Hora da Recomendação, leiam Fagulha das Estrelas. O autor, P.R.R Assunção, tem me ajudado com algumas coisas, então deem uma força a ele ^^ (comentem também lá, comentários ajudam muito)
Talvez passe a usar mais esse espaço para recomendar outras obras (novels ou outras coisas que eu achar interessante ^^)
Capítulo 159: Quem está perseguindo quem?
Desde a chegada da Era do Mar Profundo, os humanos não foram a única espécie inteligente a sobreviver ao velho mundo e a estabelecer civilizações nos novos domínios. Além deles, há três outras raças que habitam este mundo e desenvolveram suas próprias civilizações: os Gyplos, os Sen’jins e os Elfos.
Essa é uma informação encontrada nos livros escolares de Nina, algo que Duncan já sabia há tempos. Desde muito antes, ele já nutria um grande interesse por essas ‘raças não humanas’ mencionadas nos textos acadêmicos, especialmente os elfos—um povo envolto em um halo de mistério, frequentemente presente nas histórias de fantasia. Saber que eles realmente existiam neste mundo atiçara sua curiosidade de forma intensa.
Os livros de Nina traziam ilustrações que retratavam as características físicas dos elfos. A imagem era exatamente como ele os imaginava: longas orelhas pontudas, silhuetas esguias, rostos belos ao ponto de serem quase andróginos.
Isso fez com que sua impressão inicial sobre os elfos deste mundo se consolidasse: um povo de vida milenar, universalmente belo, elegante e enigmático.
No entanto, dentro dessa concepção superficial que ele havia formado, nunca lhe ocorrera imaginar como seria um elfo envelhecido. Ele sequer havia pensado que essa raça, assim como os humanos, poderia apresentar sinais de envelhecimento.
Agora, ele sabia que sua compreensão sobre os elfos era extremamente rasa.
A proprietária da ‘Casa de Bonecas da Rose’ era uma elfa—uma senhora elfa, rechonchuda e de sorriso caloroso. Além das inconfundíveis orelhas pontudas, dos olhos verde-esmeralda e de traços faciais que ainda guardavam vestígios de uma beleza juvenil, ela parecia uma vovó comum de bairro.
Encarar as pessoas é falta de educação.
Duncan percebeu isso rapidamente e desviou o olhar, coçando o queixo com um leve embaraço.
“É a primeira vez que vejo um elfo.”
Ele não se preocupou que sua ‘ignorância’ levantasse suspeitas. Afinal, na Cidade-estado de Pland, elfos eram extremamente raros.
Cada raça possuía seus próprios territórios, e devido às dificuldades de locomoção na Era do Mar Profundo, a maioria dos cidadãos passava a vida inteira sem sair de sua terra natal. Apenas bravos exploradores oceânicos e mercadores viajavam entre os domínios, mas mesmo eles eram apenas passageiros, nunca se estabelecendo permanentemente em cidades de outras raças.
Essa era a realidade em praticamente todas as cidades-estado: mais de 99% da população era composta por sua raça nativa. Um cidadão comum, que raramente saía de sua própria cidade, poderia muito bem viver toda a vida sem jamais cruzar com um ‘forasteiro’ de outra raça que morasse do outro lado da metrópole.
“Isso é normal.” A senhora sorriu. “Os elfos desta cidade, no total, não devem passar de cem. E isso contando aqueles quinze ou dezesseis que estão trancados no Instituto de Matemática há duzentos anos sem sair nem para ver o sol… Há algo em que eu possa ajudá-lo?”
Ao ouvir a observação da velha senhora, Duncan finalmente se lembrou do motivo de sua visita. Ele olhou para as bonecas que lotavam as vitrines, os balcões e até os degraus da escada, refletindo enquanto falava:
“Quero comprar alguns acessórios para bonecas e, se possível, tirar algumas dúvidas sobre elas… Mas, assim que entrei, fiquei perdido com tantas opções.”
