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    — Uff… — Arthur jogou o braço para trás, e a energia que emanou foi tamanha que o próprio estado da água ao redor se alterou, convertendo-se numa espessa nuvem de gases tóxicos que se elevou como uma cortina — Você… pelas suas palavras… encarnou um estado ao qual odeia, não é?

    — Sim — Um passo… não, não era bem um passo; ele simplesmente estava ali.

    E, entre seus dedos, o nada se condensou, uma anomalia impossível, uma esfera de pura negação do real.

    Matéria e antimatéria coexistindo no mesmo pulso, um paradoxo girando com o brilho de mil sóis prestes a colidir.

    — Eu sou a Transformação agora! — proclamou o rei, o olhar inflamado — O que está além do estágio das coisas imutáveis!

    — Tô fudido! — disse com uma serenidade absurda, quase blasfema, no instante em que a explosão veio em sua direção, e, contra toda lógica, a freou.

    O espaço, antes contínuo e obediente, começou a gritar.

    As fronteiras do real tremiam.

    Partículas vibravam fora de fase, produzindo um zumbido que atravessava carne, mente e sentido…

    À frente, o falso apóstolo do mal ergueu as mãos, não como o guerreiro que era, mas um artesão que costura mundos com o toque.

    As veias de luz e trevas convergindo sobre, entrelaçando-se, colidindo, girando em espiral.

    E, no ápice da colisão, formava-se uma estrela negra, viva, pulsante, faminta… devorando o ar, o tempo, e o próprio significado de existir.

    — Incantatio Expansiva: Dualitas Excidium!

    Foi a resposta do ex exorcista .

    Enfim, matéria e antimatéria colidiram em seu próprio corpo e foram projetadas adiante, uma onda binária, a aniquilação absoluta do sentido.

    Nada sobreviveria: nem átomo, nem ideia, nem silêncio.

    Um buraco branco e um buraco negro nasceram no mesmo ponto.

    A frente da destruição avançava como um conceito impaciente para existir.

    Seu corpo tremulava como vidro prestes a rachar. Mas nos olhos, um reflexo, não de medo, mas de cálculo.

    …O que é destruição, senão uma forma extrema de remodelar?

    O princípio vence a variação.

    A origem vence o fim.

    A ideia vence a forma.

    O conceito vence o instante.

    E foi assim que remodelou o instante final, invertendo o eixo da existência e o dobrando sobre si mesmo, um cosmos caótico, recém-nascido de sua própria ruína.

    O fim tornou-se gênese, o colapso, impulso.

    Enquanto o instante inicial era condicionado a ser motor contra o agressor, o tempo se fragmentava em uma miríade de espelhos, e dele jorrou uma chuva de espaço-tempos nascentes, cada gota um universo prematuro, cada impacto um eco de mundos ainda não criados.

    O ataque não era físico… era ontológico.

    Era o próprio tecido da realidade sendo arremessado de volta ao criador.

    O impacto foi tão colossal que escapava à matemática.

    Não havia escala, não havia número, apenas o abismo.

    Mesmo a luz, com toda sua pressa divina, levaria bilhões de anos para atravessar uma fração do vazio que precisou ser contido para não consumir o todo.

    — Você é incrível… — murmurou o demônio, observando o caos em expansão.

    Mas bastou fechar a mão, e o impossível se reverteu diante de sua nova dimensão de existência: tudo aquilo… o colapso, os universos, a chuva de espaço-tempos foi condensado em uma simples estrela-do-mar que pulsava em sua palma.

    — Você consegue remodelar a entropia… e me atacar em um estado além da matéria, literalmente me esmagando com a própria realidade!

    Com um sorriso falso, que velejava entre a ironia e admiração.

    O reflexo da água diante deles devolvia a imagem daquele cosmos recém-criado, um oceano que espelhava galáxias inteiras em suas ondulações.

    — Te custou muita energia?

    — Não! — Mentiu o loiro.

    O preço de um milagre é sempre o próprio milagreiro.

    Suspirava, o ar tremendo ao redor, mas não respondeu. Observava. Calculava.

    Num avanço súbito, agarrou o ar,

    como se pudesse prender o próprio instante.

    Ele é impossível… impossível… impossível!

    Pensou, e ainda assim, a dúvida roía; será?

    Quando o golpe desceu, o demônio já não estava lá.

    Mudava de posição como quem muda de tempo; seus olhos, infinitos em reflexo, viam o que foi, o que é e o que será.

    As garras cortaram o vazio, e o mesmo respondeu, vibrando em ecos entre dimensões.

    Cada soco era forte o bastante para rasgar o tecido do real, ácido dissolvendo o algodão da existência.

    Mas…

    Como acertar um ser espacialmente onipresente?

    Arthur teria que aprender a lidar com isso…

    Como ferir aquilo que está em todos os lugares e em nenhum,

    que se move entre os instantes.

    O demônio era uma projeção de possibilidades, cada forma que via era apenas uma das infinitas que coexistiam.

    E enquanto o exorcista golpeava o espaço, era quem o redefinia.

    O impacto foi tão intenso que o ar se solidificou, rendido à pressão, formando ondas que distorciam o espaço.

    — Você é esperto…

    — Sou! — gritou, lançando o rosto para o alto — Luz…!

    — Pinna!

    A palavra escapou como um feitiço, e o pulsar da água o arremessou aos céus.

    O cenário se torceu, reescrevendo suas próprias leis, e, no exato momento em que se firmava no ar,

    tentáculos negros brotaram das costas do ser, atingindo-o com brutalidade no mesmo instante em que as percebeu.

    Não havia mais barreiras lógicas,

    nem tempo, nem número, nem distância… apenas o confronto entre duas vontades que o próprio universo já não ousava medir.

    — Incantatio Expansiva: Sensibus Alternis Mutatis!

    O ar vibrou. A realidade tremeu.

    Os sentidos se inverteram, o som virou luz, o toque virou lembrança.

    E, como todo exorcista, se tornara imune à própria distorção.

    Aceitou o destino: ser empalado vivo.

    E, na dor transcendental, reverteu o presente em futuro, deslocando o instante como quem quebra o eixo do tempo.

    Um céu iluminado se ergueu de sua ruína, a era das estrelas nasceu de seu sangue.

    Por meros segundos, a mente de Leviel colapsou sob o peso da quantidade infinita de informações, tempo o bastante para que ele se lançasse às águas.

    Semi-morto, afundou.

    Mas ela, a superfície fria e serena o acolheu como concreto, recusando-lhe fuga, impondo-lhe vida.

    — Ahhhhhhh! — o demônio rugiu, a garganta rasgando cosmos,

    criando um impulso cósmico, um grito que atravessava mundos — Ahhhhhhh! — outra vez, o instante primal tentando romper o próprio instante, como se o universo buscasse, em desespero, um novo ponto de partida.

    — Desvie disso! — rugiu, cuspindo sangue. Mesmo de joelhos, ergueu o corpo pela força da própria vontade, os dedos se cruzando em um mudra, unindo sua fé e desespero — Reformare ante me!

    Foram as últimas palavras que a entidade ouviu.

    E o som delas não ecoou…

    O chão se abriu em fractais, a luz se curvou, e ao redor se reescreveu… Arthur venceu?

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