Índice de Capítulo

    A viagem prosseguiu sem interrupções. Acompanhado pelos irmãos gêmeos, Dam subiu a montanha, enfrentando o tempo nublado sem hesitação. Os agasalhos fornecidos garantiram o conforto necessário até o destino.

    No topo, o solo revelou-se tão rígido quanto pedra, e a paisagem distante permanecia oculta pela névoa. Ainda assim, a satisfação de alcançar o objetivo era evidente. Sem demora, começou a examinar fragmentos rochosos espalhados pelo local.

    Germe questionou o que buscava. A resposta veio sem hesitação: procurava uma pedra rara, encontrada apenas em montanhas altas, cuja dureza e resistência superavam o ferro convencional. A ideia o fascinava.

    Depois de uma hora procurando, Dam, já preocupado, perguntou:

    — Cadê a Germa?

    O rosto de Germe se fechou, os punhos se cerraram. Sua expressão ficou sombria ao responder:

    — De novo com isso? Por que está fazendo isso comigo?

    Dam franziu a testa, surpreso com a reação. Sem entender, olhou ao redor, chamando por Germa. Ele estava realmente preocupado. Mas então, Germe gritou, sua voz carregada de frustração:

    — Para com isso!

    — Do que você está falando? Precisamos encontrá-la.

    Germe abaixou a cabeça, os ombros tremendo. Sua respiração estava pesada, errática.

    — Por favor… para com isso. De novo… e de novo… PARA COM ISSO!

    Antes que Dam pudesse reagir, seu companheiro avançou e agarrou sua roupa, erguendo-o do chão com um olhar transtornado.

    — Você… Para de dizer as mesmas coisas!!!

    Dam arregalou os olhos e, tentou processar o que acontecia.

    — Germe? — murmurou, incrédulo. — O que está acontecendo com você? Algum demônio te enfeitiçou?

    Germe riu, mas não era um riso de humor. Era frio. Cruel.

    — Demônio? — ele soltou-o e, virou as costas. — Aquele demônio… Será que… na verdade… ele enfeitiçou você?

    Então, sem hesitar, Germe sacou suas espadas e as apontou para seu companheiro. Ele recuou instintivamente.

    — Germe, o que está fazendo?

    Germe suspirou, exausto, como se estivesse carregando um peso enorme.

    — Eu cansei. Toda hora, a mesma pergunta… — sussurrou.

    Dam estreitou os olhos: — O que disse?

    A expressão de Germe se torceu em pura dor e ódio. Seus olhos queimavam de fúria.

    — A minha irmã morreu, seu filho da puta!

    O sangue de Dam gelou.

    — O quê? Como assim? Ela estava aqui agora há pouco!

    — Cala a boca! — rugiu. — Eu vou acabar com o seu sofrimento!

    Sem aviso, ele avançou com um corte vertical certeiro. Dam conseguiu se esquivar no último instante, rolando para o lado.

    — Calma, Germe! Vamos conversar! Você não era assim… Certo?

    — Não sou assim? Foi você que ficou louco, não eu! — Ele segurou a espada com mais força, preparando outro ataque. — Mas relaxa… Eu vou acabar com isso agora.

    Ao perceber a mudança no comportamento do acompanhante, sacou a menor de suas armas e disparou. No entanto, seu companheiro ergueu a espada a tempo de bloquear o tiro e avançou sem hesitação.

    A curta distância entre os dois permitiu que Germe infiltrasse a defesa do oponente. Com um golpe diagonal, tentou atingi-lo, mas Dam, empunhou a arma mais longa, aparou o ataque e revidou com outro disparo.

    Ele esquivou-se para o lado e contra-atacou. A lâmina rasgou o traje do adversário, mas o impacto foi amortecido pelo colete de ferro reforçado. Mesmo ferido e sentindo a dor latejante, não hesitou. Apertou o gatilho mais uma vez.

    Dessa vez, a espada não bastou para deter o projétil. O tiro atravessou seus órgãos, arrancando-lhe o fôlego. Ele tombou no chão, vencido.

    — Você está bem? — perguntou.

    Germe tentou se erguer, mas suas forças falharam. O sangue escorria sem controle. Dam, tomado pela preocupação, ajoelhou-se ao lado dele e ergueu-lhe a cabeça.

    Observou o companheiro perder ainda mais sangue e compreendeu que não havia salvação. Antes que a morte o tomasse por completo, decidiu fazer uma última pergunta.

