Hora da Recomendação, leiam Fagulha das Estrelas. O autor, P.R.R Assunção, tem me ajudado com algumas coisas, então deem uma força a ele ^^ (comentem também lá, comentários ajudam muito)
Talvez passe a usar mais esse espaço para recomendar outras obras (novels ou outras coisas que eu achar interessante ^^)
Capítulo 134: Banquete em Chamas
Shirley lutava como sempre.
Simples.
Brutal.
Eficaz.
Com um toque de caos livre e despreocupado—onde a corrente zunia, todos eram iguais.
O estranho que saltou das sombras provavelmente nunca esperou que a ‘invocadora de demônios’ à sua frente fosse, na realidade, uma combatente corpo a corpo.
Normalmente, a melhor estratégia contra um conjurador era reduzir a distância e iniciar um confronto físico.
Mas…
Se, ao se aproximar, você descobre que o ‘conjurador’ está usando um mangual vivo, a situação muda completamente.
E assim, Duncan testemunhou novamente um espetáculo familiar:
A corrente negra se esticou, o som metálico reverberou no ar—
E então, com um rugido ensurdecedor, Cão foi lançado.
O golpe atingiu o estranho em cheio.
Com um impacto brutal, um som seco ecoou pelo ar.
“BANG!”
A figura vestida de preto foi arremessada violentamente para trás, voando como um projétil antes de se chocar contra uma construção próxima, ainda coberta por brasas incandescentes.
A explosão de poeira e faíscas engoliu a cena.
E então… silêncio.
“Isso foi tudo?”
Shirley olhou para a direção do impacto, ainda segurando Cão pela corrente, seu olhar desconfiado.
A batalha havia terminado rápido demais.
“De alguma forma, não senti firmeza nesse golpe…”
Antes que ela pudesse terminar a frase—
O grito de Cão irrompeu da outra ponta da corrente.
“CUIDADO!”
O alerta fez os músculos de Shirley se contraírem.
No instante seguinte, ela percebeu—
A sombra sob seus pés…
Havia ficado mais escura.
E então, uma forma indistinta saltou de dentro dela.
Uma ‘lâmina’ negra surgiu do vazio como um chicote, cortando o ar e avançando diretamente para seu pescoço!
O som agudo do ar sendo rasgado fez seus instintos gritarem.
Shirley se lançou para trás, escapando no último segundo.
Mas a lâmina sombria ainda acertou seu braço.
Sangue espirrou no ar.
Shirley rosnou e recuou rapidamente.
Foi então que viu.
Parte de sua sombra… havia ficado para trás.
E dela, emergiu a figura esguia e alta do estranho com guarda-chuva.
Ele não havia sido derrotado.
Ele usou a sombra para se deslocar, escapando do impacto.
E agora, Shirley finalmente viu o que a havia atingido.
Não era um chicote.
Não era uma lâmina.
Era… um membro.
Uma extensão grotesca e inumana, saindo debaixo do casaco do estranho.
Era algo feito de pura escuridão.
E dentro dela…
Partes de carne retorcida podiam ser vistas pulsando e se reconfigurando sem parar, oscilando entre apodrecer e se regenerar.
Apenas olhar para aquilo fez seu estômago revirar.
Antes que pudesse reagir, o estranho ergueu a cabeça e murmurou algo em sua língua distorcida.
As extensões sombrias se moveram novamente—
E mais uma vez, a ‘lâmina’ de carne e sombra cortou o ar, indo diretamente para seu rosto!
Instintivamente, Shirley ergueu sua corrente, pronta para girar o Cão novamente.
Mas então, algo apareceu no canto de sua visão—
Uma chama esverdeada.
No instante em que a luz espectral brilhou, o estranho alto e esguio congelou.
Seu corpo ficou rígido, como se um medo instintivo tivesse paralisado seus movimentos.
Na fração de segundo seguinte, ele recuou bruscamente, envolto em uma névoa negra densa que fervilhava sob o guarda-chuva.
Um murmúrio baixo e distorcido ressoou de dentro da escuridão—um rosnado abafado, entremeado de ecos confusos.
