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    — Por que vocês são inexperientes, incapazes de entender o estudo como uma fonte de desenvolvimento! — E ao seu comando, tudo foi imediatamente isolado em camadas luminescentes, translúcidas, mas rígidas o suficiente para suportar a súbita elevação de temperatura que o ataque liberava.

    As barreiras cintilavam como placas de vidro em combustão, tremendo ao contato com a pressão térmica que fazia o espaço vibrar.

    — O Éter é a primária matéria! — continuou, e a própria atmosfera se retorceu à sua volta — Dela advém todas as demais… água, ar e fogo! Até a estrutura que compõe o solo! Dele… todo o mundo físico, dentro e além deste cosmos, podem persistir!

    As partículas no ar começaram a faiscar, cada uma se tornando uma fagulha de energia bruta.

    — E como… — a respiração ficou presa na garganta, a carne sufocada pelo calor.

    Não conseguia desviar dos inúmeros respingos incandescentes que pingavam da explosão de energia.

    Cada gota de puro calor distorcia a realidade, deixando fissuras como rachaduras num vidro incandescente.

    Os fragmentos terminavam em vapores tão quentes quanto a superfície da estrela rei, um manto flamejante que devorava até as sombras.

    Ele ergueu o braço, e por um instante, parecia que todo o firmamento curvava-se sob sua vontade.

    — Através deste poder… posso me tornar um com o Criador! — sua voz ressoava como sentença final, misturando fé e arrogância — Agora, me responda… — seus olhos se estreitaram, como brasas que subjugam o mundo — por que acha que pode me vencer?

    — Grr… — o som escapou entre os dentes cerrados, mais próximo de um rosnado que de uma palavra.

    O nervosismo latejava sob a pele. Aos seus pés, o vidro tentava mantê-la de pé, como se a realidade também vacilasse diante da pressão do calor.

    — …Qual é, velho… — cuspiu, com um meio-riso desesperado — acha mesmo que vou perder para uma técnica que nem sua é?

    O ar queimava dentro dos pulmões. Ao redor, o calor era um labirinto opaco: não havia para onde olhar, não havia horizonte, apenas a distorção incandescente que cegava a visão e abafava todos os sentidos.

    Ele me isolou?

    O pensamento surgiu, mas era como uma fagulha num deserto em chamas, incapaz de se firmar.

    A armadura sólida envolvia o corpo, mas já não passava de uma casca frágil, continuamente derretida, reconstruída, e derretida de novo.

    Cada camada se tornava inútil, cauterizada pelo mesmo calor que transformava feitiços em nada além de uma película inconsistente, incapaz de resistir a um único golpe.

    — Já era para você… — a sentença veio fria como todos os seus atos, apesar das chamas.

    Então, um funil de luz atravessou o ar.

    Não houve espaço para reação. O impacto a lançou contra o vazio, e quando tentou erguer um braço, quando buscou reagir, já era tarde demais: mãos e pés foram cravados por estacas de energia, crucificando-a no ar.

    A esfera que irrompeu logo em seguida explodiu às suas costas, convertendo luz em lâminas.

    O gemido escapou inevitável, um som de dor e desespero, quebrado pela surpresa.

    Era uma técnica em três etapas. Uma orquestra perfeita de tortura e execução.

    O primeiro movimento: isolamento.

    O segundo: a crucificação, perfurando a carne e os ossos.

    O terceiro… a explosão final, tão próxima quanto íntima, que terminou por amputar-lhe os membros.

    Seu corpo caiu, sem resistência, contra a superfície ardente. O impacto ecoou como um sino partido, espalhando fagulhas vermelhas pelo campo devastado.

    Antes que pudesse respirar, um pé a esmagou contra o chão… uma pisa carregada de desprezo, que a afundou até a lava em ebulição.

    As mãos instintivamente buscaram apoio, tentaram a salvar, mas não restou nada a segurar… foram tragadas pelo líquido fervente, consumidas como oferendas involuntárias ao abismo flamejante.

    — Não gosto de crueldade… — a voz dele desceu grave, cansada, mas não menos cruel — …mas vocês, jovens, irritam até monges como eu…

    E então, forçou ainda mais o peso, até que o crânio dela partiu em duas metades grotescas, espalhando miolos e fragmentos derretidos.

    Fetiche.

    Se fosse outro, seria esse o sentimento, um prazer distorcido em prolongar a dor.

    Mas não, o gesto dele não nascia da crueldade vazia. Era demonstração.

    Um espelho posto à força diante dela.

    Enquanto, com seus cem anos, exalava a paciência de quem estudara o mundo camada por camada, absorvendo cada detalhe, ela… por mais imparável que parecesse, era marcada pela inexperiência.

    Agora sujo, tornou-se testemunha do fim de alguém que, por um instante, ousara brilhar.

    — Você era uma jovem talentosa… — murmurou — mas tinha prazer em ter poder… E esse prazer atrasa o entendimento. Ele dá apenas uma vantagem momentânea… nunca a vitória final.

    Quando o corpo se desfez em vapor e restos, ergueu o olhar. Myazaki ainda estava vivo, embora reduzido a cacos.

    Após a camada que representava suas intenções sumir, aquilo que o mantinha preso também se desfez.

    A prisão, feita não apenas de matéria, mas de vontade, se abriu como vidro estilhaçado.

    Sua respiração era um fiapo, mas persistia.

    — Não morreu… — constatou, frio.

    — Hehe… — o riso veio acompanhado de sangue cuspido, manchando-lhe o queixo — Por sua causa… sério mesmo que enviou nós dois contra uma potencial celeste?

    — Não sabia… — respondeu entre dentes, mordendo os lábios — não havia registros de que ela deveria se tornar uma. Deve ser a Ordem… tentando regular esse mundo.

    O olhar dele se estreitou, como se avaliasse um fardo inevitável.

    — A assinatura celeste deve ser transferida a outro… Você acha que consegue se manter assim?

    — Como assim?

    — Se manter vivo do jeito que está… — seus olhos caíram sobre o corpo destroçado do rapaz.

    — Qual é… — Myazaki arfou, cuspindo mais sangue — fui fodido por tempestades de vidro! Ainda tive meu domínio interrompido… lutar não é comigo!

    — É… — Não havia compaixão em sua voz, apenas constatação.

    Ergueu a mão. Os dedos apontaram para a testa do rapaz, como o cano de uma arma.

    — Isso não vai servir. Daqui a algumas horas… a gente se vê.

    — Qu…?

    Não houve tempo para resposta. Um disparo seco rasgou o ar, e sua cabeça foi aberta como se uma bala de ponto cinquenta o tivesse atravessado.

    O sangue explodiu como tinta arremessada, respingando pelas costas e pelo peito antes do corpo tombar sem força alguma.

    Seiji quase não esboçou sentimento.

    Apenas limpou a mão suja do sangue alheio, encarou os céus que se desfaziam e suspirou.

    — Não posso me dar ao luxo de te ajudar… filho…

    As nuvens se dissolviam lentamente, tornando-se ar rarefeito, incapaz de sustentar vida.

    O céu, agora um vazio sem cor, perdera tanto a Nox quanto a Aurora.

    Não havia mais luz.

    Não havia mais futuro.

    O fim já estava decretado.

    E quando tudo fosse consumido, só restaria a areia para reivindicar o que restar da existência.

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