez esperasse vê-la em pânico. Talvez em choque.
Surpresa?
Não. A ruiva sorria.
Um sorriso torto lhe curvava os lábios – mais que deboche, havia algo de sádico ali. Encantador. Cruel.
Ela avançou um passo, olhos semicerrados, cheios de provocação.
O sorriso cada vez mais travesso. Malicioso. Quase desarmante.
— Na verdade… — girou o pulso com leveza, como quem desenha memórias no ar — Concentrava toda a minha técnica inata na ponta da lâmina. O fluxo se comprimindo ao longo dela… um desperdício, se quer saber. Às vezes perdia força. Nem sempre era eficaz. Um saco, né?
Os olhos da entidade se estreitaram. O sangue fervia.
— Então… — ergueu os ombros em um quase suspiro, como se aquele instante fosse banal — …agora eu posso fazer literalmente o que quiser. Não que antes eu não pudesse… mas te dar um desafio… foi, bem… fofo!
— Fofo? — a palavra ricocheteou na mente dela como uma punhalada envenenada.
O ódio explodiu num rugido. Veias saltaram sob a pele, vibrando com fúria.
— FOFO!?
Sua voz rasgou o ar, estilhaçando o silêncio como distorção dimensional. O chão tremeu. O céu vibrou.
Mas então…
Um estalo.
Simples. Sutil.
Como uma vela sufocada pelo vento, sua aura abissal recuou – puxada, apagada, engolida pelo nada.
— O quê…? — Arfou, o olhar perdido por um instante, tentando compreender o que acabara de acontecer.
Ela ergueu o braço com casualidade, como quem traça uma linha invisível no ar.
— Ehr… sabe — Agora soava quase doce, mas carregada de um sarcasmo sutil — eu não gosto de lutas assim. Detesto ser óbvia… Mas você é um demônio… então foi divertido enquanto durou…
Estalou a língua.
— Mas já deu, né?
Os dedos brilharam por um momento. Havia algo ali – profundo, despertando.
— O QUE VOCÊ FEZ, SUA VACA!?
— Tirei sua aura — respondeu, serena — Não só para manipular esse espaço… ou sua energia… mas você!
— Me… manipular? — Até tentou mover um dedo. Nada. As pernas, imóveis. Os dentes rangeram sob a pressão. Um suor frio escorreu. Não era medo.
Era humilhação.
A encarava com olhos semicerrados, o olhar curioso de quem observa uma criatura rara presa num frasco.
— Já sei…
Outro estalo.
— Gr…
Num segundo, uma explosão de luz espiritual e distorção. No outro…
Nada além de uma banana.
Amarela. Levemente manchada. Com uma aura constrangedoramente cômica.
Ela se aproximou com os olhos brilhando, os lábios e as pálpebras marcadas por finos rastros de sangue – um toque de guerra… de sua diversão inconsequente.
— Não consegui pensar em uma fruta rara o suficiente pra você… então… — pegou a banana, observando-a com um certo prazer — se ficasse de cabeça pra baixo… — começou a descascá-la, devagar, teatral — pareceria uma banana semi-aberta. De ponta-cabeça…
E então ela fez.
Girou a fruta, ergueu como um troféu.
Riu alto – debochada, triunfante.
Uma gargalhada que ecoou no vazio como um insulto.
— Piada pronta, né?
…Fazendo-a cair por terra, junto com a última migalha da sua dignidade.
É… era oficial.
Amai Shiraksa havia exorcizado uma entidade de nível realeza do submundo como se fosse… nada.
Um estalo, uma banana e uma piada de mal gosto – fim de jogo!
Seria trágico… se não fosse cômico.
Diferente do embate entre os exorcistas e o Solitário, que ainda rolava – e mais parecia uma peça teatral escrita às pressas por um roteirista bêbado.
No caso, eu.
Só drama.
Um inferno à parte para o casal. Porque ele não era apenas forte — parecia sempre um passo à frente.
Mesmo contra dois celestes.
Pegá-lo de surpresa? Esquece. Nem em sonho.
Seus golpes surgiam acima da luz – no máximo, dava tempo de um revidar.
Abaixo disso? Morte certa.
Ele atacava antes mesmo de pensar em atacar. O lag corria solto, como se o tempo estivesse sempre contra eles.
— Lutando de um jeito óbvio assim… — zombou. A voz arrastada, parecia tudo, menos veloz — Vocês não vão nem me acertar!
Sarcástico. Entediado.
Mas antes que o som morresse no ar, deixou escapar um sorriso.
E, num piscar de olhos, segurava a espada reluzente de Gabriel.
— Cê acha? — rosnou.
Quem ri por último… ri melhor.
A lâmina brilhou – parecia até sagrada, intensa.
Mas só por um instante.
Sendo convertida numa explosão luminescente brutal e descontrolada.
Um sonho lúcido que durou poucos segundos.
Era tudo o que dava pra usar.
E a besta… mal teve tempo de gritar.
Elizabeth já estava atrás dele.
Um baque seco. Um golpe curvo, certeiro, carregado de fúria e energia.
Ele teve que cravar os pés no chão para não ser lançado longe.
— Óbvio? — rosnou, olhos em chamas — Vou enfiar esse óbvio no seu cu!
Ela socou o chão com a palma aberta. O impacto ecoou como um terremoto.
Sua energia se espalhou como uma maré violenta.
Num piscar de olhos, o solo tremeu e um bloco inteiro de terra e concreto se ergueu, como se a cidade decidisse dar um salto.
Ele não podia ultrapassar a resistência do ar.
A pressão o travou — sendo lançado aos céus.
— Vai, amor!!!
O grito cortou o caos como uma ordem divina.
Era a deixa que precisava.
Aproveitou o momento.
Quase caiu – firmou os pés no último segundo.
Espero ficar semanas sem lutar depois disso! Pensou, cravando a decisão como uma promessa silenciosa.
Seu coração ansiava por um fim.
Um basta. Uma explosão que encerrasse tudo.
De sua mão, a esfera de luz começou a se formar – imensa, pulsante, viva.
Rangeu os dentes.
Veias saltaram em seu pescoço.
Os olhos turvaram, como se seu corpo inteiro fosse luz prestes a se romper.
E quando lançou…
Foi como ouvir bilhões de bombas atômicas explodindo ao mesmo tempo.
O estrondo foi avassalador – um rugido primordial que rasgou o céu.
A luz engoliu tudo.
E, no fim, uma mega explosão, com um raio tão vasto e assustador que parecia capaz de engolir continentes.
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