Hora da Recomendação, leiam Fagulha das Estrelas. O autor, P.R.R Assunção, tem me ajudado com algumas coisas, então deem uma força a ele ^^ (comentem também lá, comentários ajudam muito)
Talvez passe a usar mais esse espaço para recomendar outras obras (novels ou outras coisas que eu achar interessante ^^)
Capítulo 158: A Casa de Bonecas da Rose
Para ser sincero, a quantidade de coisas empilhadas no beco não era tão grande assim. Afinal, Duncan estava sozinho e, mesmo tendo comprado antecipadamente uma bicicleta para transportar mercadorias, ainda havia um limite para o que podia carregar de uma só vez. A reação de Ai era, na verdade, bem compreensível—
Essa criatura estava barganhando. Ela queria mais batatas fritas.
De certa forma, essa ave era absurdamente fácil de entender.
“Você sabe o que é isso?” Duncan segurou a pomba e a aproximou de um cesto de batatas. “Isso se chama batata, também conhecida como tubérculo.”
Ai piscou seus olhos esverdeados e ficou encarando aquele cesto por um longo tempo. Então, de repente, pareceu entender e esticou o pescoço com entusiasmo:
“Que cheiro bom! Que cheiro bom!”
“Que bom que sabe. Agora, trabalhe direito. Esse cesto inteiro é para você—assim que forem fritas, haverá batatas fritas suficientes para te empanturrar até morrer umas dezenas de vezes.” Duncan riu e, sem cerimônia, jogou a pomba para longe. “Leve essas coisas de volta para o Banido—pode deixar direto no convés, ‘eu’ cuido do resto lá.”
Ai bateu as asas no ar e, antes mesmo de pousar, foi envolvida por chamas espectrais esverdeadas. Em um piscar de olhos, transformou-se em um pássaro espectral e começou a voar ao redor da pilha de mercadorias. As chamas ao seu redor começaram a distorcer os objetos próximos, tornando-os translúcidos, mas, de repente, ela parou. Pousou sobre a pilha e inclinou a cabeça para olhar para Duncan.
“Precisa especificar o próximo endereço de memória?”
Duncan ficou paralisado por um instante antes de perceber que a ave estava perguntando qual seria o próximo passo…
Ele não pôde deixar de se perguntar—o vocabulário dessa criatura era absurdamente vasto e estranho. Parecia que tudo que a humanidade já havia criado na internet estava armazenado na mente dela. Embora, depois de tanto tempo juntos, ele tivesse se acostumado a decifrar o que ela queria dizer, a maior parte das interações com Ai sempre passava um pouco dos limites do seu conhecimento. Será que essa ave não podia aprender a falar como uma pessoa normal?
Mas, apesar de seus resmungos internos, Duncan apenas assentiu e respondeu:
“Leve isso primeiro. Eu ainda tenho mais coisas para comprar…”
Dessa vez, Ai realmente se assustou. Ela imediatamente alçou voo, e uma grande labareda engoliu os itens empilhados no chão. Em um piscar de olhos, tudo desapareceu. Enquanto sumia no horizonte, a ave ainda gritava:
“Isso é aterrorizante! Aterrorizante!”
Duncan apenas deu de ombros e se virou para a bicicleta recém-adquirida.
Era uma bicicleta comum—com um quadro preto, aros e guidão prateados reluzentes, um sino novinho em folha e um cesto e bagageiro robustos e práticos. Não tinha nenhum detalhe especial, não era particularmente bonita, mas também não era feia. Seu maior mérito, talvez, fosse a boa qualidade.
Inicialmente, Duncan queria escolher cuidadosamente uma bicicleta elegante para Nina, um modelo feminino bonito. No entanto, depois de percorrer diversas lojas no Distrito Inferior, ele desistiu da ideia—simplesmente porque esse tipo de bicicleta não existia ali.
No Distrito Inferior, bicicleta era apenas bicicleta—uma ferramenta de transporte e, acima de tudo, um instrumento de trabalho. Todas eram praticamente idênticas, sem distinções entre modelos masculinos, femininos, de montanha ou de estrada. Pessoas de diferentes alturas simplesmente ajustavam o selim e o guidão para se adaptarem. Fora isso, bicicletas não tinham outros propósitos ou designs personalizados.
