Capítulo 351.2 - Encontro
— E se…?
Sentei-me na cadeira. A maldita cadeira em que aquele avatar escrevia. Ele não usava papel, nem lápis… odeio esses modernistas.
Olhei para minhas próprias mãos.
Meus dedos precisam ser moldados para escrever nessa telinha.
Alterar a realidade nessa camada é tão fácil…
Inclinei para trás como quem testa a flexibilidade de um sonho.
Se não fosse a Ordem, eu poderia fazer o que quisesse…
A luz da sala mudou… não vinda de lâmpadas, mas da narrativa fraturando.
Me manter no mundo real é penoso.
Ela derrete com a minha presença.
Os cantos da sala tremem.
A tinta da parede escorre como se lembrasse que não deveria ter forma.
Diferente da narrativa, ela não foi comportada para me manter.
Este plano é frágil demais, todo mundo real é.
Enfim… agora que matei aquele maldito, já não dependo das escritas dele.
Toquei a superfície.
Fria.
Irritante.
Sem alma.
— Tsc…
Deslizei os dedos como lâminas sobre o aparelho, e o objeto reagiu com uma pulsação rabugenta, um tremor estranho…
Tecnologia é… estranho…
Pulsa sob minha pele como se não gostasse de mim, mas essa bosta não tem vida…
Hm…
E se… eu escrever uma história justa?
O mundo ao meu redor não respondeu. Nem mesmo o caos tentou fechar a fissura meta-ficcional diante dos meus olhos.
Permanecia ali, aberta…
A meta-escuridão que eu desperdicei, que antes parecia útil apenas para um gracejo, agora começa a me irritar profundamente.
Era suficiente para causar um caos ainda maior…
Suspirei.
Enfim… “Alum” será o título.
Ele será um deus injustiçado… como eu.
Onde…
Uma voz?
Uma pessoa?
Outro autor?
— Hã?
Virei o rosto.
Enquanto eu escrevia, uma mão tocou a minha… quente, vibrante, viva.
O toque tinha personalidade.
Tinha vontade.
Tinha propósito.
— Escrevendo um diário?
Sério? deboche.
Olhos escuros.
Cabelos negros.
Um sorriso arrogante, afiado.
Sobretudo escuro, pesado como ausência de esperança.
Ele estava de pé ao meu lado.
— Você deve ser o Masaru, não é? — rosnei — O receptáculo da Ordem. Estou certo?
Inclinou a cabeça, do tipo que confirma sem se importar.
Seus olhos analisavam a tela, minha mão presa, meu gesto interrompido.
— Diário? — repetiu, rindo baixo — Ou confissão?
— Quer brincar um pouco?
Eu respirei, pela primeira vez em toda minha vida transcendental.
Eu quero por ele nos trilhos… Será que consigo?

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