Hora da Recomendação, leiam Fagulha das Estrelas. O autor, P.R.R Assunção, tem me ajudado com algumas coisas, então deem uma força a ele ^^ (comentem também lá, comentários ajudam muito)
Talvez passe a usar mais esse espaço para recomendar outras obras (novels ou outras coisas que eu achar interessante ^^)
Capítulo 90: A Primeira Grande Venda da Loja de Antiguidades
Duncan já esperava a reação de Morris.
O motivo de levantar aquele assunto era apenas para confirmar uma suspeita.
Como já havia investigado antes, Morris, como qualquer outra pessoa comum, não sabia nada sobre o incêndio.
Aquela noite em chamas existia apenas na memória de Nina—e agora, também na sua própria.
Ou, para ser mais preciso…
Até o momento em que ele assumiu esse corpo, aquele incêndio era algo que apenas Nina recordava.
O assunto foi rapidamente deixado de lado, e Morris não demonstrou qualquer estranhamento sobre a pergunta.
A conversa prosseguiu com o professor falando sobre os estudos de Nina, sua turma e seu desempenho acadêmico.
Ele também fez algumas perguntas sobre a situação familiar dela.
Estava claro que o velho professor já queria saber dessas coisas há muito tempo.
Mas, devido à vida desregrada e decadente do antigo ‘tio de Nina’, essa conversa foi adiada até hoje.
Duncan, por sua vez, não sabia responder muitas das perguntas—sua memória herdada daquele corpo tinha lacunas.
No entanto, seu raciocínio rápido e habilidade em improvisar o ajudaram a contornar a situação.
Para qualquer questão mais difícil, culpava sua antiga vida de excessos, dizendo que o álcool havia obscurecido suas lembranças, mas que agora estava comprometido a mudar.
E, de fato, Duncan tinha experiência com visitas domiciliares.
Ele sabia quais eram as perguntas típicas de um professor, sabia quais eram os pontos de maior interesse.
Embora estivesse em outro mundo e em outro papel, esses conhecimentos ainda eram úteis.
Quando finalmente os assuntos mais sérios foram concluídos, Morris voltou sua atenção para outra questão que também lhe interessava muito.
O olhar do velho professor recaiu sobre a adaga antiga, impecavelmente preservada sobre o balcão.
Seus olhos brilhavam de interesse.
“Este item… está à venda?”
Duncan sorriu imediatamente.
“Esta é uma loja de antiguidades.”
Se estava exposto na loja, estava à venda.
Agora, ele tinha total certeza de que vender aquela adaga não traria problemas.
Afinal, o Banido possuía incontáveis artefatos—e nem todos eram conectados ao sobrenatural.
Uma simples adaga, sem qualquer influência anômala, não passava de um antigo objeto náutico.
Não havia razão alguma para não vendê-la.
Comparado à pilha de falsificações da loja, o verdadeiro tesouro estava nos porões do Banido!
Assim que essa ideia se encaixou em sua mente, Duncan teve uma epifania—ele percebeu que este tempo todo estivera sentado sobre uma fortuna.
Aqueles objetos que ele considerava sucata sem valor eram, na verdade, tesouros apenas fora de lugar.
Tudo que faltava era encontrar os clientes certos—e olhando para o professor Morris…
Este não era exatamente o tipo de ‘cliente certo’?
Morris, por outro lado, não fazia ideia do que se passava na cabeça do antiquário.
O professor estava totalmente absorto na adaga, analisando-a com um olhar fascinado.
Após um longo momento de hesitação, ele finalmente quebrou o silêncio.
“Quanto custa?”
Duncan: “…”
De repente, a epifania desapareceu.
Porque ele não fazia a menor ideia de quanto cobrar.
Mesmo que tivesse herdado as memórias de seu corpo atual, ele não tinha referência alguma para precificar a adaga.
Afinal, essa loja nunca tinha vendido nada autêntico desde que abriu as portas.
