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Capítulo 122 — Cidade dos Corajosos
Rhyssara foi recebida na sala dos vencedores com o gesto habitual de sempre. Os guerreiros se levantaram de seus assentos, levaram o punho fechado ao peito esquerdo e fizeram uma reverência.
Cassian, Helick e os demais estavam reunidos em um canto do cômodo, sentados em um grande sofá estofado em vermelho, deveras confortável.
A imperatriz cruzou o corredor e pegou um cacho de uvas da grande mesa central, repleta de comidas e bebidas que enchiam os olhos.
— Passaram mais de vocês do que eu esperava. Parabéns — disse ela, cumprimentando o grupo.
Seus olhos azuis repousaram por mais tempo sobre Tály, que, embora estivesse comendo e bebendo com os demais, mantinha o olhar distante, fixo nas manoplas apoiadas em seu colo.
— Como está se sentindo, Tály?
A soldado piscou, como se os pensamentos estivessem vagando longe dali, e ergueu os olhos.
— Estou bem. Só cansada.
— E em relação ao seu ARGUEM? Ainda consegue senti-lo? Já tinha experimentado algo assim antes?
Helick se surpreendeu com o tom de Rhyssara. Havia uma certa urgência, quase ansiedade, em suas perguntas.
— Não… Nunca tinha feito nada parecido antes — respondeu Tály, tentando se recompor ao se lembrar do momento em que a mana havia inundado seu corpo.
Rhyssara não recuou. Continuou:
— O que sentiu naquele instante? Consegue descrever?
Cassian, que estava ao lado do irmão, percebeu o cansaço nos olhos da companheira e interveio:
— Ela está exausta, imperatriz. Dê a ela um tempo. Pergunte amanhã.
O tom dele deixava claro que aquilo não era um pedido.
— Seu tom está mudando, príncipe herdeiro. Está quase falando como um rei… Ou será que é apenas preocupação demais com essa soldado? — provocou Rhyssara, pegando uma uva com a língua e comendo-a com gosto.
A pergunta teve um tom retórico e divertido, ainda mais quando Tály, apesar da pele morena, deixou transparecer um leve rubor.
— Agradeço a preocupação, príncipe. Amanhã responderei tudo o que a soberana quiser saber.
Poucos minutos depois, com todos alimentados e prontos para partir, Rhyssara se levantou.
— Vamos. Precisamos encontrar uma hospedaria na cidade. Por sorte, conheço este lugar como a palma da minha mão — disse, espreguiçando-se com os braços estendidos.
— Já sabe onde ficaremos? — perguntou Morgan.
— Sim. Há um lugar onde costumo ficar nas raras vezes em que passo mais de um dia aqui na Cidade dos Corajosos.
Com isso, ela tomou a dianteira, liderando o grupo para fora da sala, rumo à cidade.
Ao atravessarem o arco da porta que levava aos corredores de pedra negra, decorados com flâmulas imperiais por toda a extensão, se depararam com o homem que havia feito os céus caírem não muito tempo atrás.
Suzano estava encostado em uma parede próxima à saída da arena. Um pedaço de palha queimava entre seus lábios, e ele exalava fumaça enquanto tragava com calma.
— Os guardas disseram que pediu para que eu a esperasse aqui antes de voltar para casa, imperatriz — disse ele, descartando o fumo e fazendo uma reverência à soberana. — Em que posso ser útil?
Os olhares do grupo se tornaram cautelosos, desconfiados. Diante deles estava alguém que parecia um dragnaro em presença. Redgar, em especial, exibia uma fúria contida. Sua habitual neutralidade parecia desmoronar, talvez influenciada pela armadura anã que ajudava a calibrar suas emoções.
— Não se preocupem. Suzano é um velho conhecido meu — disse Rhyssara. — Ele mora na melhor casa desta cidade. Podemos ficar lá até a próxima batalha de ascensão para a Cidade de Ferro.
Um brilho avermelhado escapou do anel que pulsava no dedo médio de Redgar.
— Espera… Você já o conhecia? Sabia do que ele era capaz e mesmo assim deixou a Any enfrentá-lo?
Rhyssara voltou seus olhos azuis para o soldado, com uma calma fria e quase ameaçadora.
— Ela disse que queria enfrentar o mais poderoso. Não entendo sua preocupação. Afinal, ela é basicamente imortal. E, mesmo que não fosse, foi uma escolha dela como desafiante.
