Índice de Capítulo

    Mais de dois séculos atrás, um casal vagava por uma floresta devastada após a destruição de sua vila por demônios. A mulher, de pele clara, cabelos brancos e olhos verdes, usava uma veste vermelha simples. O homem branco, também de cabelos brancos, vestia trajes cinzentos que refletiam sua antiga posição como soldado.

    Como únicos sobreviventes, encontraram refúgio na floresta, que se tornava mais desolada a cada dia. Apesar das dificuldades, ele mantinha a esperança de que, enquanto estivessem juntos, poderiam superar qualquer desafio.

    Após um ano convivendo juntos, ele criou coragem e a pediu em casamento. Apesar da hesitação inicial, ela aceitou. Unidos, enfrentaram dificuldades e acreditavam que, juntos, poderiam superar qualquer obstáculo.

    Com o passar do tempo, os recursos se tornaram escassos, e a floresta, consumida pela corrupção, aproximava-se de seu fim. Energia negativa impregnava o ambiente e, tornava o lugar cada vez mais perigoso. Ao reconhecer os riscos de permanecer ali, decidiram partir.

    Ao avançarem em direção às bordas da floresta, perceberam mudanças inquietantes no ambiente. Mesmo após uma semana de caminhada, em vez de alcançar a saída, retornaram inexplicavelmente ao ponto onde haviam se estabelecido. Alarmada, a mulher quebrou o silêncio com uma pergunta.

    — O que faremos agora?

    — Não se preocupe — respondeu. — Cuidarei disso.

    Karma, um soldado da vila, conhecia bem aquela floresta. No entanto, ao perceber que haviam retornado ao mesmo local, notou mudanças estranhas no ambiente. A familiaridade parecia distorcida, e ele relutava em aceitar a conclusão que se formava em sua mente.

    Ao virar-se para sua companheira, segurou suas mãos com firmeza, encarou seus olhos e declarou:

    — A floresta… Não posso afirmar com certeza, mas ela está se movendo.

    Os olhos de Rama se arregalaram, tomada de surpresa: — Como é possível?

    — Não se preocupe — respondeu ele, com uma expressão séria. — Temos uma maneira de escapar antes que sejamos consumidos por ela.

    Karma levou a mão à bolsa e retirou um instrumento peculiar. No centro, um ponteiro oscilava levemente, como se respondesse a algo invisível ao redor.

    — Antes, eu não precisava, pois conhecia bem a floresta. Mas agora, com isso, conseguiremos sair — disse ele, sorrindo para sua esposa.

    Rama o observou com um olhar desconfiado e perguntou: — Isso é… uma bússola?

    — Sim — respondeu, simples e direto.

    Com o instrumento em mãos, seguiram em frente. Apesar de notarem, ocasionalmente, que o caminho parecia mudar, a bússola os guiava com precisão. Ignoraram o senso de direção que antes tinham naquela floresta e avançaram rumo ao sudeste.

    Em certo ponto, a floresta, que até então parecia inerte, revelou-se hostil. De repente, ataques surgiram do ambiente ao redor. Rama, utilizou seu espaço espacial, tirou a espada para o seu marido, e ele enfrentou as ameaças imbuindo sua aura na espada. Porém, a intensidade do ataque impossibilitou manter a luta, obrigando-os a recuar.

    As árvores, possuídas por energia negativa, bloqueavam suas rotas de fuga e, tornava cada passo mais difícil. Karma, sentiu o desespero crescer em seu peito e, compreendeu que escapar daquele lugar era quase impossível. Mesmo assim, permanecia firme: salvar sua amada, ainda que isso custasse a própria vida.

    O corpo dele começou a tremer e, sua aura oscilava intensamente. Por um instante, afastou-se de sua esposa, e nesse momento crítico, ela tornou-se o alvo. Várias estacas surgiram e, perfurava o ar em direção a ela. Uma delas atingiu seu abdômen, enquanto outras ameaçavam consumi-la por completo.

    Diante da cena, Karma gritou em desespero. Rama, mesmo ferida, olhou para ele com um sorriso sereno e murmurou um pedido de desculpas antes que o inevitável a alcançasse.

    Paralisado, ele caiu de joelhos. Seus punhos golpearam o chão com tamanha força e repetição que a pele se rompeu, tingindo a terra com sangue. Mas não houve trégua. As mesmas estacas que tiraram a vida de sua amada voltaram-se contra ele.

    Ao fechar os olhos, aceitou o destino e, desejou apenas a reencontrar no pós-vida.

