Índice de Capítulo

    Dam prestes a apertar o gatilho, sentiu a mão ser agarrada com força. Ui tentou impedi-lo no último instante, mas falhou.

    O sangue escorria pela lateral de sua cabeça e tingiu o chão. Ui foi tomada pelo pânico. Ajoelhou-se ao lado dele, segurando-o pelos ombros, enquanto chamava seu nome em desespero.

    Porém, algo inesperado aconteceu. As pálpebras dele tremularam, e os olhos se moveram com lentidão. Ainda havia vida.

    A confusão se instalou. Ele tinha certeza de que puxou o gatilho. 

    — Entendo… Nem acordar desse pesadelo eu consigo… — as palavras saíram entre soluços, enquanto lágrimas escorriam pelo seu rosto.

    — Você é realmente um idiota! — zombou Izumi.

    — Izumi? — A voz da Ui vacilou, confusa. — O que você está fazendo lá no fundo?

    Ainda atordoado, não compreendia por que continuava vivo. A dor na cabeça persistia, ardente como o calor de suas próprias balas. Contudo, havia algo estranho. Aquilo não parecia a dor provocada somente por um projétil — era cortante, afiada, como se uma lâmina tivesse roçado sua pele.

    — Por que você fez isso? Justo você…

    — Não se engane, eu não fiz por você — avisou com frieza, os olhos fixos em Ui.

    — O que você quer dizer com isso? — perguntou Dam, confuso.

    — Ainda não entendeu? — Interrompeu Max. — Somos um time!

    Izumi pensou: Que idiotice ele está dizendo?

    — Ah! Eu me lembrei! — Léo exclamou. — Mas isso não faz sentido… Eu me lembro de algo de três décadas atrás. Um jovem medroso fugiu assim que nos viu. Era você?

    — O quê… Então isso não foi um sonho? — perguntou, a descrença estampada em sua voz.

    — Mas, irmão… Naquele dia, ele estava sozinho. Não havia nada de Germa ou Germe. — Loi disse, sua voz gravida de confusão.

    — Realmente… Não lembro de ter visto nenhum humano naquela época… — comentou, pensativo e tentou juntar as peças.

    — O quê? — Dam parecia cada vez mais perdido.

    — Ah, entendi… — Max falou, com um sorriso sutil. — Então você é realmente como havíamos suspeitado.

    — Do que você está falando? — Dam perguntou.

    — Você saiu da cidade quase três décadas atrás e voltou recentemente. Mas as suas memórias são de algo recente, não são? — explicou, com um tom quase científico. — Durante esse tempo de “vácuo”, algo aconteceu contigo, mas não lembras o motivo. Isso pode explicar porque ainda tens a aparência de 27 anos atrás. Dam, achei que fosses mais esperto.

    O atirador ficou em silêncio, a mente borbulhando com as novas informações.

    — Hmph… — Max bufou. — Em vez de ficar se afundando nessa angústia, deveria procurar entender o que está acontecendo. Acha que suicídio vai resolver isso? Você é um idiota? A morte é o fim. Você entende isso, não?

    — Eu sei… — murmurou.

    — Então pare de lamentar pelo que não pode ser mudado. Siga em frente. Busque respostas. Isso é o que pessoas inteligentes fazem.

    — Sim…

    Dam permanecia abatido, os ombros pesados como se carregassem mais do que o próprio corpo. As palavras que ouviu, não aliviaram o peso em seu peito, tampouco devolveram a esperança que perdeu. Ainda assim, algo nelas o tocou de maneira sutil.

    Enquanto queimava o seu ferimento com sua habilidade, um eco familiar surgiu dentro dele — não era conforto, mas inquietação. A mesma inquietação que tantas vezes o lançou em busca de verdades ocultas. Mesmo envolto em cansaço, o desejo por respostas voltava a pulsar.

    — Vamos continuar — alertou Max com firmeza. — Continuem destemidos. Não, agora, estamos lidando com as sete energias mais poderosas.

    — Entendido — respondeu Léo.

    Antes que pudessem prosseguir, Idalme ergueu a mão e interrompeu o fluxo da conversa.

    — Esperem. Preciso de uma resposta antes de continuarmos — disse com o olhar cravado no destemido. — Você… Léo, você é do clã Zura?

    — Esse corpo era — respondeu. — Na verdade, ele pertencia a uma das primeiras linhagens do clã.

