Índice de Capítulo

    Hora da Recomendação, leiam Fagulha das Estrelas. O autor, P.R.R Assunção, tem me ajudado com algumas coisas, então deem uma força a ele ^^ (comentem também lá, comentários ajudam muito)

    Talvez passe a usar mais esse espaço para recomendar outras obras (novels ou outras coisas que eu achar interessante ^^)

    No vasto e desolado mar, duas embarcações de guerra amaldiçoadas avançavam em linha reta uma contra a outra. Ao redor delas, o oceano inteiro parecia agitado por forças invisíveis, e até mesmo os fenômenos celestes em certa extensão haviam começado a se alterar.

    A névoa gélida ao redor do Névoa do Mar havia se espalhado. Blocos de gelo de todos os tamanhos começaram a surgir do nada sobre a superfície do mar, formando um grupo de icebergs que se estendia por várias milhas náuticas. Esses blocos giravam como redemoinhos, e a superfície antes relativamente calma agora era tomada por ondas violentas que se erguiam em sucessão, misturadas a ventos frios e caóticos. Por sua vez, o Banido estava envolto em camadas de chamas verde-espectrais, avançando com ímpeto avassalador por entre todos os fenômenos extremos, indo direto ao centro da formação de gelo, em direção àquela embarcação de aço.

    O Névoa do Mar também acelerava. Todos os seus motores rugiam com um lamento quase moribundo, o leme se ajustava sozinho, sem qualquer controle humano, e a sirene da capela embarcada soava incessantemente. Aquele som sagrado, naquele momento, mais parecia um sino fúnebre. Os marinheiros mortos-vivos estavam posicionados no convés, nos canhões, e atrás das escotilhas, observando impotentes enquanto a embarcação avançava resolutamente rumo ao navio-fantasma em chamas. Na ponte de comando, Tyrian já conseguia distinguir vagamente a silhueta no alto da popa do Banido.

    Ele viu aquele homem imponente segurando o leme, firme como um rochedo em meio à tempestade, com um olhar frio e fixo voltado diretamente a ele.

    Tão semelhante à imagem que guardava na memória.

    Então, como esperado, as duas embarcações ‘colidiram’.

    Mas a destruição e o desmantelamento previstos jamais aconteceram.

    Nos minutos seguintes, os tripulantes do Névoa do Mar experimentaram, assim como os do anterior Carvalho Branco, um espetáculo aterrador e bizarro — o navio-fantasma em chamas os esmagou como uma montanha, enquanto as chamas espectrais rugiam em erupção. No meio daquele fogo, os limites de todas as coisas começaram a se dissipar. O Névoa do Mar tornou-se um corpo espiritual, e os marinheiros também. Aquilo parecia a colisão de uma ilusão contra outra ilusão.

    O imediato Aiden arregalou os olhos de terror. Viu a proa e o mastro do Banido vindo diretamente contra ele e, num instante seguinte, passando por ele sem causar qualquer dano. Por um breve momento, ele invadiu uma das cabines do Banido, onde colunas antigas e lamparinas em chamas passaram zunindo perto de sua orelha — até que avistou o convés elevado na popa do Banido, com a imponente figura que estava atrás do leme.

    Tyrian deu um passo para trás por instinto, mas logo em seguida endireitou os ombros, como se ainda pudesse ouvir os ensinamentos de seu pai, ditos na infância:

    【”Não recue. Nunca se curve diante das ondas e do vento!”】

    Assim, ele levantou a cabeça e encarou a tormenta diante de si — o pai que havia sido levado pelo Subespaço e retornara ao mundo dos vivos.

    Então, ficaram frente a frente a uma distância mínima. A estrutura da popa do Banido invadiu diretamente a ponte de comando, e a posição de Duncan estava a apenas alguns passos do assento do capitão do Névoa do Mar.

    Por um instante, era como se o mundo inteiro tivesse se calado.

    Uma voz grave e autoritária ecoou nos ouvidos de todos:

    “Estou ocupado.”

    Tyrian arregalou os olhos em choque e virou-se bruscamente na direção de onde a voz viera.

