Índice de Capítulo

    Em algum momento, todos os alunos da Turma 1F estarão lado a lado nesta ilustração...

    [ Campo de Treinamento 1 da Academia Shihai de Asahi, às 13h. ]

    Um local vasto a céu aberto com solo terroso e um muro branco circular protegendo a área acessível por um grande vão, era o paradeiro dos 15 alunos da turma 1F, que espalhados em grupos, vestiam o uniforme de treinamento. A troca fora feita em um trocador nas proximidades.

    Pássaros cantavam enquanto o sol decidia mirar direto no rosto de Akemi, que em roda formada com Miya, Aruni e Sho, protegia os olhos do sol ofuscante para analisar os arredores.

    “Todos estão aqui? Pelo visto, sim… Nihara está lá longe com aqueles… ‘amigos’ dele. Espero que continuem por ali, distantes…”

    Também havia outra preocupação.

    “E como será que é o instrutor? Imaginava um velho sábio que ensinaria o caminho do corpo perfeito… Não, clichê demais. Devia ser um gigante musculoso com cara de poucos amigos… Mas isso também é clichê! O que restaria…? Sabe, é melhor nem pensar mais.”

    Miya, sem papas na língua e com a menor paciência, cruzou os braços para verbalizar uma pergunta que já estava na ponta da língua de todos. — Acho que o instrutor está quase se atrasando. Alguém tem relógio? Ou uma bola de cristal?

    — E-eu não… — respondeu Aruni, ansiosa — você tem, Sho?

    — Um relógio? Não. Quem dirá uma bola de cristal. Até quase cheguei atrasado aqui, não tive tempo de comer nada — claramente, Sho não queria estar onde estava.

    — Pois é — Akemi refletia com um ar de detetive — você ainda não nos disse onde estava.

    — Na verdade — Sho tinha o olhar perdido no vazio — nem eu sei o que aconteceu direito…

    Sem que alguém se aprofundasse sobre o caso misterioso de Sho, Nikko surgiu rapidamente e jogou um braço em volta do pescoço de Aruni, assustando-a.

    — Aah!

    — Calma, Arunizinha! Sou eu! Estava com a Kyoko, finalmente consigo chamar aquela garotinha pelo primeiro nome, é tão fofo…! E então, pessoal! O que tá pegando?!

    — Estamos esperando o instrutor — informou Miya — já deve ser uma da tarde e nada dele aparecer.

    Nikko arregaçou a manga do braço direito que envolvia Aruni.

    “Oh! Ela tem um relógio… E aquilo é feito de quê?!”

    Com uma caixa de prata esterlina polida, mostrador de marfim, ponteiros de aço azulado, vidro de cristal e uma pulseira de couro albino, o relógio de Nikko recebia todos os olhares da roda.

    — Corrigindo, são meio-dia e cinquenta e nove! Será uma hora da tarde em três… dois… um…

    Fiiiiiiiiu-BRUUUUUUUUUUUUM!!!

    Como se o próprio céu estivesse se vingando da terra, algo atingiu o chão diante dos alunos como um meteoro cortador de ventos, levantando uma tempestade de areia que teria deixado qualquer deserto orgulhoso.

    — Cof cof cof… — Akemi foi o único a tossir.

    INFERNUS!!! POR ACASO ALGUÉM AQUI TEM ALERGIA À AREIA???!!! — um berro masculino, grave como a de um leão, mas com um toque histérico de uma hiena, explodiu no ar.

    “O-o-o que é isso?!”

    No meio das baixas nuvens arenosas, uma imensa silhueta escura se formava antes da névoa começar a se dissipar sutilmente.

    Ainda abraçada à Aruni, Nikko também não conseguiu segurar a tosse enquanto abanava a poeira à sua volta. — Cof cof. Ai, nossa! Que desagradável! De onde veio isso…? Op! — Ela alertou-se ao ver o que a areia escondia.

    Em descansar, um homem de aparentemente quarenta anos, vestindo apenas coturnos, uma calça verde escura camuflada e um quepe preto, exibia músculos que provavelmente tinham seus próprios músculos menores. Seus olhos castanhos saltados, barbicha abaixo da boca e pelos no queixo acentuavam uma cara decidida a intimidar qualquer um que cruzasse seu caminho.