    No entanto, ele não sentiu dor. Ao abrir os olhos, percebeu que estava em um lugar completamente branco e sem fim. Confuso, questionou se aquele ambiente não seria o paraíso. Foi então que ouviu seu nome ser chamado.

    Lágrimas escorreram por seu rosto ao ver Rama correndo em sua direção. Ela o abraçou com força, e ele a segurou, incrédulo diante do que via. Logo, ela explicou que, antes de ser atingida pelas estacas, ela havia teleportado para aquele lugar e aproveitou o tempo para realizar primeiros socorros em seu ferimento.

    Ainda confuso, ele começou a questionar aquela situação. Enquanto ouvia, percebeu algo diferente em sua própria aura. Ele olhou adiante, como se guiado por um instinto, se teleportou espontaneamente para outro ponto do espaço branco. Nesse momento, começou a compreender que sua aura havia despertado.

    Segurou a mão de sua esposa e começou a correr em direção ao sudeste. Após algum tempo avançando, ele parou para se concentrar novamente. Reunindo sua aura recém-desperta e, conseguiu abrir um caminho de volta à terra.

    Quando retornaram, encontraram-se em um local completamente diferente. Não havia mais árvores ao redor, apenas um vasto terreno de barro sob seus pés. À distância, podiam avistar a floresta que parecia se mover.

    — Impressionante — disse um homem estranho.

    O casal imediatamente se colocaram em alerta e, sentiu que aquela figura não era comum. Seu cabelo, completamente vermelho como o próprio corpo, contrastava com sua aura, que emanava uma presença demoníaca e ameaçadora.

    Karma, ainda em dúvida, perguntou quem ele era. Contudo, o estranho permaneceu em silêncio, fixando seu olhar na mulher.

    — Cabelos brancos impressionantes. Desejo — disse novamente aquele homem, a voz carregada de fascínio.

    O estranho, após falar, simplesmente fez com que Rama desaparecesse e, reaparecer em seus braços. Ao perceber que sua esposa havia sumido, atacou imediatamente. Contudo, o homem o surpreendeu e, chutou-o com força na barriga. 

    Ele caiu no chão, a dor insuportável tomava conta de seu corpo enquanto via sua esposa se debater, cada vez mais distante. Logo, perdeu a consciência.

    Ao acordar, encontrou-se em um lugar diferente. Seu corpo estava crivado de estacas, mas, surpreendentemente, não sentia dor. Um homem se aproximou lentamente e, com um olhar penetrante, disse:

    — Como posso ver, acordou.

    Karma, ainda confuso, perguntou: — Quem é você?

    — Pode me chamar de Aaron. E, lamentavelmente, você foi um fracasso.

    — Fracasso? — questionou, a dúvida e indignação claras em sua voz.

    Aaron, após a tortura, deixou a sala repleta de ferramentas cortantes e duvidosas. Tentou se libertar, mas não conseguia. Desesperado, usou sua habilidade especial e, em um piscar de olhos, foi transportado para sua dimensão, livre finalmente. Enquanto corria, uma pergunta incessante martelava em sua mente: quanto tempo havia se passado?

    Anos se passaram enquanto ele caminhava pelas terras desoladas, em busca de sua amada. Depois de uma busca incessante, decidiu retornar à vila destruída. Foi ali que encontrou uma criança que tinha por volta de dez anos, que vagava sozinha. Incerto, aproximou-se, mas, a garota ao vê-lo, fugiu, aterrorizada.

    Karma seguiu em frente e, ao adentrar mais, avistou uma mulher sentada, segurando a criança que havia fugido. Um calor inesperado tomou seu coração, e lágrimas começaram a escorrer por seu rosto. Com a voz trêmula, ele se aproximou e disse:

    — Rama…

    Ela olhou para ele com medo, e, com a voz trêmula, gritou para que ele se afastasse. Karma, sem entender, tentou se aproximar, dizendo que era o marido dela, mas a mulher, aterrorizada, se afastava cada vez mais. O desespero tomou conta dele quando, em um momento de angústia, ela gritou:

    — Saí para lá, seu demônio!

    Naquele momento, Karma paralisou e, o choque o impediu de se mover. Sua mente estava em turbilhão e, tentava entender porque sua esposa o havia chamado de demônio. Com o coração apertado, ele olhou para suas mãos, agora completamente escuras, e uma onda de confusão o invadiu. 

    Como… como? Momentos atrás, eu ainda era humano…

    Foi então que, ao revisitar suas memórias, percebeu que fazia anos que não comia, e, sem sequer perceber, vagava incessantemente em busca de sua amada, sem se preocupar com mais nada. Sua mente, cada vez mais fragmentada, começou a desmoronar, e o desespero tomou conta dele.

