Capítulo 56 – Cercados, mas não derrotados
Entre as sombras pelas frestas dos bambus, os olhos brilhantes continuavam acompanhando cada movimento do grupo Fênix. Os jovens recuavam, atentos à presença que os espreitava.
— Aí, galera. O que a gente faz agora? — perguntou Minoru, tenso, mas sem perder a compostura.
— Precisamos de espaço aberto, fiquem longe dos bambus! — alertou Mayumi, já acelerando os passos em direção ao descampado à frente do templo.
Porém, o avanço foi bruscamente interrompido.
Brrruuuummmm…
O som grave reverberou pelo solo, e todos se voltaram, petrificados ao ver uma nova estátua emergindo vagarosamente ao lado da kunoichi caída, que logo despedaçou-se em brilhos azuis.
Diante deles, erguia-se uma figura formada pelo gelo: músculos largos e bem definidos, botas de couro robustas, vestes de panos dilacerados mescladas a fragmentos de uma armadura estilhaçada. Nos espaços em da pele visível, reluziam símbolos ancestrais.
Seguradas por mãos firmes, duas katanas ; uma lâmina de tamanho convencional, a outra, absurdamente longa. Na cintura, uma de três bainhas escondia parcialmente a terceira lâmina, revelando apenas a empunhadura enfaixada.
Sob um chapéu de palha de aparência ancestral e congelada, uma máscara oni ocultava expressões. Não havia rosto visível, apenas um brilho frio que escapava pela frontal da aba. O cabelo, preso num rabo de cavalo, mexia-se suavemente.

— É ele — disse Mayumi, reconhecendo a silhueta completa.
— O homem da sua história? — Minoru levantou uma sobrancelha, o sarcasmo era evidente no tom — como era o nome dele mesmo? Ah, Kenshi! Parece ser um cara fortinho.
— G-gente, temos mais problemas — interrompeu Akemi, apontando para o grupo de kunoichis que caminhava lentamente em direção a eles.
O cerco estava fechado.
Nikko levou uma mão à cintura e apoiou a outra no queixo, um sorriso confiante surgiu em seus lábios. — Então… acho que temos muitas opções pra combater, não?
— Melhor nos separarmos — assentiu Minoru, já se preparando — quem fica com quem?
As kunoichis continuavam seu avanço constante.
A estátua de Kenshi permanecia imóvel, mas havia algo na sua postura, um tipo de análise silenciosa.
Então, sem aviso, a katana mais longa foi apontada diretamente para Mayumi.
— … Deixem-o comigo — declarou a espadachim, dando passos à frente e fixando os olhos na lâmina gélida que a desafiava. Sua espada improvisada estava armada.
— Nananinanão! — Nikko disparou para segurar os ombros da outra. — Nem vem de novo com essa ideia de heroína solitária, vamos lutar juntos, como um grupo!
— Eu até consideraria esse seu discurso cativante de espírito de equipe, mas… — Mayumi gesticulou com a cabeça na direção dos garotos. Nikko seguiu seu olhar e encontrou Akemi claramente ansioso ao lado de Minoru, que mantinha o foco. — Deixar os únicos que não podem usar aura enfrentando um batalhão de estátuas shinobi não me parece uma estratégia brilhante, e convenhamos, Akemi ainda não está confiante o suficiente. Você devia ajudá-lo.
— … Urg, tá bom, mas não vá achando que não irei te ajudar se precisar! — Nikko grunhiu antes de disparar em direção aos garotos.
Naquele instante, os embates se formaram: de um lado, Minoru, Nikko e Akemi contra mais de cem kunoichis; do outro, Mayumi frente a frente com a lenda viva de Kenshi…
A aproximação das kunoichis era silenciosa, mas suas intençẽos eram cortantes.
Akemi sentiu os músculos retesarem1, prevendo a dor dos golpes que viriam. Minoru arrastou um pé para trás, mantendo o centro de gravidade baixo, pronto para responder a qualquer ofensiva. E Nikko? Bem, ela já disparava antes mesmo que alguém pudesse dar um comando.
— Eu vou na frente! Minoru, proteja o Akemi!
As kunoichis perceberam o primeiro avanço e também partiram para o ataque. Mas a garota não temia o perigo.
Nikko impulsionava-se com rajadas de vento pelos pés, e logo, embrenhou-se no meio do perigo das inúmeras lâminas.
As kunoichis reagiam no reflexo, girando lâminas afiadas na tentativa de cortá-la, mas o alvo era mais rápido.
Os pés da aluna tocavam o chão apenas o necessário para lançar-se novamente, desviando como se estivesse brincando de pique-pega entre os ataques.
