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    Uma explosão, rasgando o horizonte e abrindo fissuras no próprio vazio.

    O som ecoava como mil bombas nucleares sobrepostos, e a pressão que dela emanava fazia o ar se contorcer.

    Era a liberação máxima que podiam alcançar. Um estado limítrofe, onde forças se entrechocavam sem piedade; duas ações incisivas colidindo… aquele que se vestia e empunhava a metamorfose da matéria contra aquele que ousava escutá-la e erguê-la em defesa.

    A areia trepidava, dançando em ondas que pareciam escapar do chão, enquanto o calor, esmagador, tornava-se impossível de mensurar.

    Já não havia vestígios de gelo naquele continente; o antigo frio dera lugar a uma era de fogo, e o mar avançava sobre os litorais, engolindo terras outrora firmes.

    — Tá quente só para mim… ou você também sente?

    — Não fale mais… — respondeu, firme, avançando um passo à frente.

    O movimento simples, carregado de energia, foi o bastante para partir o solo, e ainda assim foi desviado com a leveza de quem brincava com a própria destruição.

    — Opps! — um giro para o lado, um salto em direção ao céu, a silhueta riscando o firmamento — Esse golpe… esmagaria uma estrela com facilidade!

    — Não quero esmagar nada além da sua fuça, seu miserável!

    — Tente! — cansou-se, pousando com o peso de quem sabia que não podia vacilar, mas também não era ingênuo o bastante para permitir que seus instintos se rendessem.

    O corpo mantinha a guarda ereta, os olhos em foco, cada músculo pronto para reagir ao menor desvio de ar.

    Ele grita tanto… um bramido que não cessava, é como se a própria garganta quisesse rasgar o mundo junto!

    E nesse ruído ensurdecedor, uma ideia venenosa se infiltrava…

    Posso fazê-lo explodir de dentro para fora… posso rasgar-lhe as entranhas com a pressão que pulsa no ar, despedaçá-lo sem que sequer perceba quando tudo começou…

    O chão ainda vibrava como se tivesse vida, resistindo graças a sua presença demoníaca.

    A natureza o atendia sem hesitar: o ar se condensava em torno de seu corpo, pesado e cortante como lâminas, enquanto a areia se erguia em espirais, dançando como serpentes douradas.

    Louvando a seu senhor.

    Cada grão parecia animado por vontade própria, formando muralhas que se interpunham contra os golpes desordenados do loiro, desviando sua fúria em estalos e explosões de calor.

    Era como se o mundo, em sua essência mais íntima, tivesse escolhido um dos lados.

    — Que saco!

    — O que te irrita tanto? — o demônio ergueu os braços, mas não em ameaça.

    As mãos penderam para trás, abertas, como se entregasse o corpo inteiro ao mundo.

    O ar ao redor se afunilava, denso, comprimindo a atmosfera em redemoinhos que giravam como colunas.

    A pressão era sufocante, uma muralha de vento que fazia cada respiração pesar toneladas.

    — Não deixe o ódio te cegar, rapaz! — sua voz ecoou firme, não como reprimenda, enquanto a própria natureza parecia curvar-se à sua presença.

    Espalhando fragmentos de escuridão pelo vazio que os cercava, o rapaz os absorvia sem sequer notar. Cada estilhaço negro dissolvia-se em sua pele, infiltrando-se em sua essência, alimentando-lhe a fúria e o cansaço.

    Não havia consciência no gesto, apenas a inevitabilidade de quem respira o próprio veneno sem perceber que já está envenenado.

    — Ele já me cegou!

    Uma verdade disse…

    Teu punho avançou e gerou Impactos que não apenas alteravam o estado do vento, mas o transfiguravam em torrentes de fogo e em enxurradas violentas de água.

    O ar queimava e se partia, transformando a paisagem num cenário ainda mais caótico.

    — No momento, é a sua morte que me interessa!

    — Eu sei…

    Enfim freou, o olhar faiscando quando jogou a mão para baixo.

    Do gesto, uma imensidão de água irrompeu como um dilúvio, engolindo o exorcista no instante em que ele ousava avançar a apenas dois passos de distância.

    A pressão do líquido era brutal, como se um mar inteiro tivesse despencado sobre ele.

    — …Mas eu não morrerei para alguém em plena desordem!

    Num giro brusco, arremessou o braço para a direita, e chamas se ergueram como muralhas, envolvendo seu corpo em uma fortaleza incandescente.

    O calor crepitava, devorando o ar e deformando o espaço ao redor.

    Há contos antigos que sussurram sobre a besta invejosa, dizem que, com suas dádivas, era capaz de acender novas estrelas no firmamento, traçar rios cósmicos que cruzavam a imensidão e, com um simples gesto, reverter os atos da própria natureza.

    A ela também atribuíam o poder de anular os erros dos homens, como se pudesse reescrever o destino e devolver o mundo ao estado anterior à queda.

    Tiamyrr…

    — Você não precisa atacar sem coordenação! — a voz cortou através da fumaça, quase didática.

    — Cale a boca!

    Mais feroz que o fogo, raiva e recusa, como se cada palavra fosse também um golpe que dava ao destino que destruiu seus sonhos.

    Teu grito rasgou as águas, vastas o bastante para afogar um rio inteiro, junto a um vórtice de vento que findou os céus como um feixe veloz, rápido o suficiente para rivalizar com a própria luz.

    Quando tocou o braço do demônio, o impacto fez tremer o vácuo do espaço, vibrando como um espelho prestes a se despedaçar.

    — Está gritando como um ani…. Animal?

    Pousava a sua frente.

    — E a outra forma de gritar?

    Ao redor, a água se ergueu em véus de vapor, dissolvendo-se em nuvens quentes que toldavam o ar.

    Sua voz já soava cansada, e parte da matéria condensava-se na palma da mão, oscilando em lapsos de escuridão e luz.

    — O que você fez?

    Escapou em meio a uma tontura que lhe nublava a visão.

    — Boca aberta entra mosca, garoto… — o demônio zombou, mas o sorriso logo se estilhaçou em um ranger de dentes — Você… perdeu… sinto muito!

    Não parecia comemorar a vitória. Havia dureza, não júbilo, em sua expressão.

    — Caramba…

    A técnica se dissolveu entre os dedos.

    Forçado a segurar, manteve-se a centímetros de bater a face contra o chão, os dedos tremendo, sustentando-lhe o corpo à beira do colapso.

    Sinto o ar faltar.

    Foi tempo suficiente para que cruzasse os dedos, babando; trevas e vento o tentavam partir, através da influência do demônio sob sua pele, como quem desvenda a carne de dentro para fora.

    — Garoto…

    Fechou os olhos e deu-lhe as costas.

    Ele falhou.

    Um arrepio sentiu após o pensamento.

    Será que eu deveria ter tentado mais?

    Mas…

    Quando enfim cerrou os punhos, veio o golpe: um ataque às cegas que parecia um disparo.

    E deu um último passo, afastado pela onda de impacto capaz de explodir corpos só com o ar que empurrava.

    — Uff… uff… — suspirou, ofegante — Acha que eu vou morrer assim, seu peixe desgraçado?

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