Índice de Capítulo

    Hora da Recomendação, leiam Fagulha das Estrelas. O autor, P.R.R Assunção, tem me ajudado com algumas coisas, então deem uma força a ele ^^ (comentem também lá, comentários ajudam muito)

    Talvez passe a usar mais esse espaço para recomendar outras obras (novels ou outras coisas que eu achar interessante ^^)

    O último corredor que levava à casa de máquinas era abafado e escuro. A vibração e o rugido irritantes da maquinaria pareciam perfurar o cérebro incessantemente. As luzes na parede pareciam ter problemas com o fluxo de ar instável, e as chamas dentro dos lampiões tremiam e piscavam.

    Mas nada disso se comparava à opressão crescente da sensação de dissonância e tensão, nem à tontura causada pela sua mente se partindo gradualmente.

    Belazov controlava seus passos e sua expressão.

    Quanto mais se aproximava das profundezas do Andorinha do Mar, mais firmes eram seus passos e mais calma, como de costume, era sua expressão.

    Havia tripulantes conversando no corredor. Eles usavam estranhos… “sobretudos” de couro, a pele de seus rostos era enrugada e seus sons pareciam um zumbido.

    Belazov caminhou em direção a eles. Sua mente lhe dizia que aqueles tripulantes eram seus soldados, mas ele não conseguia se lembrar de seus nomes.

    “General?”, um soldado se aproximou, olhando para Belazov com curiosidade. “Tem alguma ordem?”

    “Só vim verificar a situação da casa de máquinas”, respondeu Belazov ao soldado desconhecido com uma expressão calma. “Permaneçam em seus postos.”

    O soldado o observou, depois fez uma saudação e recuou: “Sim, general.”

    Belazov passou por entre eles com passos firmes e normais. Ele podia sentir os olhares dos soldados sobre ele por um momento, mas logo eles se desviaram.

    ‘Eles são mesmo meus soldados? São mesmo tripulantes do Andorinha do Mar? Eles são a coisa oculta? Ou algum tipo de lacaio? Eles notaram? Ou já estão em alerta? No próximo segundo… esses soldados sem nome vão se jogar sobre mim?’

    Belazov suprimiu todos os pensamentos em seu coração até chegar à entrada da casa de máquinas e abrir a comporta que não estava trancada.

    Um ruído mecânico ainda mais ensurdecedor o atingiu.

    O núcleo a vapor funcionava a toda potência. O recipiente esférico gerava uma energia surpreendente e avassaladora. Um complexo sistema de tubulações sibilava no teto da casa de máquinas, e enormes bielas e engrenagens giravam rapidamente na estrutura de aço no final da câmara.

    A máquina funcionava alegremente, até… o ponto de ser frenético.

    Como se uma alma inquieta estivesse impulsionando as pesadas engrenagens de aço a girar em velocidade máxima, impulsionando este navio em direção à cidade do mundo civilizado em sua velocidade limite.

    Até o silvo vindo dos canos de vapor parecia misturado com sussurros indistintos.

    O corpo de Belazov balançou um pouco, mas ele logo se estabilizou e caminhou em direção ao núcleo a vapor.

    Um sacerdote balançava um incensário em frente a uma válvula. De repente, ele se virou e olhou para o general que entrava na casa de máquinas. O emblema da igreja preso em seu peito parecia manchado com uma camada de óleo, tornando o símbolo sagrado nele indistinto.

    “General?”, o sacerdote lançou um olhar curioso. “Por que veio aqui de repente? Aqui…”

    “Vim ver… a situação do núcleo a vapor”, disse Belazov, seu olhar pousando no incensário nas mãos do sacerdote.

    Aquela pequena bola de carne balançava suavemente no ar, e um olho pálido se abriu nela.

    Ele ergueu a cabeça novamente, olhando para as máquinas a vapor em funcionamento e para o sistema de tubulações sibilantes.

    O gás que escapava dos canos de vapor tinha um tom sangrento, e as bordas das engrenagens que giravam rapidamente estavam borradas e distorcidas. Parecia que algo estava parasitando esta enorme máquina, substituindo o vapor originalmente sagrado por sua alma cheia de malícia.

    A máquina fora contaminada e estava em um estado profano — esse pensamento surgiu na mente de Belazov por um segundo, mas logo se desfez com o vento.

    Mesmo assim, ele continuou caminhando em direção ao console de controle do núcleo a vapor. Mesmo que aquele enorme “coração de aço” parecesse perfeitamente normal aos seus olhos, ele lentamente estendeu a mão para o console.

    “General”, um mecânico com manchas de óleo no corpo se aproximou de repente, colocando a mão na frente da alavanca de controle. “Não toque nisso, as máquinas às vezes são muito frágeis.”

    Belazov levantou a cabeça e olhou para o mecânico.

    Este último apenas respondeu ao seu olhar com calma.

    Mas, de repente, os lábios do mecânico se moveram algumas vezes.

    Belazov franziu ligeiramente a testa e leu algumas palavras na forma dos lábios do mecânico:

    “Máquina possuída. Impossível desligar ou destruir.”

    Belazov hesitou por um momento, e então viu o mecânico se virar de lado, movendo os lábios levemente enquanto mexia nas alavancas.

    “Sacerdote não confiável… situação fora de controle… Procedimento Vinte e Dois.”

    Procedimento Vinte e Dois?

    O coração de Belazov se apertou, mas ele logo soube o que fazer.

    O mecânico conhecia o “coração” deste navio melhor do que ninguém.

    Ele se virou e saiu da casa de máquinas, mas não foi para nenhuma outra cabine. Depois de deixar o corredor do porão, ele manteve sua postura calma e voltou para sua cabine de capitão.

