Índice de Capítulo

    A destemida jazia entre os destroços, o corpo marcado pelos estragos da batalha. Havia atravessado várias paredes, e cada impacto deixou cicatrizes. O rosto, desfigurado pelo chute, mal conservava sua forma original, enquanto as costelas quebradas dificultavam a respiração. 

    Ainda assim, mesmo com o sangue que escorria e a dor pulsando em cada membro, seus lábios se curvavam em um sorriso. Os olhos, brilhava com uma sede insaciável, revelavam o prazer que sentia diante do desafio. Conforme as feridas se fechavam lentamente, a excitação em seu semblante somente aumentava.

    — O que é tão engraçado?

    — Quê? — Loi ficou surpresa.

    Ui, que deveria estar na sala principal, apareceu diante dela sem que qualquer sinal de sua aproximação fosse percebido. A incredulidade cresceu dentro da destemida, o choque se misturou à frustração. Como não notou a presença adversária? O coração acelerou, não por medo, mas pela fúria que queimava em seu peito.

    Ergueu o rosto e encontrou Ui, sorrindo novamente, aquele mesmo sorriso arrogante que já começava a lhe causar náusea. Os olhos da inimiga transbordavam confiança, como se a vitória já estivesse garantida.

    Loi sentiu o sangue ferver. Subestimada mais uma vez, recusou-se a aceitar aquele destino. Com um grito carregado de deliberação, fincou os pés no chão e disparou para frente, o corpo impulsionado pelo ódio. 

    Girou no ar e desferiu um golpe em meia-lua, as pernas cortando o espaço com violência, determinada a acabar com aquele sorriso de uma vez por todas.

    — Não me subestime!

    — Subestimar? — disse, com um sorriso desdenhoso. — Você não passa de um mero entretenimento para mim! — declarou, apertando ainda mais a perna de Loi.

    Com um único movimento ascendente, Ui ergueu o demônio com uma mão, o peso adversário não representava nenhum obstáculo. Em seguida, golpeou-a contra o chão com brutalidade. 

    O impacto ecoou pelo quarto abandonado, mas não satisfeita, repetiu o movimento várias vezes e transformou o corpo da destemida em um saco de carne sendo esmagado contra os destroços. Ossos se partiram, sangue se espalhou, e a dor se tornou uma entidade sufocante.

    Ao finalmente cessar, Ui girou seu corpo no ar como se fosse um mero brinquedo e, com um arremesso feroz, lançou-a pelos buracos que antes destruiu. A trajetória da queda foi marcada por estilhaços e escombros, até que Loi atravessou o último vão e colidiu violentamente contra um dos destroços na sala principal.

    A dor queimava como brasas em sua carne, latejando em cada fibra de seu corpo. Mesmo com sua regeneração acelerada, cada segundo parecia uma eternidade. Enquanto as feridas lentamente se fechavam, um som perturbador cortou o silêncio: passos se aproximavam, lentos, precisos, cheios de intenção. Seu corpo se arrepiou.

    Ela precisava de tempo, seu instinto gritava por isso. Se aquele era seu fim, que fosse pelas mãos de alguém que a visse como uma guerreira, não apenas como uma presa indefesa.

    — Não me… subestime! — gritou, levantando-se com dificuldade. — Barreira de vento!

    O vento começou a se reunir ao redor do corpo de Loi mais uma vez, rodopiando como lâminas invisíveis prestes a serem libertas.

    Ui, percebeu a mudança no fluxo e, sem hesitar, disparou em sua direção, os passos ecoava pelo ambiente destruído. Cada movimento era veloz e preciso, um predador prestes a cravar suas presas.

    Loi, ainda caída, observou a rival se aproximar rapidamente. O coração martelava em seu peito, mas sua mente permanecia afiada. Com os olhos fixos na inimiga, um pensamento cortou sua mente como um raio:

    Nessa velocidade vou conseguir alc…

    Antes mesmo que pudesse concluir o pensamento, uma dor lancinante atravessou seu abdômen. O choque percorreu cada nervo de seu corpo, congelando-a por um instante. Ao olhar para baixo, viu uma perna cravada em sua carne.

    Forçando-se a erguer a cabeça, encontrou novamente aquele sorriso. Arrogante. Superior. Um lembrete cruel de sua inferioridade naquele momento.

    Mas Ui, não havia terminado. Com um giro preciso, desferiu um chute ascendente que lançou Loi para o alto como se fosse um mero boneco. O impacto contra o teto fez rachaduras se espalharem pela estrutura antes que seu corpo despencasse de volta ao chão com um baque ensurdecedor.

    Sem dar espaço para recuperação, Ui avançou e, com um golpe brutal, esmagou a cabeça da adversária contra o piso. O impacto foi tão violento que o chão cedeu, engolindo a destemida em meio aos destroços.

    O silêncio pairou por um instante, até ser rompido pela risada alta dela. Como se já tivesse vencido, como se tivesse total controle daquela luta.

    — Eu sou invencível!

    Izumi, que observava à distância, não pôde esconder a surpresa. Acostumado a se perder no calor da batalha, reconhecia aquela sensação de êxtase na luta, mas havia algo diferente em Ui. Ela não somente combatia — destruía. Cada golpe transbordava uma brutalidade fria, como se estivesse se divertindo com o sofrimento alheio.

    A cena despertou uma lembrança há muito enterrada. Aquele dia no mercado negro. O cheiro de sangue impregnado no ar, os corpos caindo um a um, e ele avançou sem hesitação, sem remorso. Tudo parecia um jogo, e ele, o jogador absoluto.

    Ela, com certeza, é uma mestiça como eu.