— Calma, Red… — disse Helick, pousando a mão no ombro do amigo. — Pode ter doído ver nossa companheira perder e sofrer daquele jeito, mas como a imperatriz disse: foi uma escolha dela. E ela está bem na Muralha Externa.
Redgar recuou um passo. Seu rosto retornou à neutralidade, mas o brilho vermelho do ARGUEM permaneceu.
— Então terei convidados hoje — disse Suzano com a sua voz rouca. — Sigam-me, por favor.
Eles finalmente adentraram as ruas da Cidade dos Corajosos. A primeira impressão foi de semelhança com a Muralha Externa: ruas calçadas, movimento constante. Mas os príncipes logo notaram algo a mais, algo invisível aos olhos.
Presenças mágicas.
Eles nunca haviam percebido o quanto seu sentido para mana era aguçado. Talvez por sempre estarem cercados de pessoas mágicas em Lyberion. O silêncio mágico da Muralha Externa contrastava fortemente com a cidade atual, repleta de indivíduos poderosos.
— Está sentindo isso, Helys? — perguntou Cassian.
Helick, atento aos arredores, respondia como quem mentalmente mapeava a região:
— Sim… Então realmente conseguimos perceber mana assim…
Morgan, que caminhava próximo, se aproximou:
— Do que vocês estão falando?
— Nada demais. Apenas que conseguimos sentir mana… com um tipo de previsão estranha — respondeu Cassian, de forma quase ríspida, como se não quisesse falar uma palavra a mais do que o necessário com Morgan.
— O que isso quer dizer?
— Veja ali — indicou Helick, apontando para um feirante que vendia um punhal a um casal. — O vendedor não tem ARGUEM, mas posso sentir mana nas armas. Provavelmente ele é um forjador que usa técnicas parecidas com as dos anões que utilizam Diamante Negro.
— Verdade — continuou Cassian, analisando o casal. — O homem é muito mais poderoso que a mulher. Tipo, duas ou três vezes mais.
— Espera… Vocês conseguem perceber isso só sentindo a mana? — Morgan parecia realmente impressionado. — Desde quando?
Os príncipes deram de ombros.
— Nunca falamos sobre isso. Até pouco tempo, nem sabíamos que o outro também sentia.
O assunto foi interrompido por um grande CSR que parou diante deles. Era muito maior do que o veículo que haviam usado para chegar a Ossuia — mais quadrado, com placas brancas e rodas de aro largo. Por dentro, o espaço era generoso.
Suzano se aproximou, e um homem que parecia o cocheiro desceu.
— Aqui está seu CSR, senhor Suzano — disse o homem.
— Obrigado, Cehris. Pode ir para casa hoje. Eu mesmo guiarei o corcel até meus aposentos.
O cocheiro fez uma reverência e seguiu seu caminho.
— Podem entrar — disse Suzano. Sua voz rouca tinha um tom surpreendentemente amigável, acompanhada por um sorriso sereno.
Houve uma breve hesitação, mas Morgan e Rhyssara foram os primeiros a entrar no grande veículo.
Morgan acomodou-se em um dos doze assentos na parte de trás, enquanto Rhyssara tomou a única poltrona ao lado do condutor.
— Vamos, quero tomar um banho logo — chamou Rhyssara, apressando os demais.
A ordem foi atendida.
Conforme iam se acomodando, Cassian fez um movimento rápido e se sentou entre Morgan e Tály, evitando que os dois ficassem lado a lado mais uma vez.
Helick soltou um riso discreto com a atitude do irmão, mas seu divertimento foi interrompido por um clarão branco que tomou sua visão. Tudo ao seu redor desapareceu, dando lugar a uma sala branca, com uma centelha de gelo flutuando no centro. Instintivamente, ele aguçou a audição.
Uma voz ecoou:
“Nesse ritmo não haverá tempo suficiente. Vocês precisam ir direto para a Muralha Central. Rápido.”
Pensamentos aceleraram em sua mente. “O que era aquela voz? Mana? Minha Centelha Mágica? Mas… mana não tem vontade própria. E aquela voz… era decidida. Sabia o que queria.”
“O que é você?” — ele perguntou mentalmente.
Não obteve resposta. Apenas sentiu as cores do mundo retornando com violência.
— …magia e tecnologia podem ser forças surpreendentes quando usadas em conjunto, não acha, Helys?
As palavras de Cassian ficaram no ar. Ele logo percebeu que o irmão acabara de ter mais uma visão.
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