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    — Esse é… o poder dos meus antepassados… e de suas crenças!

    Bradou Mahmoud, a voz vibrando com a força das gerações esquecidas. Seus olhos ardiam como brasas ancestrais tomadas por um dourado.

    Num movimento seco, seus pés rasgaram o solo. O ar vibrou. Ele avançou — como um trovão antecipado pela luz. Agarrando o próprio ar com os lábios como se mordesse o invisível, girou o corpo, e desferiu um golpe direto no tórax da criatura.

    Enquanto Clavifer estivesse com ele, não haveria muralha, maldição ou abismo que lhe bloqueasse o caminho.

    O impacto reverberou como o estampido de uma estrela colapsando.

    A descarga elétrica explodiu do ponto de contato, quente o bastante para carbonizar a pele da besta, que recuou em reflexo, urrando com o braço inteiro trincado e os ossos chamuscando sob a carne.

    Foi então que sentiu.

    Como se uma lâmina etérea rasgasse seu braço esquerdo de dentro para fora. Vapores esbranquiçados saíam dos poros. Algo em si acelerava. Coração? Não… era mais.

    Era o despertar do pulso de seu sangue gelado.

    Ludex, senhor dos julgamentos, vertia sua justiça sagrada em cada raio. E quem fosse tocado, carregaria nas feridas o peso de todos os pecados cometidos — não apenas nesta vida, mas em todas.

    — Que habilidade é essa…? — rosnou a criatura, os olhos inflamados, mas de um prazer doentio, um brilho febril que cintilava entre as sombras, como se o caos da batalha o excitasse. Sentia o confronto escapar dos limites do previsível, e isso o alimentava — Veio como um golpe físico… mas feriu minha essência…

    Mal completou as palavras, e invocou sua dádiva: uma tempestade negra e flamejante, disparando do chão em forma de flechas incandescentes, como se a terra tivesse virado contra os paladinos da luz.

    Era uma manifestação simples, crua… mas eficaz. Cada flecha ardia como o choro de uma alma em desespero.

    Chamas negras crepitavam nas pontas prontas para incendiar e consumir.

    Mas o ataque não encontrou seu alvo.

    Já não estava ali.

    Seu manto dourado ondulava acima da cabeça do demônio. Gracioso. Uma brisa elétrica carregada de propósito.

    Ele se moveu com a leveza de Fulmen, senhora dos ventos, desaparecendo da mira a meros milímetros do golpe. Reapareceu atrás do inimigo, como o sussurro da morte que antecede a sentença.

    Então, com um único gesto, liberou um raio em sua forma mais pura, um trovão rasgando os céus para julgar.

    A luz explodiu.

    O mundo pareceu piscar.

    O chão tremeu sob o peso do impacto, e uma fenda se abriu sob os pés da criatura. Fumaça densa subiu em espirais, carregando o cheiro de rocha queimada.

    Fragmentos voaram como estilhaços.

    Mas a batalha… não se curvaria a dois golpes.

    O ser escapou — asqueroso, lascivo.

    Sua feição deformada pelo prazer, os lábios entreabertos num suspiro animalesco, como se a dor e a destruição o embriagassem.

    Caramba… eles estão em outro nível…

    Pensou Matteo, engolindo seco, o olhar fixo na dança à sua frente.

    Amai, por sua vez, sentiu a mudança. A calmaria caiu como um véu de chumbo, esmagando o ar. Não era paz, era o prenúncio. Aquilo estava chegando ao fim.

    Ela podia sentir as auras dos outros despertos se erguendo no horizonte, como fagulhas prestes a incendiar o céu… Mas havia mais.

    Duas outras presenças. Sombras que não haviam se envolvido.

    Não agressivas. Ou ocultas. Apenas… assistindo.

    Fortes.

    Tão poderosas quanto os inimigos que haviam enfrentado — talvez até mais.

    Mas o foco estava no presente, naquele combate onde o destino parecia prender a respiração.

    — Gradus V: Crucifixio, Crimen Parricidium! — bradou a entidade sombria, e sua voz reverberou como os sinos de um funeral, anunciando uma sentença irrevogável.

    No mesmo instante, a realidade estilhaçou.

    O mundo foi engolido por trevas absolutas, densas como óleo e sufocantes. Nem mesmo as almas aliadas ousavam pisar com firmeza, sentiam-se flutuando sobre o abismo.

    O solo fora subjugado por uma camada negra, espessa, viva… uma prisão feita de culpa e condenação.

    A crucificação começava.

    Atrás do ex-exorcista, ergueu-se um crucifixo colossal — feito de ferro negro.

    Correntes vivas serpentearam no ar, tilintando com ecos de um passado manchado.

    Cada elo, uma lembrança de culpa.

    Cada volta, uma sentença.

    Parricida.

    A mais vil das condenações. A tortura reservada àqueles que viraram a lâmina contra seu próprio sangue. A mesma que Niftar, o traído, sofreu pelas mãos dos homens.

    Estava prestes a ser julgado.

    Mas então… O encarou.

    E ela — a entidade — viu.

    Ele surgiu à sua frente. Como um pensamento que não pediu permissão para existir.

    Não houve intervalo.

    A realidade sequer teve tempo de registrar a transição.

    Sua mão atravessou o espaço como uma lâmina moldada por pura vontade.

    E então, rasgou o peito do ser, não como punho, mas como a lâmina que cortava a garganta de seu rei. O toque não era físico; era convicção condensada em um impacto perfurante.

    E com a fúria de Legatus, o estrategista da verdade absoluta, afundou os dedos no estômago da entidade.

    Sem hesitação.

    Sem misericórdia.

    — Acabou…

    Sussurrou, como quem decreta o fim de uma era.

    Trevas e sangue jorraram juntos. As sombras escorreram lentamente pelo corpo da entidade, pingando como pecado líquido da taça de tiranos, até formarem no chão uma poça.

    Fervente como óleo do inferno.

    A dor que se seguiu foi abissal.

    Como se um milhão de vulcões tivessem eclodido sob a pele da criatura, queimando nervos até sua consciência.

    Mas o ser… sorriu.

    Um sorriso rachado, insano, manchado de sangue e prazer.

    Suas trevas também ardiam.

    E ardiam com a mesma fúria.

    Como forças gêmeas de um mesmo caos, ambas se anularam em um colapso. O golpe perfeito… não o destruiu. Porque ele era feito da mesma ideia.

    — Você não é o único gênio aqui… — cuspiu, trêmulo, mas ainda vivo.

    Sangrando, ruindo… mas de pé. Os olhos brilhando com uma insanidade.

    Mahmoud respirou fundo, ajeitou o manto, ergueu uma sobrancelha com desdém.

    — É, tô vendo… Não sou o único ajudado pelo roteiro…

    Ambos recuaram quase ao mesmo tempo, como predadores que eram, mas ainda famintos. As sombras se alongaram entre eles, separando-os por poucos passos… e por séculos.

    Os olhos se encontraram.

    Não precisavam dizer nada.

    Mesmo que não tivesse terminado ali… terminaria no próximo movimento.

    Porque naquele silêncio, ambos sabiam… só um sairia de pé.

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