Índice de Capítulo

    Hora da Recomendação, leiam Fagulha das Estrelas. O autor, P.R.R Assunção, tem me ajudado com algumas coisas, então deem uma força a ele ^^ (comentem também lá, comentários ajudam muito)

    Talvez passe a usar mais esse espaço para recomendar outras obras (novels ou outras coisas que eu achar interessante ^^)

    “Sem ofensa.”

    A figura sombria falou.

    Quase no mesmo instante, Shirley ouviu um estrondo reverberar de algum lugar desconhecido—um som irreal, que não pertencia àquele sonho, nem fazia parte daquela memória. Ele explodiu diretamente em sua mente.

    E no meio daquele estrondo, o crepitar das chamas e os gritos frenéticos da multidão desapareceram num piscar de olhos.

    O mundo inteiro mergulhou em um silêncio absoluto.

    No momento seguinte, Shirley percebeu que seu corpo havia mudado—ela havia recuperado sua forma de dezessete anos. Já não vestia mais aquele pijama familiar de sua infância, mas sim seu vestido preto habitual. Seu braço, devorado momentos antes pelo Cão de Caça Abissal, estava intacto.

    Uma corrente negra se estendia de seu braço e, na ponta dela, Cão estava encolhido no canto do quarto, aparentemente dormindo. A fraca luz vermelha em suas órbitas piscava lentamente.

    Shirley se sentou em um salto, alarmada, seus olhos cheios de surpresa e tensão enquanto encarava a figura sentada sobre a cama.

    Ela não sabia quem era aquele homem, mas sabia que uma presença imensamente poderosa havia atravessado a maldição das profundezas e invadido seu sonho.

    E o mais assustador de tudo—como ‘dona’ daquele sonho, ela sequer havia notado a chegada dele. Isso só podia significar que o invasor era um ser tão imensamente forte que era impossível resistir a ele.

    “Você… quem é você?!”

    Duncan se levantou lentamente.

    Dentro desse mundo de consciência, ele aparecia como sua verdadeira forma—o Capitão Duncan.

    Sua estatura imponente gerava uma aura de intimidação esmagadora, fazendo Shirley instintivamente recuar meio passo.

    “Você nunca me viu assim antes, então essa reação é normal”, disse Duncan, sua voz grave. “Eu percebi que você estava tendo um pesadelo e resolvi dar uma olhada.”

    “Percebeu… e resolveu dar uma olhada…” Shirley piscou, confusa. Aos poucos, sua mente começou a processar o que estava acontecendo.

    “Espere… você é…”

    “Vamos nos apresentar novamente.” O homem sombrio e imponente sorriu levemente. “Sou Duncan. Duncan Abnomar.”

    Ele falou seu nome sem hesitação.

    Porque ele sabia que Shirley jamais teria coragem de contar isso a alguém.

    E mesmo que ela perdesse o juízo e tentasse… aquele Cão de Caça Abissal extremamente sensato garantiria que esse segredo fosse enterrado para sempre.

    “Duncan… Sr. Duncan? Você é o Sr. Duncan?!”

    Shirley arregalou os olhos de espanto, uma sensação de inquietação se espalhando por seu peito. Mas, logo em seguida, sua expressão ficou confusa.

    “Mas… o senhor não se chama Duncan Strelane? O que é Abnomar?”

    Duncan: “…?”

    A reação da garota o pegou tão de surpresa que ele ficou sem saber o que dizer por um instante. Piscou algumas vezes antes de finalmente responder, com uma expressão estranha:

    “Você… nunca ouviu esse nome antes?”

    Shirley pensou por um momento e balançou a cabeça com sinceridade.

    “Não.”

    Então, logo em seguida, pareceu perceber que talvez devesse saber e ficou pálida de medo.

    “E-eu deveria ter ouvido falar?”

    Duncan percebeu, então, que ela realmente não fazia ideia de quem ele era. Não estava fingindo.

