Hora da Recomendação, leiam Fagulha das Estrelas. O autor, P.R.R Assunção, tem me ajudado com algumas coisas, então deem uma força a ele ^^ (comentem também lá, comentários ajudam muito)
Talvez passe a usar mais esse espaço para recomendar outras obras (novels ou outras coisas que eu achar interessante ^^)
Capítulo 119: “—Um Par de Amigas”
Desde o momento em que os Guardiões da Tempestade identificaram a possibilidade de um fenômeno sobrenatural descontrolado dentro do museu até o instante em que concluíram sua própria bênção e avançaram para o interior do incêndio, tudo aconteceu em questão de segundos.
Duncan observou enquanto os membros da Igreja do Mar Profundo corriam em direção ao prédio em chamas. Ao mesmo tempo, os bombeiros na praça, treinados para esse tipo de situação, entraram em ação de forma coordenada. Jatos de alta pressão resfriavam a entrada do museu para permitir o avanço das equipes, enquanto uma unidade especializada se destacava do grupo principal.
Esses bombeiros vestiam os equipamentos de proteção padrão, mas sobre eles traziam os emblemas da Igreja do Mar Profundo e pequenos amuletos de proteção. Em seguida, sem hesitação, também avançaram para o interior do museu.
Enquanto isso, os xerifes que permaneciam na praça assumiram a responsabilidade de organizar os civis, acalmá-los e encaminhar os sobreviventes marcados como potencialmente contaminados para as igrejas próximas, onde receberiam assistência e exames mentais.
A operação acontecia com uma precisão impecável, uma sinergia fluida entre as forças civis e religiosas.
Não era apenas resultado de inúmeros treinamentos, mas sim da experiência real.
Esta era a realidade de um mundo onde fenômenos sobrenaturais eram comuns — um mundo onde cidades-estado como Pland só haviam prosperado porque desenvolveram uma resposta rápida e eficaz às ameaças do desconhecido. O segredo da sobrevivência residia na capacidade de identificar rapidamente a presença de forças além da compreensão humana e suprimi-las antes que escapassem ao controle. Aqui, tanto cidadãos comuns quanto autoridades recebiam treinamento especializado, de modo que protocolos de emergência como esses se tornavam quase reflexos instintivos.
Duncan compreendia tudo isso, mas não tinha tempo para admirar a eficiência do sistema.
Ele vasculhou com o olhar o grupo de sobreviventes reunidos à beira da praça, analisando cada rosto coberto de fuligem.
Nina não estava entre eles.
Seu olhar imediatamente se voltou para o museu em chamas.
Havia algo ali dentro — uma presença familiar.
Ele avançou sem hesitação, dirigindo-se para a entrada principal, mas deu apenas dois passos antes de ser interceptado por um xerife.
“Senhor, esta área é perigosa. Deixe isso com os profissionais.”
Duncan olhou para o homem por um breve momento, então acenou com a cabeça e se afastou sem protestar.
Discutir com as autoridades só desperdiçaria tempo e atrapalharia a operação de resgate. Ele não era alguém que insistia em seguir pelo caminho mais difícil.
Assim, sem hesitação, contornou rapidamente a praça, afastando-se da entrada principal. Encontrando um ponto discreto nas sombras, ele se ocultou por um instante.
No momento seguinte, uma pomba branca alçou voo.
Ai atravessou o espaço acima da praça e, sem hesitação, mergulhou diretamente por uma janela lateral do museu — uma janela da qual ainda brotavam chamas.
Algumas pessoas na praça notaram a pomba branca mergulhando diretamente nas chamas, mas simplesmente assumiram que era um animal desorientado, assustado pela fumaça e pelo calor. Alguns lamentaram a cena, mas logo voltaram sua atenção para o incêndio.
Dentro do museu em chamas, Duncan emergiu do vórtice de fogo verde.
Fumaça densa, labaredas violentas e ondas de calor o envolveram imediatamente.
Duncan não temia nada disso, mas sabia que, apesar de sua alma estar segura, seu corpo físico era vulnerável às condições extremas do incêndio. Se tentasse atravessar as chamas sem preparação, seu espírito poderia sobreviver — mas este corpo de carne e osso certamente não.
Mas ele não era imprudente.
Desde o momento em que decidiu entrar no museu, já sabia exatamente o que fazer.
O fogo estava por toda parte.
E o fogo… obedecia.
