Índice de Capítulo

    Hora da Recomendação, leiam Fagulha das Estrelas. O autor, P.R.R Assunção, tem me ajudado com algumas coisas, então deem uma força a ele ^^ (comentem também lá, comentários ajudam muito)

    Talvez passe a usar mais esse espaço para recomendar outras obras (novels ou outras coisas que eu achar interessante ^^)

    Acompanhada por uma sequência de ruídos estranhos, a autômata de corda ficou completamente imóvel, como uma máquina enferrujada que parou de funcionar. Quase ao mesmo tempo, Lucretia, que estava em uma cabine próxima, percebeu a anormalidade em sua criação.

    A porta do compartimento foi violentamente empurrada, e uma rajada de papéis coloridos girou pelo ar como um redemoinho antes de se condensar em uma forma humana. Da tempestade de papel emergiu a ‘Bruxa do Mar’, Lucretia, que deu um passo adiante e imediatamente viu Luni, caída e escorada contra a mesa, a cabeça inclinada para baixo.

    “Luni?” Lucretia avançou rapidamente e logo percebeu a chave de corda caída no chão. Pegou-a e, sem hesitar, bateu no compartimento mecânico das costas da autômata. “O que aconteceu?”

    Um som metálico distorcido ressoou do interior de Luni. Após alguns instantes, seus mecanismos começaram a funcionar novamente, e uma voz severamente distorcida ecoou de dentro de seu peito:

    “O antigo mestre… está procurando por você…”

    Com um estalo seco, a chave de corda escapou dos dedos de Lucretia e caiu no chão.

    Luni virou a cabeça em direção ao som, instintivamente tentando alcançar a chave para recolocá-la em suas costas. No entanto, seu movimento parou pela metade, e um ruído de engrenagens girando em falso soou de dentro dela.

    A expressão de Lucretia mudou drasticamente. No momento em que ouviu as palavras ‘antigo mestre’, suas pupilas tremeram, mas os ruídos de falha mecânica dentro de Luni rapidamente a fizeram recuperar o foco. Ela sacudiu a cabeça com força, afastando os pensamentos caóticos e, segurando os ombros da autômata, ordenou com firmeza:

    “Luni, modo de espera.”

    Os olhos da autômata se fecharam lentamente.

    “Comando recebido. Luni entrando em modo de espera.”

    Pouco depois, nas profundezas do Brilho Estelar, em uma cabine iluminada, Lucretia estava ocupada ao lado de sua bancada de trabalho.

    A sala era um laboratório tão completo e avançado que poderia rivalizar até mesmo com as instalações da sede da Academia da Verdade. No amplo ambiente, diversas máquinas de engenharia sofisticadas estavam conectadas a tubulações de pressão que forneciam energia para vários dispositivos.

    Entre os incontáveis equipamentos, símbolos mágicos brilhavam nos dispositivos auxiliares, e cristais encantados pulsavam dentro de recipientes de vidro e reatores alquímicos. Várias autômatas mecânicas se moviam meticulosamente pelo laboratório, mantendo os dispositivos funcionando automaticamente para que Lucretia pudesse concentrar toda a sua atenção na tarefa à sua frente.

    Ali, diante da ‘Bruxa do Mar’, Luni jazia imóvel sobre a bancada.

    A autômata já havia sido desmontada. Sua carcaça externa, projetada para se assemelhar a um uniforme de empregada, fora removida e deixada de lado. O esqueleto de oricalco e os inúmeros componentes de latão estavam espalhados sobre a mesa.

    Agora, apenas a parte superior do corpo de Luni permanecia intacta. Colocada na borda da bancada, sua cabeça se voltava para a visão de seu próprio corpo desmontado. Seus olhos mecânicos piscavam ocasionalmente, observando a cena com uma estranha quietude.

    “Di… fí… cil… con… cer… tar?” Uma voz levemente distorcida ecoou do peito de Luni.

    “Não se preocupe, foi apenas um travamento repentino dos mecanismos de transmissão, o que deformou alguns rolamentos”, respondeu Lucretia sem levantar a cabeça, concentrada em seu trabalho. “O trabalho será grande, mas a reparação em si não é complicada — seu ‘coração’ não foi danificado.”

    Os olhos mecânicos de Luni giraram lentamente. Ela viu, no centro da bancada de trabalho, o que Lucretia chamava de ‘coração’.

    Era uma esfera de latão intricadamente projetada, formada por incontáveis placas metálicas minúsculas, encaixadas com precisão absoluta. Ela flutuava suavemente sobre um monte de peças, e suas placas externas ocasionalmente se moviam, revelando sua estrutura interna.

    Quando as placas se afastavam no ângulo certo, era possível ver que o interior da esfera estava coberto por runas brilhantes. No centro dessas runas, flutuava algo ainda mais delicado.

    Era um fragmento de dedo — extremamente fino e frágil, menor que o dedo de uma criança humana.

    Um dedo meticulosamente esculpido por um mestre marionetista, cem anos atrás.

    Este era o verdadeiro núcleo da autômata Luni, sua essência. A última prova da existência de uma boneca que nasceu há um século e permaneceu no mundo.

    Lucretia notou o olhar de Luni. Levantou os olhos por um breve momento e, então, suas mãos pararam.

    Após alguns instantes, ela retomou seu trabalho, falando de maneira aparentemente casual:

    “Eu a transformei nisso que você é agora. Alguma vez me odiou por isso?”

