Índice de Capítulo

    No dia seguinte à batalha contra Camion, Izumi organizava seus pertences com calma. As vestes características mantinham-se as mesmas, agora marcadas por cortes e poeira, vestígios do combate recente. Apesar do desgaste, continuavam firmes sobre o corpo.

    A nova espada repousava ao lado. Antes, suas lâminas resplandeciam com uma aura amarela intensa, envolvendo-as por completo. Agora, encontravam-se em seu estado natural, incolores como espelhos.

    Deitou-se na cama e sentiu o peso do próprio corpo afundar no colchão. O cansaço era intenso, mas a mente permanecia desperta, presa às lembranças da batalha. Mais um passo havia sido dado. O primeiro destemido tombou diante de sua lâmina, e a sensação de vitória pulsava em seu peito. A vingança começava a tomar forma.

    Enquanto se afogava nesses pensamentos, murmurou para sua mãe, como se ela pudesse ouvi-lo, que aquele era somente o começo. No entanto, algo estranho aconteceu. O quarto ao seu redor pareceu se distorcer. 

    As sombras tremulavam nas bordas da visão, e um cansaço inesperado tomou seus sentidos. Os olhos começaram a falhar, a vista tornou-se turva, e, antes que percebesse, as pálpebras se fecharam lentamente.

    Izumi não compreendia o que acontecia naquele momento. No entanto, aquela sensação de paz envolvia seu corpo como um manto acolhedor. Em sua mente, questionava-se sobre aquela estranha nostalgia. Por que parecia tão familiar?

    Antes que pudesse se entregar por completo, um som brusco ecoou pelo espaço. O bater repentino de portas rasgou o silêncio, puxando-o de volta à realidade. Seus olhos se abriram de súbito. Ainda confuso, murmurou para si:

    — O que acabou de acontecer comigo?

    Ao sentir o cheiro familiar de quem estava do outro lado, levantou-se sem hesitar. Com passos silenciosos, aproximou-se da porta e a entreabriu com cautela. A luz do corredor projetou uma sombra sutil em seu rosto enquanto, em um tom baixo, perguntou:

    — O que você quer?

    A pessoa ergueu a mão com calma e pousou-a sobre a cabeça dele. Um sorriso discreto surgiu no canto dos lábios antes que dissesse, em um tom sereno:

    — Não se acanhe, me deixe entrar, Izumi.

    Por um instante, cogitou se rebelar. No entanto, algo o impediu, como se, pouco a pouco, aceitasse a ideia de que aquele homem pudesse realmente ser seu pai.

    Lentamente, abriu a porta e se afastou, caminhando até a beirada da cama, onde se sentou em silêncio. Castiel entrou logo depois, seus olhos percorreu o ambiente com uma expressão nostálgica. O armário permanecia exatamente como antes, assim como a pequena mesinha ao lado da cama. Tudo ali parecia intocado pelo tempo.

    No entanto, a porta que levava à cozinha estava diferente. Castiel franziu a testa por um instante, ponderando sobre a mudança. Logo supôs que aquela tal de Ui tivesse sido a responsável.

    Sem dizer nada, caminhou até o banheiro e abriu a porta. Para sua surpresa, tudo estava impecavelmente limpo, como se ninguém tivesse passado por ali há muito tempo.

    Izumi permaneceu sentado, unicamente observava. Seus olhos seguiam cada passo de Castiel, analisando cada expressão que surgia em seu rosto. Foi naquele momento que compreendeu, sem sombra de dúvida, que o homem diante dele era o mesmo que sempre o visitava antes da morte de sua mãe.

    Logo depois, o líder se dirigiu até a porta da cozinha e a abriu. Porém, ao contrário das outras, esta parecia um pouco emperrada, como se o trabalho feito não tivesse sido bem executado. Ao entrar, viu alguns vegetais cuidadosamente dispostos sobre uma mesa de madeira e, do outro lado, pratos e talheres organizados.

    O líder sentiu uma sensação de vida naquele lugar, algo que não sentia há muito tempo. No fundo, ele agradeceu àquela moça por fazer o que ele nunca teve coragem de realizar após a morte da Victory.

    Depois de um tempo, ele voltou para o quarto em silêncio. Sentou-se ao lado da cama, os olhos vagava pelo lugar, mergulhados em lembranças antigas. A nostalgia em seu rosto se desfez, dando lugar a uma expressão séria. Ao cruzar os dedos, ele encarou Izumi, e sua voz saiu baixa, grávida de culpa:

    — Me desculpe, Izumi…

    Sem esperar resposta, estendeu a mão e segurou a do filho com força, os olhos fixos nos dele.

