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    — Como você é tão retardado?!

    A voz do jovem ecoou. Sem hesitar, ele disparou uma rajada cinzenta, cortando o ar.

    A velocidade era absurda — tão além do humano que o obrigou a se contorcer, o corpo traçando um arco impossível apenas para escapar.

    Ainda assim, o cheiro metálico denunciou o inevitável… sangue.

    Escorria pelo braço como um aviso.

    A certeza de que havia sido atingido.

    A rajada o havia rasgado de raspão.

    Então… essa é a cor do ódio?

    Quase mordeu a própria língua ao sentir o gosto ferroso na boca.

    Não! não é simples raiva. É mais denso, mais amargo. É o luto, aquele sentimento que nasce quando o mundo arranca alguém que amamos.

    O tempo pareceu se arrastar, cada instante em câmera lenta, como se a própria realidade resistisse em deixá-lo sobreviver ao próximo golpe.

    Mas então, a dor veio antes da surpresa: os dedos dos pés, esmagados, perdidos em um instante.

    Outro exorcista surgiu, entrando na batalha. Um rapaz de pele parda, a cabeça raspada.

    — Isso não é uma luta um contra um — disse, e sua voz era calma, quase serena.

    Seus olhos permaneciam fechados, duas fendas seladas… mas enxergava além da matéria, através do véu do real.

    O braço dele se ergueu, na altura da face. Do punho até os ombros, a energia crepitava, faiscando como descarga elétrica que ameaçava romper o tecido de sua pele.

    — Que elemento usou? — perguntou 9 maldito, sem mover um músculo além da boca.

    — Ar! — respondeu, jogando os braços para trás.

    E então puxou algo invisível, como se dedos hábeis dedilhassem cordas suspensas no vazio. Linhas transparentes dançaram pelo espaço, traçando um balé.

    — Aliás… — a boca dele se curvou em um meio-sorriso — Você está dançando sem perceber os passos!

    No instante seguinte, a linha de ar atravessou o espaço como uma lâmina feita de vento comprimido. Ela agarrou o braço do ceifador e, num puxão seco, arrastou consigo a foice.

    O som de… ossos se rasgando, carne cedendo, o estalo seco de articulações quebradas.

    Mas seus olhos não piscaram. Seus lábios não gritaram.

    — Suffocatio!

    Somente esse sussurro, baixo e implacável, escapou.

    E o ar ao redor tremeu, como se até o próprio fôlego da realidade tivesse sido arrancado.

    — O… o que? — a voz quebrou em desespero.

    O braço dele caiu pesado aos pés, ainda latejando, enquanto o corpo inteiro do seu adversário entrava em colapso.

    O oxigênio desapareceu de sua mente… um vazio sufocante. Veias saltavam como raízes negras, serpenteando sob a pele; as mãos, trêmulas, arranharam a própria garganta numa busca inútil por ar que não existia.

    Seus olhos se perderam, as pupilas dilatando até não restar nada além de sombra.

    E, no instante em que a praga se converteu em um vulto indistinto, sua vida se esvaiu sem grito, sem despedida.

    Caiu duro. Um corpo sem alma, frio demais para ser lamentado, rápido demais para ser lembrado.

    Outros dois avançaram para tomar a posição.

    Um deles, um loiro de cabelos lisos que caíam até os ombros, como se tivesse sido banhado em ouro. O olhar dele era frio, e o jeito como segurava as emoções denunciava a experiência de quem já havia visto a morte de perto e a recebera sem pestanejar.

    Ao lado dele, uma jovem de pele morena, traços fortes e marcados, certeza… era indígena, assim como Jacir.

    Os olhos dela carregavam a firmeza das raízes que se prendem à terra, um brilho ancestral.

    Seu andar era silencioso, felino, e o ar ao redor dela se tornava mais pesado, como se a própria floresta que a moldara se inclinasse sobre o campo de batalha.

    O rapaz das cores mordeu o próprio lábio — o gosto amargo do sangue escorreu pela boca.

