Capítulo 30 – Os dois extremos da considerabilidade
— AINDA ESTÁ NAS MINHAS FLEXÕES, ZERO UUUM???!!!
Rente ao chão, o corpo trêmulo de Akemi pingava suor.
— Eh… Uff… Só faltam mais oito… senhor! Uff!
— CANAAALHA!!! JÁ ERA PRA VOCÊ TER TERMINADO O EXERCÍCIO! FRANCAMENTE! ERA MELHOR QUANDO NÃO SABIA DE SUA EXISTÊNCIA! E QUER SABER DE UMA COISA???!!! VOCÊ NÃO PAGARÁ POR ISSO SOZINHO! — Yura virou-se para toda a turma, apontando como quem anunciava uma sentença — É O SEGUINTE!!! O MONSTRUOSO DO ZERO UM COMEÇARÁ AS FLEXÕES NOVAMENTE DO ZERO! E POR CONTA DA INCOMPETÊNCIA DELE! FICAREMOS AQUI ATÉ ELE ACABAR! OU SEEEEJA!!! ATÉ – O FIM – DOS TEEEMPOS!!!
“Ai, caramba! Eu não consigo me mexer mais! Nunca imaginei que flexões seriam tão complicadas! Eu não quero nem olhar pra cara do instrutor… deve estar querendo a minha cabeça!”, pensou Akemi, sentindo seu suor escorrer pelo rosto como um rio interminável. Logo ele percebeu um calor corporal se aproximando, algo ameaçador estava prestes a acontecer.
— Olha rapaz… — um sussurro quase demoníaco era o Major Yura, que se agachou perigosamente por perto — eu não costumo deixar alunos incapacitados fora de tutorias. Já vetei dois por hoje, e isso não me agrada nem um pouco. Até onde eu sei de mim, não é preconceito, mas reconheço a capacidade física de alguém só de olhar… e você…? Eu não preciso nem comentar — o peso no olhar fazia as pernas de outrem tremerem ainda mais, embora nem estivessem em pé — entretanto, para sua sorte, Zero Um, não pretendo te excluir das atividades de hoje. Até pensei em perguntar se você quer, mas assim eu seria bondoso demais, e isso não funciona na hora de treinar soldados que querem se tornar alguém na vida. Por isso farei outra pergunta para você, Zero Um… Qual o seu objetivo aqui?
Akemi parecia colapsar mais e mais a cada segundo, mas conseguiu reunir as forças que lhe restavam. — … E-eu… uff… quero… ser forte… a ponto de conseguir proteger alguém… senhor.
Por um breve momento, o impiedoso major suavizou-se; um lampejo de compreensão cruzou sua expressão. — … Excelente.
“Ele realmente está focado nas flexões…”, refletia Yura “afinal, era claro que um corpo medíocre desse não aguentaria trinta, escolhi justamente essa quantidade para ver se ele tentaria me enganar, mas… por mais que esteja sofrendo, tremendo no chão como um cachorro abandonado, é perceptível que este garoto em nenhum momento pensou em desistir do exercício… Louvável.”
— Major…
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— Oh, diga, Zero Um.
— E-eu não sei se aguento mais! Meu peito dói e meus braços estão cedendo!
— … RÁ! — Yura voltou com seu sorriso maligno estampado no rosto — ISSO NÃO É PROBLEMA MEU! SE CAIR! COMEÇARÁ DO ZERO MAIS UMA VEZ!
— COMO???!!!
— MUAHAHAHAHAHA!!! VAAAMOS, ZERO UM! SEUS COMPANHEIROS ESTÃO TE ESPERANDO! VOCÊ NÃO TERIA CORAGEM DE DEIXÁ-LOS IRRITADOS, TERIA?!
— NÃO, SENHOOOR!
— ENTÃO FORÇA NESSES BRAAAÇOS!!!
O grito ecoou por todo o campo, e Akemi sentiu um impulso de adrenalina correr por seu corpo.
— Uuum…
— ZERO É NÚMEROOO!!! COMECE DE NOOOVO!!!
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— C-certo! Z-zero… Uff!
— ESSE É O ESPÍRITO, ZERO UM! TIRE-NOS DAQUI COM O SEU ESFORÇO!
Cada flexão sugava a alma de Akemi, braços tremiam, suor escorria incessantemente, e o chão puxava forças vitais. Mas desistir? Não era uma opção.
Na fileira de alunos perfilados, as reações variavam. Alguns disfarçavam risadas, achando graça da cena, enquanto outros permaneciam indiferentes, sem sequer virar a cabeça. No entanto, distante de todos, havia quem carregava o peso das emoções negativas.
[ Pátio da Academia Shihai de Asahi, às 13h23. ]
Caminhando pelos caminhos de brita, Nihara sentia o sangue ferver; sua cabeça permanecia baixa, dentes rangiam e passos raivosos denunciavam uma ira interior. A frustração o consumia e destruía qualquer fachada de serenidade.
Cada segundo parecia uma eternidade, e o prodígio de fogo mal conseguia conter o ódio que queimava por dentro.
— O que foi? Há algo te incomodando?
— Hãn? — reagiu Nihara, parando e levantando a cabeça ao ouvir uma séria voz feminina à sua direita.