    — Primeiras linhagens? — Estreitou os olhos, desconfiada. — Há quanto tempo você está nesse corpo?

    — Difícil dizer… já se passou mais de um século, não é mesmo, irmã?

    — Sim — confirmou Loi.

    — Podemos continuar? — perguntou Max.

    — Certo… mas antes, temos somente mais uma informação a revelar — falou Léo.

    Os dois se aproximaram em silêncio, até que cada um pousou a mão sobre o peito do outro. Os que assistiam ficaram em alerta, e Izumi, sem hesitar, empunhou suas espadas, pronto para agir.

    Então, os destemidos recuaram lentamente as mãos. Algo escuro começou a emergir de seus corpos. Quando finalmente se desprendeu por completo, assumiu a forma de duas esferas envoltas em chamas negras.

    No centro de cada uma, podia-se ver algo se mover: um número… ou talvez uma letra “I”, maiúscula, parecia flutuar dentro da esfera e oscilava lentamente.

    — O que é isso? — perguntou Izumi, franzindo a testa.

    — É uma das leis do Zodíaco — respondeu Loi. — A Lei dos Gêmeos.

    — Mas… são duas esferas.

    — Sim — respondeu o outro demônio e esboçou um leve sorriso. — Mas, no fundo, somos apenas um. Dois corpos, uma alma. Um só destemido.

    — Isso explica muita coisa.

    Movida pela curiosidade, Ui fixou o olhar nas esferas incandescentes. Lentamente, aproximou-se e estendeu a mão em direção à que Loi segurava. Assim que seus dedos tocaram a superfície, algo inesperado aconteceu.

    Seu corpo reagiu de imediato. A energia negra penetrou por sua mão e começou a se espalhar, escurecendo a pele como se a estivesse marcando por dentro. A mestiça recuou, alarmada, mas era tarde. A escuridão subia pelo braço com velocidade, indiferente ao seu grito de desespero.

    A esfera, como um ser vivo, foi sendo absorvida até desaparecer completamente em seu corpo. Todos ao redor a observavam com inquietação, os olhos atentos a qualquer movimento.

    Ui curvou-se levemente, e um rugido profundo rasgou sua garganta. Fumaça densa e negra começou a vazar por sua pele.

    Diante de todos, ela começou a se transformar. O mesmo ser que antes esmagou os gêmeos.

    — Hã?! — Se surpreendeu. — Mas eu nem usei o Ziro.

    Ziro, que repousava tranquilamente no bolso, não havia desaparecido. Enquanto todos ao redor observavam em silêncio, Ui olhou para eles com surpresa. Em seguida, um sorriso se formou em seu rosto.

    — O que é isso?

     Izumi, que já não estava mais atrás, se aproximou dos destemidos e perguntou:

     — Podem explicar?

    Os gêmeos sentiram a presença nas costas e tremeram. Seus dentes começaram a bater, mas Léo, reunindo forças, respondeu:

     — Acho que, por ela ser mestiça, conseguiu consumir a esfera.

    — Isso mesmo… qualquer demônio pode fazer isso — completou Loi.

    — Sério?

    — Sim — responderam em uníssono.

    Ui, que estava no fundo, fechou os olhos e se concentrou. Pela primeira vez, sentiu uma conexão profunda com a imensa energia que preenchia seu corpo. A força negativa fluía mais rapidamente, mas, em vez de sucumbir a ela, algo dentro despertou. 

    Seu instinto a guiou, e lentamente, ela começou a perceber que poderia controlar aquela força. Ao perceber que havia conseguido dominar aquela energia, um sorriso de satisfação se formou em seu rosto enquanto o seu corpo voltava a sua normalidade.

    Izumi, afastou-se dos destemidos. Ele desejou sorte aos outros, aliviado por nada ter acontecido com Ui. Mas ao passar ao lado de Léo, algo estranho aconteceu. Uma parte da energia negativa que ainda pairava no ar foi atraída com força para ele, como se fosse magnetizada.

    O mestiço sentiu e tentou desviar, mas não teve tempo. A energia o perseguiu com uma rapidez surpreendente. 

    Ao correr com suas habilidades, Izumi se esforçou ao máximo para escapar, mas quanto mais rápido ele tentava fugir, mais a esfera se aproximava, ampliando sua velocidade como se soubesse exatamente onde ele estaria a cada movimento.

    — Porra! — ele gritou, cortando a esfera.

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