    Cicatrizes pelo corpo do militar contavam histórias de guerra, provavelmente envolvendo feras indomáveis e batalhas épicas que fariam qualquer um reconsiderar suas escolhas de vida; e no pescoço, um pingente de prata em formato triangular completava o visual, a cereja de um bolo de terror.

    Todavia… apesar de toda essa demonstração de imponência, o nariz romano e a altura do militar gerava dúvidas nos alunos. Afinal, ele estava mais para “versão compacta” do “gigante musculoso”.

    ESTÃO ESPERANDO O QUÊ???!!! PERFILAM-SE EM ORDEM NUMÉRICA!!!

    Os alunos alinharam-se em um piscar de olhos, todos lado a lado em descansar usaram de referência a direita de Akemi — o 01 — que de olhos fechados, continuava a tossir sem parar com as mãos na boca.

    — Uh-cof cof cof!

    QUE P#RRA É ESSA, RECRUTA???!!!

    O rapaz abriu os olhos, espiou à sua direita, percebeu a pose de todos os seus companheiros, e corrigiu-se abruptamente; mas, ao olhar à sua frente, deparou-se com o militar quase colado em seu rosto.

    — É o Zero Um, guerreiro?! — Estranhamente, a voz soou afinada, falha e nasal. Embora ainda masculina, o tom cômico não deixaria de causar medo nos inexperientes, especialmente por causa dos olhos arregalados.

    — Emm… Sou eu, senhor!

    “Tá muito perto…! Calma, ele tem a minha altura? E essa voz agora… Estou seguindo ordens de um rato?!”

    O tom do instrutor realmente alternava, sendo fino em certos momentos. — Excelente, Zero Um. Mais uma dessas e você felizmente terá que encerrar sua jornada vital aqui mesmo, é o ciclo de qualquer animal… — Mas, em outros momentos, voltava a ser grave e histérico. — ENTENDIDO???!!!

    — A-ahm…! Sim, senhor! — Lá veio o típico suor de alguém prestes a ser jogado numa piscina sem saber nadar.

    O militar virou-se para caminhar em frente aos alunos; sua voz grave, mas levemente contida, espalhava-se pelo campo. — BOM DIA, SENHORES!!! DEIXEM-ME ME APRESENTAR! SOU CONHECIDO COMO YUJIRO YURA, ALTO MAJOR COMODORO DE CAÇA DO SEXTO REGIMENTO ÁURICO! ESTRIPADOR DE URSOS E DEGOLADOR DE DRAGÕES! ENTRETANTO, PARA VÓS, É MAJOR YURA!!!

    “Caçador… um shihai que doma e derruba feras de porte altíssimo. Ele não deve ser brincadeira.”

    O major chegou até Sho — o 15 — e fez uma meia-volta volver digna de qualquer desfile militar. — SEREI O INSTRUTOR DO CONDICIONAMENTO FÍSICO E TREINAMENTO MARCIAL DE VOCÊS! E COMO JÁ POSSUEM FORMAÇÃO BÁSICA EM UM INSTITUTO ÁURICO, CREIO QUE NÃO TEREMOS CONTRATEMPOS — informou ele, passando pelo 01.

    “Tá aí a primeira desvantagem de não ter uma FAB1…”

    O militar virou-se novamente. — CHAMAREI OS SENHORES PELO NÚMERO DE IDENTIFICAÇÃO, SOU HORRÍVEL COM NOMES! ATÉ ESQUEÇO O DA MINHA MÃE! SEMPRE TENHO QUE OLHAR ESSE MALDITO PINGENTE PRA LEMBRAR, ENTÃO PREFIRO CHAMÁ-LA DE DONA MORTE… Nunca tive tanto medo na frente de outro ser… EEENFIIM!!! PARA QUE EU POSSA DECORAR AO MENOS OS SEUS NÚMEROS, OLHAREI FIXAMENTE NO OLHO DE CADA UM DE VOCÊS! ESPERO ME DEPARAR COM ROSTOS FORTES DE SOLDADOS DISCIPLINADOS! Ao chegar no aluno 15, o instrutor deu meia-volta. — ZERO UM!!!

    Akemi engoliu seco. — S-sim, Major Yura!

