Índice de Capítulo

    Alguns dias haviam se escoado, e a tranquilidade reinava na fortaleza. Não faltava água, tampouco mantimentos, graças aos recursos guardados nos espaços ocultos pelos membros do clã Zura, oriundos da longínqua Mangolândia.

    Mas o sossego se quebrou. Tartas soltou um rugido estrondoso, sinal costumeiro de ameaça próxima. O alarme foi imediato. Por ordem da Loi, todos se posicionaram junto às janelas, espalhando-se pelos quatro cantos da fortaleza.

    Loi subiu até o topo, alcançando a cabeça de Tartas. Lá do alto, compreendeu o motivo do alarme. Aqueles que ocupavam janelas próximas à cabeça da criatura também puderam intuir o motivo do rugido.

    De volta à sala do trono, todos se reuniram. Foi então que percebeu algo estranho — Izumi permanecia imóvel, no mesmo lugar de antes. Intrigada, aproximou-se e perguntou:

    — Izumi, você ficou aqui o tempo todo?

    — Fiquei. Algum problema?

    — Não, não… Pode continuar tranquilo — disse, abanando a mão com um sorriso.

    — Hum!

    Loi sorriu, pensando consigo mesmo:

    Bem que Ham me disse. Ele não segue ordens.

    — Loi — chamou Max, se aproximando.

    — Fala.

    — Essa tartaruga não consegue escalar?

    — Não consegue. E mesmo que conseguisse, o tamanho dela torna perigoso.

    — Parece que não temos escolha, então.

    — Pois é — concordou Loi.

    — Do que estão falando? — perguntou Ui, chegando perto.

    — Talvez do problema — respondeu Idalme, ao lado dela.

    — As duas foram para atrás da Tartas, né? Então, não vai rolar seguir com ela.

    — Como assim? — Idalme quis saber.

    — Tem vários…

    — Aglomerados de montanha à frente — cortou Max.

    — Eu ia dizer isso — avisou Loi.

    — Sim, mas sou o líder! — declarou firme.

    — O quê? Vai bancar a criança pelo cargo agora?

    — Não, só quero deixar minha posição clara.

    — Huuummmm…

    Enquanto o diálogo prosseguia, Ui e Idalme trocavam cochichos a respeito da ousadia de Max. Comentavam o quanto ele se mostrava direto, sem rodeios. No entanto, ao ouvir da companheira que Izumi era o verdadeiro líder, a conversa transformou-se em discussão.

    Nesse momento, Dam adentrou na sala em silêncio, erguendo a mão para chamar atenção.

    — Tenho uma sugestão.

    — Sugestão? — Idalme cortou, ríspida. — Você não tem direito a sugestão, seu depressivo. Vai lá cuidar dessas suas lutas internas de ansiedade. Max é o líder, ponto final.

    — …

    Dam não disse nada, só olhou para o chão e falou:

    — Votação…

    — Votação? — Ui arregalou os olhos. — Não vai ter votação nenhuma. O líder tem que ser forte. Izumi é quem merece esse posto.

    — Ui, você tá enganada — cortou Loi. — Um líder não é só força. Ele tem que guiar o time, e isso o Izumi não sabe fazer.

    — Cala a boca, sua mocreia safada! — Ui gritou, apontando.

    — Mo-mocreia? — perguntou, incrédula.

    — Você é uma mulher indigna que fica de olho nos homens dos outros! — ela disparou. — Vai matar tua seca com teu irmão depressivo amante de armas!

    — Eu não sou mocreia nem safada! — Loi retrucou alto. — Você que é uma puta escrota que fica esfregando no Izumi na frente de todo mundo!

    — Quê?! Eu esfrego mesmo. E daí? Pelo menos tenho alguém pra isso. E você? Tem alguém? Sua velha!

    Idalme colocou a mão no ombro de Ui e disse, firme:

    — Acalme-se. Já passou dos limites.

    — Você também! Todo dia, toda hora! Vocês dois não cansam de transar?! — ela explodiu. — Já esqueceram que eu tenho boa audição e escuto tudo? Seus gemidos fodendo minha paz? Tenham um pouco de consideração, sua puta degenerada!