    No entanto, aquele encontro fugaz já havia terminado. As duas ilusões navegando a toda velocidade haviam se sobreposto apenas por um instante brevíssimo. O casco etéreo do Banido passou ao redor do Névoa do Mar como uma rajada de vento, e quando Tyrian finalmente se deu conta, ele e seus tripulantes já haviam retornado ao estado físico.

    Correu até a vigia do outro lado da ponte e viu o Banido avançando a toda velocidade na direção da cidade-estado de Pland — deixando o Névoa do Mar para trás.

    A embarcação de aço foi gradualmente parando sobre a superfície do mar. A força invisível que a impulsionava se dissipara, e agora ela voltava a estar sob o controle do timoneiro. O sistema de propulsão, seriamente danificado, fora finalmente desligado com sucesso graças ao esforço dos marinheiros, mas reiniciá-lo novamente não parecia algo fácil.

    “…O que foi aquilo agora há pouco?” Aiden coçou a cabeça completamente calva, com uma expressão confusa no rosto robusto. “Aquele navio… só foi embora? Não era pra ser uma batalha até a morte?”

    O mestre marinheiro respondeu com um ar ainda abalado: “…Parece que desde o começo ele nem tinha intenção de lutar até a morte. Mal reduziu a velocidade… só passou por cima da gente e seguiu em frente…”

    “Foi aterrorizante… Cheguei a sentir meu coração voltando a bater…”

    As vozes agitadas dos tripulantes chegavam aos ouvidos de Tyrian, mas ele não tinha disposição alguma para ouvi-las. Na mente dele, ecoava repetidamente apenas aquela breve frase:

    【”Estou ocupado.”】

    Foi o que seu pai dissera — sem emoção, longe de qualquer saudação calorosa entre familiares, frio como se estivesse diante de um estranho. Mas, ainda assim, era uma frase clara e racional, algo que um ser humano podia entender.

    E não um grito enlouquecido vindo do Subespaço.

    “Capitão.” Aiden aproximou-se, observando com preocupação o Tyrian silencioso. “E agora… o que faremos?”

    Tyrian despertou de seus pensamentos e ergueu a cabeça: “O navio ainda consegue se mover?”

    “Dificilmente. Os motores estão desligados. Pra consertar, vai levar um tempo… E muita gente se feriu na colisão — ferimentos feios, tipo… pedaço espalhado pra todo lado, vai dar trabalho até pra juntar com pá”, Aiden balançou a cabeça, e sua testa reluzente refletiu a luz ambiente. “Mas o mais estranho de tudo é que os que foram atingidos diretamente pelos canhões do Banido… esses estão bem. A Primeira e a Terceira baterias simplesmente sumiram, e quem estava dentro caiu no buraco, mas sem um arranhão…”

    “Os que foram atingidos pela onda de choque ficaram gravemente feridos, e os atingidos diretamente… sobreviveram?” Tyrian repetiu, surpreso, e em seguida franziu o cenho. “Como isso é possível…”

    “Talvez… seu pai não tenha atirado pra matar?” Aiden lançou um olhar cauteloso ao capitão. “Pelo que vimos dos tiros do Banido, parece que ele só queria fazer o Névoa do Mar parar…”

    “Isso não…” Tyrian murmurou por reflexo, mas logo fechou a boca. Após alguns segundos em silêncio, balançou levemente a cabeça. “Façam o possível para restaurar os sistemas do navio. Ao mesmo tempo, enviem uma mensagem para Pland: digam que fizemos o possível para interceptar o Banido, mas ele ainda assim avançou rumo à cidade-estado… O resto agora está nas mãos da poderosa marinha da cidade. Nós já fizemos nossa parte.”

    Aiden acenou em reconhecimento e saiu imediatamente — mas poucos minutos depois, voltou correndo em grande pressa: “Capitão! Não conseguimos mais contato com Pland!”

    “Sem contato?” Tyrian franziu o cenho. “O campo de sinal foi afetado pela batalha?”

    “Não é isso — ainda conseguimos captar os sinais dos postos de patrulha oceânicos, mas Pland… nada. Nenhum sinal, nenhum canal responde”, respondeu Aiden rapidamente, com uma expressão de perplexidade. “É como se toda a cidade-estado tivesse desaparecido do rádio… o que, a essa distância, é simplesmente impossível. E não é só o telégrafo — nem mesmo a comunicação psíquica da capela está funcionando!”