Duncan prendeu a respiração. Uma leve chama verde serpentou sob seus pés, desaparecendo no ar em um instante. Mas essa breve conexão foi suficiente.
Como acontecera na reunião dos cultistas do Sol, no porão da fábrica abandonada, ele sentiu as chamas ao seu redor curvando-se a ele.
Até mesmo o ar abrasador ao seu redor mudou — o calor ainda estava ali, mas não sufocava mais seus pulmões.
Duncan respirou suavemente, depois caminhou em direção a uma grande porta bloqueada por labaredas.
“Recuem.”
As chamas obedeceram.
Elas se afastaram, recuando para os lados como uma onda puxada pela maré. E à medida que Duncan avançava, o fogo se apagava em seu rastro, revelando um corredor denso de fumaça, coberto de brasas incandescentes.
Ele lançou um olhar para trás, depois examinou as placas nas paredes ao redor, analisando sua localização.
Aparentemente, havia ‘pousado’ dentro de um escritório nos arredores da exposição principal. O corredor diante dele parecia ser uma passagem interna, usada pela equipe do museu. No final da passagem, deveria haver uma conexão com a área de exibição, e em algum ponto do trajeto, escadas ou elevadores que levavam a outros andares.
Duncan começou a avançar, examinando o caminho com atenção.
Ao mesmo tempo, concentrou-se profundamente, tentando localizar Nina dentro do museu.
Mas, para ser honesto, não fazia ideia se conseguiria.
Essa era a primeira vez que tentava algo assim. Ele sabia que sua percepção estava além da de uma pessoa comum, e até mesmo o Cabeça de Bode já mencionara que ‘a intuição do Capitão é o melhor guia’.
Mas tentar sentir a presença de alguém à distância? Isso parecia algo saído diretamente de uma história fantástica.
Duncan continuou avançando pelo corredor, com as chamas ao seu redor recuando e se extinguindo a cada passo. Até aquele momento, não conseguira sentir a presença de Nina.
No entanto, de repente, percebeu algo mais.
“Hmm?”
Ele murmurou baixinho, franzindo levemente a testa enquanto seus olhos se voltavam na direção de sua percepção.
Logo à frente, no andar inferior, algo dentro de sua mente pulsava levemente — um sinal que se tornava mais nítido a cada instante.
O dono desse sinal… estava bem ativo.
Duncan hesitou por um breve instante, depois acelerou o passo na direção da sensação. Ele atravessou as labaredas que se afastavam por conta própria, desceu rapidamente uma escada que já começava a enfraquecer pelo calor, e ao mesmo tempo expandiu sua influência sobre as chamas ao redor, suprimindo o fogo dentro dos limites que seu corpo físico conseguia suportar.
O sinal em sua mente ficou cada vez mais claro.
Até que, de repente, ele ouviu vozes.
“… Mão? Ah, isso aqui são só uns arranhões, vai sarar em dois ou três dias…”
“Claro! Sempre fui forte assim…”
“Relaxa, vedamos a porta, a fumaça não vai entrar por enquanto… Puxa, você é esperta, sabia que tinha um reservatório de água aqui? O quê? Você viu no mapa antes? O professor mencionou isso na aula? Segurança… ah… eu devo… cof cof… não ter prestado muita atenção, ahaha…”
“Hã? Você disse que viu um cachorro agora há pouco? Deve ter se enganado, que tipo de cão estaria aqui? Ahaha…”
“…E essa aqui, que está desmaiada, o que fazemos? Você também não sabe? Bom… pelo menos ainda está viva… Mas não se preocupe, a gente com certeza vai sair dessa…”
Duncan reconheceu imediatamente a voz.
Era Shirley.
E aquele sinal em sua mente era a pequena fração de Chamas Espirituais que ele havia deixado em Shirley antes. Agora, por meio dessa conexão, as palavras dela estavam ecoando diretamente dentro de sua mente.
Duncan percebeu que a sensação de familiaridade que teve na praça antes de entrar no museu provavelmente também viera desse mesmo sinal.
Ele não havia tentado se conectar ativamente com a marca que deixou em Shirley, mas a proximidade ativou sua percepção automaticamente.
Essa era a primeira vez que Duncan usava sua Chama Espiritual para deixar um ‘sinal’ em alguém, então ainda não conhecia totalmente suas propriedades. No entanto, pelo que podia perceber agora, a conexão entre as chamas era ainda mais eficiente do que esperava.
