Índice de Capítulo

    Idalme, aflita com a amiga, armou um amontoado de tecidos grossos no chão, juntamente com algumas almofadas, e conduziu Ui até lá. Ela encarou Izumi com um pouco de hesitação. Max, que assistia à distância, propôs-se a auxiliar, contudo, o relacionamento entre eles ainda permanecia tenso.

    Dam, sozinho no canto, aconchegou Loi em seus braços e, ao perceber o movimento dos seus seios, ele engoliu em seco. Dirigiu-se ao outro grupo e, tal como Idalme, preparou uma cama básica para ela. No entanto, peituda a observava com desgosto.

    — O que vamos fazer? — perguntou Max, aflito.

    — Você é o líder — respondeu Dam. — Cabe a você decidir.

    Naquele instante, sentiu a responsabilidade de liderar o grupo e, por um momento, desejou não ter sido o líder. Ele encarou Loi e teve a sensação de que precisava se vingar, porém, após se acalmar um pouco, compreendeu que iria precisar dela.

    — Mas talvez a Loi saiba como trazê-los de volta — disse o atirador.

    — Sabe? — perguntou Idalme, com um fio de esperança na voz.

    — Sim. Ela me contou que as leis dentro do corpo dos dois estão corroendo até a morte.

    — Então… se ela parar isso… os dois podem ser salvos? — questionou Max, as mãos levemente trêmulas.

    Dam olhou para ele e respondeu:

    — Não sei… só a Loi pode dizer.

    — Entendo… — murmurou Max.

    Idalme então foi até ela, agarrou-a pela camisa e rosnou:

    — Vamos acordar essa vadia e perguntar.

    Ela começou a esbofeteá-la sem piedade. Dam tentou impedir, mas Max ergueu a mão, segurando-o.

    — Acorda, vadia! Acorda! — gritava, batendo nela outra vez.

    Aos poucos, os olhos dela começaram a se abrir. Ela começou a observar o ambiente enquanto peituda a encarava com desdém.

    — Vadia, cure minha amiga agora!

    — Hum? Amiga… está falando da aberração?

    Ao ouvir isso, Idalme a ergueu, derrubou no chão e gritou:

    — Aberração?! Aberração é você! Ela… ela não fez nada de errado… não pediu pra nascer assim!

    — Justamente por isso. Ela nem devia ter nascido.

    — O quê? Você! Seu pai devia ter te matado quando teve a chance!

    Loi começou a se erguer com dificuldade enquanto seu rosto voltava a se fechar, olhou para Idalme e afirmou:

    — Diz isso de novo!

    — Você nunca foi amada! A própria família te odiava… achei que a gente podia se entender, mas me enganei. Você é igual ao seu pai… uma escrota.

    Cansada de ser comparada ao seu pai, correu em direção à peituda, mas foi impedida por algo. Naquele instante, todos ficaram vigilantes. Um indivíduo que estava no chão naquele instante se aproximou e abraçou Loi.

    — Irmão…

    Max encarou Slother, o demônio estava perplexo com o que acabou de ocorrer. Idalme sacou sua flecha e arco e Dam empunhava sua diana.

    — Irmão, é você?

    Aquele abraço apertado, aquele jeito especial de se envolver em um carinho. Aquela pressão forte era impossível de deixar no passado; ela tinha a certeza de que, na verdade, era seu irmão. 

    Entretanto, o corpo, como quem escapa de um abraço apertado, se distanciou repentinamente e fez surgir labaredas em seu dedo indicador, fazendo com que todos retomassem a atenção de imediato.

    Então, essa figura flamejante traçou letras no ar com suas labaredas, afirmando com um “Sim” que aquele era, sem dúvida, o Léo. Contudo, apenas o Loi estava mergulhado nessa lorota.

    O corpo rapidamente se virou, como se estivesse fazendo uma varredura no ambiente e, em seguida, anotou mais uma vez: fique tranquilo, eu vou a convencer.

    — Irmão?

    Ele se voltou para a sua irmã e escreveu: Loi, por favor, desligue o mecanismo de proteção da Lei.

    — Mas, irmão… eles são demônios.

    Eu sei. Mas lembra? Quando todo mundo te odiava, ainda havia quem se importasse com você. Nossa mãe… nem eu, nem mesmo a mestra te julgamos por ser diferente.

    — Mas isso é diferente! Eles são outra coisa… são demônios. Podem acabar se unindo aos deles.

    Irmã… nós somos de outra era. Os tempos mudaram. Não podemos julgar o presente com os ideais do passado. E não se esqueça: eles são os nossos salvadores.