    Aparentemente, não importava o quão temível fosse a reputação do Flagelo Errante do Mar Infinito, sempre haveria pessoas que simplesmente não estavam informadas.

    Aquilo foi um tanto decepcionante.

    Sem conseguir se conter, ele perguntou:

    “… Você é analfabeta?”

    Shirley abaixou a cabeça e ficou em silêncio.

    “Esqueça, isso não importa.”

    Duncan decidiu encerrar o assunto ao ver a reação dela. Ele então olhou ao redor do pequeno quarto. Do lado de fora, o tumulto da rua e as chamas haviam desaparecido, como se tudo tivesse terminado abruptamente, deixando para trás apenas um brilho vermelho-escuro e caótico que pairava na janela.

    Seu olhar voltou para Shirley.

    Sua expressão era serena.

    “Isso foi algo que você realmente viveu, não foi?”

    Shirley ainda estava com a cabeça abaixada.

    “… Sim.”

    “… Não era minha intenção invadir sua privacidade”, disse Duncan, sua voz sincera. “Mas, ao entrar aqui, acabei percebendo seu segredo. Peço desculpas.”

    Shirley ficou completamente atônita.

    Nunca, em toda sua vida, ela esperaria que uma existência aterradora, quase como um Deus Maligno, se desculpasse com ela.

    Seu cérebro entrou em parafuso, e o suor frio começou a escorrer por sua pele.

    Ela recuou apressadamente dois passos.

    “N-não! Não tem problema! Como o senhor pode pedir desculpas para mim…”

    “De qualquer forma, não é muito educado espiar os sonhos de uma dama—mesmo que seja uma ‘pequena’ dama como você.”

    Duncan sorriu levemente antes de desviar o olhar para o Cão de Caça Abissal adormecido no canto do quarto.

    “Quando ele vai acordar?”

    “Eu… não sei…”

    Shirley parecia um pouco perdida.

    Ela olhou para Cão, que permanecia imóvel, em um sono profundo.

    “Esse pesadelo nunca mudou assim antes. Eu não…”

    Shirley mal terminou sua frase quando ouviu um leve estalo de ossos vindo de dentro de Cão.

    No instante seguinte, a criatura, que até então parecia mergulhada em um sono profundo, mexeu levemente a cabeça. A luz vermelha em suas órbitas vazias brilhou com mais intensidade—e então, de repente, o imenso cão esquelético se ergueu sobressalto.

    Talvez pelo resquício do pesadelo, Shirley instintivamente recuou meio passo. Mas logo se recompôs e deu um passo à frente, aproximando-se de Cão.

    “Shirley…”

    Cão finalmente despertou completamente. Ele olhou ao redor e, no momento seguinte, seu olhar caiu sobre o braço de Shirley. Sua voz carregava um traço de pânico.

    “Eu…”

    “Está tudo bem, foi só um pesadelo”, respondeu Shirley, sorrindo. Ela então se aproximou e abraçou a enorme e grotesca cabeça de osso da criatura. “Você também teve um pesadelo.”

    “Desculpa… desculpa…” Cão continuou repetindo baixinho, enquanto a corrente que os ligava chacoalhava suavemente. “Doeu? Deve ter doído muito…”

    Shirley virou o rosto de lado, claramente constrangida.

    “Para de ser sentimental… tem gente olhando.”

    “Gente?”

    Cão hesitou. Só então percebeu que havia mais alguém ali.

    Ele virou-se lentamente e, no momento em que seus olhos se fixaram na figura dentro do quarto, seu corpo inteiro enrijeceu.

    Ele viu a silhueta imponente.

    Viu o uniforme escuro do capitão.

    Viu o rosto sombrio e austero.

    E, mais do que tudo, viu as chamas espectrais esverdeadas ondulando e se acumulando em camadas atrás da figura.

    “Uo—$@%#1!”

    O grito do Cão foi instantâneo.

