Hora da Recomendação, leiam Fagulha das Estrelas. O autor, P.R.R Assunção, tem me ajudado com algumas coisas, então deem uma força a ele ^^ (comentem também lá, comentários ajudam muito)
Talvez passe a usar mais esse espaço para recomendar outras obras (novels ou outras coisas que eu achar interessante ^^)
Capítulo 317: Encarando o Horror
Este navio estava impregnado com as cores da memória, mas quanto mais tempo Tyrian permanecia a bordo, mais ele percebia que, afinal, muitas coisas aqui eram diferentes de suas lembranças.
Como os objetos que pareciam vivos, correndo pelo navio.
Como as velas espirituais que haviam perdido sua forma física e flutuavam como véus de névoa nos mastros.
E como o estranho imediato na cabine do capitão — a bizarra escultura que seu pai chamava de “Cabeça de Bode”.
Ele se sentou do outro lado da mesa de navegação, observando os objetos que eram ao mesmo tempo familiares e estranhos. Muitas coisas ainda podiam ser encontradas em sua memória, apenas com mais marcas do tempo. Seu pai sentou-se à sua frente, contando-lhe sobre os acontecimentos entre a Igreja do Mar Profundo e o Banido, enquanto a inquisidora de Pland, sentada ao lado do pai, acrescentava detalhes de vez em quando.
O desenrolar dos fatos estava completamente além de suas expectativas.
“Uma… enviada secreta”, repetiu o grande pirata com um tom peculiar, usando as mesmas palavras de Vanna, sua expressão bastante sutil. “A ação da Igreja… é mais ousada do que eu imaginava.”
“Para ser sincero, isso também me surpreendeu no início”, disse Duncan com um sorriso. “Aquela Papisa é uma pessoa… indecifrável. Não sei quanto do que ela diz vem do coração, e quanto vem dos interesses da Igreja e da vontade da Deusa da Tempestade, Gomona. Mas, de qualquer forma, o desenvolvimento disso está de acordo com minhas ideias. Eu realmente preciso de uma ponte para me comunicar com as igrejas dos quatro deuses e de uma ajudante especializada em lidar com cultistas.”
“Lidar com cultistas…”, Tyrian mostrou uma expressão pensativa. “Ainda me lembro de você ter mencionado aqueles Aniquiladores e as pistas encontradas no Obsidiana…”
“Eu o trouxe aqui por isso”, Duncan assentiu levemente e, em seguida, tirou casualmente a caixa de tabaco do bolso. Depois de abrir a tampa, ele apresentou o conteúdo a Tyrian. “Esta é a pista que encontrei nas profundezas do Obsidiana: a carne do Senhor das Profundezas.”
Tyrian prendeu a respiração. Embora soubesse que não deveria haver perigo com seu pai presente, ele não pôde deixar de sentir um pouco de tensão no momento em que a caixa se abriu. Em seguida, ele viu o “pedaço de carne” do tamanho de um polegar.
Uma sensação indescritível de pavor e repulsa subiu instantaneamente ao seu coração, como o arrepio instintivo que se sente ao encontrar uma fera feroz estando desarmado. O pedaço de carne apenas jazia inerte na caixa de metal, mas ele ainda sentia como se estivesse sendo encarado por uma entidade viva, de imenso poder e vontade grandiosa!
Tyrian desviou o olhar quase que instantaneamente. Quando se deu conta, percebeu que o suor frio escorria por sua testa.
“Você está bem?”, Duncan notou a reação dele e franziu ligeiramente a testa. “Por que sua reação é mais forte que a de Morris e Vanna?”
Ainda abalado, Tyrian perguntou instintivamente: “Eles não reagiram tanto assim?”
“Nós sentimos repulsa e perigo, mas não tivemos uma… manifestação tão intensa”, disse Vanna imediatamente. “O que você sentiu agora?”
Tyrian contou sinceramente o que sentiu naquele instante, e em seguida, franziu a testa, olhando para o pedaço de carne, com inúmeros pensamentos surgindo em sua mente.
“Não sei se é impressão minha, mas senti que essa coisa… estava me encarando por um instante”, disse ele. “Como se estivesse viva… ou como se algo ‘por trás’ dela estivesse lançando um olhar.”
Duncan e Vanna se entreolharam imediatamente.
Trazer Tyrian aqui foi realmente a decisão certa. Sem o contato real, alguns detalhes e pistas dificilmente viriam à tona.
Este pedaço de carne, suspeito de ser um fragmento do Senhor das Profundezas, reagia de forma especial à aproximação e ao olhar de Tyrian!
“Será que é porque você participou do Projeto Abismo anos atrás?”, Duncan refletiu por um momento e expressou sua conjectura. O Projeto Abismo era a maior particularidade que ele conseguia pensar sobre Tyrian neste caso.
Tyrian não respondeu de imediato, mas refletiu por alguns segundos antes de levantar a cabeça: “Você pode confirmar se o Obsidiana realmente esteve nas Profundezas Abissais de Geada?”
“Não posso, pois não há provas diretas, mas minha intuição me diz que ele retornou de lá”, disse Duncan com franqueza. “As características que o navio apresenta são muito semelhantes à sua descrição de uma ‘cópia’.”
Tyrian permaneceu em silêncio por um tempo, apenas encarando a pequena caixa de metal preta sobre a mesa, parecendo hesitar e ponderar. Depois de um tempo, ele finalmente falou: “Posso dar mais uma olhada?”
