Hora da Recomendação, leiam Fagulha das Estrelas. O autor, P.R.R Assunção, tem me ajudado com algumas coisas, então deem uma força a ele ^^ (comentem também lá, comentários ajudam muito)
Talvez passe a usar mais esse espaço para recomendar outras obras (novels ou outras coisas que eu achar interessante ^^)
Capítulo 96: O Olhar Fixo
Na cabine do capitão do Banido, Duncan, que estava sentado diante da janela com os braços cruzados e os olhos fechados, lentamente abriu as pálpebras.
Ele observou por um instante o ambiente familiar ao seu redor e sentiu a condição do seu corpo, soltando um leve suspiro de alívio.
Agora, sua consciência principal estava novamente a bordo do Banido, enquanto seu corpo em Pland permanecia na loja de antiguidades.
Naquele momento, ele coordenava sua forma humana para organizar o andar térreo da loja e pendurar a placa de descanso na porta—um processo que ainda parecia um pouco estranho e desajeitado.
No interior da cabine, Duncan se levantou lentamente da cadeira, alongando os braços e as pernas.
Seus olhos se voltaram para a escrivaninha próxima, onde viu Ai caminhando despreocupadamente pela borda da mesa.
A Máscara do Sol, trazida para o navio recentemente, ainda repousava ali, refletindo os últimos raios dourados do pôr do sol através da janela.
A superfície dourada da máscara parecia irradiar um brilho ilusório, como se chamas irreais percorressem os padrões dourados entalhados nela.
Enquanto isso, na loja de antiguidades, Duncan cumprimentava um vizinho que voltava para casa.
Ele mantinha um leve sorriso no rosto, conversando sobre o clima e o movimento do comércio.
Embora sua expressão parecesse um pouco rígida e sua fala fosse ligeiramente hesitante, seu vizinho não percebeu nada estranho.
Afinal, um homem que até pouco tempo atrás era um alcoólatra e um viciado em apostas agora levava uma vida estável—isso já era surpreendente o suficiente.
Se ele tivesse alguns momentos de hesitação ao falar, era apenas um reflexo da deterioração causada pelo álcool.
De volta ao navio, Duncan sorriu ligeiramente.
Conseguir interagir socialmente enquanto controlava sua ‘casca humana remota’ era um progresso interessante.
Mas agora, era hora de focar no Máscara do Sol.
Afinal, existiam muitas questões a serem resolvidas em Pland, mas nem tudo poderia ser feito de uma só vez.
Além disso, a cidade entrava em toque de recolher ao anoitecer, e sua forma humana precisava evitar chamar atenção desnecessária.
Depois do pôr do sol, era melhor dedicar tempo ao Banido.
Duncan ergueu a máscara dourada, sentindo seu peso nas mãos.
O objeto era frio ao toque, como se fosse feito inteiramente de metal, e tinha uma densidade notável.
Enquanto examinava a peça, seus pensamentos começaram a divagar.
‘Será que essa coisa é de ouro maciço? Se for… quanto será que vale derretê-la?’
Embora ele não estivesse mais com problemas financeiros em Pland, dinheiro nunca era demais.
Se surgisse uma emergência, seria bom ter reservas extras.
Os cultistas do Sol Negro eram uma fonte inesgotável de recursos.
Podiam ser usados para extrair informações, ser denunciados por recompensas, ou para obter artefatos valiosos.
E, se algum desses itens não tivesse utilidade prática, não havia nada de errado em refiná-los e vendê-los.
Isso era o que Duncan chamaria de ‘desenvolvimento sustentável de recursos sobrenaturais’.
Duncan ficou pensativo por um momento antes de murmurar para si mesmo:
“Os cultistas do Sol Negro são valiosos em todos os aspectos…”
Ai, que ainda passeava despreocupadamente pela mesa, parou abruptamente, inclinando a cabeça para o lado.
Então, soltou um grito estridente, imitando uma voz feminina:
“Tenha um pouco de humanidade! Tenha um pouco de humanidade!”
Duncan lançou um olhar seco para a pomba.
“Você é uma ave, não tem moral nenhuma para me julgar.”
Ignorando a implicância do pássaro, ele esfregou os dedos, preparando-se para invocar a Chama Espiritual.
Seu plano era simples: purificar a máscara primeiro, certificando-se de que não houvesse riscos ocultos antes de tentar testá-la mais a fundo.
Uma chama verde e fantasmagórica brilhou na ponta de seus dedos, oscilando levemente.
Ele estava prestes a canalizá-la para dentro da máscara quando, de repente, ouviu um som fraco e indistinto.
A voz parecia um sussurro distante, fluindo direto para sua mente.
【”… pode acabar atraindo sua atenção para o Banido…”】
Duncan congelou no meio da ação.
Seus olhos se voltaram para Ai.
“Você ouviu isso?”
Ai pensou por um instante, depois abriu as asas e começou a cantar em um tom completamente desafinado:
“Ouça~ o mar chorando~ lamentando quem teve o coração ferido~”
“PARA! PARA!” Duncan rapidamente agarrou a pomba, interrompendo seu concerto espontâneo.