E antiquários não tinham um padrão fixo de preço—ele era um completo amador nesse campo.
Duncan rapidamente começou a ponderar suas opções.
Primeiro, descartou a ideia de seguir os preços absurdos da loja e jogar um valor entre 200.000 e 300.000 soras—porque, apesar de ser genuína e bem preservada, a adaga tinha pouco mais de um século.
Além disso, pelas informações que Morris havia mencionado, essas adagas não eram exatamente raríssimas—apenas relativamente escassas devido ao desgaste do tempo.
Na época, eram utilizadas como ferramentas náuticas comuns pelos marinheiros.
Isso significava que não havia um grande valor histórico agregado.
Ela tinha excelente conservação, o que ajudava a valorizar o item…
Mas no fim das contas, não era uma relíquia singular.
Além disso, Morris era professor de Nina—o que significava que precisava levar em conta essa relação.
Se cobrasse um valor exorbitante, pegaria mal.
Todo esse raciocínio ocorreu em poucos segundos, e Duncan, no fim, decidiu evitar riscos.
Ele balançou a cabeça e sorriu.
“Por que não você define o preço, professor Morris?”
“Você é o educador que Nina mais respeita, então não consigo simplesmente te tratar como um cliente comum.”
Duncan estava plenamente ciente de que não conhecia o suficiente para sugerir um valor justo.
Qualquer número que chutasse soaria estranho.
Então, preferiu deixar que o especialista lidasse com isso—e, ao mesmo tempo, observar como um profissional avaliava um item histórico.
Quanto ao risco de fazer um mau negócio?
Duncan não se preocupava nem um pouco.
Era um lucro puro.
Sem custo nenhum.
Qualquer valor que recebesse já seria um ganho inesperado—e além disso, ganharia experiência na negociação de antiguidades.
Sem mencionar que construiria um relacionamento com um historiador experiente, o que poderia ser útil no futuro.
Morris refletiu cuidadosamente por alguns instantes.
Duncan percebeu que o professor não estava pensando em tirar vantagem, apenas avaliando o item da forma mais justa possível.
Finalmente, ele falou.
“Três mil… três mil e quatrocentas soras. Essa é minha estimativa.”
O professor parecia ter ponderado bastante antes de dar esse número.
“Talvez você ache que o valor é baixo”, acrescentou, com um tom um pouco defensivo.
“Mas leve em consideração a idade e a relevância histórica do item… Antiguidades não exclusivas sofrem muitas depreciações no mercado. Sim, a conservação dessa peça é excepcional—isso agrega um valor considerável. Mas nem todos os colecionadores estariam interessados nesse tipo específico de item…”
Enquanto Morris continuava justificando seu preço, Duncan já havia começado a calcular rapidamente.
No Distrito Inferior, uma família comum de três pessoas gastava, em média, pouco mais de duzentas soras por mês para cobrir todas as suas despesas.
E, para a maioria dos moradores, não havia sobra alguma no orçamento. Quando muito, conseguiam economizar um valor insignificante.
Essa adaga, portanto, valia quase um ano e meio de renda para uma família comum.
Isso era o que um único item autêntico representava em termos de valor—e, ainda assim, não era uma peça particularmente rara ou valiosa.
Duncan não sabia se devia admirar a brutalidade do mercado de antiguidades, no qual ‘três anos sem vender nada’ podiam ser compensados por ‘uma única venda que sustentava a loja por três anos’…
Ou se devia refletir sobre o abismo social que separava a vida dos cidadãos comuns e os hobbies sofisticados da elite.
Ou, talvez, devesse simplesmente se impressionar com a quantidade de dinheiro que esse velho professor possuía.
Ele suspirou levemente e então sorriu para Morris.
“Feito.”
Ele não viu necessidade de barganhar.
De qualquer maneira, para Nina e para ele, essa era uma quantia enorme—muito mais do que qualquer denúncia de cultistas poderia render.