    — Não… meu filho.

    Izumi o encarou, surpreso. Sua expressão endureceu.

    — O que deu em você?

    — É estranho, não? — Castiel sorriu, mas havia amargura ali. — Desde que a sua mãe morreu… eu nunca mais consegui entrar neste quarto. Nem mesmo quando você voltou. Eu… simplesmente não tive forças.

    Ele puxou a mão de volta com brusquidão, a raiva subia em ondas.

    — Cala a boca! — Sua voz saiu fria, como uma lâmina. — Eu não preciso ouvir suas desculpas.

    — Sei que não. — Castiel abaixou o olhar e engoliu a vergonha. — Mas eu precisava dizer… que sinto muito. Se eu tivesse sido mais forte… se eu tivesse feito diferente…

    Ele balançou a cabeça, como se tentasse afastar os pensamentos que o assombravam.

    — Diga o que quiser — respondeu Izumi, ao cruzar os braços. — Sua desculpa não muda nada. Nem vai mudar.

    — Eu sei… — Castiel respirou fundo, os olhos marejados. — Mas Max e você… vocês são tudo o que restou. A única família que ela me deixou.

    Izumi apertou os dentes.

    — E daí?

    — Victory era uma mulher incrível. Forte, gentil… — A voz de Castiel fraquejou. — Eu a amava mais do que qualquer coisa. Mas…

    — Cala a boca! — se levantou num rompante. — Eu não quero ouvir isso! Eu passei a vida inteira odiando todo mundo. Qualquer um que estivesse vivo, eu odiava! Mas…

    Sua voz falhou por um segundo. Ele inspirou fundo, como se tentasse se segurar antes de desabar.

    — Mas eu não consigo odiar alguém que… mesmo à beira da morte, ainda te amava. Ela te amava, entendeu?! Mesmo depois de tudo… Então não venha me pedir perdão. Não me ofereça sua dor, seu arrependimento… isso não serve pra nada!

    Seus olhos brilhavam com fúria e algo mais profundo — mágoa acumulada, amor reprimido, talvez até desespero.

    — Eu só preciso de uma coisa agora. A única coisa que me mantém em pé. A minha vingança!

    Castiel ficou em silêncio por um momento. Depois se levantou devagar e, com cuidado, pousou a mão em seu ombro. Havia orgulho e tristeza em seu gesto.

    — Você cresceu… meu filho.

    Izumi afastou o ombro com um movimento brusco, e virou-se de costas, a respiração pesada.

    — O que mais você quer? — perguntou, sem o encarar.

    — Seu irmão… — hesitou. — Ele pode ser imprudente. E quando se trata de você, ele se torna ainda mais impulsivo. Meu filho, prometa que vai protegê-lo.

    Izumi fechou os olhos por um instante. Ao falar, sua voz era firme, resoluta:

    — Não precisava me dizer isso, velhote.

    Castiel sorriu, pequeno, pesaroso.

    — Obrigado, meu filho.

    O líder logo se retirou, um sorriso discreto curvou nos seus lábios enquanto refletia consigo mesmo. Notava, em silêncio, que seu filho, que antes parecia imerso exclusivamente no ódio, agora havia encontrado pessoas que realmente se importavam com ele, além daqueles que ele desejava proteger.


    Atualmente. Quando seu irmão explodiu com o Léo, o coração de Izumi apertou. Um arrepio percorreu sua espinha, e, sem hesitar, subiu até o topo da fortaleza. De lá, avistou, à distância, a enorme explosão causada por seu irmão, uma visão que o fez questionar o que realmente aconteceu.

    Izumi parou por um momento e esperava que Max aparecesse. O tempo parecia arrastar-se enquanto ele aguardava, mas seu irmão não deu as caras. A preocupação começou a se infiltrar em seu peito, e, sem mais demora, desceu a fortaleza. Ativou sua habilidade “Speed Iz” e disparou em direção ao local do impacto.

    Enquanto corria, a visão à distância fez seu coração acelerar. O destemido estava quase apunhalando Max, e o desespero tomou conta dele.

    Super speed Iz!

