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    Quando se moveu, a própria realidade pareceu estremecer. A Besta sentiu algo que nunca havia sentido em eras: impotência. Não física, mas existencial. Como se sua própria presença fosse um erro de cálculo num plano onde o inevitável havia finalmente chegado.

    Ela conheceu o ponto de não retorno.

    A aura que se desprendia de Masaru não era só opressiva – era antiética à lógica. Cada partícula vibrava com caos e ordem ao mesmo tempo, como um colapso de conceitos fundamentais.

    Não era apenas uma ameaça.

    Era um evento.

    Quando a distância entre eles caiu para menos de cinquenta metros, a informação deixou de existir naquele espaço. Nada se movia – nem fótons, nem pensamentos, nem tempo. Para quem assistisse de fora, a cena pareceria uma pintura parada, com contornos esmaecendo na borda da percepção. Mas por dentro… era agonia.

    A Besta flutuava na beira da insanidade. Sentia o tempo se distorcer, sua carne esticar e retrair, seus sentidos se curvarem em formas não-euclidianas.

    O quê…? Eu… já deveria tê-lo acertado!

    Pensou, com o terror de um predador que descobria ser presa.

    Suas mãos dianteiras emanavam trevas, pulsando, se expandindo como serpentes em busca de um alvo. As outras três, arqueadas para trás, estavam prontas para um ataque secundário, mas… nada funcionava.

    De repente, tudo muda.

    A gravidade entre seus pés e sua cabeça se tornou um campo de batalha. Forças de maré espirituais a distorceram como um fio de alma abissal, esticando-a como um espaguete cósmico. O horror só cessou quando sacrificou metade de sua mana negra, cortando sua própria essência para se libertar. Entre arfadas e trejeitos violentos, voltou a flutuar.

    Imponente. Furioso. Frustrado.

    — Sério?

    — Que que… diabo você é? Um deus? — várias vozes ecoaram de sua garganta.

    Masaru sorriu. Não era só um sorriso. Era um deboche.

    — Deus? — Abriu os braços, os olhos semi-cerrados como se escutasse uma piada infantil — Diabo? Um demônio me dando títulos tão irônicos? Que foi? Por que você não se moveu daí?

    — N-não me movi…?

    Seus olhos se arregalaram. Todos. Suas pupilas tremiam.

    — Que foi? Travou? — Masaru girava no ar como um ator em seu palco, braços estendidos, zombando — Por que não me ataca? Hein?

    — Te… atacar?

    — É… tenta. Me mostra o máximo que você pode! Mas… se não der certo… — ele inclinou o rosto, a expressão sádica se acentuando — Eu vou te matar da forma mais ridícula que eu puder!

    Desafio feito. E a entidade… travou. Não por medo, mas por incerteza. Procurou milhares de saídas mentais, mas todas levavam ao mesmo fim. Havia apenas uma brecha, uma chance… uma ilusão.

    O celeste seria tolo o suficiente?

    Ela teria que tentar.

    — Se quer isso!

    — Quero!

    Os olhos de Masaru cintilavam com puro desdém.

    Num rasgo de escuridão, a entidade voou aos céus, e entre seus dedos curvou o espaço.

    — Donum Abyssi: Transmutatio Daemonica Explosiva!

    Uma dádiva esquecida nos abismos.

    E então, toda a ilha se tornou instável. A matéria, transmutada, passou a responder como pólvora. Cada átomo, corrompido por trevas, tornou-se uma bomba espiritual. O ar colapsou. O vácuo gritou. E a explosão… foi muito além de uma supernova.

    Foi absoluta.

    Escuridão pura, mais quente do que o coração de mil estrelas. Trazendo uma camada negra a realidade, sem luz, sem perdão, sem universo.

    Silêncio.

    E dele… uma voz.

    — Boa, boa! — o celeste surgiu. Intacto. Nem poeira em sua roupa — Mas não vai me matar com truque barato. Transformar matéria em trevas explosiva? Sério?

    Ele estalou os dedos.

    — Se tiver calor… eu posso manipular. Reverter. Controlar energia negativa não é tão difícil…

    E a seu redor, arco íris, ondulav como energia. Havia, congelado o calor e revertido os efeitos, então, havia vazio em volta de um pedaço da existência.

    — Quê…?

    O olhar da Besta tremeu.

    Era oficial.

    Estava fodido.

    — Próximo? — Girou o pulso, como quem convida para uma segunda rodada de um jogo infantil.

    Mas a tal recuou num rasgo de trevas e, erguendo um único dedo, chamou o vendaval negro à ponta – um funil rugindo com vozes de constelações moribundas.

