Capítulo 349 - Chamas se fundindo
Em meio a um galpão, Amai e Yami se ajeitavam. A tarde ia embora devagar, enquanto ela amaciava seus cabelos com a calma de quem ainda acreditava em gestos pequenos.
A cadeira, enferrujada como as paredes e as vigas ao redor, parecia clamar por salvação.
Mas aquele instante, imperfeito, gasto, humano, era o momento exato para deixar de ouvir o socorro do mundo.
— Tem um corte em mente? — perguntou, o tom leve, distraída no cheiro que ele exalava.
Assim que a voz ecoou, deu um estalo nos dedos. Uma fogueira se acendeu diante dos dois, refletindo-se em seus olhos.
Sua aura flutuava no ar, suspensa e visível, moldando-se de acordo com à luz das chamas.
Já não era possível distinguir a coloração.
E a cor é a manifestação do interior, quando o sentimento e a vontade
se tornam compreensíveis no mundo material.
E não desfez a pose, arranhou um dedo contra o outro, ajustando a temperatura do fogo como quem regula um sentimento.
Talvez… já não fosse tão adepto ao frio quanto antes.
— Não… nunca pensei nisso…
As palavras vieram mansas demais,
como se tentassem aquecer o ar entre os dois.
— Eu imaginei — os dedos dela passando entre os fios, desembaraçando-os — Esses cabelos… foram escolha?
— Desleixo…
— Não brinca — a sinceridade veio antes da ironia — Por quê?
— Por quê… — mordeu os lábios,
mas não caiu em tristeza.
Da voz embargada, nasceu uma risada breve, meio torta, meio bonita.
— Cacete… eu sou um cara nada higiênico, né?
— Nada… — murmurou.
A mão dela subiu ao próprio peito, depois voltou fios dele, tocando-os com uma hesitação que misturava carinho e a descoberta da intimidade.
— Mas… eu te acho lindo assim…
— Ehr… — os lábios dele ficaram pesados, e o ar quente escapou como um segredo sem fuga — acha?
— Acho caras cabeludos atraentes…
— Não desgosto de ruivas, — Olhando-a nos olhos, a cabeça ligeiramente inclinada para trás,
um sorriso perigoso se abrindo em meio à penumbra — Mas os olhos cor de mel… confesso, é um tesão.
— Ah… — fraquejou.
As mãos dela desceram pelos ombros dele e o apertaram com a força de uma leoa na pressa do instinto.
— Não fala assim…
— Não? Mas é… a verdade…
— E o que mais acha bonito em mim? — encarando-o.
Os olhos buscavam firmeza, mas os lábios, em leve tremor, traíam a febre dos pensamentos.
— Lábios… nariz — respondeu, num tom rouco — gosto do tom pálido da sua pele.
Suspirou.
— Da personalidade, das suas atitudes… Sabe quando odeia tanto que começa a achar que é amor?
Ela riu, um riso que doía de tão humano.
— Amor… o que mais? Eu sei bem ler teus olhares, garoto.
— Suas coxas, — murmurou, mordendo o lábio — teu cheiro…
Os olhos se desviaram um instante, como quem teme se perder na própria confissão.
— Você é uma garota atraente.
— Só isso? — provocou.
Ele ergueu as mãos num gesto rendido, o fogo tremendo entre os dois.
— Tá bem… — disse, o olhar baixo, mas o sorriso ousado — A barra da tua saia… me intriga.
— Quer ver o que tem dentro dela? — a voz desceu suave, quase um feitiço.
Amai se inclinou, o lábio roçando o ar, tão perto do dele que o mundo pareceu prender a respiração.
Sua boca tocou-lhe o nariz, um beijo leve, provocação e ternura misturados.
— Quer, né?
— Amai… — murmurou, tentando sustentar o olhar, mas o nome dela soou mais como um pedido do que um chamado.
— Responde! Quer?