    “Luni… por que odiaria?” A cabeça da autômata sobre a mesa respondeu mecanicamente. “A Senhora… deu vida a Luni. Luni está… feliz por isso…”

    “Mas, no começo, tudo isso foi apenas um capricho meu”, Lucretia comentou com indiferença. “E, por esse capricho, destruí o corpo original que você tinha. Durante muito tempo, nem percebi que você havia desenvolvido uma consciência real devido à influência das fronteiras do mundo. Para mim, você era apenas uma máquina, e eu realizei muitas ‘modificações experimentais’ sem me preocupar com as consequências.”

    Luni não respondeu imediatamente. Após um breve silêncio, sua voz mecânica quebrou a quietude:

    “A Senhora está nervosa. Algo a preocupa… A Senhora normal… não diria essas coisas sem motivo.”

    Lucretia ficou em silêncio por dois ou três segundos antes de perguntar:

    “Você se lembra do que disse há pouco, logo depois que cheguei ao refeitório e a reativei?”

    “…Falha na recuperação de memória. Luni não se lembra.”

    “Você me disse que o ‘antigo mestre’ estava me procurando.”

    Um som estranho reverberou no peito da autômata. Não era um ruído de falha mecânica, mas sim o eco de um pensamento confuso.

    “Você realmente não se lembra?” Lucretia ergueu a cabeça, fitando Luni nos olhos.

    “Falha na recuperação de memória. Luni não se lembra.”

    “…Então, parece que meu terrível pai não quer que eu tenha qualquer chance de rastreá-lo de volta”, Lucretia murmurou com um sorriso enigmático. Enquanto desmontava um conjunto de engrenagens deformadas, sua voz soou distante. “Ele apenas enviou um sinal unilateral… dizendo que sabe onde está o Brilho Estelar… que sabe como me encontrar…”

    “Você está com medo.”

    “Apavorada — mas, mais do que medo, sinto… tristeza.”

    “Tristeza? Por quê?”

    Lucretia olhou nos olhos de Luni por um longo tempo antes de balançar a cabeça levemente.

    “É uma emoção complexa demais para você entender agora.”

    “Entendido. Luni tentará compreender no futuro”, a autômata respondeu mecanicamente. Em seguida, perguntou: “Você acha que o antigo mestre está tentando lhe enviar algum tipo de aviso?”

    “… Não sei. Mas definitivamente parece um aviso”, Lucretia respondeu em um sussurro. “Talvez até uma espécie de declaração de caça… Ele retornou do Subespaço, e desta vez, está mais enigmático do que nunca. Talvez eu deva avisar meu irmão…”

    “Você deveria avisar o senhor Tyrian. Ele já partiu para Pland, e o governador de Pland mencionou que o Banido está se aproximando da cidade-estado.”

    Lucretia assentiu levemente e não disse mais nada. Apenas abaixou a cabeça e continuou seu trabalho em silêncio.


    Duncan colocou Nilu com cuidado de volta na antiga caixa de madeira e guardou o grampo em formato de pena na gaveta.

    Então, olhou para a caixa e começou a se preocupar.

    Como um homem adulto, ele sentia que havia algo estranho em manter uma boneca de aparência tão delicada em seu quarto.

    Mas, ao mesmo tempo, não conseguia pensar em um lugar melhor para deixá-la.

    Embora seu primeiro teste não tivesse revelado nada extraordinário nem fornecido pistas sobre o sobrenatural, Nilu ainda estava ligada a Lucretia. Como não tinha certeza se ela poderia ser útil no futuro, não ousava deixá-la fora de sua vista.

    Depois de um longo momento de hesitação, Duncan suspirou e colocou a caixa temporariamente ao lado de sua cama.

    “Se você realmente tem algo especial, é melhor mostrar logo”, murmurou para a caixa de madeira ornamentada, balançando levemente a cabeça. “Não seja como Alice, que só revelou suas habilidades depois de ser jogada no mar, montando uma ‘carruagem de caixão’ sobre as ondas.”

    A caixa, obviamente, permaneceu inerte. Mas Duncan não esperava outra coisa.

    Ele caminhou até a janela e olhou para fora.

    A noite havia caído, e a pálida e opaca luz da Criação do Mundo iluminava as águas infinitas.

    Com o pôr do sol, a poderosa força de purificação da luz solar se dissipava do mundo real. As energias distorcidas, nefastas e corrosivas começavam a se erguer, infiltrando-se lentamente na realidade. Durante esse período, os humanos buscavam abrigo nos sonhos para se protegerem da influência que ameaçava sua sanidade.

    Mas para Duncan… a noite nunca fora desconfortável.

    Ele jamais sentira o peso da escuridão nem vira as sombras que tanto aterrorizavam os outros.

    A noite era o momento em que sua mente estava mais afiada.

    Duncan voltou à escrivaninha e abriu uma folha de papel em branco. Pegou uma caneta-tinteiro recém-adquirida na Cidade-estado de Pland.

    Após um breve momento de reflexão, começou a escrever linha por linha:

    〖1889 — O Fragmento do Sol apareceu, desencadeando o Grande Incêndio de Pland.

    Sob o véu da fábrica no Sexto Distrito, esconde-se uma ‘realidade’ queimada pelo fogo.

    Dentro da igreja comunitária do Sexto Distrito, existe um espaço distorcido que parece estar em um ciclo fechado — duas realidades opostas sobrepostas no interior da igreja.

    A ‘humanidade’ de Cão tem uma origem desconhecida, mas claramente não foi influenciada pelo poder do Fragmento do Sol.

    A estátua da deusa na igreja do Sexto Distrito parece ter sido afetada por uma fenda do Subespaço.

    A freira na catedral subterrânea possivelmente morreu enquanto tentava conter uma invasão do Subespaço…〗

    Duncan escreveu essas palavras meticulosamente, registrando cada detalhe conhecido.

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