Índice de Capítulo

    Hora da Recomendação, leiam Fagulha das Estrelas. O autor, P.R.R Assunção, tem me ajudado com algumas coisas, então deem uma força a ele ^^ (comentem também lá, comentários ajudam muito)

    Talvez passe a usar mais esse espaço para recomendar outras obras (novels ou outras coisas que eu achar interessante ^^)

    “O professor já foi embora mesmo?” Nina desceu para o primeiro andar e arregalou os olhos ao ouvir que Morris havia partido. Em seguida, resmungou com um leve tom de queixa: “Tio, por que você não tentou segurá-lo? Com esse tempo horrível, ainda deixou o professor ir embora…”

    “Se demorasse mais, já teria anoitecido”, respondeu Duncan enquanto se virava para trancar a porta. Caminhou na direção da escada e falou com naturalidade: “Ele veio de carro. Uma chuvinha leve não deve atrapalhar tanto.”

    “Mas ele parecia meio mal de saúde…” Nina acompanhou o tio escada acima, ainda murmurando. “Devia ter descansado um pouco mais…”

    Duncan pensou por um momento. Se o velho realmente tivesse descansado mais um pouco ali, talvez não se tratasse apenas de indisposição — provavelmente teria sido uma falha crítica em dez testes consecutivos de força de vontade. Aí, em vez de ver o sol nascer amanhã, era capaz de nem enxergar a Criação do Mundo esta noite…

    Mas isso ele obviamente não podia explicar pra Nina. Limitou-se a dar uma resposta vaga e seguiu para a mesa de jantar no segundo andar.

    Nina já havia terminado de preparar o jantar, que ainda estava fumegando — sopa de beterraba, pão assado, rolinhos de legumes e fatias de presunto.

    Claramente, havia comida para mais uma pessoa.

    “Se não der pra comer tudo, deixamos pro café da manhã de amanhã”, murmurou Nina. Em seguida, ergueu os olhos com curiosidade para Duncan: “O que você e o professor estavam conversando? Eu estava lá em cima, não ouvi direito… mas parecia que estavam animados.”

    Duncan olhou silenciosamente para Nina. Desde antes, ele a observava assim — vendo sua forma agitada, ocupada, indo de um lado para o outro.

    Ela era como sempre fora. Sempre com um sorriso no rosto, mesmo quando reclamava, sem nunca demonstrar raiva de verdade. Sempre ocupada com alguma tarefa, cheia de energia, como se nunca se cansasse, como se estivesse sempre esperando pelo amanhã.

    Era essa Nina que Duncan via. Ele não tinha os ‘olhos da verdade’ concedidos por Lahm como Morris, e não conseguia enxergar a chama ardente que rugia dentro dela.

    Se não tivesse escutado com os próprios ouvidos há pouco, jamais imaginaria que aquele Fragmento do Sol — que agitava as instituições, as igrejas e os corações de tantos — estava, silenciosamente, dormindo ali, bem debaixo do seu nariz.

    Fragmento do Sol… que tipo de coisa era isso, afinal?

    Duncan já imaginara que se tratava de um artefato extraordinário, com forma e substância. Mais tarde, descobrira através de pistas que era, na verdade, uma protuberância solar desprendida — mas agora, parecia que aquela coisa estava simplesmente adormecida no interior de Nina…

    Se aquilo realmente veio da ‘estrela’ que ele conhecia, então… que tipo de transformação uma estrela precisaria sofrer para desprender algo tão estranho quanto esse… fragmento?

    “Tio Duncan?” A voz de Nina quebrou seus pensamentos. Ela percebera o olhar vindo do outro lado da mesa e se remexeu, um pouco desconfortável: “Tem alguma coisa grudada no meu rosto?”

    “…Nada, não tem nada”, Duncan balançou levemente a cabeça enquanto partia o pão, e então perguntou como quem não quer nada: “A propósito, você tem sentido algum desconforto ultimamente? Aquele sonho estranho… voltou a acontecer?”