    Izumi aumentou sua velocidade instantaneamente e interceptou a investida inimiga. Quando o som do coração do seu irmão atingiu seus ouvidos, a pressão que apertava seu peito se dissipou. 

    A preocupação com seu irmão se tornou tudo o que ele conseguia focar. O inimigo ao seu lado, naquele instante, não era mais importante.

    Com cuidado, pegou-o no colo, sua expressão séria enquanto começava a se afastar do local. No entanto, um sentimento de raiva cresceu dentro dele ao percebeu a presença da intenção assassina do demônio. 

    Sem hesitar, ele se virou para encarar o inimigo, os olhos brilhando com a fúria contida. A intenção assassina dele se liberou, pesada e ameaçadora.

    — Tem certeza?

    O destemido, ao sentir a pressão, logo desistiu e recuou. Izumi, aliviado, começou a caminhar, mas logo a urgência tomou conta dele e, sem perder mais tempo, correu. No entanto, ele sabia que não podia correr rápido, temendo que o corpo de Max, em seu estado debilitado, fosse danificado pelo movimento brusco.

    Quando finalmente chegou à fortaleza, seus olhos se fixaram em Ui, gravemente ferida. O pânico ameaçou invadir o seu coração, mas, com um esforço de controle, ele murmurou:

    — Deadlock!

    Os gêmeos pararam instantaneamente. Izumi, com o corpo do seu irmão nos braços, avançava. Ao chegar, cuidadosamente colocou Max no chão, e pediu:

    — Cure-o!

    Ele observou atentamente a reação de Idalme, notando as vibrações suaves que ela emanava. Algo mudou quando ela tocou seu amado. Sua expressão, antes apavorada, se transformou em uma alegria pura. No instante em que seus dedos tocaram os ombros de Max, algo em seu corpo pareceu se reanimar, e ela conseguiu mover os ombros com mais facilidade.

    Seus olhos se encontraram com o rosto de Max, lágrimas começaram a escorrer, uma expressão de emoção profunda de alívio.

    Talvez ela o ame de verdade!

    Izumi, com sua falta de experiência em lidar com pessoas apaixonadas, usava como referência a relação de sua mãe com seu pai para entender o que se passava ao seu redor. Recentemente, Ui havia lhe proporcionado uma visão mais genuína sobre o amor, algo que antes parecia distante e difícil de compreender.

    Agora, ao olhar para peitos caídos, ele podia ver algo familiar em seu rosto, algo que lembrava sua mãe e pai — a mesma expressão de carinho e devoção que ele costumava perceber na relação deles.

    Logo, Izumi desviou o olhar de Idalme e se concentrou nos inimigos à sua frente. Com a voz firme e fria, ele disse:

    — Interessante, vocês sentem medo?

    Ao perceber que todos ao seu redor podiam se mover livremente, mas os destemidos permaneciam estáticos, algo dentro dele clicou. Ele sentiu uma mudança em sua percepção.

    Entendo, nesse instante, não odeio ninguém nas minhas costas.

    Sem hesitar, desativou seu “Deadlock”. Imediatamente, os gêmeos sentiram a liberdade de movimento retornar a seus corpos. Eles trocaram olhares intensos entre si, uma comunicação silenciosa, como se estivessem concordando com algo.

    — E agora, o que vocês vão fazer? — perguntou Izumi.

    No entanto, os destemidos, conhecidos por sua natureza orgulhosa e por nunca abaixar a cabeça para ninguém, surpreenderam a todos. Em um movimento sincronizado, sem hesitar, se ajoelharam e se prostaram diante do mestiço.

    Com um grito uníssono e cheio de emoção, eles bradaram:

    — Me desculpe! Você é o melhor!

    Os gêmeos, conhecidos por sua sede insaciável de combate e por se deliciarem em desafios com os humanos, nunca haviam encontrado alguém que fosse capaz de os fazer duvidar de sua própria força. 

    No entanto, o homem diante deles estava em um nível totalmente diferente, algo que eles não podiam sequer compreender. 

    A razão pela qual haviam desistido da luta não estava enraizada no medo ou no receio da morte. Não eram, de fato, covardes. 

    O que os fez recuar foi algo mais profundo, algo centrado nas almas daqueles irmãos. Eles simplesmente não queriam se envolver em uma luta cujo resultado já estava decidido. E, no fundo, eles sabiam que o desgaste de um combate contra Izumi seria desnecessário. Eram, de fato, preguiçosos.

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