    Depois de refletir sobre aquilo, Izumi sorriu, um brilho satisfeito nos olhos. Não estava sozinho. No mundo onde os humanos o negavam, onde sua existência era tratada como um erro, havia alguém que compartilhava aquela mesma natureza. Mas qual teria sido o passado dela? Sua vida foi marcada pela felicidade ou pela tristeza?

    Antes que pudesse se aprofundar na dúvida, Ui, agora com os instintos aguçados, captou seu olhar. Sentindo a excitação ainda pulsar em seu corpo, não resistiu. Com um sorriso selvagem, disparou em sua direção.

    Izumi, ao perceber a desgraça que acabou de provocar, preparou-se para esquivar. Mas era tarde demais. Ela antecipou seus movimentos e, com velocidade impressionante, surgiu à sua frente, prendendo-o em um abraço firme.

    Os olhos dela brilhavam, a respiração ofegante. A adrenalina da batalha ainda corria em suas veias e logo depois, colou o rosto ao dele, declarou:

    — Eu te amo! Te amo! Te amo! Te amo demaaaaaaiiiiiisssss!

    Ela não parava de repetir as mesmas palavras, enquanto seus braços não davam sinal de ceder. Izumi tentou se desvencilhar, usando toda sua força, mas Ui, estava inabalável, mais forte do que ele imaginava.

    Eu nem consegui ver…

    Izumi, naquele estado, ainda estava em seu normal, ciente de que sua velocidade superava a de qualquer oponente. Ele poderia facilmente ultrapassá-la, mas algo na situação o fazia hesitar. 

    Seus sentidos, aguçados e imperturbáveis, conseguiam discernir cada movimento, cada mínima mudança no ambiente. Mesmo sem recorrer ao aumento de suas habilidades, sua visão permanecia clara, penetrante.

    Mas o que aconteceu a seguir o surpreendeu. Ui, com uma velocidade impressionante, simplesmente sumiu do seu campo de visão.

    Acho que ela não veio correndo até mim… será que foi num pulo? Interessante, uma técnica que desconheço.

    Izumi, conhecido por sua velocidade incomparável, sempre se baseou em sua habilidade de correr. Ao disparar para frente, seus movimentos eram tão rápidos que para os outros parecia que ele simplesmente sumia e reaparecia em outro ponto. 

    No entanto, com Ui, a dinâmica da velocidade mudava. A habilidade dela transcendia a corrida. Quando ela pulava de um ponto para outro, sua aceleração era tão drástica que deixava qualquer um incapaz de acompanhá-la, tornando-a praticamente invisível.

    Enquanto Ui estava ali, não percebeu imediatamente o que acontecia ao redor. Ela estava tão envolvida naquele momento que sua atenção estava focada completamente em Izumi. No entanto, sem ela perceber, sua inimiga se recuperava lentamente e começava a ativar sua habilidade, a Barreira de Vento.

    Izumi, sempre atento aos detalhes, havia percebido o movimento. Seus olhos se estreitaram ao notar a mudança no ar. O vento se movia de forma diferente, a pressão ao redor começava a se alterar. Com um olhar crítico, ele se virou para ela e, com a voz grave, disse:

    — Ui, a sua luta ainda não terminou.

    — Sim, mas quero continuar assim — resmungou, irritada.

    — Ui! — alertou, com a voz mais séria.

    Ela olhou para Izumi com uma expressão que parecia mais distante do que triste, seus olhos cheios de uma melancolia. No entanto, logo desviou o olhar, sua atenção voltando com furiosa intensidade para Loi, que emergia lentamente do buraco, as cicatrizes ainda frescas em seu corpo. 

    A visão de sua inimiga de pé, viva, depois de tudo o que havia ocorrido, parecia um insulto à própria força.

    — Eu vou te matar! — declarou Ui, irritada.

    Loi, agora em sua melhor forma, se erguia com uma confiança renovada. As feridas ainda pulsavam, mas a força que ela havia recuperado era evidente. Seu sorriso, embora cansado, era um reflexo de pura desafiadora determinação.

    Com um gesto que desafiava qualquer noção de respeito, o demônio levantou o dedo médio, fazendo um gesto impuro com desdém.

    — Eu duvido!

    Com um salto, ela tentou golpear o rosto da destemida com um punho certeiro. No entanto, sua mão escorregou e ela perdeu o equilíbrio, caindo pesadamente no chão.

    Enquanto se levantava, Ui se questionou e lançou um olhar furtivo para Loi:

    — Quê?!

    Loi, ao olhar para ela com desdém, disse com um sorriso de vitória:

    — O jogo virou!

    Ui levantou-se, com o rosto fechado, e olhou para sua inimiga, respondendo com um tom calculista:

    — Entendo. Qualquer ataque que passe por essa barreira é desviado, e, se eu não me engano, isso causa algum dano…

    — Fez trabalho de casa, parabéns. Agora sabe que a sua vitória se foi — respondeu, com um sorriso vitorioso.

    — No entanto, esse ventinho que deveria machucar… — disse Ui, olhando para sua mão. — Não senti nada! — zombou, mostrando a palma.

    Loi franziu a testa por um momento, mas logo se recompôs e começou a gingar. O sorriso confiante se espalhou pelo seu rosto, e com vontade restaurada, ela cantou:

    — 🎵 Paranauê! Paranauê! Paraná! 🎵

    O vento começou a se agitar violentamente ao redor da destemida e respondia a cada movimento fluido e mortal que ela fazia. A cada balançar de suas pernas, o ar ao seu redor parecia se rasgar, criando uma corrente cortante e selvagem.

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