Capítulo 99 de 33 - E agora, o que vai fazer sem suas espadas?

Izumi encarou o inimigo que o derrotou antes. Sacou a espada, olhou para Carlo e firmou as lâminas. Carlo percebeu que seria um estorvo, mas antes de partir, avisou:

— Cuidado com os raios.

— Raios? — perguntou.

Camion levantou a mão até a cintura e, com um sorriso enigmático, disse:

— Isso.

Um raio despencou dos céus, e cruzou a distância entre caçador e o demônio. Ao observar o impacto, Izumi permitiu que um sorriso surgisse em seus lábios antes de dizer:

— Entendo.

Izumi recuou com um salto ágil, ajustou sua postura e ativou o “Super Speed Iz Brute Force”. Em um instante, avançou contra adverso e, desferiu cem cortes consecutivos. No entanto, o capeta permaneceu imóvel, fitou-o com um olhar impassível e disse:

— Nem doeu. Não me diga que isso é tudo?

Ele fixou o olhar na espada e, questionou se ela suportaria o que estava prestes a fazer. Antes, jamais cogitara usá-la daquela maneira; até então, qualquer inimigo que enfrentasse sucumbia aos seus cortes. Mas aquele adversário era diferente. O corpo do demônio era tão resistente que as lâminas não causavam nenhum dano.

Ele logo compreendeu que a velocidade, por si só, não era suficiente no mundo. Havia inimigos capazes de anular até sua maior vantagem. Ainda assim, acreditava que sua velocidade só fora vencida porque a espada não conseguia ferir o inimigo.

Foi então que uma ideia tomou forma: imbuir sua espada com energia negativa. Porém, Izumi não dominava essa técnica como os soldados treinados que manipulavam suas auras com facilidade. Determinado, concentrou sua energia obscura e, liberou o ataque mais poderoso de que dispunha, o “Sen to Ichi”. Contudo, sabia que manter aquele nível de poder em uma batalha prolongada seria impossível.

Embora cogitasse usar toda sua força naquele instante, percebeu que não obteria crescimento como guerreiro dessa forma. Precisava transcender seus limites, atingir um nível em que nem mesmo os destemidos ousariam desafiá-lo, ainda que possuíssem corpos invencíveis.

Gradualmente, a intensidade do ataque começou a diminuir. A aura negativa, antes visível, desapareceu completamente e, restavam apenas vestígios sutis, como poeiras negras girando ao redor da espada.

Camion, impaciente, avançou com um ataque feroz. Contudo, antes que o soco o alcançasse, Izumi declarou:

— Sen To Ichi, 1%! Cem cortes!

— Eu já avisei, isso não vai funcionar… — Ele não conseguiu terminar a frase antes que marcas de corte aparecerem no seu corpo.

— E agora, o que vai fazer, demônio? — perguntou, seu tom sobrecarregado de desdém.

Camion, naquele instante, sentiu uma mistura de pavor e euforia. Apesar do impacto do que testemunhou, ele sabia que tinha uma maneira de lidar com aquilo. Com um gesto despreocupado, ergueu a mão e chamou pelo seu alvo, movendo-a em um aceno provocador.

Izumi, firme, utilizou novamente sua técnica mais poderosa. Contudo, inesperadamente, o ataque não produziu o mesmo efeito de antes. Incrédulo, ele fitou o adversário e questionou:

— O que você fez?

— Nada de mais — respondeu. — Apenas cobri meu corpo com as minhas sombras. E agora, pergunto: o que vai fazer?

Izumi, exibia novamente seus dentes serrilhados, proclamou com firmeza:

— Super Speed Brute Force Iz! Cem cortes!

Camion, sorrindo de maneira convencida, provocou:

— Isso é tudo?

Surpreso pela resistência dele diante de seus ataques, ainda mantinha a confiança de que poderia vencer. Ele sabia que ainda tinha uma carta na manga, e essa certeza o fazia continuar determinado.

Ao erguer-se, questionou-se se sua espada aguentaria até o fim. Pensou em aumentar a potência do “Sen To Ichi”, mas logo descartou a ideia. Manter sequer 1% da força dessa técnica já o desgastava rapidamente, e sua concentração na luta se tornava cada vez mais difícil. Aumentar a intensidade, portanto, significaria perder a capacidade de se focar na batalha. Naquele momento, ficou claro para ele que o que faltava era mais treinamento.

Por fim, ponderou se seria possível usar sua habilidade mais poderosa enquanto mantinha o “Sen To Ichi” em 1%. Porém, ele logo percebeu que a questão não era se seria capaz ou não, mas que, naquela situação, ele simplesmente precisava fazer isso.

— Super Speed Brute Force Cure Iz! Cem cortes!

— Shaarrrggghhh!!!

Ele desferiu um golpe certeiro em Camion, fazendo-o sangrar. Quis atacar novamente, mas por um instante seu corpo falhou. Foi então que percebeu: no fundo, não havia se recuperado completamente do dano sofrido enquanto curava Castiel.

— Como? — perguntou o adverso. — Eu nem vi você se mover…

— Lhialhialhialhia! — riu com escárnio. — Seria estranho se você visse!

Todos ao redor, que observava a batalha à distância, se sentiram mais esperançosos ao verem o demônio ferido. Camion, visivelmente preocupado, cobriu seu corpo com sombras densas. Sua figura ficou completamente negra, e só os olhos, visíveis através dos buracos das trevas, permaneciam perceptíveis.

Em seguida, lançou um raio em direção ao caçador, mas ele se esquivou rapidamente e, continuou a atacar, embora sem causar dano algum. Por alguns segundos, a luta seguiu nesse impasse.