“Oh, parece que você é um ‘novato’.” A velha elfa assentiu. “É uma boneca feminina? É para a sua coleção ou…”
“Sim, feminina. E é para a minha ‘coleção’.” Duncan respondeu automaticamente, mas logo sentiu que havia algo estranho na própria resposta. A ponta de sua boca se contraiu ligeiramente. “Esse hobby não é estranho, né?”
Ele nem precisava ter perguntado. Mas agora que perguntara, a situação parecia ainda mais esquisita…
“Claro que não. Colecionar e cuidar de bonecas é um passatempo refinado.” A senhora, por sua vez, não pareceu nem um pouco surpresa. Talvez essa fosse a serenidade adquirida ao gerir uma loja centenária. “Você quer comprar roupas para a boneca ou apenas acessórios?”
Duncan pensou por um instante.
“Começarei com uma peruca.”
“Ficam por aqui.” A senhora o guiou até um canto da loja e perguntou enquanto caminhava: “Qual o tamanho da sua boneca? Escala 1/4? Ou 1/3?”
Duncan hesitou por um momento.
“… É do tamanho de uma pessoa real.”
A senhora parou sutilmente no meio do passo e virou-se para ele.
“Isso… não é muito comum. Uma boneca em tamanho real? Imagino que deva ter custado uma fortuna.”
“… Na verdade, não sei exatamente quanto ‘vale’”, Duncan respondeu, esforçando-se para manter a expressão impassível enquanto engolia o desconforto. “Foi um presente…”
“Ah, então você tem um amigo generoso.” A velha sorriu e, enquanto falava, abriu um baú de madeira próximo ao balcão circular, tirando alguns itens de dentro e os organizando sobre a mesa. “Bonecas desse tamanho são raras, e os acessórios para elas são ainda mais difíceis de encontrar. Mas aqui estão os que temos: há perucas e também alguns enfeites para o cabelo.”
Duncan pigarreou duas vezes, murmurando enquanto se aproximava:
“Também não sei se ele é generoso ou não… De qualquer forma, é um capitão… É complicado.”
Seu olhar caiu sobre os itens que a senhora havia colocado diante dele.
O acabamento era impecável, e a conservação impecável indicava o esforço e dedicação do artesão que os havia criado.
Ele examinava as opções com atenção, tentando imaginar como Alice ficaria usando aqueles acessórios. No entanto, no meio do pensamento, sua mente simplesmente travou.
… A ideia de que aquela boneca amaldiçoada, bela, elegante e misteriosa, um dia poderia ficar careca e depender de uma peruca era simplesmente absurda demais. O choque conceitual era tão grande que até ele estava tendo dificuldades para aceitar.
E pensar que essa ideia tinha saído da sua própria cabeça.
Mas, em pouco tempo, ele se recompôs. Já que estava disposto a ‘atormentá-la’, que fosse até o fim.
Então, escolheu a que mais lhe agradava:
Uma peruca dourada luxuosa, acompanhada de adornos prateados para o cabelo.
Sim, adornos de prata—um item de luxo acessível apenas às classes mais altas. Os acessórios para bonecas, pelo visto, não eram nada baratos.
Duncan olhou para o conjunto diante de si e começou a imaginar a reação de Alice ao recebê-lo…
Aquela boboca poderia tanto cair em prantos quanto fugir desesperada, como qualquer pessoa que fosse forçada a encarar de frente o próprio destino capilar. Haveria, sem dúvida, um período de adaptação emocional. Mas, independentemente de como ela reagisse, ele próprio já estava se divertindo com a situação.
Enquanto continuava sua escolha, perguntou casualmente:
“Ah, por falar nisso, posso perguntar algumas coisas sobre manutenção de bonecas?”
“Mas é claro.” A senhora sorriu gentilmente. “Bonecas exigem cuidados delicados.”