    Lágrimas começaram a escorrer dos seus olhos. Ela se encolheu no chão, murmurando:

    — Vocês podem transar… e eu não…

    — Desculpe, eu tinha esquecido — disse Idalme, meio sem jeito.

    — Esqueceu nada. Sua falsa.

    Max se aproximou de Izumi, que estava encostado na parede, e apoiou a mão no ombro dele.

    — Mulher, né, irmãozinho?

    — Nem começa — respondeu seco.

    — Devias fazer uns agrados pra ela, meu caro. Não é todo dia que se acha uma mulher tão esbelta assim. Faz isso aí crescer.

    — Cala a boca.

    Ui, prostrada no chão, ergueu o olhar na direção de Izumi. Os olhos marejados lembravam os de um gato em súplica. Esperava algum gesto, uma palavra, qualquer coisa.

    Mas ele, exausto de tudo aquilo, sumiu. Evaporou-se sem deixar sinal, como se jamais tivesse estado ali.

    — Ele se foi — disse Max. — Foi mal, Ui, não consegui convencê-lo.

    — Ui! — chamou Loi. — Quero um pedido de desculpas.

    — Pedido de desculpas? Só falei a verdade.

    — Sua…

    — Chega! — Max bateu palmas, impondo silêncio. — Vamos continuar com a votação. Tenho uma sugestão: cada um aqui aponta quem quer como líder. Pronto, eu já me aponto.

    Todos se entreolharam por um instante, até que Idalme rompeu o silêncio, estendendo o dedo na direção de seu amado. Ui, desanimada, sequer reagiu.

    Loi, com um gesto sutil, indicou a si mesma e esperou que Ham a seguisse com o olhar. No entanto, ele somente se virou e partiu, deixando-a atônita diante da recusa.

    Depois de tanto tempo junto e me abandonas justo agora, Ham?

    Dam que estava afastado, pensou:

    Sua idiota! Se eu me meter nisso, vai saber o que Ui vai dizer sobre mim.

    Max sorriu degeneradamente e levantou o dedo provocativamente para Loi e falou:

    — Eu ganhei.

    — Tá bom, eu admito, você é o líder. Satisfeito?

    — Muito — se aproximou de Idalme e apertou sua bunda. — Muito satisfeito!

    — Aqui não… — murmurou ela, meio sem jeito.

    — Seu safado — declarou Loi, ao cruzar os braços.

    Enquanto Max e Idalme se afastavam, Ui os observava com olhos tristes e murmurou:

    — Lá vão eles transar de novo…

    Max virou e olhou para Loi, com um sorriso maroto:

    — Ah, e esqueci de avisar: como novo líder, ordeno que todos se preparem. Partimos em uma hora.

    — Não, pera — olhou para sua amada e riu — duas horas, hehe!

    Ao vê-los se afastarem, Loi não conseguia conter o repúdio. Sentia nojo das atitudes dele com alguém do próprio clã. Para ela, era inconcebível que uma guerreira se curvasse diante de um homem como aquele.

    Por um instante, pensou se o tempo não havia, de fato, mudado. Talvez os clãs de outrora tivessem se corrompido, tornando-se sombras do que foram — submissos ao prazer, frágeis diante do desejo.

    Espero que Ham seja diferente.

    Duas horas se passaram, e o grupo já se encontrava preparado para partir, trajando as vestes de costume. Loi despediu-se de Tartas com um último olhar, e logo todos pararam diante da montanha que se erguia diante deles.

    Aquela elevação parecia tocar o céu, suas encostas abruptas cobertas por pedras irregulares e trechos de vegetação escassa, como se a própria natureza hesitasse em se firmar ali. O vento cortante soprava entre as fendas, trazendo consigo o cheiro frio da altitude e o eco distante de alguma vida selvagem.

    Max fitou aquela gigantesca muralha da terra com um misto de respeito. O caminho que teriam pela frente prometia ser árduo e extenuante. Voltou-se para o irmão, e com um suspiro, perguntou:

    — Consegue cortar isso, Izumi?

    — Não viaja.

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