    “Não”, respondeu Nina, balançando a mão com tranquilidade. “A hipnose que a senhorita Heidi fez foi bem eficaz. Desde aquele dia, nunca mais tive sonhos estranhos — e tenho me sentido cheia de energia todos os dias.”

    Ela fez uma pausa, depois olhou para Duncan com certo receio: “Tio… aconteceu alguma coisa? É que… você está meio esquisito desde que terminou de conversar com o professor Morris… Ah, não me diga que foi por causa da minha nota na última prova…”

    “Não é nada disso, para de imaginar bobagem. Seu professor não veio aqui pra te dedurar”, Duncan ergueu uma sobrancelha. “Agora vamos comer, vai.”

    Nina assentiu e finalmente começou a comer. Mas, naquele exato momento, Duncan pareceu perceber algo e, intrigado, lançou um olhar em direção a uma das janelas.


    No Distrito Inferior, no fundo de um beco escuro e deteriorado, a luz apressada dos lampiões a gás finalmente afastou a escuridão ao redor antes que a noite tomasse por completo as ruas. Sob o brilho mortiço daquelas lâmpadas, Shirley se debruçava na janela, observando distraidamente a rua escura lá fora.

    O som metálico de correntes arrastando-se ecoou atrás dela, seguido pela voz de Cão:

    “Tá aí de novo espiando a rua? O que tem de interessante pra ver?”

    “Não consigo dormir, tá cedo ainda e não tem nada pra fazer”, resmungou Shirley. “Tô entediada…”

    “…Que tal sair amanhã pra caçar uns cultistas de novo?”

    “…Acho que não vai dar em nada”, respondeu Shirley após pensar um pouco e balançar a cabeça. “Vai ver a Igreja realmente começou a fazer efeito… ultimamente parece que os cultistas sumiram da cidade, nem você consegue sentir o cheiro deles…”

    “De fato, os seguidores do Sol sumiram de Pland recentemente. Talvez tenham sido todos capturados mesmo”, Cão se aproximou e se deitou preguiçosamente aos pés de Shirley. “Mas, sinceramente? Eu acho que seu tédio não tem nada a ver com isso…”

    Shirley revirou os olhos: “E seria por quê, então?”

    “…Você tá com saudade de lá, não tá?” Cão ergueu a cabeça, e em suas órbitas oculares vazias e rubras cintilou uma luz tênue. “Do lar quentinho, do quarto iluminado, da comida fresca saindo do fogão, de alguém te acordando e te mandando comer… ou até daquela ‘Prole do Subespaço’ chamada Nina? Talvez até… daquele tal Duncan…”

    “VAI TOMAR NO SEU— CALA ESSA BOCA!” explodiu Shirley, puxando com força a corrente que segurava. “Você é irritante demais! Eu não sou uma garotinha chorona, tá ouvindo?! Não sou fraca!”

    Cão não se incomodou nem um pouco com a reação: “…Ansiar por luz e calor não é fraqueza. Isso só prova que você ainda é humana.”

    “Aff…” Shirley estremeceu e logo fez uma careta de nojo. “Que papo meloso é esse agora? Que discurso todo pomposo? ‘Prova que ainda sou humana’… Isso é elogio ou você tá dizendo que não evoluí nada em todos esses anos?”

    “…Não pense que só porque está fundida a um demônio abissal há onze anos, você virou um deles”, retrucou Cão, sacudindo sua enorme e disforme cabeça. “Aceitar seu lado humano não é algo ruim.”

    “Além disso, não se esqueça — o que nos une não é só essa corrente”, ele continuou, “seus sentimentos… eu percebo todos. Acha mesmo que eu não saberia quando algo aí dentro tá mudando?”

    “…Cala a boca”, rosnou Shirley, virando o rosto com irritação para a rua. “Se continuar falando merda, amanhã levo você comigo pra visitar a Nina. Eu fico com ela, você fica com o Senhor Duncan, e pronto — os dois com um futuro brilhante! Só pra te assustar mesmo!”

    Cão finalmente ficou em silêncio.