    De vez em quando, soldados se aproximavam para cumprimentá-lo. Alguns lhe davam uma impressão vaga, outros ele não conseguia nomear de forma alguma.

    Com certeza ainda havia humanos sãos e normais entre esses soldados, mas Belazov não tinha como distingui-los, nem tempo para contatar ou verificar individualmente as trinta pessoas a bordo além dele e do mecânico.

    Ele trancou a porta da cabine do capitão por dentro, foi até o cofre ao lado da escrivaninha e começou a girar o disco da fechadura de combinação. No som nítido e agradável dos cliques, seus dedos ficaram cada vez mais pálidos pela força.

    Com um leve clique da trava se abrindo, a porta do cofre se abriu.

    O olhar de Belazov passou pelo compartimento de documentos e pousou no botão vermelho na parte inferior da caixa.

    Ao lado do botão, uma pequena linha de texto estava anotada: Procedimento Vinte e Dois, para uso apenas em circunstâncias extremas.

    Belazov estendeu a mão para o botão e, quase ao mesmo tempo, ouviu uma batida na porta: “General, o senhor está aí? Recebemos uma ordem de Geada que requer sua atenção pessoal.”

    Era a voz do ajudante de ordens.

    Uma ponta de hesitação surgiu de repente no coração de Belazov:

    ‘E se eu julguei errado?

    ‘E se, na verdade, não há nada de errado com o navio, e o problema sou apenas eu? Fui eu que sofri uma contaminação leve, resultando em desvios cognitivos e de memória, talvez até alucinações auditivas e visuais durante todo o caminho… Se for esse o caso, então agora estou prestes a sacrificar um navio inteiro de homens para pagar por minha neurose!’

    “General, o senhor está aí? Recebemos uma ordem de Geada…”

    A batida na porta ficou um pouco mais urgente.

    Mas foi essa batida que despertou Belazov de repente. Ele percebeu que aqueles pensamentos provavelmente não condiziam com sua personalidade… Ele não era do tipo que hesita no último passo de uma ação.

    Alguém estava injetando “impurezas” em seu pensamento!

    “Malditos filhos da puta heréticos!”

    Belazov não hesitou mais nem por um segundo e instantaneamente pressionou o botão vermelho.

    Após um atraso extremamente breve, uma terrível explosão varreu todo o navio — o navio rápido mecânico Andorinha do Mar foi instantaneamente engolido por um clarão e chamas, desintegrando-se na destruição terrível causada por explosivos de alta potência.

    Os destroços em chamas do Andorinha do Mar flutuaram na superfície do mar por um tempo e foram gradualmente empurrados pelas correntes em direção às águas ao norte de Geada. Então, sua flutuação finalmente chegou ao limite — os destroços incandescentes começaram a afundar em um ritmo acelerado, como se estivessem sendo arrastados por uma força invisível. Sua velocidade de afundamento aumentou cada vez mais, até que desapareceram completamente da superfície do mar.


    Ao mesmo tempo, na cidade-estado de Geada, perto do Cemitério Nº 3, o velho guarda de casaco preto e costas levemente curvadas caminhava lentamente de volta do centro da cidade.

    Ele acabara de ir às ruas próximas para comprar alguns itens de necessidade diária. A hora se aproximava do crepúsculo, e ele precisava retornar ao seu “posto” antes da troca de turno.

    O caminho para o cemitério era profundo e silencioso, com poucos pedestres, mas mesmo assim, ocasionalmente, moradores dos bairros próximos passavam por aquele atalho.

    Ao notarem a figura do velho guarda, eles instintivamente ajustavam seus passos, mantendo uma pequena distância daquele velho sombrio e curvado.

    Eles não o detestavam, mas sentiam um medo instintivo. Isso não se devia apenas à atmosfera sinistra e bizarra do cemitério, mas também à personalidade solitária e indiferente do velho. Mesmo entre todos os guardas do cemitério, que já eram mais ou menos sombrios, o velho guarda do Cemitério Nº 3 era considerado o mais intimidador de todos.

    Ele estava naquele posto há tanto tempo que ele próprio adquirira um toque da “aura dos mortos”.

    Isso até gerou alguns rumores terríveis — diziam que luzes pálidas eram vistas flutuando sobre as grades do cemitério à noite, e que essa era a alma do guarda, há muito tempo separada de seu corpo. Outros diziam que o terrível velho se deitava em um caixão à meia-noite, parando de respirar junto com os mortos e despertando ao nascer do sol no dia seguinte.

    Esses rumores bizarros e assustadores envolviam o cemitério e o guarda, e o guarda solitário e excêntrico parecia nunca se importar com isso. Na verdade, ele quase não interagia com os moradores próximos. Exceto por saídas ocasionais como hoje para comprar suprimentos, ele passava a maior parte do tempo na pequena cabana do guarda dentro do cemitério, e seus contatos diários eram apenas com os Agentes Funerários da igreja.

    Ele não achava isso ruim.

    Manter os vivos longe do mundo dos mortos, para que os primeiros não tivessem curiosidade excessiva e evitassem o mal, e os últimos pudessem desfrutar da tranquilidade após a morte e seguir seu caminho em paz — essa era a sua responsabilidade.

    Ele guardava o cemitério e também a cidade do lado de fora do cemitério.

    O velho levantou a cabeça, olhou para o portão do cemitério não muito longe e, de repente, parou.

    Hoje, a situação parecia um pouco especial.

    Havia uma pequena visitante.

    Caso queira me apoiar de alguma forma, considere fazer uma doação

    Regras dos Comentários:

    • ‣ Seja respeitoso e gentil com os outros leitores.
    • ‣ Evite spoilers do capítulo ou da história.
    • ‣ Comentários ofensivos serão removidos.
    AVALIE ESTE CONTEÚDO
    Avaliação: 100% (2 votos)

    Nota