Hora da Recomendação, leiam Fagulha das Estrelas. O autor, P.R.R Assunção, tem me ajudado com algumas coisas, então deem uma força a ele ^^ (comentem também lá, comentários ajudam muito)
Talvez passe a usar mais esse espaço para recomendar outras obras (novels ou outras coisas que eu achar interessante ^^)
Capítulo 116: Tudo Normal
Shirley saiu rapidamente carregando Cão, enquanto Duncan retirava seu olhar da esquina distante e voltava a focar nas ruínas da fábrica.
Após as Chamas Espirituais se dissiparem, o véu invisível se fechou novamente, e aquela fábrica retomou sua aparência ‘normal’ de antes — todos os vestígios do incêndio foram completamente apagados, e as onipresentes cinzas se dissolveram no vazio.
O olhar de Duncan subiu lentamente, passando pela fábrica e se dirigindo ao céu.
Ele imaginou… imaginou um fino véu de tecido translúcido cobrindo silenciosamente tudo ao redor, ocultando a verdade sob a realidade. O Sexto Distrito ainda abrigava alguns moradores — eram poucos, mas ainda se contavam aos milhares — e, bem debaixo dos olhos dessas milhares de pessoas, aquele véu invisível encobria a verdade havia já onze anos.
Os residentes do local haviam até mesmo apagado completamente de suas memórias o incêndio — para eles, acreditava-se que um suposto ‘vazamento químico’ na fábrica foi o que levou à decadência do distrito.
Ao pensar nisso, Duncan franziu ligeiramente as sobrancelhas.
A verdade dentro da fábrica era um grande incêndio, e Cão também havia confirmado que não havia qualquer resquício de contaminação química nos arredores. Se não havia realmente tal ‘poluição’… então qual era a razão pela qual, durante onze anos, não havia nascido uma única criança no Sexto Distrito?!
Se não era um efeito da poluição química que impedia os nascimentos… então poderia ser algum tipo de força do domínio sobrenatural que estava deliberadamente impedindo o surgimento de novas vidas ali?
Duncan contemplou o céu, pensativo.
Parece que… aquele véu invisível era ainda mais vasto do que ele imaginava.
“Nós conseguimos escapar… realmente escapamos?”
Em um beco distante do Sexto Distrito, Shirley espiou cautelosamente para fora da sombra, observando se havia patrulhas dos xerifes nas ruas próximas, enquanto baixava a voz para falar com algo no canto da parede ao seu lado.
Ali, enroscada nas sombras escuras, havia uma massa densa e negra, como se a própria escuridão sem forma tivesse ganhado uma consistência pegajosa. Cão estava oculto dentro dessa sombra e respondeu com um tom grave e abafado:
“Não fomos nós que escapamos… foi alguma grande figura que nos deixou partir.”
“Dá no mesmo, porra”, Shirley acenou a mão, sem a menor preocupação com sua postura, e simplesmente se jogou no chão. “Merda, quase morri de susto… Nem ousava respirar fundo, tive que segurar a língua o tempo todo, ainda fingindo ser toda obediente… Cão, você não tem ideia…”
“Eu sei. Eu vejo mais coisas do que você, esqueceu?” A voz sombria vinda da escuridão falou em um tom lento e enigmático. “E então, como foi? Caminhar ao lado de uma sombra do Subespaço sorridente é mais cansativo do que lidar com um bando de xerifes e guardiões com cara de poucos amigos?”
“… Para com isso, estou arrepiada”, Shirley revirou os olhos. “A culpa é toda sua por me assustar tanto da última vez. Se eu não soubesse de nada, hoje também não teria sentido medo… Me diz, por que alguém tão poderoso faz questão de fingir ser um ‘cidadão comum’? Até pega ônibus com as pessoas normais, chega a comprar a passagem como qualquer um! Quem poderia imaginar que esbarraríamos com ele desse jeito?!”
Cão ficou em silêncio por dois segundos. “… Talvez seja só um capricho. Ou talvez ele esteja te observando. E é isso que mais me assusta… Agora que tivemos contato com um ser assim, temo que nosso destino já esteja entrelaçado ao dele…”
Shirley estremeceu levemente e perguntou com cautela: “Você está dizendo que… vamos encontrá-lo de novo no futuro? Me dá um tempo…”
“Você esqueceu o que ele disse antes de irmos embora?” Cão suspirou. “Ele vai nos encontrar.”
Shirley não respondeu de imediato. Permaneceu de cabeça baixa, silenciosa.
Após um momento, Cão falou de repente: “O que foi? Está com medo? Arrependida? Pois agora é tarde demais… Eu te avisei antes. Quem pisa no mundo do sobrenatural precisa estar pronto para lidar com forças superiores além da compreensão humana. Se há alguns meses você tivesse me ouvido e desistido de investigar aqueles velhos casos, ainda estaria levando uma vida tranquila…”
“Arrependida uma ova!” Shirley interrompeu Cão bruscamente, a cabeça baixa e a voz carregada de fúria. “Desde o começo, eu nunca me arrependi, e nunca vou me arrepender! Para de falar essas merdas desmotivadoras!”
“Tá bom, tá bom, não falo mais—mas já descansou o suficiente? Já está na hora de irmos, sua ‘nova amiga’ não marcou um encontro com você?”
“Eu… só mais dois minutos”, Shirley bagunçou os próprios cabelos e murmurou com a voz abafada. “Minhas pernas ainda estão bambas… Só mais um pouco…”
Cão não respondeu, soltando apenas um bufo rouco e abafado. Em seguida, a massa de sombras onde ele estava escondido começou a encolher aos poucos, até desaparecer completamente, fundindo-se à sombra de Shirley.
