Índice de Capítulo

    Em meio a um galpão, Amai e Yami se ajeitavam. A tarde ia embora devagar, enquanto ela amaciava seus cabelos com a calma de quem ainda acreditava em gestos pequenos.

    A cadeira, enferrujada como as paredes e as vigas ao redor, parecia clamar por salvação.

    Mas aquele instante, imperfeito, gasto, humano, era o momento exato para deixar de ouvir o socorro do mundo.

    — Tem um corte em mente? — perguntou, o tom leve, distraída no cheiro que ele exalava.

    Assim que a voz ecoou, deu um estalo nos dedos. Uma fogueira se acendeu diante dos dois, refletindo-se em seus olhos.

    Sua aura flutuava no ar, suspensa e visível, moldando-se de acordo com à luz das chamas.

    Já não era possível distinguir a coloração.

    E a cor é a manifestação do interior, quando o sentimento e a vontade

    se tornam compreensíveis no mundo material.

    E não desfez a pose, arranhou um dedo contra o outro, ajustando a temperatura do fogo como quem regula um sentimento.

    Talvez… já não fosse tão adepto ao frio quanto antes.

    — Não… nunca pensei nisso…

    As palavras vieram mansas demais,

    como se tentassem aquecer o ar entre os dois.

    — Eu imaginei — os dedos dela passando entre os fios, desembaraçando-os — Esses cabelos… foram escolha?

    — Desleixo…

    — Não brinca — a sinceridade veio antes da ironia — Por quê?

    — Por quê… — mordeu os lábios,

    mas não caiu em tristeza.

    Da voz embargada, nasceu uma risada breve, meio torta, meio bonita.

    — Cacete… eu sou um cara nada higiênico, né?

    — Nada… — murmurou.

    A mão dela subiu ao próprio peito, depois voltou fios dele, tocando-os com uma hesitação que misturava carinho e a descoberta da intimidade.

    — Mas… eu te acho lindo assim…

    — Ehr… — os lábios dele ficaram pesados, e o ar quente escapou como um segredo sem fuga — acha?

    — Acho caras cabeludos atraentes…

    — Não desgosto de ruivas, — Olhando-a nos olhos, a cabeça ligeiramente inclinada para trás,

    um sorriso perigoso se abrindo em meio à penumbra — Mas os olhos cor de mel… confesso, é um tesão.

    — Ah… — fraquejou.

    As mãos dela desceram pelos ombros dele e o apertaram com a força de uma leoa na pressa do instinto.

    — Não fala assim…

    — Não? Mas é… a verdade…

    — E o que mais acha bonito em mim? — encarando-o.

    Os olhos buscavam firmeza, mas os lábios, em leve tremor, traíam a febre dos pensamentos.

    — Lábios… nariz — respondeu, num tom rouco — gosto do tom pálido da sua pele.

    Suspirou.

    — Da personalidade, das suas atitudes… Sabe quando odeia tanto que começa a achar que é amor?

    Ela riu, um riso que doía de tão humano.

    — Amor… o que mais? Eu sei bem ler teus olhares, garoto.

    — Suas coxas, — murmurou, mordendo o lábio — teu cheiro…

    Os olhos se desviaram um instante, como quem teme se perder na própria confissão.

    — Você é uma garota atraente.

    — Só isso? — provocou.

    Ele ergueu as mãos num gesto rendido, o fogo tremendo entre os dois.

    — Tá bem… — disse, o olhar baixo, mas o sorriso ousado — A barra da tua saia… me intriga.

    — Quer ver o que tem dentro dela? — a voz desceu suave, quase um feitiço.

    Amai se inclinou, o lábio roçando o ar, tão perto do dele que o mundo pareceu prender a respiração.

    Sua boca tocou-lhe o nariz, um beijo leve, provocação e ternura misturados.

    — Quer, né?

    — Amai… — murmurou, tentando sustentar o olhar, mas o nome dela soou mais como um pedido do que um chamado.

    — Responde! Quer?