E então, a chama verde se expandiu.
O brilho espectral deslizou pelo ar, mal tocando a névoa que cobria a criatura.
Mas onde quer que a luz alcançasse, a sombra negra sob o guarda-chuva tremulava e se desvanecia lentamente, tingida por um brilho mórbido e pálido.
Shirley se virou instintivamente para Duncan.
Ele ainda estava parado no mesmo lugar.
Não havia feito um único movimento.
Mas as chamas espectrais continuavam se espalhando ao seu redor, crescendo em ondas.
E onde quer que elas chegassem—
Seja nos edifícios em ruínas, no ar coberto de cinzas, ou até nas silhuetas distantes da cidade destruída—
Tudo começava a brilhar com um tom esverdeado e fantasmagórico.
Era como se uma epidemia estivesse se alastrando.
Um contágio invisível, distorcendo tudo o que tocava.
“Esse é o poder dele? Ou será que isso é apenas a superfície do que ele pode fazer?“
Shirley sentiu um arrepio.
Mas não havia tempo para pensar nisso.
O inimigo já estava em recuo.
E, seguindo sua lógica simples de combate—de nunca deixar um oponente recuar sem punição—
Ela agiu.
Puxando com força sua corrente, ela girou Cão e lançou-o com toda a sua força contra o inimigo.
O impacto foi ainda mais estranho do que antes.
Ao atingir o oponente, ela sentiu a corrente atravessar algo que parecia… carne podre.
E então, o estranho se despedaçou.
O som foi horrível.
O guarda-chuva negro caiu no chão.
O longo casaco preto se rasgou em múltiplos pedaços.
E de dentro dele, pedaços amorfos de carne, envoltos em fumaça densa, caíram no chão.
Mas não ficaram imóveis.
Eles começaram a se mover.
Cada pedaço se contorceu e rastejou.
E enquanto rastejavam—
Eles começaram a se dividir.
Múltiplas vozes começaram a gritar ao mesmo tempo.
E conforme os pedaços menores continuavam a se fragmentar, as vozes se multiplicavam—
Os gritos enchiam o ar.
Agudos.
Penetrantes.
Ensurdecedores.
Era um som desconexo, um ruído que rasgava a mente.
Shirley, pela primeira vez desde o início da luta, se sentiu arrepiada.
Ela apertou sua corrente, mas não sabia como lidar com aquilo.
Por um instante, ela hesitou.
Mas então percebeu algo.
As criaturas não estavam atacando.
Elas estavam fugindo.
Os fragmentos grotescos fugiam—
Fugiam da chama verde que continuava a se espalhar.
Agora, centenas, talvez milhares de pedaços escuros rastejavam pela rua, como um enxame de vermes enlouquecidos.
Eles corriam por entre as brechas do fogo espectral, desesperados para escapar do inferno que havia se formado ali.
Mas nem todos eram rápidos o suficiente.
Muitos tropeçaram.
Outros se moviam devagar demais.
E bastava um único contato.
Uma fagulha.
Um toque.
Para que a chama verde se agarrasse a um deles—e o consumisse instantaneamente.
Mas aquilo não era o fim.
Não para os que eram engolidos pelo fogo.
Pois os fragmentos que queimavam—
Não morriam.
Pelo contrário—
Eles se voltavam contra os que ainda estavam inteiros.
As partes já corrompidas pelo fogo espectral começaram a caçar os fragmentos que ainda tentavam fugir.
Agora, eles eram os predadores.
Os mesmos pedaços de carne que antes tentavam escapar…
Agora caçavam freneticamente os seus antigos companheiros, atacando, dilacerando, devorando-os vivos.
O caos se espalhou rápido demais.
Em menos de meio minuto, metade dos fragmentos já estavam queimando e se voltando contra os outros.
E, no final da rua, uma muralha de chamas verdes se ergueu.
O caminho de fuga estava selado.
Não era mais uma simples cena de destruição.
Era uma caçada.
Uma batalha pela sobrevivência—onde todas as criaturas vieram de um mesmo ser, e agora se devoravam umas às outras.
