Hora da Recomendação, leiam Fagulha das Estrelas. O autor, P.R.R Assunção, tem me ajudado com algumas coisas, então deem uma força a ele ^^ (comentem também lá, comentários ajudam muito)
Talvez passe a usar mais esse espaço para recomendar outras obras (novels ou outras coisas que eu achar interessante ^^)
Capítulo 126: O Que Você Viu
Ao ver que, após um breve momento de choque e nervosismo, Nina estava apenas animada e curiosa, Shirley não conseguiu segurar um comentário em voz baixa:
“Isso já não pode mais ser chamado de coragem…”
Mas Nina nem ouviu. Sua atenção estava completamente voltada para a figura diante dela—o Cão de Caça Abissal, uma criatura de ossos negros e chamas escuras.
Pulando da cadeira, ela começou a circular ao redor dele, analisando cada detalhe. Quando finalmente notou as órbitas vazias e preenchidas por um brilho carmesim, deu um leve sobressalto—mas nada além disso.
“Isso é incrível…” Ela repetiu, parecendo até prestes a tocar o crânio de Cão, mas hesitou no último momento e recolheu a mão. Em vez disso, olhou para Shirley com expectativa.
“É a primeira vez que vejo uma criatura sobrenatural assim… O que exatamente é Cão? Ele foi conjurado por algum tipo de feitiço? Ou…”
“É um demônio.” Shirley respondeu sem rodeios, aparentemente querendo assustar Nina para que ela levasse a sério o perigo representado por Cão. “O mais perigoso tipo de demônio.”
Como esperado, Nina ficou um pouco impressionada—talvez não tanto por medo, mas pela surpresa. Ela claramente não esperava que aquela criatura, que parecia tão educada apesar de sua aparência grotesca, fosse realmente um demônio.
“Ele é… um demônio?”
“Para ser mais exato, sou um Demônio Abissal.” Cão ergueu levemente a cabeça, suas órbitas vazias fixando-se em Nina. “Senhorita, pode ser que esta seja sua primeira vez vendo um Demônio Abissal, mas peço que não se deixe enganar pela minha presença. Meus semelhantes assumem muitas formas, e todas compartilham uma característica essencial: são implacáveis e desprovidos de qualquer compaixão…”
“Profundezas Abissais…” Nina murmurou. Finalmente, a excitação por ver um ser transcendente começou a dar lugar a uma compreensão mais séria da situação. Ela se lembrou do que lera nos livros.
“Shirley, você…”
“Como pode ver, estou presa a um Demônio Abissal.” Shirley ergueu o braço, mostrando a corrente que estava entrelaçada ao seu corpo. “Por isso eu queria manter isso em segredo. Você entende? Se a Igreja do Mar Profundo descobrir, eles não hesitarão em me queimar na fogueira—ou me jogar no Mar Infinito.”
O tom dela era grave, e a seriedade em seu rosto fez Nina perceber o peso da situação. Sua expressão ficou um pouco mais complexa enquanto alternava o olhar entre Shirley e Cão.
“Nos livros, li que as Profundezas Abissais são habitadas por criaturas caóticas e malignas. Dizem que elas são os restos expelidos pelo próprio Senhor Sagrado das Profundezas, seres dominados pela loucura desde o nascimento até a morte… Mas o senhor Cão não parece…”
“Cão é uma exceção.” Shirley respondeu com indiferença. “Os Demônios das Profundezas Abissais não possuem coração e não entendem os sentimentos humanos. Mas Cão… tem. Ele próprio não sabe o motivo dessa mudança, mas, por causa disso, ele não pode mais viver nas Profundezas Abissais.”
Nina piscou algumas vezes, parecendo entender apenas parte da explicação. “Oh.”
Ela ficou em silêncio por um momento, depois passou a mão pelos cabelos, parecendo confusa. Então, olhou para Duncan com um leve incômodo.
“Tio, minha cabeça está uma bagunça.”
Ela tentava organizar mentalmente tudo o que havia acontecido naquele dia, lembrando de sua convivência com Shirley, olhando para Cão diante dela. E, finalmente, a absurda sensação de irrealidade começou a se espalhar por sua mente.
“Você passou por muita coisa hoje.” A voz calma e gentil de Duncan ressoou como uma chama bruxuleante na escuridão, trazendo uma estranha sensação de estabilidade para Nina. Por algum motivo, sua mente, que parecia à beira do caos, de repente encontrou firmeza.
“É normal se sentir confusa.”
Nina piscou algumas vezes e, só então, percebeu algo que havia ignorado. Olhou diretamente para Duncan.
“Tio… Se você já conhecia Shirley, isso significa que também já sabia do segredo dela? E que conhece Cão também?”
“Sim, conheci antes de você.” Duncan sorriu levemente. “Mas, até pouco tempo atrás, eu não sabia que ela era a ‘amiga’ de quem você falava.”
“Então…” Nina hesitou por um instante. “Você também está investigando o que aconteceu há onze anos? Vocês dois estão investigando juntos?”
“De certa forma. Acabamos colaborando uma ou duas vezes por coincidência.” Duncan assentiu.
“… Então por que parece que só eu fui deixada de fora?” Nina murmurou, com um tom de quem só agora percebia algo óbvio. “E por que vocês estão investigando o que aconteceu há onze anos? O que há de tão secreto nisso?”
“Ainda não sabemos.” A voz de Duncan ficou mais grave. Seu olhar pousou sobre Nina. “Mas todos nós concordamos que houve um grande incêndio que foi apagado da história.”
Ele fez uma pausa antes de continuar.
