Índice de Capítulo

    Em um dos cômodos, Loi despertou com os olhos semicerrados, sem entender o motivo de estar ali. Logo, lembranças recentes tomaram conta de sua mente. Ergueu o ombro de súbito e gritou:

    — Léo!

    — Acalme-se, ele está bem.

    — Você é aquela velh…

    — Silêncio — disse, batendo suavemente a cabeça dela. — Velha não, anciã Lai.

    Loi segurou os ombros de Lai com força, a sacudiu e exigiu respostas sobre o seu irmão, sobre a sua mãe… teria mesmo morrido? As lembranças giravam em sua mente como lâminas. As lágrimas escorriam enquanto implorava, entre soluços, para despertar daquele pesadelo.

    — Menina, escuta. Nessa situação precária, somente tens duas escolhas. Ir contra o teu destino ou aceitar que és um fracasso como membro do clã de fogo.

    — Eu… não posso fazer nada… meu vento é fraco demais…

    A velha colocou a mão no seu ombro, sorriu e disse:

    — Não se preocupe com isso. Eu vou te treinar pessoalmente.

    — Eu quero treinar com o meu irmão…

    — Sua idiota. O teu irmão está com o teu pai. Se quer que ele compartilhe a cama do lado contigo, torna-te forte e o pega para ti.

    — Eu posso ficar forte mesmo?

    — Sim, sua idiota — disse, colocando a mão na sua cabeça.

    Anos se passaram. Aos dezessete, Loi permanecia em seu quarto e preparava-se em silêncio. Vestia uma túnica vermelha de tecido leve. Os cabelos verdes estavam presos por um simples elástico. Sentia-se preparada.

    — Está pronta? — perguntou Léo, deitado em uma das camas do quarto.

    — Sim!

    Saiu do quarto e caminhou por outro corredor até uma porta ao fundo. Bateu duas vezes. Uma voz respondeu, permitindo a entrada.

    — Avozinha, cheguei.

    — Está pronta? — perguntou a velha, sentada na cama.

    — Não sei, essa minha adversária é forte — disse, hesitante. — Mas eu vou vencer!

    — Isso mesmo, mas se sentir que não consegues vencer, usa aquela técnica.

    — Sério, já posso usar? — perguntou, entusiasmada.

    — Sim, aquela garota é uma das favoritas. É quase impossível vencer sem isso. Desejo sorte.

    — Obrigada, avozinha.

    — E não me chame assim.

    — Sim!

    Loi atravessou os corredores com o rosto fechado e os punhos cerrados. À medida que se aproximava do local da próxima batalha, vozes exaltadas ecoavam pelo espaço.

    Entrou na chamada sala de fogo — usada tanto para rituais quanto para duelos envolvendo chamas, construída para resistir ao calor extremo. Nas varandas abertas, membros observavam o confronto prestes a começar. Diante dela, a oponente moldava figuras com o fogo e demonstrava domínio absoluto sobre as chamas.

    — Garfo!!!

    — Cadeira!!

    — Humano!!!

    O público vibrava, e a mulher de pele parda atendia aos pedidos com graça. Com as palmas, moldava as chamas conforme o desejo da plateia, como se exibisse um talento natural, quase artístico. 

    Quando perceberam a chegada dela, os gritos mudaram de tom e exigiram o início imediato do confronto. A oponente, então, voltou-se para ela e a fitou em silêncio.

    — Loi. És muito sortuda — disse a ruiva, com um sorriso irônico. — Nunca imaginei que um membro do clã de vento teria a oportunidade de participar de um evento tão importante como este. É… muito triste. O mais engraçado é a tua coragem. Não sente vergonha de si mesma?

    Loi, como de costume, manteve o silêncio. Apenas parou, punhos cerrados, exatamente como nas lutas anteriores. Sabia que precisava manter o controle absoluto sobre o vento — qualquer deslize poderia custar caro. Para vencer, teria que recorrer à habilidade especial que guardava como trunfo.

    — Ignorante como sempre.

    A ruiva, conhecida como Niel, trajava uma túnica vermelha com listras amarelas. No centro das mãos, as chamas começaram a surgir. Então, declarou:

    — Sabe o gosto do que vais sentir hoje?

    As chamas começou a moldar em letras, até formar uma palavra — Derrota.

    Naquele instante, Loi inspirou profundamente. Os ensinamentos da mestra ecoaram em sua mente — sobre o estilo de combate mais adequado para alguém com uma habilidade tão incomum. Movimentou mãos e pés em sincronia, como havia treinado.

    Avançou com um salto direto ao alvo. Niel reagiu liberando uma rajada de chamas, que atingiu-a em cheio. Ainda assim, ela não recuou. Rompeu o fogo e desferiu um chute direto na cabeça da oponente.

    Mas o corpo de sua oponente se desfez e sumiu como chamas que se apagam ao vento.

    — Aqui aberração!

    — Quê?!

    Os olhos vermelhos de Niel brilharam antes de lançar um novo ataque. Desta vez, uma lança de chamas girava no ar em direção à adversária. Loi, sem tempo para esquivar, ergueu o braço e tentou conter o impacto. A força do golpe a empurrava para trás.

    Com os dedos apontados na direção dela, Niel intensificava o ataque, ao canalizar ainda mais energia ao fogo.