    A voz aumentava a cada passo. — TU ÉS A CABEÇA DA TROPA, A PONTA DA SETA, A REFERÊNCIA! TUDO COMEÇARÁ POR VOCÊ! ENTÃO! VOCÊ É O PRIMEIRO A ME MOSTRAR ESSA CARA FÉTIDA DE UM JOVEM DINÂMICO! — Ele parou bem diante de Akemi, vendo aquele rosto inseguro. — Nossa, que ser abominável… — Seus olhares foram aos céus, suas mãos levantadas suplicavam. — Ó deuses! Não deixem que minha baixa expectativa nesse bando de abomináveis piore no primeiro dia.

    — Prometo dar o meu melhor, senhor! Perdão qualquer impressão indesejada!

    Yura aproximou o rosto. — … PERDÃO?! Hmmm… — Ele coçou a barbicha, pensativo. — Perdão rima com flexão.

    — F-flexão?!

    POSITIVO, RECRUTA!!! DEIXE TRINTA PRA MIM!!!

    “TRINTA???!!!”

    — A-a-agora?!

    IMEDIATAMENTE!!!

    Akemi jogou-se no chão para flexionar, mas sua posição… bem, digamos que era mais apropriada para um grilo do que para um humano.

    A execução, então…

    — Está com dificuldades, zero um?

    Uuff…! De forma alguma! Eu consigo!

    O major agachou-se e olhou medonhamente no rosto do rapaz travado e trêmulo no chão. — É impossível você durar mais uma hora aqui, sabia? Mas sabe quem eu sou, zero um? — sussurrou ele, que antes de qualquer resposta, bateu no peito com orgulho e gritou na orelha do jovem: — EU SOU O IMPOSSÍVEL!!! — Em pé, voltou a se dirigir à turma. — NÃO IMPORTA O QUÃO FRACOS SEJAM, OS TRANSFORMAREI EM MÁQUINAS MORTÍFERAS! MAS PARA ISSO, VOCÊS IRÃO SUAAAR, SANGRAAAR E CHORAAAR DE ARREPENDIMENTO POR ESTAREM VIVOS! Pelo menos é o que eu penso de alguns… Ah! E se alguém quiser desistir, é só falar como uma criancinha: Ai, major! Sou muito frágil e inútil! Eu não consigo e irei desistir…! ESTAMOS ENTENDIDOS???!!!

    SIM, SENHOR!!! — bradou a turma, vibrando o solo em que Akemi ainda tentava sobreviver às flexões.

    — Excelente… ZERO DOOOIS!!!

    O instrutor posicionou-se cara a cara com Nikko, que mesmo numa situação tão séria, manteve-se em descansar, com o olhar confiante e sorriso fechado.

    O Major Yura gesticulava, cansado e abalado. — Sabe, zero dois… a gente avisa, avisa, avisa… mas chega uma hora, minha irmã… que a gente não diz é mais nada! Não existem mais palavras, nem mais nada… a dizer. — Ele ajeitou a postura e recuou as mãos para atrás da cintura. — Mas sabe de outra coisa, zero dois? Tenho fé que irá me impressionar mais do que esse seu canga2 medíocre! Só leve em consideração uma coisinha… É PRA IMPRESSIONAR NO BOM SENTIDO DA PALAVRA!!!

    Após ter suas marias-chiquinhas balançadas pelo grito, Nikko prestou continência. — Positivo, Major Yura!

    O instrutor seguiu olhando os alunos, rosto por rosto. Mas, ao chegar diante de dois jovens específicos lado a lado, ele parou no intuito de analisá-los. — Hmmm… Um garoto de olhos azuis, ameaçadores como um mar de tubarões-polvo à luz do dia, e uma garota de presilhas de chamas no cabelo bicolor e olhos verdes límpidos como uma joia rara… QUE DESCRIÇÃO RIDÍCULA QUE ME DERAM…! EENFIIIM!!! VOCÊS DOIS AÍ SÃO MIYAZAKI?!

    — Afirmativo, senhor! — responderam os integrantes da família de fogo, sem precisar olhar nos olhos de quem perguntava. A perfeição na postura exalava disciplina por si só.

    — Correto. Qualquer um Miyazaki dispensa esforços desnecessários. Tenho certeza de que todos aqui conhecem suas capacidades. Vocês dois não necessitam participar das sessões de hoje, entendido?