A maioria das pessoas comuns nesse mundo parecia não ter condições de buscar ou personalizar um ‘estilo de vida mais requintado’.
Dentro das cidades-estado desta Era do Mar Profundo, muitas coisas ainda eram diferentes do mundo que Duncan conhecia—mesmo quando algo lhe parecia familiar, os detalhes sempre carregavam as peculiaridades deste mundo. E eram justamente essas pequenas diferenças que constantemente o lembravam de que estava em uma terra estrangeira.
Ele subiu na bicicleta. O veículo novo era leve e fácil de manusear, permitindo que ele deixasse rapidamente o beco para se dirigir a uma área comercial mais movimentada.
Nina iria gostar dessa bicicleta.
Ao sair do Distrito da Encruzilhada e pedalar em direção ao noroeste, a inclinação do terreno aumentava, indicando a entrada no Distrito Superior. Para os cidadãos de Pland, essa era a verdadeira linha divisória entre uma vida respeitável e o restante da cidade—diferente do Distrito da Encruzilhada, que era apenas uma tentativa dos cidadãos de classe média de aparentar status.
Contrariando o que Duncan havia imaginado inicialmente, apesar da clara divisão administrativa entre o Distrito Superior e o Distrito Inferior, não havia barreiras físicas separando as duas regiões. Para chegar ao Distrito Superior, bastava passar por algumas ruas abertas. Havia postos de vigilância com guardas posicionados nesses acessos, mas eles não impediam o trânsito de cidadãos entre os dois distritos.
Claro, essa era a situação durante o dia. Pelo que Duncan havia descoberto, à noite a circulação entre os dois distritos era rigidamente proibida. Mesmo para aqueles que possuíam uma permissão especial para transitar após o anoitecer, atravessar os postos de vigilância exigia processos adicionais.
Por ora, era dia, e as ruas estavam livres.
Duncan entrou diretamente no Distrito Superior—desde que chegara a esta cidade-estado, era a primeira vez que visitava essa parte da cidade.
Era impossível negar: o Distrito Superior era um lugar completamente diferente do Distrito Inferior.
Essa diferença se manifestava em todos os aspectos—ruas mais largas e limpas, edifícios mais altos e imponentes, infraestrutura urbana mais moderna e bem conservada. Além disso, a quantidade de lampiões a gás e Abrigos Noturnos era significativamente maior do que no Distrito Inferior.
Duncan parou a bicicleta em frente a um pequeno quiosque situado próximo a um cruzamento.
Era um Abrigo Noturno, um refúgio destinado a cidadãos que, por qualquer motivo, não conseguissem voltar para casa antes do anoitecer. Uma placa na entrada trazia instruções simples:
〖Abrigo noturno disponível. No interior há lâmpadas a gás, óleo sagrado tranquilizante e uma cópia do Cânone da Tempestade. Ao entrar, tranque a porta e aguarde resgate. Os guardas noturnos possuem a chave de segurança.〗
Duncan já havia visto instalações semelhantes no Distrito Inferior, mas lá esses abrigos eram raros—um ou dois por quarteirão, no máximo—e estavam visivelmente desgastados pelo tempo, a ponto de ele nem ter certeza se ainda eram funcionais.
Desviando o olhar do quiosque, ele voltou a pedalar lentamente, seguindo pela rua.
Seu olhar vagava de um lado para o outro, examinando as lojas que margeavam a via.
As vitrines bem iluminadas e os interiores requintados e elegantes eram um contraste gritante com as lojas do Distrito Inferior. Mas Duncan não se importava com esses detalhes supérfluos.
Ainda havia muitas coisas para comprar. O reabastecimento do Banido era uma tarefa que ele já havia adiado por tempo demais. Além disso…
Duncan parou a bicicleta diante de uma loja e ergueu os olhos, um leve sorriso surgindo em seu rosto.
Certos itens simplesmente não podiam ser encontrados no Distrito Inferior—somente as pessoas ‘respeitáveis’ do Distrito Superior gastavam seu dinheiro e tempo com coisas que não estavam diretamente ligadas à sobrevivência. Como, por exemplo, aquilo que ele via diante de si agora.
