Hora da Recomendação, leiam Fagulha das Estrelas. O autor, P.R.R Assunção, tem me ajudado com algumas coisas, então deem uma força a ele ^^ (comentem também lá, comentários ajudam muito)
Talvez passe a usar mais esse espaço para recomendar outras obras (novels ou outras coisas que eu achar interessante ^^)
Capítulo 339: A Investigação de Agatha
O visitante partiu, tão subitamente quanto chegou.
O Velho Guarda do cemitério ficou um pouco atordoado. Ele olhou para a direção onde a chama se dissipou, mas sua mente ainda remoía as muitas informações reveladas na breve conversa. Foi só quando Anne, ao seu lado, puxou sua manga que o velho despertou de repente.
Ele abaixou a cabeça e viu Anne olhando para ele com inquietação. Nos olhos da menina, além de desamparo, havia nervosismo e confusão.
Talvez ela já entendesse a vida e a morte, mas ainda não compreendesse completamente o que acabara de acontecer.
O Velho Guarda se curvou, suas articulações velhas e rígidas doendo um pouco no frio do inverno. Ele estendeu a mão e tirou a neve dos ombros de Anne: “Anne, não tenha medo, nada de ruim aconteceu.”
“Vovô Guarda…”, os lábios da menina se moveram. Ela tentava ao máximo organizar suas palavras, mas não sabia por onde começar a perguntar. “Aquela pessoa de agora…”
“Não pergunte, não pense demais. Como dizem nos livros da escola, não se intrometa em conhecimentos que não são para os mortais. Você só precisa saber que ele era um visitante, que não tinha más intenções com você, e agora ele se foi. Sua conexão com ele termina aqui.”
“E o meu pai…”
“Seu pai pode ter feito algo grandioso, além da imaginação de todos nós”, disse o Velho Guarda em voz baixa, afagando os cabelos da menina. “Anne, não se preocupe mais. Ele não está mais vagando pelo mar, foi para um lugar melhor. Volte e conte para sua mãe. Ela espera por essa notícia há muito tempo.”
Anne franziu os lábios e, após uma longa hesitação, confirmou em voz baixa: “Desta vez, é verdade?”
“É verdade”, o Velho Guarda sorriu. “Você não é mais uma criança de seis anos.”
Anne assentiu, como se entendesse, e depois se despediu do Velho Guarda do cemitério. Ela se virou e caminhou em direção ao pequeno caminho que levava ao quarteirão. Seguindo as marcas de pneu que ainda não haviam congelado, ela caminhou lentamente para casa, desaparecendo gradualmente no fundo da paisagem prateada da cidade.
Em frente à entrada do cemitério, o Velho Guarda olhou na direção do pequeno caminho por um longo tempo. Só quando a figura de Anne desapareceu na esquina da rua ele soltou um leve suspiro.
Desta vez, a criança não caiu.
Ele então levou a mão ao bolso e sentiu o objeto ali dentro: uma carta que parecia conter inúmeros segredos.
Vinda de um visitante inominável, mesmo seu material aparentemente comum poderia conter conhecimentos e mistérios inimagináveis. O que essa carta… significava?
O olhar do Velho Guarda tornou-se gradualmente sério. Ele se virou e voltou para o cemitério, acenando com a mão para trás. O pesado portão de ferro forjado se fechou com um rangido.
O cemitério não abriria mais hoje.
Agatha olhou com uma expressão séria para os fragmentos espalhados no chão. O vento frio que soprava incessantemente na entrada do beco agitava seus longos cabelos. O ar gelado se infiltrava pelas frestas de suas roupas e ataduras. Naquele frio cortante, parecia ainda estar congelado o medo e o desespero dos dois Aniquiladores em seus momentos finais.
Vários guardas de preto estavam ocupados por perto. A equipe que chegara antes para processar a cena já havia bloqueado as entradas e saídas do beco, e havia pessoal investigando pistas nos becos adjacentes. O trabalho de coleta de provas prosseguia de forma ordenada, mas a confusão no coração de Agatha não diminuía.
Que tipo de poder transformaria uma pessoa em fragmentos como uma boneca de porcelana?
Até o momento, nenhum poder divino ou feitiço herético conhecido produzia tal efeito. Nem mesmo os variados feitiços usados pelos Demônios Abissais apresentavam esse fenômeno bizarro.
A jovem Guardiã do Portão ergueu sua bengala e, com a ponta de estanho, cutucou um dos fragmentos. O pedaço pálido, semelhante a cerâmica, rolou no chão, emitindo um som nítido.
Ele virou, revelando cerca de metade de um rosto, incluindo lábios, a ponte do nariz e um olho.
Mesmo incompleto, ele congelava claramente a expressão de terror do cultista no momento de sua morte.
E… um leve sorriso bizarro?
Agatha franziu a testa. Ela podia ver que os lábios no fragmento de cerâmica tinham uma curva suspeita, como se um sorriso tranquilo e sereno estivesse prestes a surgir, mas foi congelado. E essa leve curva, juntamente com o terror que preenchia o olho, aparecendo no mesmo rosto, tornava tudo ainda mais bizarro e assustador.
Após um momento de reflexão, ela balançou a cabeça e se dirigiu para a outra “cena” no fundo do beco.
Uma pilha de restos quase carbonizados estava amontoada no beco. Ao redor dos destroços, ainda era possível ver vestígios de uma batalha violenta e de uma explosão. A área afetada era grande, mas o processo de combate foi claramente esmagador — e, ao mesmo tempo, de um estilo de luta completamente diferente da pilha de fragmentos na entrada do beco.