    — Quero! — escapou sem hesitar,

    a palavra acesa, cheia de uma coragem trêmula.

    — Bom garoto… — sussurrou.

    A mão dela subiu devagar, separando cada fio de cabelo que caía sobre o rosto dele, como quem abre caminho para uma revelação.

    — Então precisa conquistar essa gatinha aqui.

    Um sorriso se desenhou, afiado e cúmplice.

    A luz fraca dançava sobre suas peles, criando sombras que se entrelaçavam como seus suspiros.

    O ar parecia carregado de um magnetismo inescapável.

    — Não basta só querer…

    Ele engoliu em seco. O som foi audível no silêncio entre eles.

    Ergueu-se lentamente, e ao fazê-lo, seus corpos colidiram suavemente… não um acidente, mas uma inevitabilidade.

    O calor de um penetrou o outro instantaneamente.

    — Entendi… — sussurrou, a voz mais rouca. Seus olhos escureceram de desejo — Eu devo… ser o de atitude aqui.

    A mão dele, que até então pairava no vazio, encontrou a curva de sua cintura. Era um toque firme, mas ainda interrogativo, uma pergunta feita com os dedos.

    — Tome a frente, Yami… — pediu, desviando o olhar num acesso súbito de timidez. Seus olhos brilharam, cristalizados por lágrimas de emoção contida, enquanto um rubor intenso subia de seu pescoço até as maçãs do rosto — Me tome para si.

    — Vou tentar ser confiante… — admitiu, e sua mão na cintura dela apertou com nova determinação, puxando-a centímetros para mais perto. O calor entre seus corpos se intensificou — É a minha primeira…

    — Também… a minha — confessou, e o olhar deles finalmente se encontrou novamente.

    Naquele instante, toda a hesitação se dissolveu. Não havia mais necessidade de palavras.

    Uma cumplicidade profunda e silenciosa nasceu no espaço entre um suspiro e outro.

    — Então… — Sussurrou, sua testa encostando na dela — Vamos dançar sozinhos.

    — A única a dançar com o exorcista mais marrento que já existiu… — sussurrou, seus dedos se entrelaçando aos dele num gesto que era tanto um desafio quanto uma súplica.

    A frase ainda ecoava no ar úmido entre eles quando ele a capturou, num beijo que não foi mais um convite, mas uma afirmação.

    Era um beijo ardente e desesperado, que selava uma promessa há muito adiada.

    Língua contra língua, uma dança primal de puro sabor e desejo.

    Lábios não se encontrando, mas devorando-se, famintos por um sabor há muito negado.

    Suas mãos, antes tímidas e hesitantes, tornaram-se ousadas, explorando o território proibido acima das coxas, encontrando a pele quente sob a barreira do tecido.

    O mundo exterior desfocou, perdendo toda a forma e significado.

    O tropeço que os fez cair entre as ferragens não foi uma interrupção, mas uma aceleração. O baque metálico contra o chão foi abafado pelo rugido de suas auras, que fervilhavam e se entrelaçavam como duas chamas se fundindo.

    O ambiente ao seu redor pareceu dissolver-se, as cores e formas derretendo numa névoa incandescente de pura energia e vontade.

    — Amai… — O nome dela escapou dos lábios dele como um rasgo, um som rouco e ofegante entre um beijo e outro, enquanto suas mãos, impacientes, buscavam os fechos de sua roupa. O tecido cedendo foi um som visceral — …Tem certeza?

    Ela arqueou o corpo contra o dele, uma resposta silenciosa mais eloquente que qualquer palavra.

    Seus olhos, embaçados pela paixão, encontraram os dele.

    — Ainda pergunta? — Mordeu o lábio inferior, um gesto nervoso que não conseguiu conter um gemido abafado quando sua própria mão deslizou para baixo, pressionando a palma contra a tensão evidente na sua virilha, sentindo o corpo dele estremecer sob seu toque — Faça! Por favor… Yami… Não me faça esperar mais.

    E ali. Ele pode sentir a vida após tanto tempo…

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