Hora da Recomendação, leiam Fagulha das Estrelas. O autor, P.R.R Assunção, tem me ajudado com algumas coisas, então deem uma força a ele ^^ (comentem também lá, comentários ajudam muito)
Talvez passe a usar mais esse espaço para recomendar outras obras (novels ou outras coisas que eu achar interessante ^^)
Capítulo 173: O fogo está se espalhando
A contaminação do Subespaço não desaparece por conta própria — assim como a justiça não se realiza sozinha. Depois de tantos anos combatendo as distorções sombrias nas entranhas do mundo, Vanna sabia disso melhor do que ninguém.
Se essa igreja realmente foi corrompida pelo Subespaço, e a freira encarregada da vigilância caiu em meio à contaminação, então o que quer que tenha invadido este lugar certamente não sumiu sozinho. Considerando a ‘ressonância’ daquela freira estranha no salão principal e o clima anormal de todo o Sexto Distrito, era evidente que o portão do santuário subterrâneo não conseguiu conter a invasão. Sendo assim… onde está agora a força subespacial invasora?
Vanna ergueu o lampião em mãos. A gordura de baleia consagrada ardia silenciosamente dentro da câmara de vidro, e sua luz iluminava cada canto do santuário subterrâneo. Tudo que seus olhos alcançavam revelava sinais do que ali ocorrera — cortes profundos nas paredes, impactos de balas e golpes, marcas que pareciam ser gravadas repetidamente ao longo de infinitos ciclos de tempo fechado. Como palavras talhadas no espaço, esses traços contavam-lhe, em silêncio, um segredo.
…Palavras?
Vanna franziu o cenho. Uma fagulha pareceu acender-se em sua mente.
Se a freira que morreu ali sabia de antemão o que aconteceria ao trancar o portão, será que ela tentou, de alguma forma, deixar uma mensagem? Um aviso para quem viesse depois?
Isso era exatamente o que se esperaria de uma sacerdotisa treinada!
“Revistem tudo novamente!” Vanna ergueu a voz, dando ordens aos soldados ao seu redor. “Cada marca — cortes de lâmina, tiros, manchas de sangue — tudo! É possível que esta irmã tenha deixado uma mensagem antes de morrer!”
“Sim, senhora!”
Os Guardiões reagiram com prontidão. Com lampiões nas mãos, espalharam-se pelo santuário mais uma vez, agora com um foco renovado e mais minucioso.
Vanna também não permaneceu parada. Agora que suspeitava que a freira caída poderia ter deixado alguma pista, ela voltou ao ponto onde o corpo jazia — a entrada do santuário subterrâneo. Começou a inspecionar atentamente o chão e as paredes próximas à porta.
Ela mesma havia pulverizado a porta antes, mas sabia que não haveria mensagens ali. O portão fazia parte de um selo sagrado, gravado com os símbolos da deusa. Danificá-lo comprometeria a segurança do santuário. Uma freira jamais faria isso.
O corpo da freira ainda repousava no chão, espada em punho. O sangue fresco fluía lentamente sob ela.
Vanna se agachou ao lado do corpo e o examinou com atenção, vasculhando cada detalhe. Em seguida, com base no ângulo em que a freira havia caído ao ser atingida, calculou sua postura e posição no momento da morte. Inclinou-se no ponto mais provável e abriu os dedos da mão rígida, analisando o estado da lâmina.
De repente, ela parou.
Seu olhar fixou-se no chão, ao lado do corpo da freira.
Havia uma série de marcas de espada no chão — à primeira vista, pareciam apenas riscos desordenados, como se fossem resultado da mão trêmula de alguém à beira da morte, que mal conseguia manter a lâmina firme.
Nas inspeções anteriores, Vanna e seus subordinados haviam ignorado completamente aquelas marcas. Mas desta vez, a jovem Inquisidora finalmente percebeu: aquelas marcas aparentemente caóticas eram, na verdade, uma mensagem. Uma mensagem gravada repetidas vezes, com traços distorcidos e profundos.
“Aqui”, disse ela em voz alta, erguendo o olhar para os Guardiões espalhados. Em seguida, voltou os olhos para o chão, concentrando-se em decifrar o conteúdo das marcas.
Demorou um tempo até conseguir distinguir os caracteres. O que apareceu diante de seus olhos foi:
【1885】
Era apenas uma sequência de números.
Os Guardiões se reuniram ao redor. Todos encararam as marcas no chão e logo puderam reconhecer os mesmos dígitos. O Guardião de barba curta, o mesmo que sempre a acompanhava, franziu a testa, confuso:
“Inquisidora, esses números… o que significam? Inquisidora?”
Ele viu o espanto no rosto de Vanna — algo raro. Ao ver aqueles números, ela arregalou os olhos, como se um trovão tivesse explodido em sua mente. Pela primeira vez diante de seus subordinados, aquela Inquisidora sempre firme deixou transparecer uma expressão descomposta.
Vanna despertou do torpor ao ouvir o chamado de seu subordinado. Inspirou fundo, sentindo o coração disparar no peito. As memórias vieram em avalanche — ela lembrou do momento em que estava sozinha, vasculhando os arquivos da catedral. Dos registros estranhos sobre cultos heréticos. Dos documentos que iam até 1889… E do que faltava: o ano de 1885.