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— Você parece irritado.
Sem mover o pescoço, o rapaz logo percebeu que era Miya quem falava. — Estou bem. Esqueça de mim — sua voz não ocultava a raiva.
— Ainda está sentido por causa dessa cicatriz? Fique tranquilo, seu pai tem piores no corpo.
O comentário irritou mais.
— Já falei para não me comparar ao meu pai.
— Perdão. Achei que você se espelhava nele.
— Naquela época tínhamos sete anos. Muitas coisas mudaram dali pra cá.
— Tem razão. Então o que te abala?
Nihara virou o rosto para a esquerda, escondendo seu estresse de Miya.
— Não quer responder?
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— Para com isso! Eu não respondo porque você sabe a resposta!
— É algo relacionado ao seu teste de admissão?
— … Grrr… — Seus dentes rangeram ainda mais.
— Você venceu a sua luta, não tem por que ficar assim.
— Não me importa se venci! Me importa como um fracassado daqueles está no mesmo lugar que eu.
— … Oh! Então esse é o problema.
— Passei a vida inteira treinando com os melhores áuricos de fogo do mundo, derramei meu sangue inúmeras vezes pra conseguir honrar o nome da família. Mas daí vem um cara que nem sabe levantar os punhos e… me humilha… na frente de uma plateia inteira… — A feição brava de Nihara se agravava, e o calor de sua aura subia. — E como se não bastasse, mesmo depois de derrotado, ele aparece aqui, na minha frente, na mesma academia onde só os áuricos mais fortes e inteligentes pisam, e ainda por cima sentou numa mesa cheia de garotas! COMO PODE ISSO…???!!! Ele só pode ter sido indicado por alguém… mas quem? Quem o trouxe até aqui?! Se eu soubesse… eu…
— Nihara… — A voz de Miya tornou-se mais profunda — às vezes, a vida não se resume ao quanto você treina o corpo ou o quanto quer impressionar os outros. O verdadeiro poder está no coração. O mais esperto pode superar o mais forte. O mais forte pode esmagar o mais esperto. Mas o puro sempre prevalece sobre os dois. Não importa como tudo se desenrole, o resultado é sempre o mesmo… porque no final, ele merece estar onde está.
— Mais de uma década se passou e você ainda fala como ela. Realmente você quer ser uma matriarca. Mas ainda assim, não vejo pureza alguma naquele verme. Ele é fraco, ridículo, covarde… e o pior de tudo, sortudo… — Repentinamente, o rosto raivoso de Nihara encontrou uma ponta solta, transformando-se em uma expressão confusa. — E… você estava naquela mesa do refeitório, e ao lado dele… O que você tem com aquele cara, Hiromi?
— Amizade.
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— Amizade?!
— Trocamos palavras após o combate de vocês, é um garoto legal, puro.
— … Você… foi você…
Enquanto pontos eram ligados, Miya permanecia quieta, esperando, sem nem ser espiada pelo primo.
Passavam-se muitas coisas de Nihara. — Por que você faria algo assim? Quer manchar a reputação dos Miyazaki e da ASA ao mesmo tempo?!
— Essas reputações serão manchadas de qualquer forma ao descobrirem a verdade. Akemi está aqui para me ajudar nisso.
A cada segundo, o ambiente parecia apertar ao redor.
— Então, realmente foi você.
— Pretende alguma contradição?
De repente, Nihara teve o controle rompido; a ira explodiu em seu rosto, distorcendo suas feições até ele finalmente lançar o olhar à Miya. — VOCÊ NÃO PODE AGIR DESTA FO-
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Wooffff…!
Antes da sentença ser completada, uma chama alaranjada queimou do peito de Miya, subindo do torso até alcançar a ponta dos cabelos. O brilho das labaredas iluminou olhos verdes de forma jamais antes vista.
A garota fez a chama passar rapidamente pelo rosto, acentuando suas feições irritadas ao encarar o parente com uma frieza avassaladora.
A presença de Miya tornou-se quase demoníaca.
Nihara sentiu o chão desmoronar sob seus pés, sua postura antes confiante se dissolveu. Ele tentou sustentar o olhar, mas vacilou. A superioridade de Miya era clara, esmagadora. Ele não esperava por aquilo.
— … Tsc — o garoto desviou o olhar, sua mão tremia de fúria.
Mesmo após demonstrar imponência, Miya voltou a mostrar seu lado meigo. — Bom! — Sorrindo de olhos fechados, ela juntou as mãos delicadamente — espero que você e Akemi possam se dar muito bem, hihihi! Acho que agora você precisa de um tempo pra si, então correrei atrás de alguns afazeres pra lá. Até mais, priminho!
Com um aceno, ela acelerou o passo, deixando Nihara como se a tensão entre os dois nunca tivesse existido.
A chama, a pressão, tudo desapareceu tão rápido quanto surgiu, mas para Nihara, o episódio ainda impactava. Ele continuou parado e de olhos fixos no chão, seus punhos estavam cerrados com tanta força que as unhas cravaram nas palmas. Seu corpo tremia, mas não de medo. Era ódio. — Essa garota… — murmurou ele, entre dentes. — Sorte a dela que não posso fazer nada… Maldito seja aquele anel…
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