Índice de Capítulo

    Hora da Recomendação, leiam Fagulha das Estrelas. O autor, P.R.R Assunção, tem me ajudado com algumas coisas, então deem uma força a ele ^^ (comentem também lá, comentários ajudam muito)

    Talvez passe a usar mais esse espaço para recomendar outras obras (novels ou outras coisas que eu achar interessante ^^)

    Anne não sabia o que estava acontecendo. Ela mal teve tempo de ver dois estranhos parados no portão do cemitério antes de sua visão ser bloqueada pelo corpo ligeiramente curvado do Velho Guarda, e a voz um pouco nervosa do velho chegou a seus ouvidos: “Criança, não olhe para lá.”

    A garotinha ficou um pouco nervosa: “Vovô Guarda, o que foi?”

    “Não se mexa, não fale, está tudo bem”, disse o velho em voz baixa, enquanto seu olhar permanecia na figura robusta. Uma de suas mãos estava ao seu lado, bloqueando o olhar inquieto de Anne, enquanto a outra pressionava seu peito, onde havia um amuleto que, se necessário, poderia ser usado para acionar o alarme de todo o cemitério.

    A figura robusta se aproximou.

    Os músculos do velho se tencionaram.

    “Bom dia”, uma voz grave veio de debaixo das grossas ataduras, como se ecoasse de uma tumba. “Esta deve ser minha primeira ‘visita formal’.”

    Era uma comunicação verbal clara, e a atitude era amigável — como nos contatos anteriores, este “visitante” inominável mostrava uma postura amistosa.

    Mas os músculos do Velho Guarda não ousavam relaxar. Ele havia pensado que este visitante voltaria mais cedo ou mais tarde, e imaginado em que circunstâncias conversaria com ele, mas nunca pensou que ele simplesmente apareceria abertamente no portão do cemitério para cumprimentá-lo. Ele não sabia se Anne, atrás dele, seria afetada pelo visitante, então só podia se colocar o máximo possível entre os dois, pensando rapidamente em como agir.

    O nervosismo do velho estava totalmente visível para Duncan.

    ‘Ele parece ainda mais nervoso do que na primeira vez que nos encontramos. É por causa da criança que ele está protegendo?’

    “Relaxe”, disse Duncan, com um toque de sorriso na voz. “Não tenho nenhuma hostilidade, e muito menos machucaria essa criança atrás de você.”

    “Sei que o senhor é amigável, mas sua própria existência pode afetar pessoas comuns”, disse o Velho Guarda com cautela, tentando formular suas frases para não ofender o visitante à sua frente. “Esta criança não recebeu treinamento sobrenatural.”

    “Oh, então ela está bem segura”, disse Duncan. “Ela não pode ver, você deveria saber disso.”

    O Velho Guarda ficou em silêncio por um momento. Ele sabia o que o outro queria dizer e que Anne, como uma pessoa comum, provavelmente não seria afetada por certos poderes sobrenaturais como ele. Mas ele ainda não relaxou, apenas perguntou com cautela: “O que o senhor deseja desta vez?”

    “Aquela sacerdotisa não está aqui?”, Duncan olhou curiosamente para o cemitério. “Tenho algumas coisas importantes para dizer a ela.”

    “Ela acabou de sair”, disse o Velho Guarda, tornando-se ainda mais cauteloso ao ouvir a menção a Agatha. “O que o senhor quer com ela?”

    Ele fez uma pausa e acrescentou: “Posso contatá-la a qualquer momento. O guarda do cemitério também é um clérigo e pode contatar diretamente a catedral e a Guardiã do Portão.”

    “Ah, isso é bom, vai me poupar algum trabalho”, disse Duncan, enfiando a mão no bolso. Este gesto deixou o guarda do cemitério visivelmente nervoso. Vendo isso, ele sorriu e balançou a cabeça. “Não fique nervoso. Se eu realmente tivesse más intenções, não precisaria levantar a mão.”

    Ao terminar de falar, ele já havia tirado uma carta selada do bolso do casaco e a entregou ao velho.

    “Entregue isto para aquela ‘Guardiã do Portão’ chamada Agatha, ou entregue diretamente à sua catedral”, disse Duncan casualmente. “É apenas uma mensagem. O importante é que a mensagem chegue.”

    Uma… carta? Era mesmo uma carta?!

    O Velho Guarda olhou atônito para o que o outro tirou. Ele a pegou instintivamente e só então se deu conta. Piscou, confuso, nunca imaginando que um visitante inominável desceria em forma física ao cemitério apenas para lhe entregar uma carta.

    Ele virou o envelope para olhar o verso.

    No verso do envelope, podia-se ver a marca e o número de uma pequena gráfica local. Não era nenhuma “missiva ritualística” condensada por poder sobrenatural. Foi comprada em uma banca de jornal na esquina, talvez até mesmo comprada de passagem esta manhã.

    O velho ergueu a cabeça, seus olhos ligeiramente turvos e amarelados cheios de dúvida e questionamento.

    “Apenas uma pequena contribuição para a segurança da cidade-estado”, Duncan sorriu, mas sua expressão amigável estava completamente bloqueada pelas ataduras. Seu olhar então passou pelo Velho Guarda e pousou na garotinha que se escondia atrás dele. “Eu te assustei?”

    “Não”, Anne balançou a cabeça, olhando cautelosamente por entre os dedos do velho para a figura alta e robusta à sua frente. “Eu sou muito corajosa.”

