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    — Ehr… pirralha… você acha mesmo que está sob controle? — Não admitiu estar em apuros. Os olhos varreram o espaço em volta, onde a ameaça parecia se multiplicar em cada reflexo, ignorando o fato de que ali havia dezenas de maneiras possíveis de morrer.

    — E não estou? — retrucou, firme, mas com o coração martelando embaixo da pele. Os dedos dela se crispavam como garras — Me diga, o que pode fazer? — Seus olhos percorreram os rostos dos outros, que a observavam entre o medo e o alívio de alguém ousar enfrentar aquilo.

    Talvez, pensou, se sentissem mais seguros só de vê-la o desafiar.

    — Você já expandiu! — sua voz soou como um aviso, porém embebida de ironia — Não pode usar extensão dentro do domínio… além do mais, seus efeitos não se aplicam a alguém que não pode ver! — um sorriso torto atravessou seu rosto — Sou um Deus Ex Machina para você!

    — Então acha que se baseia só nisso? — Quase um sussurro, mas tinha algo de desesperado, um tremor escondido.

    — E o que mais pode fazer? — Perdeu a paciência, deixando a diplomacia de lado — Distortio! Ut imago tua te ipsum feriat!

    Ativou sua técnica expansiva — a arte profana de distorcer e projetar a própria distorção no mundo real.

    Os espelhos vibraram, suas imagens se retorceram, dissolvendo-se em manchas de luz e sombra. Não havia mais contornos, apenas reflexos que se estilhaçam em formas

    irreconhecíveis, como rostos derretendo num pesadelo.

    Como escapar?

    O pensamento veio como um grito silencioso. Fechou os olhos, tentando fugir do labirinto de reflexos que o esmagava.

    Talvez se eu desativar e ativar a expansão…

    Um lampejo de esperança…

    Não, não! O gasto seria alto demais. Com todos esses inimigos ainda vivos, só garantiria uma coisa… minha morte, lenta, sob uma das maldições!

    Seguido da rejeição imediata.

    Ele sabia o preço de invocar tal feitiço: era capaz de ceifar vidas inteiras, mas a cada uso sua própria face se afastava ainda mais da longevidade.

    E se eu forçar meu feitiço divino…

    A ideia se acendeu como uma faísca, mas mal teve tempo de tomar forma.

    Sua perna se retorceu de repente, dobrando-se num ângulo impossível, como se puxada para dentro de um funil invisível.

    O som dos ossos se partindo ecoou seco, e o mundo girou numa onda de dor nauseante. Sangue jorrou, escorrendo quente pela pele. Os músculos se contorceram, quebrando-se como vidro sob pressão.

    Um gemido escapou, rouco, embora mordesse a língua para não deixar a agonia dominá-lo.

    A dor não o desviou do pensamento. Não podia. Não agora.

    — Oh… não matou, né? — a voz dela vibrou, tão animada que se tornava um insulto — O que eu quebrei de você, hein?

    O entusiasmo era cruel, uma chama que crescia, suficiente para dar medo até mesmo em quem já havia visto o inferno de perto.

    Era como ele, divididos por uma linha tênue: a moral.

    Essa mesma moral que insistia em dar nomes aos bois.

    — Oi? — os lábios quase cuspiram as palavras, embebidos de prazer — Você… ainda tá vivo?

    Infelizmente…

    Ela pode distorcer meu corpo como num espelho, mas…

    O raciocínio surgiu.

    Ela não pode ver exatamente o que está afetando.

    Um sorriso ferido curvou seus lábios.

    Puta burra…

    Cruzando os dedos, inspirou fundo, o ar entrando nos pulmões.

    O suspiro não era rendição, mas um pacto silencioso consigo mesmo: a promessa de que ainda havia um truque escondido sob a sombra da dor.

    — Incantatio Divina: Angelus Mortis!

    A invocação veio rasgando o ar, acompanhada pelo estalo grotesco de seu braço sendo retorcido até nunca mais poder ser usado.

    O som seco de ossos quebrando se misturou a uma risada e a um grito de dor que ecoou como ferro raspando em pedra.

    A cada estalar de seus lábios, um espelho se acendia no vazio.

    E em cada um deles, o feitiço era refletido, multiplicado.

    Assim ela agia sem palavras e quase nenhum rastro do que fazia.

    — Oh… que azar — Escorreu como veneno — Parece que sua cabeça vai demorar para entender o que aconteceu! Me fala, como é a sensação?

    O sarcasmo se partiu no meio quando, de repente, uma lâmina brilhou à beira de sua visão. Instinto — mais do que razão — a fez se lançar para o lado, o coração batendo como um tambor de guerra.

    — Ehr…

    Era a própria Morte.

    Seu vulto emergia, envolto em uma capa preta que parecia engolir a luz, a foice curvada descendo em arco, cravando-se contra a muralha invisível do domínio.

    O impacto retumbou, como se duas forças iguais tivessem colidido, enchendo o ar com um tilintar que lembrava mil sinos rachados.

    Então ele usou… a técnica máxima?

    Ela se adiantou.

    Não era a mais rápida, não diante dele.

    Mas era o suficiente para sobreviver.

    Seu olhar acompanhou, assombrado, a lâmina da foice rasgar o solo e reduzir a cinzas a árvore que ali existia segundos antes.

    — Você é um saco, sabia? — arfou, o suor frio escorrendo pela têmpora.

    Mas logo o sarcasmo morreu na boca.

    O ser de capa preta ergueu o olhar. De seu corpo, como rachaduras em vidro, surgiam fendas que se abriam no tecido da realidade.

    E delas jorravam chamas — não vermelhas, mas azuis.

    E delas seriam disparadas como lanças de fogo, chamas que não ardiam como as comuns, mas devoravam a própria essência.

    Parte de seu feitiço final — o Combustio Mortuorum. Um dos cinco horrores que a morte ousava domar em seu nome.

    E, em menos de dois minutos, teria de usá-lo para extinguir todos os que respiravam dentro daquele domínio.

    — Já ouvi… antes… — o sussurro arranhou sua garganta, mais um rosnado do que uma fala — A dona Morte que controla a chama dos mortos… Grr… que assustadora!

    O deboche soou como um frágil disfarce diante do inevitável.

    E assim que a última palavra escorregou de seus lábios, as chamas avançaram. Não marcharam — caíram, vorazes, como um enxame ardentes.

    O mundo tremeu.

    O solo se abriu em sulcos negros.

    O ar foi engolido, sufocado.

    E tudo o que estava ali… foi varrido.

    Transformado em nada além de cinzas, suspensas no vento, como um epitáfio silencioso da existência.

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