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    Dias após o enterro da anciã Lai, Loi isolou-se em seu quarto. Silenciosa, refletia sobre como seria a vida dali em diante. Mergulhada nesses pensamentos, adormeceu por breves instantes, até ser despertada pelos gritos que ecoaram do lado de fora.

    — O que foi isso?

    Sem hesitar, saiu do quarto e avançou pelo corredor. Ao olhar para o lado, deparou-se com uma espada negra vindo em direção à sua cabeça.

    Não vou conseguir esquivar a tempo.

    A lâmina atingiu em cheio, mas nenhum ferimento surgiu. O demônio de pele negra, com feições humanoides, fitava a espada com estranheza, enquanto sentia a brisa do vento ecoando ao seu redor.

    — Por pouco — disse Loi.

    Num instante quase imperceptível, ela havia ativado sua defesa de vento exatamente no ponto do impacto.

    Se fosse mais forte… eu…

    Assombrada pela possibilidade de ter morrido, ela ergueu o dedo na direção do inimigo e disparou um jato de ar quente. O disparo atravessou o corpo do demônio, que se desfez em cinzas, como se jamais tivesse existido.

    — O que é isso? — perguntou. — Não, não tenho tempo para isso. Preciso saber  o que está acontecendo.

    Correndo pelos corredores, deparou-se com corpos inertes espalhados pelo chão. Criaturas idênticas à anterior, embora empunhassem armas distintas, surgiam para tentar matá-la. Ao alcançar o final de um dos corredores, encontrou um membro do clã caído, ainda respirando. Ajoelhou-se ao lado dele e perguntou o que estava acontecendo.

    — Não sei… milhares deles… corra…

    — Milhares? Não pode ser…

    Após ouvir as últimas palavras do companheiro, Loi inclinou a cabeça em sinal de respeito, depois ergueu-se e seguiu em frente. Caminhou pelos corredores até alcançar o espaço de convívio, onde normalmente as pessoas se reuniam para conversar e partilhar refeições.

    — Tantos assim…

    Dessa vez, deparou-se com demônios distintos dos que enfrentou até então. Havia criaturas humanoides de formas variadas, feras com traços de jacaré, hiena, hipopótamo e urso, todas grotescamente modificadas, além de aberrações formadas pela fusão de múltiplas espécies. Lutavam ferozmente contra os membros de seu clã.

    O salão onde as refeições costumavam ser partilhadas ardia em chamas, consumido pelo caos da batalha entre os demônios e o clã do fogo.

    — Loi! Siga em frente, o inimigo está na sala dos antigos portadores — disse Niel.

    — Quê? Certo!

    Seguiu em frente, atenta ao rastro de destruição. Ao chegar ao próximo recinto, não encontrou ninguém, apenas os sinais evidentes de um combate recente.

    Atravessando um dos buracos abertos na estrutura, deparou-se com o irmão caído no chão, coberto de sangue. Ele mantinha o rosto sério, os olhos fixos em um homem cercado por demônios humanoides.

    — Irmão!!!

    — Loi? — perguntou Léo. — Fuja!!!

    Naquele instante, seu corpo se encheu de uma força inesperada. Ignorou o pedido urgente do irmão, algo que raramente fazia, pois nada importava mais do que salvá-lo. Com um grito de guerra, lançou-se contra o demônio no centro. Um golpe certeiro atingiu a cabeça, como um parafuso cravado no inimigo.

    — Ahhhh, que tédio… Eu tinha que esquivar disso? — perguntou o homem, com olhar vazio.

    Não funcionou?

    O homem de cabelos negros e pele pálida tinha olhos que brilhavam em vermelho intenso. Vestia uma túnica preta, rasgada e manchada, e sua postura, levemente curvada, denunciava um cansaço profundo. 

    Quando o inimigo ergueu a mão para agarrar a perna de Loi, ela recuou com rapidez, escapando do ataque iminente.

    — Mais trabalho, que tédio… vão…

    Vários demônios humanoides, armados com espadas, flechas, martelos e lanças, investiram contra Loi como máquinas de morte. Sem hesitar, ela esquivou-se ágil, girando o corpo enquanto posicionava a mão de cabeça para baixo. Com os pés, lançou uma rajada de vento que atingiu vários inimigos ao mesmo tempo.

    Enquanto isso, Léo começava a se levantar lentamente, enquanto Ham permanecia deitado no chão. Suas feridas, que normalmente cicatrizariam rápido, mostravam uma cura mais lenta do que o habitual.

    — Droga… mais um especial…

    O demônio chamado Slother avançava lentamente, o corpo curvado sob o peso de algo invisível. Ao parar, sua presença chamou a atenção de Loi, que lutava contra os humanoides ao redor.

    O chão ao redor dele começou a rachar, e ele ergueu a mão até a cabeça, como se suportasse uma dor intensa.

    — Vou ter que fazer de novo… que seca.

    — Cuidado, Loi! — gritou Léo.

    — Irmão? — perguntou.

    Slother desapareceu rapidamente, perfurando o corpo dela.

    — Quê? — perguntou o demônio, surpreso. — Não me diga…

    Loi, que havia ativado sua defesa de vento, sorriu ao ver a oportunidade. Curvou a mão inimiga, desequilibrando-o, e em seguida desferiu uma armada certeiro que o fez tombar no chão.

    — Irmão, fuja. Eu vou segurá-lo aqui! — disse, com convicção.

    — Eu… está bem… não morra.

    — Sim, irmão!

    Naquele momento, Léo percebeu que, em seu estado debilitado, não podia ajudar a irmã. Aceitou o pedido dela e carregou Ham consigo.

    O demônio caído no chão refletia sobre como resolver a situação. A adversária à sua frente parecia, aos seus olhos, um osso duro de roer. Preguiçoso para pensar, não compreendia como seu ataque foi repelido — como se uma barreira invisível a protegesse.

    Deitado, o destemido invocou dezenas de humanoides ao seu redor, ordenando o ataque imediato. Loi, por sua vez, derrotava-os com relativa facilidade. Enquanto Slother permanecia caído, o combate encontrava-se em um impasse.

    Movida pela adrenalina, sentia-se capaz de vencer, mas não conseguia se aproximar do inimigo no chão.

    — Que cansativo… vou ter que usar isso…

    Com grande esforço, como alguém que se levantava ainda sonolento, o demônio ergueu-se lentamente. Esticou os braços para o alto, e seus olhos opacos se abriram, revelando um despertar do seu sono.

    — O seu corpo… parece melhor.

    Uma energia negativa começou a emanar da mão direita do demônio, tomando forma lentamente. Aos poucos, revelou-se uma foice sombria. Os humanoides ao redor foram sugados para aquela lâmina, como se suas vidas fossem extintas à força.

    Naquele momento, Slother estava de frente com Loi, e balançando a foice, disse:

    — Acabou…

    — Acabou? — perguntou Loi.

    Ela percebeu, de repente, que o peito sangrava. Ao levar a mão ao local, compreendeu que o golpe provavelmente veio da foice, embora não soubesse como o ataque a atingiu.

    Ajoelhou-se, confusa, questionando-se como aquilo atravessou sua defesa de vento — uma barreira que até os golpes mais poderosos do seu irmão tinham dificuldade em romper.

    Sua consciência começava a esvair-se lentamente. O corpo caiu ao chão, os olhos se fechando. Em seus pensamentos, clamava pelo irmão, lutando para permanecer consciente, mas sentia como se tivesse desistido da própria vida.

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