    “Tenho uma sobrinha que também é muito corajosa”, disse Duncan, olhando para o velho. “Esta criança é…”

    “Apenas uma visitante que queria ver o cemitério. Uma pessoa comum sem relação com a igreja”, disse o velho imediatamente, relaxando um pouco ao perceber que Anne realmente não foi afetada. “Eu estava justamente a aconselhando a voltar para casa. O tempo está terrível hoje.”

    “É fácil escorregar em dias de neve”, Duncan assentiu e, olhando para a garotinha, perguntou casualmente: “Qual é o seu nome? Quantos anos você tem?”

    O coração do Velho Guarda se apertou. Ele queria lembrar Anne, que nunca teve contato com o sobrenatural, para não falar, já que revelar seu nome a um praticante sobrenatural de alto nível e de origem desconhecida era uma ação extremamente perigosa.

    Mas ele foi lento demais.

    “Meu nome é Anne”, disse a menina sem nenhuma desconfiança. “Anne Barbieri, tenho doze anos!”

    Um silêncio repentino caiu sobre a entrada do cemitério.

    Duncan olhou silenciosamente para a garotinha que espiava por trás do Velho Guarda, observando seus olhos e os contornos de suas sobrancelhas, que lembravam vagamente os do Capitão Christo Barbieri.

    Ele apenas perguntou casualmente, mas não esperava… que fosse uma coincidência tão grande.

    O som de passos na neve veio do lado. Alice olhou com surpresa para a garotinha que se apresentara como “Anne Barbieri” e se virou para Duncan: “Ah, eu me lembro do sobrenome Barbieri. Não é…”

    Duncan se abaixou lentamente, nivelando seu olhar com o da menina, e falou com um tom o mais gentil possível: “Seu sobrenome é Barbieri?”

    Talvez porque a atmosfera mudou de repente, Anne pareceu um pouco nervosa. Ela se encolheu atrás do Velho Guarda: “Sim, é.”

    “Capitão Christo Barbieri, que relação ele tem com você?”

    “Ele é… meu pai”, disse Anne em voz baixa. Ela então agarrou instintivamente as roupas do Velho Guarda e olhou para ele, como se pedisse ajuda.

    No entanto, o velho não reagiu. Ele apenas parecia chocado, como se tivesse se lembrado de algo, olhando para Duncan com uma expressão de incredulidade e, ao mesmo tempo, olhando com desconfiança para a jovem de véu e cabelos loiros.

    “Você é a filha do Capitão Christo. Você e sua mãe moram na Rua da Lareira?”, Duncan olhou para a garotinha e fez outra pergunta.

    Anne assentiu apressadamente e, em seguida, pareceu se dar conta: “Você… conhece meu pai?”

    “…Já nos vimos, embora não nos conheçamos muito bem”, disse Duncan em voz baixa. “Ele me pediu para visitar você e sua mãe. Eu ainda não tive a chance de procurá-los. Não esperava encontrá-la aqui.”

    Anne arregalou os olhos de surpresa.

    O Velho Guarda ao seu lado fez o mesmo.

    “Meu pai, ele…”, Anne abriu a boca, mas não conseguiu pensar no que dizer por um bom tempo. Depois de lutar para organizar suas palavras, ela perguntou cautelosamente: “Ele realmente já morreu… não é?”

    Duncan assentiu levemente.

    “Então… ele ainda será trazido para cá?”, Anne perguntou apressadamente. “Os adultos dizem que as pessoas que acreditam no deus da morte, suas almas retornam ao cemitério de Bartok após a morte e são guiadas até aquele grande portão. O Vovô Guarda me disse que este cemitério é…”

    Enquanto Anne falava, sua voz foi diminuindo.

    Na verdade, há muito tempo ela já não acreditava mais no que o velho lhe dissera.

    Ela já tinha doze anos.

    Duncan de repente estendeu a mão e afagou a cabeça de Anne. Um floco de neve que ainda não havia derretido caiu do gorro de lã grosso e se misturou com a neve acumulada.

    “O Capitão Christo foi um homem incrível, muito incrível. Ele já chegou ao reino de Bartok e está descansando em paz lá.”

    Anne ergueu a cabeça e piscou.

    Ela ainda não entendia muito bem o que as palavras de Duncan significavam. Ela nem mesmo entendia que tipo de existência era a figura alta e robusta à sua frente.

    Mas o guarda do cemitério ao seu lado reagiu abruptamente.

    O velho de repente segurou os ombros de Anne, impedindo-a de continuar a falar. Em seguida, ele ergueu a cabeça e olhou diretamente nos olhos de Duncan: “O que o senhor disse… é a verdade?”

    “…Acredito que sim”, Duncan pensou um pouco. Ele não sabia exatamente como funcionava o tal portão do deus da morte Bartok, nem o que acontecia com os humanos após a morte. Mas, diante de uma criança, ele sabia o que dizer — e era algo que ele desejava de todo o coração. “Eu mesmo o acompanhei em sua partida.”

    As pupilas do Velho Guarda se contraíram levemente, mas ele rapidamente escondeu a mudança em sua expressão.

    “Eu também já devo ir”, disse Duncan. Ele olhou para Anne, que ainda estava um pouco confusa, e depois para o guarda do cemitério. “Embora eu ainda tenha muito a dizer, tenho muitas coisas para fazer. Nos vemos em outra oportunidade.”

    “E não se esqueça da carta.”

    O Velho Guarda piscou. Antes que pudesse abrir a boca, ele viu apenas uma chama verde-espectral brilhar e desaparecer diante de seus olhos.

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