Durante o almoço, Vanna enfiou um pedaço de pão com geleia na boca, mastigando grandes bocados enquanto lia um relatório ao seu lado. Sentindo que estava se engasgando um pouco, pegou um copo de vidro próximo e tomou vários goles de uma vez.
Do outro lado da mesa, a voz de seu tio Dante soou com um tom de resignação:
“Vanna, coma com mais elegância — e pare de beber álcool como se fosse água.”
“Os hereges não vão esperar. Quanto mais rápido eu terminar de comer, mais rápido posso enviá-los para encontrar seu Senhor”, respondeu Vanna, levantando o olhar para seu tio enquanto tentava engolir a comida. “Além disso, não estamos em um banquete…”
“Mesmo em um jantar de família, ainda se deve manter boas maneiras — desse jeito, você nunca vai se casar”, Dante suspirou, observando com preocupação sua sobrinha, que já estava em idade para casar, mas nunca havia levado sequer um namorado para casa. “Ou melhor… acho que você já passou do ponto de conseguir se casar…”
Os movimentos de Vanna finalmente diminuíram. A jovem Inquisidora pareceu um pouco constrangida.
“Eu… o dever de uma Inquisidora é muito…”
“A Igreja do Mar Profundo não proíbe que seus sacerdotes se casem, e os Inquisidores também levam vidas normais. Eu já li o Cânone da Tempestade”, Dante balançou a cabeça. “Falando sério, não há ninguém que você considere adequado?”
Vanna abaixou a cabeça e começou a cutucar o pão no prato com a ponta da faca. “O problema é que… ninguém consegue me derrotar…”
“… Melhor perguntar se há alguma maneira de revogar seu juramento”, Dante suspirou profundamente, parecendo verdadeiramente preocupado. “Você nunca deveria ter feito aquele voto na cerimônia de iniciação. Especialmente a primeira cláusula — insistir que apenas um ‘guerreiro poderoso’ poderia caminhar ao seu lado… Na época, o Bispo Valentin deveria ter impedido você…”
Vanna abaixou ainda mais a cabeça. Apesar de sua altura imponente, naquele momento ela parecia envergonhada, como se estivesse sendo repreendida como quando era criança. Sua voz soou abafada:
“Não é como se eu pudesse simplesmente retirar o juramento… foi um voto sagrado feito diante da Deusa. Além disso… eu não fiz isso por impulso. Quase todas as Guardiãs fazem esse juramento, é um símbolo da coragem concedida pela Tempestade, uma prova de nossa fé diante da Deusa…”
Dante olhou silenciosamente para sua sobrinha, que era pelo menos uma cabeça e meia mais alta do que ele.
“E você já considerou a possibilidade de um dia se tornar invencível?”
Vanna hesitou. “… Isso é por causa da segunda e da terceira cláusula do juramento…”
Dante suspirou mais uma vez. “… Ah.”
Esse tipo de conversa já havia se tornado um tema recorrente entre tio e sobrinha nos últimos anos, surgindo a cada poucos meses, e, como sempre, terminando em constrangimento.
Mas Vanna rapidamente recuperou o ânimo. Em um ritmo impressionante, devorou o que restava em seu prato, recolheu os documentos ao seu lado e se levantou para sair.
“Terminei. Tio, você… hmm?”
Vanna parou de repente, surpresa ao olhar para o rosto de Dante Wayne. Levantando a mão, apontou para o olho artificial de rubi do tio.
“Tio, o ferimento ao redor do seu olho está sangrando… Está tudo bem?”
“Ah?” Dante ficou surpreso e passou a mão no rosto. Ao ver o sangue nos dedos, rapidamente se levantou e pegou um espelho para examinar o olho artificial.
Ele viu que a borda da gema de rubi estava soltando pequenas gotas de sangue, que escorriam lentamente pelos vincos e cicatrizes ao redor. Não era muito sangue, mas a visão era perturbadora.
“Não se mova”, Vanna se aproximou rapidamente, pousou a mão perto do olho do tio e murmurou em voz baixa versos do Cânone da Tempestade:
“Que os ventos do mar tragam alívio à carne, restaurando este corpo ao seu estado original.”
Sob a influência da prece sagrada, Dante sentiu uma leve coceira ao redor do ferimento. O sangramento cessou rapidamente. Ele suspirou, meio resignado:
“Não precisa se preocupar tanto. Não é a primeira vez nesses anos todos—afinal, essa coisa é só uma peça fria de minério e metal. Pequenos ‘conflitos’ ocasionais com um corpo de carne e osso são normais.”
Mas Vanna não parecia nem um pouco aliviada. Seu olhar permaneceu fixo no olho de rubi do tio, e só depois de um longo silêncio ela perguntou:
“Você sentiu mais alguma coisa? Alguma dor ardente? Alguma visão estranha através do rubi?”
Dante piscou, olhando para Vanna. Dentro da gema abençoada, o que ele via refletido era perfeitamente claro—
Atrás de Vanna, chamas rugiam furiosamente. O salão de jantar estava coberto de cinzas e marcas de queimadura. Massas enegrecidas de carvão e estruturas derretidas pendiam do teto, como presságios funestos suspensos no ar.
O olho de rubi aqueceu ligeiramente… e, em seguida, esfriou de novo.
Dante sorriu.
“Claro que não. Está tudo normal.”
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