    À beira de um pequeno local, encontrou uma poça de água. Ao se aproximar, olhou seu reflexo e viu seu rosto, agora completamente negro e horrível. Nesse momento, a verdade o atingiu com força: aquele homem, o responsável por tudo, o havia modificado.

    Foi quando, de repente, Rama apareceu saindo de uma das casas, acompanhada de um homem. Karma, ao reconhecê-lo como o estranho que havia levado sua esposa, gritou em desespero:

    — Devolva… devolva a minha esposa!

    — Impressionante… Você é Karma, não é?

    A mulher, observou a cena e entendeu lentamente o que acontecia. O medo e a confusão tomaram conta de seu coração e, finalmente, ela cogitou que aquele ser diante dela poderia, na verdade, ser seu marido.

    — É você, Karma? — perguntou.

    Ao ouvir sua esposa dizer seu nome, sentiu um pequeno alívio e, lentamente, começou a se aproximar e, afirmou ser seu marido. No entanto, Rama, ainda temerosa, se afastou um passo para trás. Ele parou abruptamente, o peso da situação caiu sobre ele e, com a voz trêmula, disse:

    — Rama, venha. Venha comigo.

    No entanto, a mulher se escondeu atrás do homem estranho e, com voz trêmula, disse:

    — Você não é mais o Karma… Você se tornou um demônio…

    Karma, que tentava se controlar, não conseguiu conter o desespero que tomou conta de si. Sua angústia se intensificou ainda mais quando o homem pegou sua esposa pela cintura, e ela não o rejeitou. 

    O ódio ferveu em suas veias e, tomado pela raiva, ele atacou com tudo o que tinha. No entanto, antes que pudesse alcançar seu alvo, algo desconhecido o atingiu, e ele caiu no chão, incapaz de entender o que acabara de acontecer.

    — Impressionante, você está mais forte — comentou o homem estranho, sorrindo. — Rama, faça sua escolha. Se desejar ir com esse homem, vá. Mas, se preferir ficar… me beije na bochecha.

    No chão, observava sua esposa, esperando que ela tomasse uma decisão. Mas, para sua dor, ela decidiu o que mudaria tudo. Rama se esticou e beijou as bochechas do homem estranho.

    Nesse momento, Karma, depois de tanto tempo de angústia, desabou em lágrimas intensas. Mas, em meio ao caos, decidiu. Enquanto o homem o olhava com desdém, Karma ativou sua habilidade, transportando apenas a mulher e a criança para o seu domínio.

    Rama, ao perceber onde estava, ficou tomada pelo medo e, o terror se espalhando por seu corpo. Karma, tomado por uma fúria insana, correu até ela e, em um gesto desesperado, golpeou seu coração com toda sua força.

    Ela segurou seus braços e, lágrimas escorria de seus olhos enquanto a dor tomava conta de seu ser. Com o último suspiro, ela sorriu para ele, dizendo suas últimas palavras:

    — Não mate o seu filho.

    Ao olhar para a criança que chorava desesperadamente enquanto olhava para sua mãe, sentiu um impulso de matá-la. No entanto, as últimas palavras de sua amada começaram a corroer sua mente. Um pensamento o consumia: será que aquela criança era realmente seu filho?

    Nesse momento, a dimensão que antes era branca, suave como as nuvens, se transformou em um vazio negro como carvão. A escuridão tomou conta de tudo, e Karma se afastou do local, cada passo um reflexo da dor que finalmente o despedaçava. 

    Ele entendeu, de forma cruel, que, no fim, nunca foi verdadeiramente amado. Aceitou sua verdadeira natureza, compreendendo que era um demônio, e jurou vingança contra o homem estranho, que destruiu tudo o que ele havia sido.

    Nos tempos atuais, despedaçado no chão, Karma teve seu último momento de reflexão. Ele pensou que aquele casal de cabelos brancos se parecia com ele e com a amada que ele havia odiado com todas as forças de sua vida. 

    A dúvida o consumiu: e se… será que… o que ela disse sobre aquela criança de cabelos brancos realmente fosse verdade? 

    E mais ainda, ele se perguntou se aquele casal não seria, na verdade, seus descendentes.

    Mesmo em pedaços, com sua vida chegando ao fim, Karma sorriu, um sorriso amargo e arrependido pelas escolhas que fizera. Ele desejou, com todo o seu ser, reencontrar sua amada em outro mundo, para finalmente entender o seu lado da história.

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