    O vento de Loi amplificava a força da lança de chamas e tornava-a ainda mais perigosa. Com outra mão, ela a segurou e sentiu a energia crescer. Então, com um movimento preciso, diluiu a lança em chamas comuns, como se fossem bolhas de água. Ao usar seu vento, fez as chamas girarem ao redor de seu corpo.

    — Impressionante, mas até quando vais aguentar?

    Niel apontou e disparou várias pequenas bolas de fogo, uma após a outra. Desta vez, Loi se esquivou com agilidade, se abaixava, pulava e avançava em direção à oponente.

    A habilidade dela consistia em diluir as chamas e fazê-las circular por seu corpo, repetidamente, até desaparecerem. Foi assim que ela havia derrotado tantos adversários, aproveitando o poder de seus chutes, imbuídos com o vento, para desferir golpes devastadores.

    No entanto, Niel, que conhecia a tática, optava por atacar de longe e forçava-a a se mover constantemente. Mesmo com as esquivas, alguns ataques a atingiam. Para evitar maiores danos, ela fluía as chamas por seu corpo, dissipando o calor antes que fizesse estragos.

    Niel, ao perceber que Loi se aproximou demais, soltou uma densa fumaça de fogo, ocultando sua posição. Entre a névoa, criou clones de chamas, confundindo Loi e dificultava sua percepção do verdadeiro movimento da oponente.

    Droga, ela é muito esperta!

    Loi, após acertar mais um clone, percebeu estar sendo novamente atingida. Com tantas chamas que envolvia seu corpo, seu limite se aproximava. As explosões que circulavam ao redor dela começaram a escapar do seu controle. Em um instante de fraqueza, uma dessas explosões a atingiu nas costas, fazendo-a cair de joelhos no chão.

    Eu não tenho escolha!

    — Me olhando assim? Tão feia! Morra de uma vez!

    Niel, concentrada, preparava uma enorme bola de fogo. Ao lançar, a esfera era tão imensa que Loi percebeu, em um único instante, que não teria tempo para esquivar.

    Mestra!

    Naquela situação, se viu novamente imersa nos ensinamentos de Lai. Era aquele o momento exato para revelar sua técnica mais mortífera, capaz de subjugar até uma das favoritas para herdar uma das leis.

    — Ahhhhhhhhhhh!!!!

    Antes que a bola de fogo a alcançasse, ela já corria em direção, surpreendendo-a completamente. Com um estrondo, ela se lançou nas chamas.

    — Sua idiota! Indo até a morte! Kiakiakiakia!

    Enquanto Niel ria, o público a acompanhava, celebrando a vitória, como se a luta tivesse sido vencida de maneira brutal. No entanto, a chama em torno de Loi continuava a crescer, maior do que o habitual, e todos no local perceberam que ainda não havia terminado.

    O rugido de guerra dela ecoou, e uma onda de temor se espalhou entre os espectadores. Eles temiam que ela fosse capaz de subjugar até mesmo um ataque de fogo tão poderoso. A chama diminuiu, pouco a pouco, enquanto Niel assistia, incrédula. Seu maior ataque estava sendo drenado diante de seus olhos, e isso a deixava visivelmente frustrada.

    A bola de fogo, reduzida a uma forma quase irreconhecível, deixou de ser uma ameaça, revelando as chamas que moldavam um corpo humano. No centro delas, Loi permanecia imersa, coberta pelas chamas que fluíam rapidamente pelo seu corpo, como se fizessem parte de sua própria essência.

    Eu só tenho uma chance!

    Loi sabia que teria somente um segundo para desferir seu ataque mais poderoso. Com um vento feroz, ela avançou rapidamente em direção do seu alvo, enquanto seu corpo explodia em chamas, descontroladas, como se cada movimento a consumisse mais.

    Niel, ao perceber a aproximação, soltou uma densa fumaça de fogo e saltou para trás. Contudo, sua rival previu seu movimento e, com uma rajada de vento, dissipou as chamas no ar. Em pleno voo, ela percebeu que Niel estava criando clones de fogo à distância.

    Com uma nova rajada, Loi avançou ainda mais rápido. Girou o corpo no ar e, com a força de um chute, atingiu a barriga de sua oponente com uma explosão de fogo, e gritou:

    — Full Counter!!!

    Toda a chama que circulava pelo corpo dela foi liberada com uma intensidade devastadora, mais rápida e mais poderosa do que nunca. Em pleno ar, a rajada de fogo atingiu Niel em cheio, atravessando sua barriga como uma lança flamejante e deixou um buraco enorme.

    Ela caiu ao chão, agonizada, enquanto Loi, exausta, também caiu, mantendo-se ajoelhada, o fôlego pesado e alto. Em seus pensamentos, ela reconheceu que a vitória era fruto dos ensinamentos de Lai.

    Os espectadores, incrédulos diante do resultado, não demoraram a explodir em gritos. Mas, desta vez, não era um clamor de medo ou surpresa, mas de admiração. 

    O nome de Loi ecoou repetidamente, louvado por todos que presenciaram aquele ataque de fogo tão formidável. Foi nesse momento que ela sentiu, com uma clareza intensa, que finalmente estava na família certa.

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