Índice de Capítulo

    Os dois casais seguiam de mãos dadas, em silêncio, conectados por algo simples, mas significativo. Dam, ao olhar, sentiu-se deslocado. A ausência de calor entre os próprios dedos, fez com que o pensamento o traísse.

    Lembrou-se de Germa. Imaginou como seria se a tragédia não tivesse ocorrido. Talvez estivessem como os outros e compartilhar aquele momento.

    A ideia o feriu, mas ele a afastou rapidamente. Sentimentos assim não podiam ter espaço ali. Endureceu o olhar. À frente, os Destemidos seguiam firmes, alvos claros para sua raiva. Seus olhos os fitaram com fome, desejando apagar cada traço deles e, com isso, completar sua vingança.

    — Desembuchem! — proclamou Dam.

    Os dois casais ao lado o fitaram, alarmados. E depois desviou o olhar e voltou-se para os Destemidos.

    Léo os encarou com consistência e, sem hesitar, declarou:

    — Somos uma das sete energias negativas mais poderosas. E não somos os destemidos que vocês imaginam.

    Max franziu a testa, um fio de impaciência na voz quando falou:

    — Explique isso direito.

    — Como já devem saber, existiam ao todo 12 destemidos, todos conforme as leis do zodíaco.

    Izumi, visivelmente confuso, levantou uma sobrancelha e perguntou:

    — Leis do Zodíaco?

    O destemido lançou-lhe um olhar penetrante, quase como se a resposta estivesse óbvia demais.

    — Não sabe? — retrucou, a voz seca. — Os destemidos selaram o fragmento que propagava energia negativa neste mundo, usando as leis do zodíaco. São no total de 12 leis: Áries, Touro, Gêmeos, Câncer, Leão, Virgem, Libra, Escorpião, Sagitário, Capricórnio, Aquário e Peixes.

    Max não se deixou impressionar e, com um olhar desafiador, perguntou:

    — Como sabes tudo isso, se não é um destemido?

    — Calma, eu vou chegar lá — disse e levantou uma mão em um gesto de contenção. — Com essas leis, os destemidos conseguiram selar o fragmento e impedir que qualquer energia negativa escapasse do portal. No entanto, houve um problema.

    Max inclinou a cabeça, intrigado.

    — Problema? — questionou.

    Léo assentiu lentamente, como se tivesse se preparado para contar uma história longa.

    — Sim, as leis eram passadas de um humano para outro. E, quando chegava o momento de transferir essas leis, a barreira criava uma fenda por onde a energia negativa podia escapar.

    Max não demorou a contestar:

    — Espera, isso não faz sentido. Consoante as escrituras, na troca das gerações, as leis eram passadas em questão de segundos. Não daria tempo. E como você garante que os destemidos carregavam essas leis com esses nomes estranhos?

    O demônio suspirou, um sorriso leve brincava nos cantos de sua boca.

    — Eu disse que vou chegar lá — respondeu.

    Antes que Max pudesse retrucar, Loi entrou na conversa, levantando a mão para interromper.

    — Irmão, deixe que eu continuo.

    Léo olhou para ela, deu de ombros e recuou um pouco.

    — Normal a sua dúvida — começou, sua voz mais suave. — E o motivo de sabermos tudo isso… é porque os corpos que estamos usando eram de destemidos.

    Todos se surpreenderam, mas as palavras dela soaram com lógica. Faziam sentido, ainda que desconcertante. Pela primeira vez, compreenderam o motivo dos Destemidos terem se corrompido com o passar dos séculos.

    — Entendo. Agora faz sentido. Vocês mataram os destemidos para enfraquecer o fragmento — disse Max, como se finalmente tivesse encaixado todas as peças do quebra-cabeça.

    Loi confirmou com um leve aceno de cabeça.

    — Sim, como você disse antes, não conseguiríamos sair do fragmento em tão poucos segundos. Mas conseguimos matar um dos destemidos antes que a lei fosse passada adiante. E aproveitamos a chance para fugir. Éramos sete. No primeiro sucesso, quando um dos destemidos caiu, um de nós saiu do fragmento para eliminar mais destemidos. Foi assim que conseguimos acabar com todos.

    Izumi, com um olhar sombrio, sacou suas espadas com um movimento ágil. A lâmina refletiu a luz da sala, e seu tom de voz não deixou dúvidas quanto à sua resolução.

    — Entendo. Então, meus inimigos não são os destemidos, mas sim vocês… as sete energias mais fortes?

    — Sim… — respondeu, quase um sussurro.