    — Eu… mas…

    Como aquela garota disse… Loi, você quer mesmo ser igual ao nosso pai? Um homem que te chamou de aberração sem nem te conhecer? Irmã, justamente você devia ser a que mais entende isso.

    — Eu sei… mas os demônios tiraram tudo de mim… me usaram como boneca durante séculos. Não tem como perdoar.

    Sim… mas quem garante que esse grupo não passou pelo mesmo?

    — O quê? Eles… passaram?

    Léo virou-se lentamente, o olhar sério, e escreveu no ar com traços firmes:

    Me desculpem… mas poderiam contar a versão de suas histórias?

    Idalme vacilou. Suas mãos tremiam, a boca se abriu, mas nada saiu. Foi então que Max deu um passo à frente. Sua voz ecoou grave, gravida de mágoa:

    — Não tenho um passado tão triste quanto alguns aqui… mas se não fosse pelo meu irmão, eu estaria morto. Morto pelas mãos de membros do vosso próprio clã.

    — O quê? — Loi recuou, surpresa. — Nós nunca faríamos isso!

    — Nunca? — Max estreitou os olhos, um sorriso amargo surgindo em seu rosto. — Vocês fariam sim. E fizeram coisas ainda piores. Meu irmão foi a maior vítima disso.

    Ele respirou fundo e tentou conter a raiva, mas sua voz se tornou mais dura:

    — Desde pequeno, por ser diferente, ninguém da cidade o aceitava. Todos o queriam morto. Todos! Vocês não imaginam como é crescer sem confiar em ninguém, carregando apenas o ódio dos outros. Hoje ele até parece melhor… mas o que você sofreu não se compara à dor que ele sentiu ao perder a nossa mãe.

    O silêncio caiu como uma lâmina. Loi levou a mão à boca, os olhos marejados, incapaz de sustentar o olhar de Max.

    — Eu… eu não sabia… — murmurou.

    Idalme, que até então permanecia rígida, finalmente abriu a boca. Sua voz saiu fraca, mas cheia de lembranças:

    — No meu clã… — ela hesitou, como se engolisse espinhos antes de prosseguir.

    Todos a olharam fixamente e ela olhava para baixo enquanto pensava fundo.

    — Somos divididos em linhagens. — Começou Idalme, a voz embargada. — Quem não passava no teste de fogo era marcado como lixo. Desde então, nossa vida não nos pertencia mais… Éramos forçados a servir como escravos para a primeira linhagem, aqueles que conseguiram adquirir a chama.

    Ela respirou fundo, lágrimas tremiam em seus olhos, mas continuou:

    — Aos quinze anos, não tínhamos escolha. O destino era decidido por eles. Éramos designados para famílias que nos usariam… como escravos sexuais.

    — O quê?! — Loi levou a mão à boca, o rosto pálido. — Nosso clã… fazia isso?

    — Sim — respondeu Idalme com frieza amarga. — E isso é apenas uma das poucas atrocidades. O mesmo clã que tanto defendes com orgulho… fazia coisas piores do que os demônios que tu condenas.

    As palavras caíram como facas no coração de Loi. O corpo dela fraquejou e ela caiu de joelhos, o olhar perdido. Seus lábios tremiam, como se recusassem a acreditar. Finalmente, virou-se para Dam, os olhos suplicando:

    — Isso… isso não pode ser verdade…

    Dam, porém, não desviou o olhar. Sua expressão era sombria, mas firme:

    — Não olhe para mim com esses olhos. Tudo o que ela disse… é a mais pura verdade. Nós éramos escravos naquele lugar. Por isso eu fugi.

    Léo se aproximou, pousou a mão no ombro dela e escreveu:

    Loi… agora entendes?

    — Sim… — respondeu ela, a voz hesitante. — Mas eu não consigo gostar dos mestiços… O que faço, irmão?

    Não precisa gostar. Só aceite como eles são.

    — Como eles são?

    Sim. Aceite que aqueles dois… não são seus inimigos.

    Após ouvir aquilo, as lágrimas brotaram de seus olhos e ela desabou em prantos, igualzinho a um neném desamparado. Contudo, todos a encaravam como se fosse um fantasma em uma festa de aniversário sem bolo. Entretanto, ela de imediato se inclinou na direção deles e afirmou:

    — Me perdoem… eu estava errada…

    — Cala a boca, vadia! — gritou Idalme, a voz cortante. — Não é a mim que deves pedir desculpas! — Ela apontou para o casal caído no chão.

    — Sim… tens razão.

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