Até pouco tempo atrás, Duncan estava pensando em maneiras de ganhar dinheiro…
Mas, agora, essa preocupação parecia menos urgente.
A vida era cheia de surpresas.
Morris, no entanto, parecia um pouco desconcertado com a rapidez com que Duncan aceitou o preço.
Ele hesitou por um instante, então murmurou, quase com culpa:
“Na verdade… esse valor é um pouco abaixo do mercado. Considerando o estado de conservação e a escassez relativa do item, ele deveria valer de 10% a 20% a mais…”
O professor coçou o nariz, parecendo um pouco envergonhado.
“Mas… recentemente tenho gastado muito com colecionáveis e, no momento, meu orçamento está um pouco apertado…”
Duncan ficou surpreso com a sinceridade do professor.
Morris era ainda mais transparente do que ele imaginava.
“Eu acho que é um preço justo”, Duncan disse com um sorriso tranquilo. “E a diferença de valor? Podemos chamar de ‘sorte do destino’.”
Então, como se algo tivesse acabado de lhe ocorrer, ele se levantou e foi até o balcão.
“Aliás, já que esta é minha primeira grande venda, eu tenho um presente para você.”
Morris olhou com curiosidade e expectativa, observando enquanto Duncan retirava uma pequena joia roxa de um compartimento da prateleira.
Era um pingente de ametista.
O professor imediatamente percebeu um detalhe:
Ainda havia uma etiqueta de fábrica pendurada nele.
Escrito nela: ‘Produzido pela Vidraçaria Johnny’.
Morris: “…”
Duncan, no entanto, manteve uma expressão séria ao empurrar o pingente em sua direção.
“Este pingente foi abençoado e possui efeitos protetores contra influências malignas. A ametista foi imbuída com encantamentos antigos, permitindo que seu portador encontre o caminho certo mesmo em meio a ilusões e maldições. Hipnotizadores de eras passadas usavam esses amuletos para proteger suas mentes contra os perigos do mundo dos sonhos.”
A seriedade em seu rosto era inabalável.
“Ele protegeu gerações de mestres ao longo do tempo. E agora… ele encontrou você.”
Morris olhou para o pingente, então apontou lentamente para a etiqueta.
“Mas… aqui diz que foi produzido pela Vidraçaria Johnny…”
“Eu sei.”
Duncan, ainda sem alterar a expressão, arrancou a etiqueta e a jogou de lado.
“Foi um esquecimento meu. É um presente. Você realmente acha que eu teria um estoque de itens genuínos só para distribuir de graça?”
O professor ficou em silêncio por um instante.
Então, de repente, começou a rir.
“Muito bem, você tem razão!”
“Obrigado pelo ‘presente’. Espero que isso pelo menos faça minha filha reclamar menos dos meus gastos.”
Morris guardou o pingente, então procurou algo em seu bolso interno.
Após um momento, retirou um talão de cheques.
“Não trouxe dinheiro suficiente comigo. Esta carta de crédito pode ser descontada em qualquer banco de Pland, seja no Distrito da Encruzilhada ou no Distrito Superior. Isso funciona para você?”
Duncan sorriu.
“Claro.”
Enquanto falava, seus olhos caíram sobre o cheque.
Desde que Nina mencionou seu professor de história, ele já havia ficado intrigado.
Agora, após realmente interagir com o homem, essa curiosidade só aumentou.
Morris definitivamente não era um professor comum.
Seu vestuário refinado, sua maneira de falar, seu profundo conhecimento histórico…
Tudo nele indicava que não pertencia a uma escola pública do Distrito da Encruzilhada.
Duncan não sabia como funcionavam as hierarquias acadêmicas em Pland…
Mas era evidente que um homem como Morris deveria estar ensinando em uma universidade de prestígio, não em uma escola secundária pública.
E havia outro detalhe que não podia ser ignorado:
Um professor de escola pública comum… conseguiria gastar sem hesitação o equivalente a um ano e meio de salário de um cidadão do Distrito Inferior?
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