Tudo se conectava ali, naquele santuário subterrâneo. Na frente dela. Naquelas marcas de espada:
1885.
“É 1885…” murmurou, quase para si mesma. “Ela nos deixou um aviso antes de morrer… Ela está dizendo que morreu em 1885…”
Os Guardiões se entreolharam, confusos. Um deles franziu o cenho:
“Mas por que ela enfatizaria isso especificamente?”
“Para provar que ela não morreu em 1889…” Vanna respondeu por reflexo, mas parou no meio da frase. Sua expressão também se tornou desconcertada. “É… por quê? Por que ela faria questão de destacar esse ano…? Se ela morreu em 1885, como saberia que quatro anos depois haveria outra tragédia na cidade-estado?”
A jovem Inquisidora mergulhou na dúvida. As pistas estavam se acumulando, pareciam prestes a se encaixar… e, ainda assim, havia um abismo entre elas. Uma lacuna invisível impedia que tudo fizesse sentido de forma plena.
Se a freira deixou aquele número como indicação do ano de sua morte, então ele carregava um significado específico. A advertência que ela tentou transmitir devia estar escondida nesse número. Mas… Que tipo de alerta estaria ligado diretamente ao ano de 1885?
Teria ela visto algo no momento da morte? Teria previsto que os registros de 1885 desapareceriam do Arquivo da catedral? Ou… teria ela conhecido a razão pela qual esses registros desapareceram?
Infelizmente, a verdade desapareceu junto com o sangue que esfriava sobre o chão — e, no instante em que o portão do santuário subterrâneo se fechou, os segredos que aquela freira conhecia estavam condenados ao esquecimento. O que ela conseguiu transmitir a Vanna, cruzando tempo e morte, foi apenas aquela sequência enigmática de números.
Vanna ergueu o rosto e viu que os Guardiões a observavam. Alguns a encaravam com preocupação; outros, com cautela e vigilância.
“Antes de vir pra cá, estive no Arquivo da catedral”, disse ela, tentando organizar seus pensamentos. “Lá dentro, todos os registros do ano de 1885… desapareceram. Agora está claro que esse ano—”
Ela parou de repente.
As lembranças da sua busca no Arquivo voltaram com nitidez inesperada, como se alguma força invisível as estivesse forçando de volta à superfície. As imagens dos corredores entre as estantes, as prateleiras colossais, seus passos solitários… Tudo retornava com insistência.
E, entre essas memórias silenciosas… ela ouviu.
O suave som das ondas do mar.
Vanna arregalou os olhos.
Ela ainda não conseguia lembrar de nada além de ter consultado os arquivos sozinha, mas algo estava errado — ela sabia disso. Seu dom espiritual a alertava. A Deusa também a estava alertando.
“De volta à catedral”, disse ela, subitamente séria, voltando-se para seus subordinados. “Preciso ir ao Arquivo!”
Os Guardiões se entreolharam, sem entender o motivo da súbita urgência. Mas não hesitaram. Imediatamente, assentiram.
Justo quando começavam a se mover, um deles lançou um olhar ao chão e exclamou, alarmado:
“Os traços estão sumindo!”
Vanna girou a cabeça em um rompante — e seus olhos captaram um brilho fraco de cor verde-espectral.
Por um instante, ela parou de respirar.
As marcas deixadas pela freira, aquelas gravadas no chão com a ponta da espada antes de morrer… estavam sumindo. Como palavras escritas a lápis sendo apagadas por uma borracha, elas desapareciam lentamente — e por onde sumiam, faíscas verdes, quase invisíveis a olho nu, dançavam em silêncio.
Essas ‘faíscas’ pareciam surgir de um lugar que não pertencia ao mundo físico — como se sempre tivessem estado ali, escondidas em um plano além da visão comum… e agora, por algum motivo, haviam se tornado visíveis.
Vanna conhecia bem aquela chama verde-espectral.
Aquela era a marca do ser que a guiara até ali.
Aquele instante fez explodir em sua mente inúmeras suposições: sobre o Banido, sobre o Capitão Fantasma, sobre o Subespaço e o número 1885… Mas nenhuma hipótese parecia se sustentar por completo.
Ninguém conseguia dizer qual papel aquele capitão desempenhava. Vanna tampouco compreendia por que sua chama havia surgido naquele momento — apagando, diante de seus olhos, as marcas deixadas pela freira. Mas de uma coisa ela tinha certeza: ela precisava sair dali imediatamente.
Em um piscar de olhos, todos os traços haviam sumido. E a chama verde-espectral também se desvaneceu da visão dos presentes.
“Não se aproximem desta área”, alertou Vanna com firmeza. “Cuidado. As chamas podem ainda estar ativas fora do alcance da visão normal. Agora… evacuação imediata da capela. Equipe Dois, permaneça nos arredores. Isolamento total da zona, aguardem ordens. Os demais, venham comigo. Retorno à catedral.”
“Sim, senhora!”
Vanna assentiu. Após pensar por um instante, acrescentou:
“Notifiquem também as tropas de prontidão dos distritos vizinhos… Isolamento completo do Sexto Distrito.”
No salão principal da pequena capela, Vanna marchou com os Guardiões.
Um dos soldados lançou um olhar instintivo à imagem da Deusa — e de súbito, exclamou em choque:
“A freira que estava orando… também desapareceu!”
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