Então, Izumi repetiu a sequência de golpes que anteriormente feriu Camion. Dessa vez, o impacto foi menor, mas ainda assim causou algum dano. A luta prosseguiu, e, mais uma vez, desferiu seu ataque mais forte, fazendo o demônio sofrer mais danos.

— Shashashasha! — riu, seu tom se tornando mais arrogante. — Agora entendi sua técnica.

— Hum?

— Não pode usar esse ataque poderoso o tempo todo. Pelo ritmo dos seus últimos movimentos, o intervalo de uso é, em média, de dez segundos. E agora que sei disso, posso inutilizar sua técnica.

— Tente então, seu cuzão.

A luta prosseguiu, e após dez segundos, Camion aumentou momentaneamente sua defesa e, sacrificou sua velocidade. Mas não era um problema, apenas uma estratégia para aquele momento.

Quando o ataque veio, ele não conseguiu se defender completamente. Sangrou pela boca e, pela primeira vez, sentiu-se superado. Suas sombras começaram a se desfazer, e o rosto do demônio expressava incredulidade. Ele não havia imaginado que seu inimigo possuía um ataque ainda mais poderoso do que o “Cem Cortes” que ele usava repetidamente.

— Esse rosto… isso… era exatamente o que eu queria ver — disse ele, sorrindo de maneira sinistra, antes de retirar as duas espadas do corpo do capeta. — No momento que o seu plano fracassa, a sua humilhação se torna forma. 

Durante toda a luta, Izumi se preparara para aquele momento e, sabia que, quando o alvo cobriu seu corpo com sombras, ele havia espalhado sua defesa por inteiro. Aguardava pacientemente o instante em que Camion acreditaria que os ataques rápidos e contínuos eram a melhor técnica que ele possuía.

Porém, para um inimigo com um corpo tão resistente, ele sabia que um ataque perfurante seria a escolha mais eficaz. E foi justamente essa possibilidade que o adverso falhou em considerar.

Quando o golpe veio, a lâmina perfurou profundamente o demônio e, afastou-o com brutalidade. Mesmo diante da dor, o corpo dele vacilou, enfraquecido pela energia negativa imbuída na espada, que desestabilizou a defesa do inimigo. O adverso caiu no chão, derrotado.

— Não sei se lembra, mas foi com essa técnica que fui derrotado da última vez.

Caído no chão, se lembrou de que aquela mesma técnica havia sido utilizada antes. Com esforço, começou a se levantar, mas antes que pudesse se recompor, Izumi cravou sua espada em suas costas, fazendo-o cair novamente.

Ao perceber que não conseguiria vencer daquela forma, Camion rapidamente formulou um novo plano. As nuvens no céu começaram a se tornar mais escuras do que o normal. Izumi, atento à mudança, levantou o olhar para o céu e observou, surpreso, os raios se condensando acima dele. Em um instante, os raios desceram com força e, atingiu Camion.

Izumi foi afastado pela intensidade da descarga elétrica, e, enquanto os raios continuavam a cair sobre ele, sua ferida começava a ser cicatrizada. 

— Não acredito que terei que admitir isso novamente — disse o capeta, a relutância em sua voz. — Você é forte. Na minha forma atual, as chances de vitória são mínimas. No entanto, não era o único com cartas na manga.

— Do que está falando?

— Eu sou Camion, e entre mim, havia três demônios poderosos. Um já havia sido morto e, eu o consumi.

— Hum?

Izumi estava confuso, sem compreender totalmente o que acontecia, mas Max, que estava perto, ouviu e logo entendeu a ameaça que o capeta acabara de revelar.

— Mate ele agora, Izumi! — Max gritou desesperado.

Ele olhou para Max, cheio de dúvidas, enquanto Camion observava ao redor da cidade, sentindo a energia negativa de seus aliados mais fortes se aproximando.

— Escuta, garoto. Ainda falta dois para serem consumidos por mim. E incrivelmente vocês conseguiram o derrotar.

As energias negativas começaram a entrar no corpo dele, vindo de ambos os lados. Ele percebeu que o demônio ficaria mais forte, e hesitou antes de atacar. Essa hesitação foi suficiente para o adverso notar a intenção do inimigo de usar o mesmo golpe que o ferira antes.

Com sua defesa de sombra, Camion concentrou toda sua proteção no peito e, preparou-se para bloquear o ataque. Em seguida, lançou raios para distrair, comprando tempo até que toda aquela energia negativa se integrasse completamente ao seu corpo.

Mas Izumi, após um breve momento de reflexão, parou e disse:

— Fique mais forte.

— O quê? — perguntou o demônio, claramente desconcertado. — Não sei o que passa na sua cabeça, mas, de alguma forma, agradeço.

De longe, Max ficou cada vez mais preocupado ao ver a ação de seu irmão, mas ainda queria acreditar que ele tinha alguma carta na manga.

Enquanto absorvia completamente a energia negativa, a noite se aproximava rapidamente, e algo mais começava a acontecer. Dois novos chifres surgiram em sua cabeça, e suas sombras negras se tornaram ainda mais intensas. Seu corpo, agora mais definido e imponente, exibia uma força restaurada. Com um sorriso desafiador, Camion disse:

— Agora, comecemos novamente.

Izumi, sem hesitar, atacou novamente com sua habilidade mais forte e, utilizou o golpe perfurante. Contudo, o adverso, com suas sombras concentradas no peito, bloqueou o ataque com facilidade. Para piorar a situação, as espadas dele se partiram novamente em pedaços, deixando-o ainda mais vulnerável.

Camion olhou para ele, sorrindo com desdém, e perguntou:

— E agora, o que vai fazer sem suas espadas?