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    E das ruínas… Seiji ascendia, erguendo-se entre os escombros que outrora haviam sustentado o orgulho dos homens em Aija.

    Agora, cada passo rangia sobre pedras partidas, ossadas de muros e sonhos desfeitos.

    Caminhava como se pisasse novamente no território que deveria ter abrigado paz e prosperidade, mas só restava o fim, um deserto de cinzas que o vento carregava para lugar nenhum.

    — Então é isso? — a voz de Hugo quebrou o silêncio, quase como um véu rasgado. Sua capa puída, cobrindo o terno gasto, parecia um símbolo daquilo que ainda se agarrava dentro dele: uma esperança surrada, herdada à força como o último fardo, a cria de Tamashiro.

    — O quê? — O velho virou o rosto, frio, sem pressa, sem emoção.

    — Só restará isso desse mundo? — Suspirava fundo, como se o ar também lhe faltasse — Nem um teto… ou abrigo para uma mera criança? — sua voz embargou, mas continuou — Esse é o futuro que pensou?

    — E tem como ser melhor? — Sem elevar o tom, o gélido da sua pergunta fazia até o sangue recuar — Não posso deter o progresso, não posso recusar o papel que me foi dado. Sou a mão direita da lei. Você, tentará? — e ao pronunciar, seu olhar afiou-se como lâmina recém-polida.

    Passaria por cima de tudo e de todos para alcançar seu nirvana… um horizonte que talvez nem existisse, mas que o chamava como miragem no deserto.

    Pisaria sobre memórias, sobre rostos amados, sobre o próprio medo e ainda assim seguiria.

    Porque o abismo dentro dele não aceitava outra resposta senão o êxtase daquilo que não se pode tocar.

    Já Hugo, outrora arrogante, recuou um passo, e nesse gesto o mundo inteiro pareceu ceder também.

    — Não… eu só… — sua voz vacilou — Quero entender onde há salvação aqui?

    O sábio riu. Não foi humano, mas um som irônico que ecoava entre ruínas como escárnio.

    Um Deus que abandonou isso há eras, deixando apenas o eco de sua ausência para governar o que restou.

    O mundo segue em ruínas, mas ninguém ousa pronunciar seu nome.

    — Salvação? — repetiu, cuspindo a palavra como se fosse veneno — Não existe! Não quero salvar ninguém. Só purificar. Dar asas àqueles que já se atiraram no abismo? Nem mesmo o filho do todo poderoso é tão tolo!

    E ao fim, o silêncio retornou, mas não era vazio… carregava o peso da condenação de um mundo que já não tinha retorno.

    — Purificação? — a voz dele tremeu, não de medo, mas de incredulidade — O que isso quer dizer?

    O velho endireitou a postura.

    — Fim! — sua voz ecoou, saturada de cansaço, como alguém que já repetiu o mesmo destino mil vezes — Não há nada que possa ser feito! Já dei a eles o fim que era merecido…

    — E você? — perguntou, como se o outro fosse uma peça menor em um tabuleiro que já estava consumido pelas chamas — Faça o que bem entender… tente salvar a criança, se ousar. Mas saiba: não descansarei enquanto isso aqui permanecer sendo um poço de hipocrisia!

    Hugo vacilou, sentindo a sombra de um mundo inteiro se fechar sobre si.

    — Você é louco!

    — Sou! Não haverá mais humanidade… e isso, Hugo, isso é a perfeição!

    Ergueu a voz mais uma vez, a última.

    E em um passo, desapareceu em uma fenda tão rápida que mal podia ver.

    O ar estalou, como vidro se quebrando, e em um instante já não restava sequer o som de sua presença.

    Deixando para trás… tudo.

    Agora, atravessava os véus e deixava as terras de Aija. Acima dos céus, elevava-se a copa da grandiosa árvore… raízes profundas que sustentavam mundos, galhos que atravessavam eras.

    Daquele ponto, era como se seus pés repousassem sobre a própria Crea, e a vastidão inteira pulsava sob.

    — Isso é incrível… — deixou escapar, ofegante, atônito, os olhos bebendo do infinito. À sua volta estavam Gallael e outras sombras indistintas — Mas sua cara… não é nada feliz.

    O silêncio pesou.

    — Por que eu deveria estar feliz?

    Seus nervos estavam em chamas, cada fibra de seu corpo tensionada como uma corda prestes a se romper.

    A cada passo, a linha tênue entre o sucesso e o fracasso se estreitava, como se caminhasse sobre a beira de uma lâmina.

    O destino não lhe garantia nada, apenas a chance de cair.

    Seria capaz de vingar seus irmãos? Ou tudo não passaria de mais uma ilusão, um peso esmagando sua alma? Nem ele sabia.

    Nem ousava responder. Apenas seguia, como se a própria dúvida fosse o motor que o empurrava adiante.

    — Por que não? — tentou provocar um sorriso, mas a atmosfera não cedia — Isso aqui está dando certo! Ou…

    Antes que pudesse terminar, sentiu o frio da lâmina do demônio roçar seu pescoço.

    O ar sumiu de seus pulmões.

    — Ah…

    — Não fale nada que não vá se comprometer, velho!

    Ele, no entanto, não tremeu. O medo não veio. Apenas um sorriso arrogante e confiante se abriu em seu rosto, como se a própria morte fosse uma piada mal contada.

    — Você me matará? — riu — Você logo deve morrer, principezinho… Yami cederá a Azaael, e no fim? Será tão peça quanto eu! Hehe…

    — Você ri disso? — Os olhos faiscavam.

    — E como eu deveria agir?

    A resposta veio mansa, mas a ironia mordaz ainda estava ali, como veneno diluído em cada palavra.

    — Desisto… — Baixando lentamente a lâmina, como se o gesto fosse mais pesado do que deveria ser, até guardá-la em sua cintura — Por que veio aqui?

    — Vim pedir um favor ao Asmael…

    — Diga! — Sem hesitar, quase impaciente — Eu dou o recado.

    Os olhos do outro estreitaram, e sua voz saiu carregada de uma gravidade que não pedia piedade, mas impunha.

    — Myazaki… eu preciso dele… e do meu cão fiel. Eles morreram em combate!

    Houve um silêncio breve, quebrado por uma risada.

    Ao fundo, pois havia dito que não precisava de ninguém além de si para terminar seus planos.

    E havia verdade naquela convicção ou talvez apenas orgulho ferido disfarçado de certeza.

    Para ele, aliados eram apenas correntes; companheiros, distrações.

    O caminho que escolhera era feito de silêncio e passos solitários, e só assim acreditava poder chegar ao fim.

    Se fosse vitória ou ruína, não importava: seria apenas dele.

    — Sério? — levou a mão à nuca, coçando-a com desdém, como se quisesse afastar o peso daquilo — Você não disse que não precisava de ajuda?

    — E precisei?

    Matando a folga da entidade sem mais.

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