Os gritos estridentes, que antes enchiam a rua, começaram a diminuir.
Mas então—
Eles foram substituídos por um som ainda pior.
Mastigação.
O ruído de carne sendo rasgada e triturada preenchia o silêncio.
A figura que atacou Duncan e Shirley tentara se desfazer, se dispersar para escapar…
Mas agora, tornou-se um banquete para si mesmo.
Shirley sentiu cada pelo de seu corpo se arrepiar.
Ela olhou para Cão e percebeu que ele também estava tremendo.
O calor das cinzas e brasas ao seu redor parecia nada diante do frio na espinha que sentia.
Mas então—
Uma mão quente pousou suavemente em seu ombro.
“Não tenha medo”, disse Duncan, sua voz calma. “Insetos sempre temem o fogo.”
O ombro de Shirley tremeu.
Um sentimento estranho e contraditório surgiu dentro dela.
De um lado, sentiu um inesperado conforto.
Era a segurança de ter uma entidade tão poderosa ao seu lado.
Por outro…
Ela sentiu horror.
A simples presença de Duncan fazia com que se sentisse observada por algo… indescritível.
Com o coração acelerado, ela se forçou a olhar para ele.
E viu que Duncan também franziu as sobrancelhas, sua expressão carregada de incômodo.
“Para ser sincero, isso é… bem nojento”, comentou Duncan, observando as criaturas se devorando vivas.
Seu tom era genuíno.
Ele suspirou.
“Nem eu esperava que isso fosse acontecer.”
Quem acreditaria nisso?!
“De… de fato…” Shirley respondeu, muito disposta a acreditar no que fosse.
Se o grande chefe disse que foi inesperado, então foi inesperado.
“Foi… um pouco nojento…”
“Felizmente, está quase acabando.” Duncan suspirou levemente, sua voz carregando um tom um pouco mais relaxado.
Quase acabando.
Os últimos ecos da caça estavam desaparecendo.
Os sussurros do fogo se dissiparam junto com os ruídos de carne sendo mastigada.
Agora, não restava mais nada—nem caçadores, nem presas.
Tudo havia sido reduzido a cinzas, varridas pelo vento.
O estranho atacante havia sido apagado da existência.
E, gradualmente, a chama espectral também começou a se retrair.
Shirley só então conseguiu engolir em seco.
Ela olhou para os montes de cinzas espalhados pela rua.
Criando coragem, perguntou hesitante:
“Então… acabou?”
Duncan balançou a cabeça.
“… Não necessariamente.”
Shirley franziu a testa, surpresa e confusa.
Mas antes que pudesse perguntar algo, viu Duncan dar um passo à frente.
E então, um último fragmento emergiu das cinzas.
Era pequeno.
Deformado.
A pulsante massa de carne tremia e rastejava, tentando se mover para longe.
Mas parou depois de alguns centímetros.
Duncan parou diante dele.
Uma leve chama verde oscilava em seus dedos.
“Já ouvi muitas histórias bizarras”, ele disse calmamente, dirigindo-se a Shirley enquanto continuava olhando para o fragmento.
“E essas histórias me ensinaram uma lição importante.”
“Se você encontra um inimigo com a habilidade de se dividir—
“—sempre assuma que o primeiro que enfrentou era apenas um clone.
“—e que o verdadeiro corpo ainda está por aí.
“Assim, autores medíocres podem sempre escrever uma sequência desnecessária.”
Ele baixou a mão e tocou o fragmento com a chama verde.
A carne impura tremeu violentamente.
E então, cresceu pernas.
Estruturas finas e articuladas, semelhantes às pernas de um inseto, emergiram da parte inferior da carne e a ergueram do chão.
Duncan se levantou lentamente, observando em silêncio o último fragmento do inimigo.
“Vá para casa”, ele disse, sua voz fria. “Leve o meu presente com você.”
A chama explodiu sobre o fragmento.
E a criatura, agora em chamas, começou a se mover.
Mas desta vez…
Ela não fugia.
Ela voltava.
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