Um sacerdote que examinava a cena se levantou de perto dos destroços, tirou as luvas e acenou para Agatha: “Um sacerdote da Aniquilação que completou uma purificação profunda. A julgar pelo grau de deformidade da carne, sua força não era fraca. Teoricamente, mesmo contra uma equipe completa de doze guardas, ele teria a chance de contra-atacar e escapar. No entanto, foi resolvido rapidamente, e quase não há vestígios de contra-ataque.”
Agatha franziu ligeiramente a testa: “Consegue identificar o oponente dele?”
O sacerdote balançou a cabeça: “O método de ataque mais simples e direto, força bruta pura. Isso torna difícil identificar a outra parte. No entanto, encontramos vestígios de condensação de vapor de água anormal por aqui. Esta pode ser a única pista.”
“Condensação de vapor de água… só essa pista?”, disse Agatha em voz baixa, olhando para trás, para a entrada do beco. “Dois estilos de luta completamente diferentes, hein.”
“Sim, um simples e direto, o outro bizarro e perigoso. O ponto em comum é que ambos são muito poderosos. O herege de nível sacerdote não teve chance de contra-atacar”, o sacerdote assentiu. “A única boa notícia é que eles são claramente inimigos do Culto da Aniquilação.”
“O inimigo do nosso inimigo não é necessariamente nosso amigo”, Agatha balançou a cabeça. “Além do mais, eles claramente têm a tendência de agir furtivamente. Não querer se mostrar já é algo que merece muita cautela.”
Nesse ponto, ela fez uma pausa e perguntou: “E a investigação com os moradores da vizinhança?”
“Os moradores próximos ouviram o barulho da luta, mas a maioria não se atreveu a espiar. Só podemos julgar a hora e a duração da batalha com base no que eles disseram: ocorreu por volta da uma da manhã e durou talvez menos de três minutos.”
“Só isso? E o resto?”
“Por enquanto, não há mais informações”, o sacerdote abriu as mãos. “Já organizei pessoal para ir de casa em casa investigar, incluindo os becos mais distantes, para ver se encontramos relatos de testemunhas sobre estranhos. Mas a Rua da Lareira é um quarteirão muito grande, provavelmente não teremos resultados em pouco tempo.”
Nesse momento, passos um tanto apressados vieram do lado, interrompendo a conversa entre Agatha e o sacerdote.
Um guarda de cabelo castanho curto entrou rapidamente no beco e se aproximou do sacerdote para relatar a situação.
“Dentro do prédio?”, ouvindo o relatório de seu subordinado, o sacerdote franziu a testa imediatamente e olhou para o prédio do outro lado do beco.
Agatha, vendo isso, perguntou imediatamente: “O que aconteceu?”
“Encontramos algo na casa número quarenta e dois”, disse o sacerdote imediatamente. “Há uma mulher Sen’jin que foi atacada por um poder sobrenatural e caiu em sono profundo, e um quarto no segundo andar foi contaminado por uma substância bizarra.”
No Cemitério N° 3, dentro da cabana do guarda, o Velho Guarda trancou a porta cuidadosamente e depois se aproximou da escrivaninha no canto com uma expressão séria.
Ele já havia instruído os guardas do lado de fora a manterem vigilância perto da cabana e a colocarem proteções suficientes no terreno ao redor — mas isso não era o bastante.
Ao chegar à escrivaninha, ele tirou de uma gaveta incenso, óleos essenciais, velas e pós de ervas, e começou a montar um altar poderoso.
Acendeu as velas em posições específicas, adicionou óleos e pós de ervas, abençoou toda a escrivaninha com o aroma do incenso e colocou o incensário no meio dos castiçais, construindo de acordo com o simbolismo do altar. Ele preparou tudo com habilidade, cada movimento como se tivesse sido ensaiado mil vezes.
Essa era a competência que se esperava de um veterano.
Alguns minutos depois, o altar estava pronto.
O Velho Guarda suspirou levemente, olhando para as chamas pálidas das velas e para a fumaça rala do incenso que se condensava sobre a mesa como se fosse tangível. Ele podia sentir que o poder do deus da morte, Bartok, havia descido brevemente sobre a cabana, com sua bênção pairando sobre a escrivaninha, estabilizando a ordem do espaço-tempo ali, e também seu próprio espírito.
Para entrar em contato com conhecimento inominável, nenhuma medida de preparação, por mais rigorosa e complexa que fosse, era excessiva.
Ele se sentou lentamente, completou uma prece em sua mente e só então, com grande solenidade, tirou a carta do bolso.
O velho examinou o envelope.
Era o que o visitante inominável lhe dera. Ele instruiu que fosse entregue à Guardiã do Portão, Agatha, mas também disse que bastava que a mensagem chegasse à grande catedral de Geada. Em suas palavras, não havia proibição de que outros abrissem a carta.
‘Se é apenas para transmitir uma mensagem, então eu posso ler e retransmitir.’
Afinal, o guarda do cemitério era a primeira linha de defesa para a catedral.
O velho suspirou levemente, completamente preparado, e pegou o abridor de cartas ao lado, abrindo cuidadosamente o envelope aparentemente comum.
Uma folha de papel dobrada deslizou para fora.
Com uma expressão de solenidade sem precedentes e uma determinação quase martirial, o Velho Guarda desdobrou lentamente o papel.
As palavras “Carta de Denúncia” saltaram aos seus olhos.
O Velho Guarda: “…?”
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