    — Sim, senhor!

    Yura avançou para os próximos alunos, porém, houve um destaque na reação dos Miyazaki.

    Claramente estressado, Nihara lamentou a oportunidade perdida de mostrar suas habilidades, ou talvez fosse uma sensação negativa gerada por eventos passados que assombravam sua mente.

    Já Miya tentou esconder o desprezo contido que sentiu ao ver o instrutor passar. Seu desdém pelos militares da ASA pulsou em seu semblante, uma imperceptível chama silenciosa…

    Olhando aos céus, o major caminhava lentamente, suspirando. — Haaa. Pelo menos tenho a certeza de alunos altamente qualificados na minha tropa. Nada mais pode me abalar… — Mas, quando bateu os olhos nos próximos… — Ah, é sério isso?

    Parado, Yura franziu o rosto ao sentir-se diante de uma piada mal contada, enquanto observava Aruni e Sho Yamamoto, que suavam frio e tremiam levemente com a presença do superior.

    — São gêmeos?

    — … S-sim, senhooor — respondeu Aruni baixinho, com o olhar retraído buscando maneiras de desaparecer no chão, enquanto Sho não sabia como reagir ao próprio medo.Yura suspirou, levando a mão à testa.

    — Haaa… É CLARO QUE SÃO! ME PERGUNTO COMO OS DEUSES TIVERAM CORAGEM DE ME TRAZER FARDOS MAIORES! E EM DOSE DUPLA…! Não perderei tempo com vocês. Só de olhar, já imagino o trabalho que me darão. Vocês e os Miyazaki estão dispensados!

    Aruni apertou as mãos contra o centro do peito, desconfortável. Ela claramente odiava ser o centro das atenções, ainda mais sob circunstâncias como essas, e daquele modo, Nihara, Miya, Aruni e Sho se retiraram do campo de batalha…

    Com as mãos recuadas, o major andou à frente da turma restante. O foco foi para o rosto concentrado dele. — É O SEGUIIINTE!!! NÃO ME IMPORTA COMO VOCÊS SE INGRESSARAM NESTA ACADEMIA, SEJA POR PROVA OU QUALQUER TIPO DE INDICAÇÃO! MAS SAIBAM DE UMA COISA! É DE SUMA IMPORTÂNCIA QUE VOCÊS OBTENHAM UMA FORMA FÍSICA E MENTAL DECENTE INDEPENDENTEMENTE DO NICHO MILITAR QUE QUEIRAM SEGUIR! DIGO ISTO PARA A SAÚDE DE VOCÊS! E LEEEMBREM-SE!!! MEU DEVER AQUI É MANTER O CORPO DE VOCÊS EM DIA ATÉ O FINAL DESTE ANO! ESTAMOS ENTENDIIIDOS???!!!

    SIM, SENHOR!!!

    Um silêncio tomou conta após o brado dos jovens, e com isso, o major levou a mão ao queixo enquanto andava. “Apenas sete alunos de quinze me deram boas primeiras impressões, são eles 033, 044, 075, 096, 107, 128, 139. E agora só me sobraram onze para trabalhar. Alguns não possuem energias áuricas tão fortes e outros dois primeiros parecem patetas, sem contar aqueles gêmeos, é lamentável. Vamos ver como os daqui se sairão em testes mais apropria-”

    Viinte… e dooois… Uuf! — Um baixo gemido de esforço vindo de baixo tomou a atenção.

    Quando o major parou para olhar ao chão… — Não acredito

    Bem… digamos que não era uma coisa que ele esperava ver…

    1. Formação Áurica Básica.
    2. Companheiro, um “Amigo de Fé” no meio militar.
    3. Kentaro Ozaki
    4. Rin Kurosawa
    5. Mayumi Sanada
    6. Kinyoku Shinkai
    7. Minoru Suzumura
    8. Nihara Miyazaki
    9. Hiromi Miyazaki

    Digo a vocês que este capítulo foi MUITO TRABALHOSO, porém divertido de fazer.

    Usar caixa alta não foi fácil, então, se houver algum erro, por favor me avisem. Há coisas que só o leitor consegue ver…

    Espero que gostem do capítulo! Se puderem, deixem uma avaliação ou comentário! ❤️

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