    Ele pode fazer o que quiser… mas posso levá-lo ao esgotamento! Eu tenho eras; ele, não!

    — Donum Abyssi: Flatus Vanus Alum!

    O golpe tomou forma como um uivo de lobos. Garras de vento rasgavam dimensões, puxando poeira estelar, luas errantes e até pulsares a milhares de anos-luz. A maré gravitacional prendeu tudo num torvelinho; era a própria entropia, libertada.

    Mas o ex exorcista piscou, entediado.

    — Ventos negros? Ehr… já vi isso…

    — Não são ventos, seu merda! — a Besta vociferou, voz múltipla — Isto é o SOPRO DO DEUS DO ABISMO!

    O turbilhão engoliu o vazio. A pressão esmagou a tessitura do espaço, curvando-o até estalar. Então o maldito ergueu dois dedos, cruzou-os e… inverteu a polaridade do nada. A tormenta comprimiu-se numa esfera luminosa do tamanho de uma bolinha de gude, pairando inofensiva entre os dedos dele.

    Com um simples peteleco, a luz expandiu-se num clarão branco – limpo, silencioso – que engoliu e anulou o ataque, devolvendo ao cosmo seu vácuo original.

    — Sério? — Soprou o dedo, como quem apaga poeira — Nunca te ocorreu que luz concentrada neutraliza trevas? Principalmente quando você me entrega tudo mastigado num único vetor… entidade de milhões de anos?

    A fazendo estremecer de humilhação.

    Impossível…

    Então sorriu – um sorriso feito de dentes e desespero.

    — Você está fazendo errado…

    — Ahn!? — o demônio rosnou, recuando meio passo, olhos flamejando.

    — Cê tá me dando tempo demais pra pensar — Cuspindo no vazio como um velho rabugento— Não tá lutando com a cabeça certa. Eu sou o inimigo a ser superado, lembra? Não me dê brechas… me force a pensar fora da caixa. Só aí… talvez… você consiga me matar.

    A entidade cerrou os olhos, múltiplos deles, em desconforto.

    — Como assim?

    — Você tá atacando, parando, analisando… — Arfou entediado — Só ataque, cacete! Você tem seis braços, deve ter três mentes aí, ou mais… dezenas de olhos e ainda tá lutando como se fosse um soldado comum?

    Ele deu uma risada seca e debochada.

    — Ou tá… distribuindo tarefas? Um pensa, outro ataca, outro defende? É isso? Tá operando igual call center espiritual? Pô, que decepção!

    Não respondeu de imediato. Estava ouvindo. Aprendendo ou tentando perceber a armadilha.

    — Eu vi. Você se regenerou na hora. Isso quer dizer que não tá limitado a um núcleo. Você é múltiplo. Você é fragmentado. Então por que… — Deu um passo à frente, flutuando no vácuo, saindo do vazio — …por que diabos tá me enfrentando como UM único ser? Que tédio. Eu não quero enfrentar um demônio.

    Abriu os braços, sorriso demoníaco no rosto.

    — Eu quero enfrentar a legião!

    A entidade congelou. Seus corpos vibraram por um instante, como se um segredo tivesse sido rasgado à força.

    — Le…gião? Como sabe…?

    — Eu sinto! — Apontou com o polegar para o peito — Tem várias auras negras aí dentro. Vocês são um coletivo. Uma massa. E ainda assim… estão me subestimando!

    Silêncio. Tenso. Gritante.

    — Tão me enfrentando com medo até demais… E o medo de vocês… é o que me mantém calmo.

    Ainda silêncio.

    — Mas, aviso. Se me entediar… eu não vou matar vocês como bons guerreiros. Não vai ter honra, nem glória!

    Ele estalou os ombros e o pescoço.

    — Eu vou apagar cada fragmento de vocês… um por um… enquanto recito piadas ruins de tiozão no churrasco. Piada de pavê, trocadilho de escola, meme ultrapassado. Entendeu? Vai ser um show de horrores cômico. Do tipo que me faz ter orgasmos de tédio!

    A aura ao redor da Legião tremulou.

    — E mais… cada morte vai ter uma finalização especial. “Finish Him!” estilo Mortal Kombat. Que tal? Eu congelo o mais azarado dentro de uma geladeira da Coonsul. Outro eu faço virar emoji de palhaço. Vocês escolhem!

    Gargalhou. Escancarado.

    — O que vai ser, Legião? Vão lutar como monstros… ou vão dançar como macacos de circo?

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