Ele registrou essa descoberta mentalmente, mas logo outra dúvida surgiu:
Shirley estava conversando com alguém.
E parecia ser uma amiga…
Com quem ela estava presa?
O reservatório de água servia como um abrigo improvisado.
O espaço estreito e claustrofóbico protegia seus ocupantes do incêndio que se alastrava do lado de fora. O som da água pingando no tanque ecoava pelo local, e a única iluminação vinha das chamas tremeluzindo através da janela, lançando sombras irregulares nas paredes.
Nina estava encolhida perto da pia, quase conseguindo contar as batidas de seu próprio coração.
Rápidas. Extremamente rápidas.
Sua nova amiga, a garota chamada Shirley, estava verificando as trancas da porta e das janelas. Suas mãos estavam queimadas, mas ela agia como se não sentisse nada, continuando a inspecionar cada canto do abrigo improvisado.
No chão, não muito longe dali, uma mulher inconsciente jazia sobre os ladrilhos.
Nina não a conhecia. Enquanto fugia pelo museu, viu essa mulher sendo atingida por um pedaço de tijolo que se desprendeu do teto e, sem pensar muito, ela e Shirley a arrastaram até aqui.
Pelo jeito de se vestir, a mulher claramente não era do Distrito Inferior. Ela era uma dama da elite do Distrito Superior, alguém acostumada a uma vida confortável… Mas, diante de um desastre como esse, status social não fazia a menor diferença.
De repente, o som da água correndo diminuiu e, pouco depois, cessou completamente.
“… A bomba d’água desligou”, Nina murmurou, ouvindo atentamente ao redor. “O fogo deve estar muito grande.”
Sua nova amiga, que era pelo menos uma cabeça mais baixa, aproximou-se e se agachou diante dela.
No escuro, seus olhos se encontraram.
“Você está com medo?” Shirley perguntou suavemente.
“… Eu tenho muito medo do fogo.” Nina abraçou as pernas com força, a voz trêmula. “Muito, muito medo…”
“… Na verdade, eu também tenho muito medo”, Shirley ficou em silêncio por dois segundos antes de admitir: “Tá bom… eu tenho pavor de fogo. É do que eu mais tenho medo.”
“Não parece nem um pouco”, Nina balançou a cabeça. “Você acabou de sair correndo direto no meio das chamas.”
“Corri exatamente porque tenho medo.” Shirley se jogou no chão, largada. “Quando você tem medo demais, se parar para pensar, nunca mais consegue avançar. Então ou você segue em frente sem parar ou congela de vez… Mas agora deu no mesmo, né? Nós duas estamos fodidas aqui, sem ter para onde correr, só nos resta esperar como duas idiotas.”
No escuro, Nina estendeu a mão e tocou o braço de Shirley.
Ela estava tremendo.
Ela estava realmente com medo.
“… Você fala palavrão”, Nina murmurou. “Achei que… você fosse uma aluna bem comportada e educada.”
“Ah, pelo amor da Deusa, vamos deixar de fingir? Eu sempre fui assim.” Shirley sorriu, os dentes brilhando por entre a fuligem em seu rosto. “Além disso… Ah, esquece.”
Ela pareceu prestes a dizer algo, mas engoliu as palavras.
Em vez disso, virou-se para encarar a porta e perguntou:
“Já que você é a esperta aqui, faz o favor de calcular: quanto tempo a gente ainda tem antes de morrer?”
Nina ergueu os olhos para o teto.
“… Não sei dizer. Mas enquanto conseguirmos bloquear a fumaça, estaremos seguras por enquanto. Este quarto é bem resistente e fica num canto da escada. Não deve desmoronar tão rápido.”
Shirley soltou um ‘hmm’ distraído.
Houve um breve silêncio antes de ela hesitar e então falar, num tom mais baixo:
“Ah, então… E se, só por hipótese, eu tivesse um jeito de tirar a gente daqui… Mas esse jeito fosse meio… assustador. Você… tentaria?”
“… Um jeito?” Nina franziu a testa. “Que jeito?”
“Bem, eu…” Shirley começou a se levantar, mas, de repente, se sentou de volta.
“… Ah, deixa pra lá. Ainda não é hora. Ainda não chegou o momento certo…”
Nina ficou completamente confusa.
“… O quê?”
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