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    Alguns não conseguiam fingir. O peso do vazio, a falta de algo tão profundo e real, a dor da perda que nunca chegava.

    Por mais que tentassem, não conseguiam disfarçar a ausência de algo que se arrastava no peito, torturando-os. Como se o próprio ar se tornasse insuportável, tornando-se mais denso a cada respiração.

    Mas, em meio àquela neblina de desesperança – e sendo parte dela, carregando o próprio fardo às costas – surgiu Arthur.

    De uma nuvem de poeira – como se o próprio mundo tivesse se rasgado ao meio – ele apareceu. Suas vestes estavam rasgadas, ensanguentadas, mas sua postura deixava claro: não se importava com isso.

    Vazio… Vazio… Só ansiava por um fim àquilo.

    Pousou no meio de uma rodovia que mais parecia o cenário de uma guerra de proporções apocalípticas – nada de novo naquela trama. Carros amassados, fumaça ainda subindo dos destroços, sangue manchando o asfalto, corpos espalhados.

    — Isso já tá ficando chato…

    Estava sozinho. Sempre estivera. E sabia que, naquele lugar, em Regnum, sua solidão não cessaria.

    Era o único e, por mais que não quisesse, estava defendendo o que restava.

    Salvar pessoas. Um dia, esse fora seu dilema. Seria isso… ou o incômodo das bestas?

    Enfim, dilemas… Como os seres que o cercavam, criaturas deformadas e famintas, estavam em sua caçada, mas já não se importava. Não mais.

    Seus olhos passavam por elas como se fossem meros obstáculos.

    Obstáculos…

    Estava cansado deles. Já não os via como desafios, mas como ecos vazios de um mundo que insistira em impedi-lo de seguir.

    Seguir… nada mais era do que pisar em ovos e deixá-los para trás.

    Só queria uma coisa: concluir aquilo que lhe tirara tudo.

    Propósito. Vida. Amor.

    Mal sabia que teria…

    Não há paz, nem descanso, mas algo muito pior: sua escolha. E o preço.

    Quando estava prestes a avançar… naquele círculo sem sentido, como se o próprio céu tivesse se enfurecido com suas atitudes covardes e rebeldes, algo mudara.

    Do alto, caíra uma figura sobrenatural, em meio a raios surgidos do nada e à chuva – um anjo negro, que mais parecia um pesadelo do que uma criatura celestial.

    Sua queda foi devastadora. O impacto fez o chão tremer como se a cidade inteira estivesse prestes a sucumbir.

    Prédios desabaram como cartas de baralho. Poeira e escombros tomaram o ar, engolindo gritos e silêncio ao mesmo tempo.

    A tal figura se ergueu.

    Seu corpo, coberto por escamas verdes, refletia um brilho opaco, quase doentio, sob a luz fraca e moribunda do fim do dia.

    O breu que o envolvera, uma aura densa, viva e consciente, escorria de suas asas quebradas como uma chuva líquida de sombras, dissolvendo o que restava de concreto sob seus pés.

    E, de repente, abriu os olhos vermelhos…

    Ergueu-se com uma serenidade inquietante.

    Era Leviel, seguindo atrás de seu destino.

    Um demônio original? Huh? Sério? Que merda está acontecendo? O mundo está acabando!? Mas… já?

    Pensara, cerrando os punhos.

    A aura era tão opressiva que só então percebera a verdadeira imensidão do poder do rei.

    Fora como abrir os olhos depois de anos na escuridão – uma visão que, embora capaz de enxergar quilômetros à frente, precisava cruzar apenas dois… com um foco tão intenso que lhe tirava o ar.

    — O que quer comigo?

    Deduziu na hora. Só havia uma exorcista naquela região.

    — Você…

    Dissera o primeiro Rei a emanar completamente sua aura.

    O breu… estava em seu resplendor.

    — É você, o merdinha que queria vingança contra mim?

    — Lê… vi… el!?

    Cada sílaba fora uma faca, e a última se cravava direto em seu peito.

    Ele disparou. Se não fosse superior, o demônio não teria conseguido defender o golpe… mesmo com certo nervosismo.

    Forte… até demais…

    Tudo ao redor virara pó. O impacto, amplificado milhares de vezes, já havia devastado os lacaios há muito tempo. Fortificado pela sua jura e pacto.

    Agora, se aproximava de um auge que nunca alcançara antes.

    — Então foi você quem matou ela…

    — E o que ela era sua?

    A pergunta veio junto com o golpe – que o lançara ao horizonte.

    Mesmo com o peso de toneladas, ainda enfrentava um ser que era capaz de carregar o infinito nas costas.

    Mas até, o demônio rei, estava em certa desvantagem.

    Seu azar fora enfrentar um inimigo que nunca se contentava com o estágio anterior.

    Maldição… Maldição!

    A mente do rapaz pulsava em ódio.

    E já estava atrás dele. Cruzara milhares de quilômetros em menos de segundos.

    Novamente fora defendido. O demônio não era tolo; sentira que aquele oponente era forte – e a cada instante, mais e mais forte.

    Por isso, fortaleceu as escamas com um pulsar de seu breu… do braço livre.

    E com um golpe ainda mais potente, o afastou, dando passos para trás.

    — Minha vida!

    Babava, e a pressa em seu olhar era intensa. Mesmo raspando os pés e dedos no chão, parecia uma pantera faminta, focada em um único alvo.

    — Sua vida?

    Não houve pausa.

    Tempo suficiente para sorrir, recuando a resposta, e bater as palmas das mãos uma contra a outra.

    Fazendo… Do solo, erupções de água irromperam.

    — Deixe-me ver… o quão determinado você está para vingar a sua vida!

    Sua voz se perdeu nas ondas colossais que se ergueram, mas Arthur percebeu o ataque a tempo. Saltou.

    E no ar, invocou uma esfera colossal de fogo. Sua aura era intensa como uma tempestade, era como se Susanoo carregasse o ataque de sua irmã, Amaterasu.

    — Transmutatio materiae et status…

    Mais poderoso do que qualquer exorcista jamais fizera. A convergência de energia em chamas se condensou, e, de repente, um meteoro flamejante despencou dos céus.

    A explosão foi como a de uma bomba atômica. A água evaporou. O terreno foi completamente varrido do mapa.

    Pôde ser visto de todo o continente.

    O cenário foi tomado por uma densa fumaça negra, erguendo-se a mais de duzentos quilômetros de altura.

    A temperatura no perímetro atingiu mil graus, isolando ambos no epicentro de um verdadeiro inferno.

    O jovem então pousou.

    O solo, agora, era negro como terra vulcânica.

    Estava sem vestes, o ar escapava em suspiros quentes por entre seus lábios.

    — Vai me levar a sério ou não?

    À sua frente, a única coisa visível era um domo de escuridão.

    — Me diga seu nome!

    Disse, encarando-o de dentro.

    — Arthur…

    De repente, tal figura se despia das trevas que o haviam protegido. Por mais que o calor ainda pulsasse no ar como ondas invisíveis.

    Um sorriso torto surgiu em seus lábios.

    — Sua namorada quase me matou. E você, Arthur? Será que fará como ela… ou melhor?

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