    Sua liberação trouxe dor, não alívio; um peso que parecia se acumular na espinha, queimando-o por dentro.

    E quando a mão do assassino prestes a alcançá-lo ergueu-se para agarrá-lo, algo — ou alguém — interceptou.

    Foi apenas um instante, mas suficiente para gelar-lhe o coração.

    — S-sério?

    Era como se estivesse diante de um espelho. Não um reflexo banal… mas um reflexo que respirava, que devolvia seu próprio olhar, carregando o mesmo caos no fundo das pupilas.

    — Essa técnica… — Recuando em passos curtos, os olhos dilatados, o peito arfando.

    Olhou ao redor.

    E lá estava ela.

    Uma garota pequena demais para ser chamada de adulta, as pernas balançando preguiçosas no alto de uma lápide. O olhar, entediado, como quem assiste a um teatro ruim.

    — Essa luta é tão desnecessária…

    Estalou os dedos, e o som reverberou como vidro sendo partido.

    De repente, estava cercado.

    Espelhos — infinitos, surgindo como se brotassem das próprias sombras, curvados em ângulos impossíveis.

    Cada reflexo não mostrava quem ele era, mas o que temia ser: versões suas dilaceradas, fracassadas, deformadas pelo peso da própria fraqueza. Rostos com olhos vazios, bocas costuradas pelo silêncio, corpos curvados como marionetes quebradas.

    E ali, entre todas aquelas imagens distorcidas, a verdade o atravessava como uma lâmina fria: não passava de uma pequena presa, tremendo dentro da gaiola de um predador maior.

    — Que foi? — a voz dela soou suave, quase melódica, mas carregada de um deboche venenoso. O estalar dos dedos foi a pá que o enterrou — Esqueceu que o seu counter natural estava aqui?

    — A-Anastásia Volkova… — quase gaguejou o nome, os olhos se cerrando como se a simples visão dela o ferisse. Um suspiro escapou-lhe dos lábios, misto de descrença e irritação — E sério que você vai tentar a sorte, pirralha?

    Os cabelos brancos dela deslizavam como seda até os dedos rosados, iluminados por um brilho sobrenatural.

    Era a visão dos demais, seu anjo Salvador.

    Eram quase hipnóticos, mas não mais do que aqueles olhos azuis — frios, como gelo — e a pele pálida, de um branco tão límpido que lembrava neve recém-caída.

    — Hihi… — Riu, leve, sem uma sombra de medo — Você que está tentando a sorte.

    Seus lábios se curvaram em um sorriso preguiçoso, mas nos olhos havia algo cruel, uma malícia que se alimentava do desespero dele.

    — É tão irônico você estar preso dentro da minha expansão de energia…

    — Usou um pacto ou uma jura para me prender, e se acha foda?

    Rosnou, cuspindo as palavras, o suor frio descendo pela têmpora.

    — Pacto? Ah, não… não, não… — ela novamente estalou os dedos, e o som reverberou como o tilintar de mil vidros trincando ao mesmo tempo — Você não sabe? — inclinou a cabeça, e seus cabelos brancos balançaram como se seguissem um ritmo próprio — Mas a minha técnica inata não possui barreiras. Não preciso criar um espaço intercessivo. Você… simplesmente acabou preso. Igual a um ratinho… Dentro da minha sala de espelhos demoníacos!

    O ceifador estava preso.

    E, no meio desse labirinto de vidro, a voz dela ecoava, irritante, perfurando sua mente até parecer que vinha de dentro da própria cabeça.

    — Agora me diz… — o timbre suave, quase infantil, arrastava cada sílaba, tornando-a insuportavelmente lenta — Qual será o seu futuro, hein, ceifador? Pode escolher um espelho.

    A ponta dos dedos dela roçou um dos vidros após descer dos galhos da árvore, e a superfície tremeu como água.

    Dentro dele, uma versão dele mesmo jazia ajoelhada, ensanguentada, implorando por um ar que nunca chegava.

    Como sua vítima…

    — Será o seu futuro — Olhos azuis faiscando de prazer cruel — Após o fim… do meu domínio.

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