Índice de Capítulo

    Hora da Recomendação, leiam Fagulha das Estrelas. O autor, P.R.R Assunção, tem me ajudado com algumas coisas, então deem uma força a ele ^^ (comentem também lá, comentários ajudam muito)

    Talvez passe a usar mais esse espaço para recomendar outras obras (novels ou outras coisas que eu achar interessante ^^)

    O ônibus estava abarrotado devido ao horário de pico. Mesmo nos fundos do veículo, mal havia espaço para respirar. Shirley, pequena e franzina, estava espremida entre os passageiros, encolhendo o pescoço e tentando não se mover, parecendo um animalzinho acuado.

    Se Duncan não tivesse visto pessoalmente como essa garota conseguiu destruir uma sala cheia de cultistas enquanto balançava um cachorro, ele realmente teria acreditado que ela era completamente inofensiva.

    Com calma, ele abriu caminho até Shirley. Seu corpo alto e imponente conseguiu criar um pequeno espaço mais arejado para ela, dando-lhes um mínimo de privacidade para conversar. Foi então que ele percebeu que ela estava tremendo—não só nervosa, mas assustada de verdade.

    “Por que está com medo?” Ele lançou um olhar para Shirley. “Não vou engolir você viva.”

    Shirley fez uma careta quase chorosa:

    “O senhor… então prefere cozido?”

    Duncan: “……”

    Ele já tinha uma boa ideia do porquê Shirley parecia tão aterrorizada. Afinal, aquela criatura chamada Cão já havia enxergado o que realmente estava sob sua aparência humana. Sem dúvida, após a fuga, o cão das sombras deve ter exagerado nos detalhes ao relatar tudo para sua jovem dona. Isso, certamente, deixou uma impressão marcante na mente dela.

    Ele não fazia ideia de como Shirley o enxergava agora, mas suspeitava que não fosse muito diferente da forma como os capitães dos navios temiam o Banido. Em outras palavras, se alguém desse de cara com ele, a melhor decisão seria começar a escrever um testamento imediatamente—e bem rápido, porque provavelmente não haveria tempo suficiente para terminar antes de morrer.

    Duncan suspirou internamente. Ele realmente queria parecer mais acessível e amigável, mas não havia muito o que fazer—afinal, um demônio das profundezas simplesmente via o mundo de forma diferente. Mesmo aquele Sol Negro, que em suas visões suplicava por ajuda com uma sinceridade notável, ainda o fazia desconfiar, principalmente por causa da horrenda entidade que se escondia sob sua coroa flamejante.

    Ele só esperava que a forma como Cão o via fosse menos aterrorizante do que aquilo que ele próprio vira dentro do falso deus sol—pelo menos, algo com olhos e uma boca bem posicionados…

    Pensando no Cão de Caça Abissal, Duncan franziu levemente a testa e olhou para Shirley:

    “Cão está com você agora?”

    Shirley engoliu em seco e respondeu de forma hesitante:

    “C-cão normalmente se esconde onde ninguém pode vê-lo…” Ela abaixou ainda mais a voz. “Mas ele sempre ‘sabe’ o que está acontecendo ao meu redor…”

    “Oh, então mande um cumprimento da minha parte.” Duncan assentiu com naturalidade. “Na última vez, nos despedimos com pressa. Ainda tenho muitas perguntas para fazer.”

    No instante em que ele disse isso, Shirley tremeu novamente…

    “Relaxe um pouco.” Duncan suspirou, impotente. Ele já começava a sentir alguns olhares estranhos vindos dos arredores. “Por que está tão nervosa para falar comigo? Não tenho nenhuma intenção ruim contra você ou Cão.”

    “I-Isso é ótimo…” Shirley assentiu rigidamente. Em seguida, como se quisesse demonstrar um pouco mais de naturalidade, começou a procurar um assunto aleatório. Seu olhar vagou pelo espaço até pousar no ombro de Duncan.

    “O senhor… não trouxe sua pomba dessa vez?”

    “Não permitem animais de estimação no ônibus”, Duncan respondeu casualmente. “Eu a soltei para caçar.”

    “Soltou a pomba… para caçar?” Shirley ficou boquiaberta, como se tivesse dificuldade em processar essa informação. Mas logo começou a balançar a cabeça rapidamente. “Oh, claro! O senhor está certo! Pombas são ótimas caçadoras… têm olhos afiados e voam rápido…”

    A confusão mental dela era evidente. Já estava começando a falar sem saber o que dizia quando, de repente, o ônibus balançou bruscamente.

    A voz do cobrador ecoou no meio do veículo, interrompendo os pensamentos desorganizados de Shirley:

    “Sexto Distrito! Alguém vai descer?”

    No mesmo instante, Shirley soltou um suspiro de alívio visível. Como se tivesse sido salva, ela se apressou em gritar que iria descer e começou a avançar pela multidão. Enquanto se esgueirava, despedindo-se com extrema fluidez, disse:

    “Foi ótimo ver o senhor hoje, até a próxima…”

    Mas, antes que terminasse a frase, percebeu que Duncan também estava se movendo—seguindo-a para fora do ônibus.

    Seu rosto, que antes brilhava em alívio, ficou pálido em um piscar de olhos.

    “Também desço aqui.” Duncan declarou sem expressão.

    A expressão de Shirley travou. Ela sabia que, a essa altura, dizer que mudou de ideia e não desceria mais seria totalmente suspeito—e, considerando que esse figurão provavelmente já havia decidido segui-la, qualquer desculpa poderia acabar irritando-o.

    E se ele se irritasse… bom, ela realmente poderia acabar sendo cozida e devorada…

    A mente de Shirley imaginou o pior cenário possível, e ela quase entrou em pânico sozinha.