    Dam, que até então observava em silêncio, se aproximou.

    — Vocês realmente não me reconhecem? — perguntou, a questão impregnada de uma ameaça que parecia grávida de história e dor.

    Dam mantinha-se afastado, calado. O silêncio o consumia por dentro, mas as palavras brotaram, roucas e firmes, como se já estivessem há muito presas em sua garganta.

    Enquanto falava, seus dedos se fecharam com força, os nós das mãos esbranquiçados. Os dentes rangeram em fúria reprimida.

    — Conhecer? — perguntou o demônio.

    — Sim! — gritou, com os olhos flamejando. — Não faz tanto tempo assim! Vocês… mataram meus companheiros!

    Léo fez uma pausa antes de responder.

    — Me desculpe, mas os últimos humanos que vimos foram há mais de uma década.

    Dam deu um passo para trás, os olhos arregalados de incredulidade.

    — Quê? — A negação transbordava de sua voz. — Mentira! Vocês estão mentindo! Matem eles… matem eles!

    Max interviu e colocou a mão no ombro do atirador.

    — Dam…

    — Cala a boca! — gritou, sua voz tremendo de fúria. — Somente matem eles!

    Max olhou para ele com um olhar pesado, como se soubesse o que estava por vir, e suspirou fundo, hesitando antes de falar.

    — Eu não queria te dizer isso, mas não tenho escolha. — Sua voz estava grávida de pesar.

    — Dizer? Dizer o quê? — perguntou, sua voz tensa, quase quebrando.

    Max respirou fundo e, com a seriedade de quem carrega um peso enorme, falou:

    — Dam, escute com atenção. Essas são informações passadas pelo líder da cidade. Os seus companheiros Germa e Germe… eles nunca existiram.

    Ele ficou paralisado, como se as palavras ainda não tivessem registrado totalmente.

    — Quê? — ele sussurrou, a incredulidade em sua voz agora substituída por uma dor silenciosa.

    Naquele momento, sentiu-se deslocado, como se estivesse preso em um pesadelo que nunca terminava. Nada ao seu redor fazia sentido. Sua mente já não conseguia compreender o mundo em que se encontrava.

    A ausência de Germa e Germe — companheiros inseparáveis em sua jornada — parecia impossível. A ideia de que jamais existiram era absurda demais para ser aceita.

    Ainda assim, os humanos afirmavam com convicção que ele havia deixado a cidade há mais de duas décadas. E agora diziam que seus companheiros não passavam de invenções.

    Por um tempo, tentou negar. Agarrava-se a memórias fragmentadas e tentava protegê-las. Mas quanto mais lutava, mais frágeis elas pareciam.

    Então, finalmente, algo nele se partiu. E o silêncio que se seguiu foi mais doloroso que qualquer palavra.

    — Mentira… mentira… mentira… — Dam murmurava para si mesmo, a voz trêmula e vazia, como se tentasse se convencer de algo impossível. Seus olhos estavam sem vida, perdidos em um vazio que parecia engoli-lo. — Isso é tudo mentira… não… é tudo um sonho… não tem como meus companheiros não terem existido… isso é um pesadelo…

    Num impulso inesperado, sacou a faca com mão trêmula e a cravou na própria perna, o aço penetrando a carne com um estalo abafado. 

    O gesto insano o surpreendia até mesmo a si, mas a dor física parecia um alívio diante do turbilhão que tomava sua mente.

    Todos ao redor o observavam, incapazes de entender o que havia o levado àquela loucura. 

    — O que você está fazendo? — perguntou Ui, se aproximando cautelosamente.

    Dam, com um olhar perdido e descomposto, reagiu sem tirar os olhos do que fazia.

    — Há, sim… dessa forma, não vou acordar… preciso de um estímulo maior. — Suas palavras saíam entrecortadas.

    Num movimento lento, ele sacou sua arma, Diana, e, com um reflexo letal, apontou-a para sua própria cabeça. O clima congelou, e todos ao redor ficaram surpresos.

    — Eu deveria ter feito isso desde o início. — Sua voz soou vazia, como se a desesperança tomasse conta dele.

    Dam apertou o gatilho, e o disparo ecoou, estourando a quietude. A bala acertou sua cabeça, e o som de seu impacto foi seguido pelo sangue que começou a cair, manchando o chão em gotas vermelhas e espessas.

    Ui ficou paralisada, os olhos arregalados em surpresa e uma onda de preocupação tomava conta de si. Porém, ao perceber a gravidade da situação, soube que o estrago já havia sido feito.

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