‘Por que ainda pergunto coisas para esse pássaro? Toda conversa com ele é como um experimento de mecânica quântica—nunca sei o que esperar!’
Com Ai convenientemente silenciada, Duncan se forçou a focar novamente no que ouvira.
Ele estava absolutamente certo de que não havia imaginado aquele sussurro.
Era uma voz feminina, jovem, mas calma.
E quando ouviu aquele som, também sentiu uma conexão fraca, um vínculo quase imperceptível.
Embora muito mais fraco do que sua ligação com seu corpo em Pland, a conexão existia.
Lentamente, ele desviou o olhar da máscara dourada e voltou sua atenção para a chama verde ainda brilhando na ponta de seus dedos.
A conexão… parecia estar de alguma forma relacionada à Chama Espiritual.
Fechando os olhos por um instante, ele tentou seguir a trilha deixada pelo sussurro.
No vazio momentâneo da escuridão, uma luz fraca surgiu diante dele.
A luz lembrava uma janela distante, e além dela, ele podia ver silhuetas vagas se movendo—mas não conseguia discernir os detalhes.
Mesmo assim, Duncan sentiu instintivamente que a chama estava lhe mostrando um caminho.
Ele abriu os olhos novamente.
Seguindo a direção indicada por aquela presença sutil, seus olhos pousaram em um objeto dentro do quarto.
Era um espelho simples, pendurado ao lado da porta.
Oval, com uma moldura de madeira antiga e escurecida, parecia um objeto comum, sem nenhuma aura sobrenatural.
Algo que qualquer pessoa teria em casa.
Duncan podia sentir claramente que sua Chama Espiritual precisava de um meio físico para fortalecer a conexão recém-formada.
Lembrando-se da imagem indistinta que viu na escuridão e da direção vaga que percebeu, ele suspeitou que um espelho poderia ser o canal perfeito.
Na maioria dos rituais ocultistas, espelhos desempenhavam um papel fundamental.
Eram símbolos de visão e percepção, frequentemente utilizados para ampliar a consciência e revelar verdades invisíveis.
Duncan aproximou-se da moldura oval e tocou a superfície do espelho com a chama verde.
A Chama Espiritual se espalhou suavemente pelo vidro, ondulando como se fosse líquida.
No instante seguinte, o portal de luz pálida que ele havia vislumbrado no escuro apareceu de forma nítida no espelho!
Curioso, ele se inclinou para observar melhor.
Através da camada de luz tremulante, ele viu um espaço iluminado por lâmpadas.
Uma mulher extraordinariamente alta estava perto de uma janela, lendo algum tipo de documento à luz do crepúsculo.
Ela não demonstrava o menor sinal de estar ciente de que alguém estava espiando sua sala através de um reflexo no espelho.
Era Vanna.
Seus olhos percorreram cuidadosamente as palavras do documento, analisando cada frase com atenção minuciosa.
Aquele era um comunicado oficial, redigido em conjunto pelos bispos das diversas cidades-estado e aprovado pelo próprio Pontífice da Catedral da Tempestade.
A formulação do texto havia sido feita sob ressonância espiritual, assegurando que a Deusa da Tempestade estivesse presente durante toda a deliberação.
Dessa forma, qualquer influência anômala sobre o conteúdo do documento era impossível.
O propósito desse comunicado era simples:
Avisar cada capitão que navega pelo Mar Infinito de que um artefato anômalo de alto nível havia escapado do controle da civilização.
Isso era essencial.
As anomalias que se perdiam no mar não desapareciam para sempre.
O oceano devorava tudo, mas nunca engolia completamente o sobrenatural.
Esses objetos sempre retornavam, vagando de forma imprevisível, ameaçando as embarcações que ousassem se aproximar—assim como lobos rondando os limites de uma fazenda, caçando marinheiros desprevenidos.
Todos os anos, incontáveis tripulações desapareciam após encontrarem anomalias errantes.
E como guardiã dessas forças, a Igreja do Mar Profundo era obrigada a notificar os capitães sobre qualquer anomalia que escapasse de seu controle.
Esse tipo de comunicado não era visto como uma falha da Igreja.
Era um dever sagrado.
Um simples aviso poderia, um dia, salvar uma tripulação inteira—ou até mesmo criar a oportunidade de recuperar e selar uma anomalia novamente.
Normalmente, esses comunicados eram distribuídos dentro de 24 horas após um incidente.
Mas esse… havia demorado mais.
Porque esse caso não envolvia apenas a Anomalia 099—o Caixão de Boneca.
Ele também envolvia o Fênomeno 005—o Banido.
O Pontífice e os bispos precisaram medir suas palavras com extremo cuidado.
Era essencial garantir que as informações fossem exatas, mas também que o texto não contivesse detalhes que pudessem atrair a atenção do Banido.
A expressão de Vanna era sombria enquanto ela lia, examinando cada palavra do documento.
Ela precisava garantir que as frases seguiam a estrutura sagrada da oração, de modo que o nome do navio fantasma não chamasse a atenção de seu capitão espectral.
E, ao seu lado, refletido na superfície da janela—num espaço imperceptível para ela e o bispo—Duncan se inclinava cada vez mais, tentando espiar o conteúdo do documento.
Capitão_fantasma_chocado.jpg
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