    Nesse momento, o cobrador voltou a chamá-la:

    “Ei, espere um pouco, menina! Você comprou sua passagem?”

    Shirley congelou. Seu olhar confuso recaiu sobre o cobrador de uniforme azul-escuro. Ela não esperava ser chamada. Muito menos esperava ser pega por ter furado a passagem.

    Enquanto ela ainda estava processando o que estava acontecendo, o cobrador já confirmava a situação:

    “Você não pagou a passagem. Eu me lembro agora…”

    “Essa garota eu conheço.” Antes que Shirley pudesse reagir, Duncan interveio ao lado dela. “Ela deve ter perdido o bilhete. Eu pago por ela.”

    O cobrador lançou um olhar desconfiado para Duncan, depois voltou-se para Shirley, que parecia visivelmente nervosa. Depois de um breve momento de hesitação, ele apenas assentiu.

    “Tudo bem, então.”

    Duncan tirou algumas moedas do bolso e pagou a passagem de Shirley. Em seguida, ambos desceram do ônibus, saindo na plataforma vazia e envelhecida da parada.

    O veículo continuou sua jornada, ainda abarrotado de passageiros. No entanto, no Sexto Distrito, apenas eles dois haviam desembarcado.

    Duncan olhou ao redor, avaliando a área.

    O que viu não era muito diferente de um bairro comum do Distrito Inferior. Os edifícios ao redor eram antigos, e o movimento de pedestres na rua era escasso, mas não ao ponto de parecer completamente abandonado. As lojas da rua ainda estavam abertas, mesmo que velhas e modestas. Algumas pessoas caminhavam esporadicamente pela calçada, e ao longe, chaminés de fábricas expeliam fumaça no céu. Ele até viu um entregador de jornais de bicicleta cruzando um beco.

    No geral, era um bairro tranquilo e subdesenvolvido, mas não um cenário de completa decadência.

    O incidente industrial que aconteceu onze anos atrás ainda deixou algumas marcas, mas aparentemente, não foi tão destrutivo quanto ele imaginava…

    Após observar a área por um tempo, Duncan voltou seu olhar para Shirley.

    Desde que desceu do ônibus, ela ficou parada no mesmo lugar, completamente imóvel, como se fosse um animalzinho preso em uma armadilha. Apesar do medo evidente, ela nem tentou fugir, nem fez qualquer movimento brusco.

    Era como se estivesse aceitando seu destino.

    Duncan quase riu ao vê-la tão quieta. Se não tivesse testemunhado pessoalmente a forma brutal com que essa garota despachou um grupo inteiro de cultistas, ele provavelmente acreditaria que ela era realmente inofensiva.

    Balançando a cabeça, ele caminhou até ela e perguntou diretamente:

    “O que veio fazer no Sexto Distrito?”

    Shirley imediatamente ficou ereta.

    “E-eu… ouvi dizer que a vista aqui é bonita!”

    Duncan a avaliou de cima a baixo, sua expressão carregando um traço de divertimento.

    “Já faz um tempo que queria te perguntar isso… Você está fingindo ser boazinha?”

    “E-eu… eu não estou fingindo!” Shirley se enrijeceu ainda mais, como se quisesse parecer mais comportada. “Sempre fui uma menina bem comportada!”

    Duncan balançou a cabeça. Já havia encontrado muitas crianças que tentavam fingir inocência de repente, e a técnica de Shirley era longe de ser convincente. No entanto, ele não comentou nada a respeito. Apenas ergueu os olhos e lançou um olhar aparentemente despretensioso para a rua à frente.

    “Sexto Distrito… Há onze anos, houve um vazamento industrial aqui. Dizem que, por trás do acidente, havia cultistas tramando algo.”

    Shirley piscou, fingindo confusão.

    “Por que o senhor está mencionando isso do nada?”

    “Vamos lá, não se faça de desentendida. Você estava investigando o que aconteceu há onze anos no esconderijo dos Cultistas do Sol.” Duncan lançou-lhe um olhar antes de começar a andar. “Esse lugar é o centro de todos os registros oficiais. A fábrica onde ocorreu o ‘vazamento’ fica logo à frente.”

    Shirley ficou atônita por um instante, mas logo correu para acompanhá-lo. Com suas pernas curtas, teve que se apressar, enquanto olhava para Duncan com surpresa genuína.

    “Espere… O senhor também está investigando o que aconteceu há onze anos?!”

    Agora que tinha certeza de que Duncan não a comeria viva—pelo menos não por enquanto—e que suas investigações pareciam coincidir, sua coragem cresceu um pouco. Ela até ousou fazer uma pergunta direta.

    Hmm. Tenho um certo interesse.” Duncan respondeu vagamente, assentindo.

    Mas, após caminhar alguns passos, ele de repente parou, virando-se para Shirley com uma expressão curiosa.

    “Você sempre fura a passagem?”

    Shirley abriu a boca, hesitou e murmurou:

    “Eu…”

    Duncan nem precisou ouvir a resposta. A expressão dela já dizia tudo. Ele balançou a cabeça e comentou calmamente:

    “Furar passagem não é certo.”

    Ao ouvir isso, Shirley quase caiu em desespero.

    Ela já havia sido repreendida por Cão, pelos vizinhos fofoqueiros, até mesmo por guardas da cidade—mas jamais, em sua vida, imaginou que um figurão no nível de um falso deus pararia para lhe dar uma lição de moral sobre furar passagem.

    Desde quando os figurões do Subespaço se preocupavam com ética?!

    Desde que Cão descreveu o terror que residia no corpo de Duncan, Shirley começou a associá-lo às sombras do Subespaço, aos horrores que não deveriam ser nomeados. Mas agora…

    Agora esse mesmo ser aterrador estava aqui, dando sermão sobre pagar passagens de ônibus…

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