“Desculpe por esconder isso de você. Mas este não é um assunto com o qual você deveria se envolver agora. É perigoso demais.”
“Então e você, tio?” Para surpresa de todos, Nina ficou um pouco irritada. “Você não está em perigo também?!”
Assim que as palavras saíram de sua boca, Shirley e Cão simultaneamente cobriram os rostos com as mãos e as patas, respectivamente.
Shirley ainda murmurou baixinho:
“Seu tio é o perigo. Ele é o mais perigoso de todos…”
Duncan olhou silenciosamente para Shirley por um instante, antes de se voltar para Nina com um leve sorriso e balançar a cabeça.
“Tio é um adulto. E, além disso… sou muito mais forte do que você imagina.”
O olhar de Nina oscilava entre Duncan e Shirley. Sua expressão mudava repetidamente, refletindo a enxurrada de pensamentos caóticos que provavelmente se passavam em sua mente.
Duncan se preparava para o pior. Ele esperava que a garota insistisse no assunto, ou talvez reagisse como uma típica adolescente irritada, fazendo birra ou se recusando a aceitar a situação.
Mas, para sua surpresa, Nina apenas suspirou.
“O céu já está escurecendo.” Ela ergueu a cabeça e olhou para fora, como se nada do que haviam discutido até agora tivesse acontecido. “Vou preparar o jantar. Shirley, você deveria ficar também—não é seguro viajar à noite.”
“Ah… ah?” Shirley ficou paralisada por um instante, incapaz de acompanhar a mudança repentina de assunto. Quando finalmente processou o que Nina dissera, começou a gesticular apressadamente.
“Ah, não precisa! Eu e Cão podemos voltar rápido o suficiente para chegar antes do—”
Antes que pudesse terminar, a voz tranquila de Duncan veio do lado.
“Fique. O sol vai se pôr em poucos minutos—quando isso acontecer, as ruas estarão cheias de guardiões patrulhando. Tem certeza de que quer atravessar um distrito sob bloqueio militar nesse horário?”
O corpo de Shirley enrijeceu.
Ela olhou para fora, para o céu escurecendo, e depois para Duncan, que a observava com uma expressão calma e inabalável.
Finalmente, percebeu que não tinha escolha.
“… Tudo bem então.” Decepcionada, afundou-se na cadeira, forçando um sorriso para Nina. “Tem algo em que eu possa ajudar?”
“Não precisa. Eu sempre cuido do jantar aqui.” Nina sorriu e seguiu para a escada que levava ao segundo andar. Mas, quando já estava prestes a subir, ela parou abruptamente.
Por alguns instantes, apenas ficou ali, olhando diretamente para Shirley com seriedade.
“Shirley… nós somos amigas?”
Shirley congelou. Seu primeiro instinto foi olhar para Duncan, como se buscando alguma resposta—mas ele desviou o olhar, deixando-a por conta própria.
Então, sem escolha, ela voltou-se novamente para Nina.
O silêncio que se seguiu pareceu durar uma eternidade.
Finalmente, Shirley balançou a cabeça.
“… Não.”
Mas, logo em seguida, assentiu levemente.
“Mas… eu posso tentar.”
Nina sorriu.
Mesmo sem uma resposta definitiva, parecia ter recebido a melhor resposta possível.
Sem mais hesitação, ela correu escada acima, os passos apressados e leves.
Shirley ficou parada por um momento, olhando para a escada.
Foi então que ouviu uma voz calma ao seu lado:
“Obrigado.”
Foi Duncan quem falou.
Shirley levou um susto e imediatamente endireitou a postura na cadeira, voltando-se para ele.
“O senhor está me agradecendo pelo quê?”
“Nina não tem amigos na escola.” Duncan já estava acostumado com a maneira exageradamente tensa de Shirley. Sua voz era calma enquanto explicava. “Então, quando ela mencionou há alguns dias que tinha feito uma nova amiga, fiquei muito animado.”
Shirley piscou algumas vezes, confusa.
“Então, primeiro, obrigado por não ter simplesmente dito a Nina que você era a amiga dela, sem se importar. E, segundo, obrigado por ter dito que poderia tentar ser.”
“Eu… não sei se entendi.” Shirley ainda parecia perplexa. Na verdade, estava ainda mais confusa do que antes.
“O senhor está mesmo se passando por um humano comum?” Ela franziu a testa. “Nina… parece não ter ideia de quem o senhor realmente é. Na escola, ela também não se destaca—se não fosse por Cão me guiando até ela, eu quase não teria conseguido encontrá-la na primeira vez. Mas, pela lógica, alguém que recebe sua bênção deveria ser… diferente.”
“Ela não é uma escolhida. Ela é minha sobrinha.” Duncan corrigiu, seu tom sério. Então, encarando Shirley com intensidade, acrescentou:
“Agora que Nina saiu, tenho algumas perguntas para você.”
“Claro, claro… Pergunte!”
“Foi Cão quem te guiou até Nina, certo?”
“… Sim.”
“Porque Cão sentiu um cheiro específico nela? E com base nisso, concluiu que Nina estava relacionada ao incêndio de onze anos atrás?”
“Sim.”
“Que tipo de cheiro era esse? O mesmo cheiro da fábrica? Ou algo diferente?”
Desta vez, Shirley não respondeu imediatamente. Em vez disso, olhou para Cão.
Sob o olhar atento de Duncan, Cão hesitou por alguns segundos antes de finalmente baixar a cabeça.
“Cinzas.” Sua voz saiu abafada. “Ela está cercada por cinzas. Cinzas incontáveis, senhor Duncan.”
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