    “Nem a comunicação psíquica?!” Dessa vez, a expressão de Tyrian mudou drasticamente. Ao mesmo tempo, ele se lembrou da conduta incomum do Banido, que avançara a todo custo rumo à cidade. Um sentimento intenso de inquietação começou a tomar conta de seu coração. “Quando a comunicação foi interrompida? Alguém estava monitorando a estação?”

    “A última transmissão foi ontem. Tínhamos feito uma comunicação rotineira com o Departamento Portuário de Pland, tudo estava normal naquele momento”, Aiden respondeu, recordando rapidamente. “Capitão, o que faremos agora? Vamos voltar?”

    Ao dizer isso, ele hesitou por um instante, com um olhar indeciso: “Essa situação… já ultrapassou em muito o que havíamos planejado.”

    Tyrian manteve o rosto tenso, sem dizer nada por vários segundos. Por fim, soltou um longo suspiro.

    “Vamos para Pland — assim que o Névoa do Mar estiver operacional, partimos.”

    Aiden demonstrou surpresa, mas após um breve instante, esse imediato leal se endireitou com firmeza: “Sim, capitão!”


    As águas revoltas ao redor pouco a pouco voltaram à calma, restando apenas o som constante das ondas atingindo o casco.

    O estrondo ensurdecedor dos canhões ainda ecoava na mente de Duncan, que coçou instintivamente o ouvido — não estava exatamente acostumado com aquele tipo de combate repentino.

    A voz do Cabeça de Bode soou: “Agora há pouco, quando acelerou direto na direção do Névoa do Mar, achei que fosse conversar com Tyrian… Afinal, é um ‘reencontro’ com certo peso.”

    “Era o plano no começo”, Duncan respondeu despreocupadamente. “Mas mudei de ideia no último instante.”

    “Por quê?”

    “… Quando o vi, percebi que não tinha ideia do que dizer”, respondeu Duncan com franqueza. Desde que revelara certas coisas ao Cabeça de Bode, já não falava mais com tanto cuidado como antes. “No fim das contas, a gente mal se conhece.”

    “…Entendi, você que manda”, o Cabeça de Bode não discutiu, mas acrescentou: “Mas seria bom pensar em como vai lidar com seus dois ‘filhos’. Afinal, todos parecem ter vida longa. Um dia ou outro, vai acabar reencontrando os dois — e manter boas relações familiares é essencial para o destino! Lembro-me de uma vez que…”

    “Cala a boca”, Duncan cortou o monólogo sem esforço, e em seguida pareceu se lembrar de algo, com uma expressão curiosa no rosto. “Falando nisso… tá faltando alguém a bordo dessa vez.”

    O Cabeça de Bode hesitou: “Faltando alguém? Está falando de…”

    “Alice não veio. Tá cuidando da loja na cidade-estado”, disse Duncan, com tom relaxado — até um pouco divertido. “De repente me ocorreu: Tyrian já serviu sob o comando da Rainha de Geada, e Alice… tem o rosto da Rainha de Geada. Imagina se ela tivesse aparecido no navio agora há pouco? Tyrian ia passar dias remoendo isso depois…”

    Cabeça de Bode: “…”

    “Ué, por que ficou quieto? Você normalmente fala pelos cotovelos.”

    “Não me sinto confortável comentando sobre assuntos de família…” respondeu o Cabeça de Bode. “Mas, depois do que disse… admito que a cena teria sido curiosa. Que tal voltarmos lá? Dessa vez levando a senhorita Alice…”

    Duncan obviamente ignorou essa ideia absurda. Após dois segundos de silêncio, comentou de repente: “Não imaginava… então você é do tipo que também gosta de uma boa diversão.”

    “‘Gosta de uma boa diversão’… o que quer dizer?”

    Mas Duncan não respondeu. Apenas levantou lentamente a cabeça, olhando para um ponto distante no mar.

    No instante anterior, ele sentira com clareza a conexão entre si mesmo — no Banido — e seu corpo na cidade-estado de Pland. Conseguira até mesmo perceber as chamas se espalhando por toda a cidade.

    Exatamente como havia previsto: Agora que estava suficientemente próximo, o vínculo entre o Banido e Pland… havia se fortalecido!

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