Deslizes laterais. — Opa! — Giros. — He hiii! Isso é o máximo que conseguem?! — E então, um golpe ascendente com a perna. A primeira kunoichi tombou para trás antes mesmo de perceber o impacto, e seguidamente, desintegrou-se em partículas. — Oh, então não é tão difícil derrubar vocês, legal.
Outras ninjas tentaram um cerco.
— Nossa, quantos tipos de armas vocês tem? Será que não tem nada de interessante pra mim?
Nikko avançou e deslizou entre as pernas de uma adversária, um movimento contínuo segurou os pés congelados para derrubar uma das shinobi. O impacto ressoou, e o corpo da inimiga despedaçou-se. Um simples golpe era o bastante para eliminar as réplicas de gelo.
— Arg, elas não param, são tantas! — Nikko continuava correndo e derrubando o bando com seus golpes plásticos; seu vento, apesar de pouco efetivo para atacar diretamente, respondia aos seus movimentos e fortalecia os deslocamentos, tornando cada esquiva ainda mais fluida.
“Preciso de uma arma, se eu continuar assim não vou durar por muito tempo…! Ah, ali!” Olhos verdes e afiados como os de um predador captaram um brilho distinto em meio à confusão: no chão, perto de uma kunoichi caída, um fragmento de gelo alongado refletia a luz do ambiente.
Sem pensar duas vezes, Nikko esticou a mão e o agarrou. “Agora sim…” A sensação foi imediata. Um arrepio subiu por sua espinha, e por um instante, seu corpo inteiro pareceu mais leve, mais rápido, mais forte. “Não é perfeita como a minha, mas serve de alguma coisa.”
A conexão entre a aura de vento e o bastão gelado aparentemente firmou-se e tornou-se uma extensão natural de um corpo acostumado com tipos semelhantes àquela arma.
Com o primeiro giro, os ventos ao redor intensificaram, revolvendo as areias azuis pelo campo de batalha.
As ninjas entraram em alerta máximo ao verem o sorriso de Nikko alargar-se.
Os avanços da áurica voltaram, mas daquela vez, com investidas ainda mais ferozes. Girando o bastão de gelo entre as mãos, ela desferia golpes avassaladores: impactos seguidos por explosões de ar lançavam corpos de gelo para longe.
Era como se houvesse um furacão entre as estátuas vivas, desviando, atacando, e derrubando. Rastros eram marcados por corpos caídos e redemoinhos de poeira. Mechas duplas e bicolores balançavam ao ritmo da batalha.
Cada golpe era uma vitória, cada esquiva era um desafio; Nikko estava se divertindo!
Entretanto, o número de kunoichis estava longe de acabar…
Minoru contemplava sua companheira mover com aquela leveza absurda, desviando e rebatendo como se o perigo fosse apenas um detalhe minúsculo na equação. — Parece que ela está se divertindo… — Mas ele não podia se dar ao luxo de admirar a destreza alheia por muito tempo: duas kunoichis avançaram contra ele em um ataque coordenado, buscando sua abertura.
Com um giro rápido sobre os calcanhares, o garoto desviou do primeiro corte de uma kunai e rebateu o segundo com um bloqueio firme de antebraço contra um nunchaku. As duas ninjas se afastaram, mas logo voltaram a atacar.
Sem aura de terra, tudo dependia de uma técnica impecável; e a de Minoru, era impecável.
Desvios eram seguidos por contra-ataques com punhos rápidos e precisos. As kunoichis atacavam em sintonia, tentando cercar e atingir com gumes e bastões curtos…
Mas tudo era previsto.
Minoru ergueu o braço, bloqueou um chute e usou o próprio impulso da atacante para lançá-la contra a companheira, fazendo as duas colidirem e rolarem pelo chão gelado.
Antes que pudessem se recompor, um golpe certeiro no peito de uma delas transformou o gelo rígido em pó.
A outra, desarmada, tentou fugir para se reagrupar, mas Minoru foi rápido: agarrou-a pelo pulso e puxou-a para um soco no abdômen. Mais uma se desfez em poeira de gelo.
E então, um grito repartido. Não foi alto, mas o desespero nele soou no meio do campo de batalha.
Minoru girou a cabeça a tempo de ver Akemi sendo encurralado por cinco kunoichis. O garoto recuava, trêmulo, encontrar uma rota de fuga certamente seria o que passava em sua mente, mas o gelo sob seus pés traiu seu corpo, e ele caiu sentado, vulnerável.
— Haaah, fala sério. Agora terei que ser babá de marmanjo…
- tornarem-se tensos[↩]
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