Capítulo 42 – O resultado dos astutos
Ainda no local onde fora pego, Nihara massageava os tornozelos; marcas avermelhadas mostravam que o gelo não teve tanta complacência sobre as tentativas de libertação do jovem ígneo perante o clima congelado.
— Eae, Nihara, tá legal aí? — perguntou Minoru, caminhando até o colega.
— Eu tô bem, só o meu pé que tá um pouco dormente. Onde tá o Kentaro?
— Caaara, tomamos um cacete! — Kentaro aproximou-se com as mãos atrás da cabeça, relaxado.
Mas Nihara não aceitou bem o que foi dito pelo folgado. — O que aconteceu não tem nada a ver com ser um cacete ou não, estamos lidando com uma shihai de nível alto — ele levantou o corpo — era óbvio que seríamos derrotados como insetos insignificantes.
Minoru pensava na batalha, relembrando-a. — Até achei que aquele garoto luminoso iria conseguir, ele era literalmente um flash. Onde ele está agora?
— Tá parado ali com aquele garoto estranho — Kentaro apontou displicentemente para trás.
Lá, afastado de olhares curiosos, Hikaru estava de costas, ajoelhado e parcialmente curvado, buscando alguma estabilidade respiratória com suas mãos na barriga, mas seu peito subia e descia de forma irregular, denunciando o estado de extremo cansaço que tentava ocultar. Seu rosto não lembrava em nada o de uma pessoa tranquila com a situação, e sua respiração pesada ecoava apenas em seus próprios ouvidos, resultado do esforço silencioso que fazia para se recompor.
Logo atrás e também de joelhos, Akemi não tirava os olhos das próprias mãos. O que acabara de acontecer confundia seus pensamentos. A sensação de estar paralisado, escutar as palavras da instrutora mesmo sem ter total ciência do que estava acontecendo em volta, essas eram apenas umas das míseras lembranças que o incomodavam.
O problema de verdade viera antes de todos esses acontecimentos.
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“Não sou bom em biologia, mas lembro de aprender que as moscas enxergam o mundo em uma espécie de câmera lenta, seus olhos captam estímulos em uma frequência muito maior que nós, humanos… Mas o nosso corpo… ele não é feito para isso… Será que por um instante eu fui como uma mosca olhando para o mundo que se movia rápido demais? Não, isso não faz sentido.” Akemi ergueu a cabeça, deparando-se com as costas de Hikaru a certa distância. “Esse garoto é capaz de atingir a velocidade da luz, mas eu o vi nitidamente por breves dez segundos ou menos. Mesmo que eu não pudesse me mover, falar ou reagir de qualquer maneira, consegui acompanhar parte de sua trajetória de forma clara. O que isso quer dizer?”
Mais uma vez, a incerteza fez uma nova vítima.
A falta de compreensão sobre os fenômenos que o mundo áurico poderia desencadear gerava dúvidas — ou até consequências severas — naqueles que não o compreendiam. Para muitos triviais, a busca por alcançar aquele mundo desconhecido era com certeza um sonho persistente, porém, sanar aquele anseio era praticamente impossível; afinal, nada daquele universo extraordinário lhes pertencia.
Entretanto, Akemi não era mais um trivial.
“Preciso perguntar a ele.” O curioso levantou-se, decidido a conversar com Hikaru.
A vontade de obter esclarecimentos sobre visões inimagináveis era o que mais importava.
“Não sei o que ele pode me responder, talvez nem responda. Tenho medo dele, mas não posso deixar essa pulga atrás da orelha!” Ele estava convicto de interrogá-lo, supostamente uma estratégia não tão precavida, tendo a noção de que Hikaru, tentando se esconder da percepção dos outros, continuava lutando contra uma reação suspeita.
Dependendo de como fosse, poderia não ser uma boa ideia.
Akemi aproximava-se lentamente, o entendimento sobre o estado de Hikaru tornava-se cada vez mais visível. “Ele está… ofegante? O que aconteceu com ele?” Próximo o bastante, ele estendeu a mão para chamá-lo. O perigo que pudesse vir à tona não passava por sua cabeça, a curiosidade pelo o que passara estava agindo muito mais forte do que qualquer alerta do medo.
Todavia, o toque inesperado não alcançou Hikaru, e sim, Akemi.
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Uma mão no ombro dispersou o foco do curioso.
— Oi, onde você tá indo? Temos que ouvir a instrutora — a impaciência veio de Nikko.
Akemi parou e olhou para trás. — Oh, não é nada, eu só queria falar com o-
— Anda logo! — Nikko o puxou fortemente pelo braço, levando-o até perto de Hisako.
“Caramba, ela tinha que aparecer logo agora? Eu precisava perguntar!”
No fim, os questionamentos continuavam sem resposta…
Passando pelo trio de garotos ainda distante da turma, Nikko e Akemi chamaram a atenção.
O primeiro a soltar a voz foi Kentaro, gritando com empolgação na voz meio rouca: — Aí, riquinha! Mandou bem! Não importa o que rolou, a coragem que você teve foi demais! Inspirou legal!
No entanto, a tentativa de se fazer descolado não surtiu o menor efeito. As palavras ficaram no ar, sem nem mesmo desviar a atenção de quem queria almejar.
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Nikko simplesmente seguiu em frente, sem dar a mínima.
— Falei que era melhor não falar nada — reforçou Nihara.
— E aquele garoto continua perto dela — notou Minoru.
— Qual é? Tá com ciúmes? — zombou Kentaro, de mãos na cintura e um sorriso maroto.
— Nem vem com essa! É você quem tentou falar com ela! — A resposta foi brava, até um dedo indicador parou no peito do outro.
Ao ser encostado, o careca deu de ombros. — Eu só queria parabenizá-la pela garra, poucos tentaram partir pra cima daquela militar. Poderia entender a minha gentileza? — De repente, a presença de mais uma pessoa caminhando em direção à instrutora chegou aos seus olhos. — Olha lá! Não é a garota que partiu primeiro no ataque? — Ele levantou a mão. — Ôe! Você aí-
Subitamente, Nihara agarrou o falastrão pelo colarinho, trazendo-o para perto, afrontando-o entre dentes. — Cala a boca, imprestável! Vê se não arruma encrenca pra gente!
Kentaro olhou de cima a baixo. — Qual foi, baixinho? Algum problema?
Nihara observou Aya caminhando com um olhar frio destacado pela máscara tampando a boca. — Aquela ali é do clã Hattori, com certeza não bate bem da cabeça. Se você irritá-la, não sabemos o que pode acontecer com a gente.
— Ih, tá com medo dela?
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Nihara o soltou, gesticulando e esbravejando: — Não é medo, animal! É precaução! Não viu o que a aura dela pode fazer? É mais veloz que o vento e densamente escura como a noite. Não quero aquilo aparecendo no meu quarto enquanto tô dormindo.
— Ah, então é sobre o seu medo do escuro?
— MEDO DO ESCURO???!!! — A pergunta o enraiveceu.
— Exatamente — concordou Minoru — a gente dorme com a luz ligada por sua causa. Nem a luz da lua é o bastante pra você. Isso não faz nem um pouco bem pra minha insônia, sabia?
— E isso lá é problema meu? Eu solicito que fiquemos na claridade por conta do perigo à espreita. Esqueceram que estamos na boca de uma floresta áurica? Deveriam me agradecer!
— Não é como se um bicho qualquer fosse invadir justamente o nosso quarto só pra te pegar.
— Aaaargh, que seja! Vamos logo escutar o que a instrutora tem a nos dizer…
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