    Mas, após alguns instantes de paz, Shirley não resistiu e deu um leve chute com a ponta do pé no cão abissal ao seu lado, rompendo o silêncio: “Para de se preocupar à toa… você tá aqui comigo, não tá?”

    “Você é ainda mais melosa que eu”, resmungou Cão, mexendo-se um pouco, fazendo as correntes tilintarem. “Chega, se continuar vou vomitar — e já vai ser mais um buraco no chão…”

    O Cão Abissal falava em tom rabugento, mas através do laço espiritual entre eles, Shirley podia sentir com clareza: aquele ser que um dia quase a devorou viva, mas que também a criou e a acompanhou por todos esses anos… de repente estava com o humor bem melhor.

    Na penumbra difusa, iluminada apenas pelas luzes da rua, a garota franzina virou o rosto, escondendo discretamente um leve sorriso.

    Assim tá bom. Tá tudo de volta aos trilhos. Os dias de sempre voltaram. Só preciso continuar vivendo desse jeito — sem pensar naquela paz e naquele calor que nunca foram meus… principalmente porque aquele lugar calmo e aconchegante tá ocupado por uma sombra do Subespaço.

    Calor demais é perigoso demais.

    Shirley soltou um leve suspiro.

    Mas, no segundo seguinte, franziu as sobrancelhas. Uma sensação incômoda surgiu, como se algo mal-intencionado estivesse se aproximando. O suor frio arrepiou sua nuca.

    Cão também se ergueu subitamente da posição de descanso. O enorme Cão Abissal exalou de seu corpo uma fumaça negra misturada com chamas, e a luz escarlate de suas órbitas vazias brilhou intensamente, cheia de hostilidade e alerta, enquanto varria o ambiente com o olhar.

    O cômodo estava mergulhado na escuridão. Para economizar óleo, Shirley havia apagado a lamparina assim que os lampiões públicos se acenderam. Agora, apenas a luz fraca da rua entrava pela janela, iluminando o ambiente com claridade tênue. Os móveis simples projetavam sombras estranhas no chão e nas paredes.

    Era uma casa modesta, familiar, onde tudo era visível de relance — mas, por alguma razão, Shirley começou a achar os móveis estranhamente desconhecidos. Nas sombras irregulares, nos cantos das mesas e nas frestas da cama, uma presença estrangeira e dissonante começava a se infiltrar!

    Instintivamente, Shirley apertou com força a corrente em sua mão: “Cão!”

    “Eu sei”, rosnou Cão ao mesmo tempo. “Estou vendo! Tem alguma coisa entrando aqui… está nos cercando… merda! A visão tá distorcendo tudo!”

    Antes mesmo que Cão terminasse de falar, Shirley percebeu algo anormal — a luz que entrava pela janela começou a se distorcer e enfraquecer!

    Como se uma cortina negra espessa tivesse caído sobre toda a casa de repente. A paisagem que antes era visível lá fora sumiu embaçada, e a luz dos lampiões foi despedaçada, reduzida a uma luminosidade pálida que mal iluminava o interior. Então, essa luz esbranquiçada e as sombras ao redor começaram a se contorcer em uníssono, acompanhadas de sussurros baixos e nauseantes.

    No instante seguinte, figuras surgiram das sombras — abruptas, grotescas.

    Vestiam mantos negros em farrapos. Sob as vestes, braços esqueléticos apareciam. Em suas cinturas, pendiam grimórios negros, dos quais escorriam fluidos escuros como tinta, viscosos e contaminados. No peito, traziam medalhões de ferro, entrelaçados como uma coroa de espinhos. No centro desses emblemas, tremeluzia uma chama pálida e turva.

    A figura à frente ergueu o braço e apontou para Shirley. De dentro do capuz veio uma voz gutural e indistinta, impossível para qualquer ser humano reproduzir: “Tu serás aniquilada…”

    Foi só então que a exclamação do Cão finalmente explodiu nos ouvidos de Shirley: “FILHO DA P… É UM DOS PREGADORES DO FIM!!!”

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