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    Max o fitava como se diante de um reflexo exato. Vestiam-se de modo idêntico, embora o outro exibisse traço mais adulto. O ambiente, de súbito, alterou-se. Ao lançar os olhos ao redor, viu os estragos deixados para trás e compreendeu, enfim, em que situação se encontrava.

    — Consegue lembrar? — a cópia levantou-se, andando devagar pelo cenário. — Foi aqui que você se sentiu superior ao seu irmão.

    — Asneira! — ele rebateu, firme, — só fiquei feliz por ajudar.

    A cópia sorriu de canto, olhando para ele:

    — Negando de novo, né? Aceite que você ficou feliz não só por derrotar um destemido, mas também por ter conseguido primeiro aquilo que seu irmão queria.

    — Não sei que demônio você é — respondeu ele —, mas não vai conseguir mexer com minha cabeça.

    Max falou ao formar uma bala explosiva entre os dedos. A esfera tomou corpo, crescendo até ultrapassar o alcance das mãos. Num relâmpago, disparou. O projétil encontrou o alvo sem desvio.

    Observou as próprias mãos, incrédulo diante do estrago causado por um único disparo.

    — O meu corpo…

    Por fim, percebeu que havia alcançado sua forma galante, sem recorrer à própria destruição. E, ao contrário de outras vezes, não sentia que ela se esvairia tão depressa.

    — Estou mais forte? — perguntou, sorrindo.

    — Consegue sentir?

    — Quê? Ainda vivo? — Max respondeu, surpreso.

    — Essa emoção… se sentiu superior a todos de novo? Especialmente ao seu irmão?

    — Besteira. No nível dele, não tem como eu me sentir assim.

    — Hahaha! Então já sentiu, né? — a cópia provocou, com um sorriso.

    — Não distorce o que eu digo, demônio.

    A cópia sorriu, e mais uma vez o cenário ao redor se transformou. Max reconheceu o lugar de imediato. Como esquecer? Foi ali que a distância entre ele e o irmão se ampliou de forma irreversível.

    — O que quer me mostrar com isso? — Max perguntou, sério.

    — Foi aqui que sua inveja atingiu o ápice. Você, que se achava forte o bastante para lutar ao lado do Izumi, percebeu que não podia acompanhá-lo. E esse sentimento só cresceu. Hoje, está maior do que nunca.

    — Pare. Cala a boca.

    — Max, caçador aclamado, superado por um mestiço odiado. Mesmo amando seu irmão, aquela coisa só crescia. O pecado chamado…

    — Cala a boca! — gritou, avançando para atacar.

    A cópia esquivou-se com leveza e sussurrou em seu ouvido:

    — O pecado da inveja.

    Max paralisou. Por mais que acreditasse estar diante de um demônio, as palavras o atingiam com força. O sentimento que há muito ignorava começou a emergir. Caiu de joelhos, o peito apertado. A inveja, antes trancada no fundo da alma, enfim transbordava.

    Cerrou os punhos. Lembranças vieram uma a uma — o instante em que reconheceu a força de Izumi, a derrota amarga, a queda do valente Camion, e todas às vezes em que o irmão superou inimigos que ele mal conseguira enfrentar. A inveja o devorava por dentro.

    — E daí?! — explodiu, a voz cortando o ar. — Eu o invejo mesmo. Qual o problema?

    — Vergonha? Nenhuma, pelo visto.

    — Sim, eu invejo. Negava até agora, mas obrigado. Você me fez encarar isso. Agora suma, seu maldito.

    — Finalmente aceita minha existência. Mas sua inveja não para aí. Vai muito além.

    — O quê? Não tem mais nada! Isso é tudo! Vai embora! — Max falou, quase arfando, alarmado.

    — Por que esse medo? Algo te corrói por dentro? Tem medo do que há de podre na sua inveja?

    — Cala a boca! Eu aceito. Sou invejoso. Não quero ouvir mais nada — disse, a voz pesada, cheia de remorso e raiva contida.

    O cenário tornou a mudar, agora para algo recente. Estava na praia, instantes antes, quando Max se divertia intensamente ao lado das dez mulheres que escolheu.

    — Consegue ver? — perguntou, a voz firme. — Quão demoníaco você foi… e nem sequer se importou.

    Como se tudo fosse apenas lembrança, uma cena distante. Max permanecia imóvel, assistindo aos próprios instantes de felicidade, pouco antes de ser julgado por si.

    — Idalme… tenho pena dela. Um homem que ela ama, tendo pensamentos assim sobre outras mulheres.

    Ele nada dizia. Limitava-se a encarar a própria imagem com repulsa. Questionava, em silêncio, as razões por trás de seus atos — embora, no fundo, soubesse que a resposta sempre esteve ali.

    — Sabe como chamam gente assim? Talarico!

    Os punhos de Max se cerravam com força crescente. Fitava a cena e a cópia diante de si com fúria, mas era de si mesmo que mais se enraivecia.

    — Consegue ver? Todas essas dez mulheres não escaparam das suas mãos. Max, me diz: como teve coragem?

    — Cala a boca!

    — Hahaha! Na frente das outras, se faz respeitável. Mas com Idalme, um pouco pervertido, né? E na cabeça… passa as piores coisas que poderia fazer com certas mulheres.

    — Cala a boca!

    — Max! Traição é horrível. Ainda mais com a esposa do próprio pai.

    — Cala a boca!!! — gritou e atacou a cópia com toda a fúria.

    No entanto, o ataque atravessou. Como fumaça levada pelo vento, ela se dissipou e surgiu adiante, tomando forma em outro ponto.

    — Até as mulheres do harém do seu pai não escaparam. És um escroto maldito! — disse, cuspindo no chão.

    Do outro lado, o cenário mudou novamente. Próximo à porta, Max segurava a maçaneta, enquanto ouvia gemidos que clamavam pelo nome do pai e pedia para entrar. Permanecia pensativo, perdido em seus próprios pensamentos.

    — Me diga, Max, o que passava na sua cabeça naquele momento?

    — …

    — Traição, não é? Coitadinha da Idalme… acreditou num homem como você!

    A maçaneta cedeu, e as gêmeas, sedentas por desejo, cercaram-no, clamando por sexo. Max permaneceu imóvel, o rosto pálido, tomado por uma preocupação angustiante. As mulheres começaram a baixar as calças dele, quando a cópia, naquele instante, falou:

    — Esse momento… foi gostoso pra você?

    — …

    — Vai continuar calado? Interessante. Então deixa eu te mostrar algo pior que isso.

    Na cena com Max e dez mulheres, ele colocava as mãos em uma menina jovem com os olhos sedentos por sexo.

    Ao ver aquilo, lágrimas deslizaram pelos seus olhos, e um amargor profundo o consumiu. A cópia sorriu e completou:

    — Max, Max, Max… até a Ui você não perdoou. — A cópia pousou a mão no ombro dele, sorrindo frio. — Não tens salvação.

    Ele chorava em silêncio, lamentando-se por dentro e pedia perdão a todos, sobretudo ao irmão. Sentia-se a pior pessoa do mundo. Agachou-se, consumido pela convicção de que merecia morrer por ter pensado e agido daquele jeito com aquelas mulheres.

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