    — Por quê? Por que teve que acontecer isso?

    Germe olhou para ele, um sorriso frio e vazio se formando em seu rosto.

    — Eu cansei de carregar os seus problemas.

    Germe sacou uma faca oculta e, num movimento rápido, cravou-a no pescoço do seu companheiro. O golpe certeiro fez o corpo vacilar para trás. Atordoado, ele tentou entender o que acabou de acontecer, a voz fraca questionava o motivo.

    — Por que você não me salvou? Por quê? — disse chorando.

    Dam, por um momento, o seu olhar ficou confuso e distante.

    — O quê? Do que você está falando?

    A consciência esvaiu-se, e desabou no chão. Antes de despertar, sons de batalha ecoavam ao seu redor. Quando abriu os olhos, viu os irmãos lutando ferozmente.

    A mente ainda confusa tentou situá-lo. Lembrou-se de que haviam descido a montanha e, no caminho, encontraram algo incomum. A criatura tinha a forma de uma tartaruga, mas não era uma. Seu corpo negro sustentava inúmeras figuras demoníacas agarradas às pernas, e no topo erguia-se uma fortaleza sombria, semelhante a um quartel.

    Ao desviar o olhar de volta para os companheiros, a cena o congelou. Os corpos de Germe e Germa eram perfurados por lâminas demoníacas.

    Um arrepio percorreu-lhe a espinha. A energia que emanava daquela presença era diferente de tudo que já sentiu. O medo tomou conta.

    — Destemidos? — perguntou incrédulo.

    Ele não conseguia identificar aquelas criaturas. Era como se a própria existência delas estivesse oculta por uma energia negra, escondendo seus rostos por completo.

    Um calafrio percorreu-lhe o corpo. Instintivamente, recuou um passo, tomado pelo medo.

    — Por quê? Por que Dam? — perguntou Germa.

    Dam fitou os corpos caídos. Queria salvá-los, mas não conseguia. Apenas a presença daqueles seres bastava para fazê-lo tremer.

    Era forte, mas nunca foi um soldado disposto a arriscar a própria vida. Naquele momento, experimentou um medo puro e avassalador — o verdadeiro temor da morte.

    — Por que você não me salvou?! — Germe gritou, a voz carregada de dor e raiva.

    — Eu te amava, me salve, Dam… — Germa implorou, os olhos cheios de lágrimas.

    Ele ficou parado, sem palavras, a angústia visível em seu rosto. Ele deu um passo para trás e, afastou-se lentamente.

    — Eu… eu… — ele gaguejou, sem saber o que dizer e, sentia-se impotente diante de tanto sofrimento.

    Incapaz de reagir, Dam assistiu, impotente, enquanto os dois demônios assassinavam os gêmeos diante de seus olhos, sorrindo. A cena o consumiu por dentro. Suas pernas cederam, e ele caiu de joelhos. O riso das criaturas ecoou ao seu redor, zombando de sua fraqueza.

    O desespero tomou conta. Tremendo, agarrou a arma de múltiplos disparos e puxou o gatilho sem parar. O estrondo das balas ergueu uma cortina de poeira. Por um instante, acreditou ter vencido. Sentiu o medo recuar ligeiramente.

    Então, as risadas ressurgiram. Reverberaram pelo ambiente, afiadas como lâminas. A realidade o atingiu como um golpe: não havia salvação. Aquele era o seu verdadeiro momento de desespero.

    Os demônios apenas o observavam, sorrindo, imóveis. Ele tentou correr, mas seu corpo se recusou a obedecer. O terror o congelava. Mas, de repente, as criaturas se afastaram. Ignoraram-no por completo, como se sua existência fosse insignificante, como se não passasse de uma formiga à espera de ser esmagada por outro qualquer.

    Quando os demônios desapareceram na distância, Dam recuperou o fôlego. Voltou-se para os corpos inertes dos companheiros. As lágrimas deslizaram por seu rosto, mas não havia tempo para luto. Naquele instante, só uma coisa importava: sobreviver.

    Virou-se e fugiu, o coração disparado. Odiava aqueles seres por sua arrogância. Mas odiava ainda mais a si mesmo por ter sido incapaz de proteger seus companheiros. Eles morreram por ele, e ele não fez nada.

    E isso era um fardo que jamais poderia esquecer.

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