Trancando a bicicleta, ele avançou e empurrou a porta da loja. O sino sobre a entrada tilintou suavemente, e uma senhora rechonchuda que lia um jornal atrás do balcão ergueu a cabeça.
Ela sorriu de maneira gentil e, levantando-se, disse com um tom acolhedor:
“Bem-vinda à Casa de Bonecas da Rose… Oh, um cavalheiro! Está aqui para escolher uma companheira para sua amada ou talvez para uma jovem da família?”
“Vou só dar uma olhada.” Duncan respondeu de forma breve, enquanto levantava o olhar, curioso, para observar a loja chamada Casa de Bonecas da Rose.
O que se via ao redor eram inúmeros tipos de bonecas—elegantes, refinadas, misteriosas, encantadoras, travessas… Bonecas de todas as formas e estilos.
Do lado de fora, pela vitrine, Duncan já havia observado parte do interior da loja. No entanto, só ao entrar percebeu que o espaço era ainda maior do que parecia. Cada canto visível estava repleto de artigos relacionados a bonecas. Até mesmo sob a escada, caixas de armazenamento de diversos estilos estavam empilhadas, junto com suportes, acessórios de todos os tamanhos e até corpos-base aguardando montagem.
Era uma loja especializada na venda de bonecas e itens relacionados—com um estilo clássico e uma atmosfera silenciosa e misteriosa.
E, apesar do tamanho do estabelecimento, havia apenas uma única pessoa cuidando da loja: a simpática senhora atrás do balcão. Quanto aos clientes, Duncan parecia ser o único presente.
Uma loja clássica, cheia de bonecas, uma senhora sorridente como vendedora, e apenas um único cliente.
Duncan estava imerso na diversidade das bonecas, enquanto a dona da loja o observava com curiosidade.
Não era incomum que homens visitassem lojas de bonecas. No Distrito Superior, era costume que cavalheiros respeitáveis comprassem bonecas requintadas como presentes para suas parceiras ou para jovens da família. Além disso, alguns homens também cultivavam o hobby de colecioná-las.
O que realmente despertava a curiosidade da vendedora era a aparência do cliente—ou, mais precisamente, suas roupas.
Duncan vestia seu habitual casaco surrado, um traje bem diferente do que se esperaria de um cidadão abastado do Distrito Superior. E bonecas como aquelas não eram exatamente produtos baratos.
No entanto, a senhora apenas lançou um breve olhar curioso antes de desviar o olhar.
Não era de bom-tom julgar os clientes pela aparência, e um comerciante experiente sabia que nunca deveria avaliar alguém apenas por suas vestimentas. Além disso, qualquer um tinha o direito de apreciar os produtos da loja.
Duncan, por sua vez, terminou de examinar as prateleiras e soltou um leve suspiro.
Ele precisava admitir—estava perdido em meio a tantas opções.
A arte de fabricar bonecas nesse mundo era muito mais avançada do que ele imaginava. Havia tantos acessórios e componentes, com nomes desconhecidos para ele, que a quantidade de detalhes ia além de sua compreensão.
— Sua noção de ‘boneca’ se limitava a uma tripulante covarde, inábil, com problemas no pescoço e um cérebro que não funcionava muito bem.
Duncan voltou seu olhar para a senhora rechonchuda atrás do balcão. Pensou que o melhor seria recorrer a uma especialista para entender melhor o assunto—especialmente no que dizia respeito à manutenção das articulações e à substituição de cabelo.
Mas antes que pudesse abrir a boca, ele congelou por um instante.
Ele encarou a vendedora com uma expressão atônita, e a senhora rapidamente entendeu sua reação.
Sorrindo, ela apontou para as próprias orelhas:
“Elfos são realmente raros na cidade-estado de Pland.”
Duncan: “……”
Ele admitia, elfos podiam ser raros em Pland. E, de fato, essa era a primeira vez em sua vida que via um.
Mas o que o deixava perplexo não era a raridade dos elfos—e sim o fato de existir uma elfa idosa e rechonchuda neste mundo…
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