“Tem certeza?”, Duncan olhou nos olhos de Tyrian. “Isso pode ser perigoso. Se foi realmente o Projeto Abismo que criou uma conexão entre você e essa coisa, cada contato que você tiver com ela fortalecerá essa conexão.”
Tyrian ficou em silêncio por dois segundos, e então um leve sorriso apareceu em seu rosto: “…No seu navio, as coisas não devem piorar a ponto de chegar ao pior cenário, certo?”
“…Se algo realmente escapar, eu cuidarei disso”, Duncan assentiu levemente e empurrou a pequena caixa de metal, que ele havia guardado, de volta para Tyrian. “Aja com cautela e me avise imediatamente se algo acontecer.”
Tyrian assentiu, respirou fundo e voltou seu olhar para o pedaço de carne do Senhor das Profundezas.
Quase em um piscar de olhos, a sensação de repulsa e tensão ressurgiu, e a sensação de ser observado por uma presença grandiosa atingiu sua percepção com força. A conexão estabelecida pelo poder transcendente era como uma onda avassaladora que açoitava sua mente, e seu instinto de sobrevivência quase o fez fechar os olhos instantaneamente.
Mas desta vez, ele resistiu ao seu instinto, não desviou o olhar e não tentou interromper ou resistir à vontade que surgia em sua mente.
E foi durante essa persistência mais longa que ele finalmente confirmou o que havia sentido vagamente antes:
A vontade e a força que emanavam desta “carne do Senhor das Profundezas”… na verdade, não continham malícia.
Todo o medo, perigo e repulsa que ele sentia eram apenas o resultado da intimidação natural causada por um poder grandioso. O olhar escondido do outro lado da carne… era, na verdade, apenas um olhar pálido.
O coração de Tyrian se moveu. Ele levantou a cabeça, pronto para contar ao pai sua descoberta.
No entanto, no segundo seguinte, ele se viu cercado por uma escuridão caótica — a cabine familiar e as figuras na sala haviam desaparecido de sua vista.
Ele se levantou, surpreso, com o instinto de pegar sua arma, mas logo percebeu que estava desarmado. Ele olhou ao redor com cautela, tentando enxergar algo naquela escuridão caótica, mas descobriu que sua visão parecia estar coberta por um véu negro. Mesmo colocando as mãos na frente dos olhos, ele só conseguia ver um contorno nebuloso.
Era uma forte interferência mental; sua consciência estava sendo guiada e perturbada por algo.
Mas ele ainda não sentia malícia.
Tyrian ficou parado naquela escuridão, um tanto perdido. De repente, ele pareceu ouvir um som.
Um farfalhar veio de trás dele. Algo enorme estava se movendo. Uma presença levemente fria se aproximou da sua nuca.
O coração de Tyrian se apertou instantaneamente, e ele se virou de repente.
Um membro gigantesco e bizarro, com listras azuis pálidas misturadas a um marrom-escuro, estendeu-se diante dele na escuridão.
O membro, semelhante a um tentáculo, mas com um comprimento surpreendente de centenas de metros, erguia-se na escuridão como um pilar macio. A protuberância amorfa na ponta do tentáculo já estava a menos de um metro de Tyrian. E à distância, na direção de onde o tentáculo se estendia, uma estrutura ainda maior e mais indescritível emergia lentamente da escuridão!
Parecia uma montanha, uma cidade, uma coisa caótica capaz de enlouquecer um mortal instantaneamente. Era algo que dificilmente poderia ter sido moldado pelo mundo real, nem poderia ser a criação de qualquer deus em seu juízo perfeito. Parecia um tipo de molusco do mar profundo, uma mistura de estrela-do-mar e lula, mas no segundo seguinte, sua superfície, que parecia fumaça e névoa, começou a se agitar, dando origem a incontáveis tentáculos, mãos, pés, olhos e gargantas, tudo em constante mudança.
Nesse breve instante, os olhos de Tyrian se arregalaram ao máximo. Um turbilhão de pensamentos ressoava em sua cabeça. Ele não sabia se sentia medo, tendo perdido temporariamente a capacidade de julgar suas próprias emoções. Ele apenas observava o tentáculo que se estendia balançar levemente à sua frente, como se quisesse se comunicar com ele, transmitir alguma informação, mas ele era incapaz de compreender o rugido ensurdecedor misturado à avalanche de informações.
Na superfície daquele tentáculo, olhos se abriram, muitos e muitos olhos. Tyrian encarou aqueles olhos e, de repente, pareceu finalmente “ouvir” uma mensagem compreensível vinda deles e da “entidade principal” distante e montanhosa:
“… Corra.”
“Boom!”
Um estrondo aterrorizante explodiu em sua mente, como se uma enorme força de repulsão estivesse rasgando sua mente à força e a jogando de volta ao mundo real. Tyrian quase perdeu a consciência, mas quando pensou que sua alma seria despedaçada naquela escuridão sem fim, um brilho de fogo verde-espectral apareceu em sua visão.
As chamas vieram uivando e o envolveram completamente.
Todas as imagens aterrorizantes se dissiparam nas chamas.
Antes que ele pudesse reagir, as terríveis “visões” e sons se dispersaram como um sonho — ele estava de volta à cabine do capitão do Banido.
Regras dos Comentários:
Para receber notificações por e-mail quando seu comentário for respondido, ative o sininho ao lado do botão de Publicar Comentário.