    Em um reflexo, ele puxou Shirley para trás e se colocou entre ela e Duncan, bloqueando-a com seu enorme corpo esquelético. Seus ossos tremiam e batiam uns contra os outros, mas ele ainda assim encarava Duncan, sua voz trêmula:

    “É-é o… Capitão Fantasma?!”

    Duncan ergueu uma sobrancelha.

    “Shirley não me reconheceu nesta forma, mas você reconhece?”

    “Cão?” Shirley, agora atrás do enorme cão, ficou surpresa. “Você já viu ele antes?”

    “Precisa ver pra saber?! Os demônios abissais que já cruzaram com ele estão todos apodrecendo no Subespaço!”

    A fumaça negra dentro do corpo de Cão oscilava descontroladamente, sua voz carregada de puro terror.

    “O Flagelo Errante do Mar Infinito… por que ele está no seu sonho?!”

    “Flagelo Errante do Mar Infinito?”

    Shirley ainda estava completamente perdida.

    “Por que você nunca me contou sobre isso?”

    Porra! Eu nunca te contei sobre um monte de coisas! O mundo tá cheio de desastres ambulantes, eu não posso falar sobre todos eles! E além disso, quem diabos ia imaginar que você encontraria um Capitão Fantasma em plena terra firme?!”

    Shirley escutou tudo, completamente atônita. Parecia querer perguntar algo mais, mas Duncan quebrou o silêncio antes que ela pudesse falar.

    Ele olhava fixamente para o Cão de Caça Abissal, que estava em posição de defesa, pronto para qualquer coisa.

    “Eu achava que apenas os humanos do mundo real tinham tanto medo de mim. Não esperava que minha reputação também se estendesse entre os demônios abissais.”

    Cão recuou meio passo, mantendo sua postura de alerta absoluto enquanto respondia:

    “O senhor subestima a si mesmo—sua fama se estende do fundo das Profundezas Abissais até o mundo real. Mesmo os demônios que não têm um coração sabem que devem evitar o Banido por puro instinto… Sinceramente, se os demônios tivessem coração, aposto que até os terrores da Cinza e da Poeira estariam tatuando seu rosto nas costas para ganhar coragem!”

    Duncan ponderou por um momento.

    Teria sido um elogio?

    Talvez na cabeça do Cão, sim.

    Enquanto isso, Shirley ouviu algo mais—um murmúrio baixo através da conexão mental da corrente.

    Apenas ela conseguia ouvir.

    “Shirley, eu vou tentar segurar essa sombra por um tempo. Você precisa acordar. Ele deve ser apenas uma projeção mental, então se conseguir sair do sonho, ele não poderá te seguir…”

    Shirley piscou, sem entender completamente.

    Ah… e depois?”

    Cão soava cada vez mais ansioso.

    “Depois, você corre para o quarto ao lado e pede ajuda para aquele figurão! Diz que você foi marcada pelo Banido, implora por proteção! Se precisar, até se oferece para virar seguidora dele, qualquer coisa! Agora não dá pra pensar no perigo—ser dilacerada pelo Banido e arrastada para o Subespaço é um destino bem pior do que se tornar a serva de um Deus Maligno!”

    Shirley continuou imóvel.

    “Shirley?”

    Cão estava cada vez mais desesperado.

    “Shirley, não fica parada aí! O sonho já foi perturbado, você tem uma chance de acordar! Fazer um grande poder enfrentar outro grande poder é nossa única esperança…”

    Antes que Cão pudesse terminar, Shirley finalmente respondeu pela conexão mental:

    “Cão… os dois grandes poderes de que você está falando… parecem ser a mesma pessoa.”

    Cão: “…?”

    A conversa mental levou apenas um instante.

    Lentamente, Cão de Caça Abissal ergueu a cabeça, atordoado.

    E no instante seguinte, percebeu que a figura à sua frente, o temido Capitão Fantasma, o mestre das chamas espirituais, estava apenas observando.

    Sorrindo.

    Um sorriso frio e sombrio, tão profundo e vasto quanto o próprio Subespaço.

    1. mesma coisa de antes, autor censurou o palavrão.[]
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