— Quero! — escapou sem hesitar,
a palavra acesa, cheia de uma coragem trêmula.
— Bom garoto… — sussurrou.
A mão dela subiu devagar, separando cada fio de cabelo que caía sobre o rosto dele, como quem abre caminho para uma revelação.
— Então precisa conquistar essa gatinha aqui.
Um sorriso se desenhou, afiado e cúmplice.
A luz fraca dançava sobre suas peles, criando sombras que se entrelaçavam como seus suspiros.
O ar parecia carregado de um magnetismo inescapável.
— Não basta só querer…
Ele engoliu em seco. O som foi audível no silêncio entre eles.
Ergueu-se lentamente, e ao fazê-lo, seus corpos colidiram suavemente… não um acidente, mas uma inevitabilidade.
O calor de um penetrou o outro instantaneamente.
— Entendi… — sussurrou, a voz mais rouca. Seus olhos escureceram de desejo — Eu devo… ser o de atitude aqui.
A mão dele, que até então pairava no vazio, encontrou a curva de sua cintura. Era um toque firme, mas ainda interrogativo, uma pergunta feita com os dedos.
— Tome a frente, Yami… — pediu, desviando o olhar num acesso súbito de timidez. Seus olhos brilharam, cristalizados por lágrimas de emoção contida, enquanto um rubor intenso subia de seu pescoço até as maçãs do rosto — Me tome para si.
— Vou tentar ser confiante… — admitiu, e sua mão na cintura dela apertou com nova determinação, puxando-a centímetros para mais perto. O calor entre seus corpos se intensificou — É a minha primeira…
— Também… a minha — confessou, e o olhar deles finalmente se encontrou novamente.
Naquele instante, toda a hesitação se dissolveu. Não havia mais necessidade de palavras.
Uma cumplicidade profunda e silenciosa nasceu no espaço entre um suspiro e outro.
— Então… — Sussurrou, sua testa encostando na dela — Vamos dançar sozinhos.
— A única a dançar com o exorcista mais marrento que já existiu… — sussurrou, seus dedos se entrelaçando aos dele num gesto que era tanto um desafio quanto uma súplica.
A frase ainda ecoava no ar úmido entre eles quando ele a capturou, num beijo que não foi mais um convite, mas uma afirmação.
Era um beijo ardente e desesperado, que selava uma promessa há muito adiada.
Língua contra língua, uma dança primal de puro sabor e desejo.
Lábios não se encontrando, mas devorando-se, famintos por um sabor há muito negado.
Suas mãos, antes tímidas e hesitantes, tornaram-se ousadas, explorando o território proibido acima das coxas, encontrando a pele quente sob a barreira do tecido.
O mundo exterior desfocou, perdendo toda a forma e significado.
O tropeço que os fez cair entre as ferragens não foi uma interrupção, mas uma aceleração. O baque metálico contra o chão foi abafado pelo rugido de suas auras, que fervilhavam e se entrelaçavam como duas chamas se fundindo.
O ambiente ao seu redor pareceu dissolver-se, as cores e formas derretendo numa névoa incandescente de pura energia e vontade.
— Amai… — O nome dela escapou dos lábios dele como um rasgo, um som rouco e ofegante entre um beijo e outro, enquanto suas mãos, impacientes, buscavam os fechos de sua roupa. O tecido cedendo foi um som visceral — …Tem certeza?
Ela arqueou o corpo contra o dele, uma resposta silenciosa mais eloquente que qualquer palavra.
Seus olhos, embaçados pela paixão, encontraram os dele.
— Ainda pergunta? — Mordeu o lábio inferior, um gesto nervoso que não conseguiu conter um gemido abafado quando sua própria mão deslizou para baixo, pressionando a palma contra a tensão evidente na sua virilha, sentindo o corpo dele estremecer sob seu toque — Faça! Por favor… Yami… Não me faça esperar mais.
E ali. Ele pode sentir a vida após tanto tempo…

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