“Bem…” Duncan procurou as palavras certas, gesticulando. “E se as articulações da boneca ficarem frouxas com frequência? Especialmente na junção entre o pescoço e a cabeça… É uma articulação esférica, mas, por algum motivo, ficou solta, e a cabeça vive caindo.”
“O desgaste ou deformação da rótula e da cavidade podem causar afrouxamento nas articulações”, A velha respondeu prontamente. “Se isso não for resultado de descuido na manutenção ou de manuseio brusco, então o problema pode estar no design original ou na qualidade do material.”
Ela fez uma pausa breve e, em seguida, acrescentou:
“Se já chegou ao ponto de a cabeça cair constantemente, consertos convencionais não resolverão. Nesse caso, a melhor opção seria substituir completamente a articulação.”
A senhora refletiu por um instante e acrescentou:
“Mas substituir as articulações de uma boneca de grande porte não é algo simples. Você pode ter dificuldades para fazer isso sozinho. Se quiser, pode trazê-la até aqui. Eu posso trocar a peça para você—cobraria apenas pelo material.”
Duncan considerou a proposta por um momento, mas logo descartou a ideia.
O problema nem era tanto a habilidade peculiar de Alice de perder a cabeça. O ponto principal era que a Anomalia 099 não era uma boneca comum! Será que suas articulações podiam realmente ser substituídas?
Se ele dissesse a ela que teriam que ir à cidade para ‘fazer uma cirurgia’, desmontar seu pescoço e instalar uma nova peça, provavelmente ela sairia correndo sem olhar para trás…
Então, ele preferiu encerrar o assunto com uma resposta vaga e desviou para outro tema, perguntando sobre técnicas de implante capilar para bonecas.
A senhora, com paciência, explicou diversos detalhes. Ao concluir, acrescentou:
“Pelo que você descreveu, sua boneca é do tipo que já vem com cabelo natural. Para esse tipo de boneca, implantar fios novos pode ser complicado. A menos que seja feito pelo próprio criador, o resultado raramente será perfeito. Além disso, considerando que você mencionou problemas nas articulações da cabeça, minha sugestão seria simplesmente mandar fazer uma nova escultura de cabeça.”
Duncan: “…”
A senhora parecia realmente disposta a ajudar.
“Pelo seu olhar, imagino que não gostou da ideia? Não se preocupe, a qualidade do nosso trabalho é impecável! Estamos no mercado há séculos e nunca tivemos um cliente insatisfeito. Nenhuma reclamação sequer!”
Duncan pensou que, com uma clientela de séculos atrás, provavelmente nem os ossos dos clientes existiam mais, quanto mais alguém para registrar uma queixa… Mas é claro que ele não podia dizer isso em voz alta.
Então, apenas sorriu de forma constrangida e encontrou uma desculpa qualquer para desviar:
“Não é bem isso… Mas, veja, se trocarmos a cabeça, ela ainda será ela?”
Foi só um comentário despretensioso, mas, para sua surpresa, os olhos da senhora brilharam. Seu sorriso pareceu ainda mais sincero do que antes.
“Ah! Esse seu pensamento não é nada comum. A maioria das pessoas vê bonecas apenas como objetos. Mesmo quando as apreciam, raramente refletem sobre algo assim.”
Duncan ficou um pouco sem jeito.
“Cof… Cof… Agora você me deixou até sem graça…”
“Estou apenas dizendo a verdade”, a senhora suspirou. “Bonecas precisam ser tratadas com carinho. Desde o momento em que recebem uma forma humana, não devem mais ser vistas como coisas inanimadas. Entre os mestres artesãos, há um ditado: bonecas que são cuidadas com dedicação acabam desenvolvendo uma alma própria. Você deveria pensar nelas como seres com suas próprias emoções—alegria, tristeza, raiva…”
Na mesma hora, a imagem de Alice surgiu na mente de Duncan, com seu sorriso bobo e indefeso, rindo com aquele característico “Hehe”.
Ele assentiu repetidamente.
“Você está absolutamente certa. Sem dúvida alguma.”
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