Índice de Capítulo

    Hora da Recomendação, leiam Fagulha das Estrelas. O autor, P.R.R Assunção, tem me ajudado com algumas coisas, então deem uma força a ele ^^ (comentem também lá, comentários ajudam muito)

    Talvez passe a usar mais esse espaço para recomendar outras obras (novels ou outras coisas que eu achar interessante ^^)

    Agatha sabia que a vida do Bispo Ivan se aproximara do fim muitos anos atrás. Sob aquelas bandagens bem apertadas, na verdade, quase não havia mais carne e osso. O que o mantinha de pé, além do milagre concedido por Bartok, era apenas uma alma tenaz.

    Poucas pessoas sabiam o que realmente aconteceu com o corpo do bispo. Mesmo Agatha, como Guardiã do Portão, só sabia que fora um “acidente” ocorrido muitos e muitos anos atrás. O Bispo Ivan nunca falava com ninguém sobre a verdade daquele “acidente”, inclusive com ela.

    Naturalmente, Agatha também não tocaria voluntariamente nesse segredo.

    A mente do Bispo Ivan estava visivelmente pesada. Ele permaneceu em silêncio e, depois de muito tempo, disse de repente: “Estamos enfrentando uma crise.”

    “Sim, Bispo Ivan”, Agatha assentiu. “Farei tudo ao meu alcance para descobrir a verdade e destruir as conspirações daqueles Aniquiladores.”

    “Não, você não entende”, o Bispo Ivan balançou a cabeça. “A ‘verdade’ desta crise pode estar além da nossa compreensão e imaginação, Agatha. As atividades daqueles cultistas podem ser parte desta crise, mas certamente não são tudo. Eu tenho um pressentimento…”

    Agatha franziu a testa ligeiramente: “Um pressentimento?”

    “Uma aura semelhante, como cinquenta anos atrás… antes do caos eclodir. Toda a cidade estava impregnada de uma atmosfera muito parecida com a de hoje”, disse o Bispo Ivan lentamente. “A mesma cidade-estado aparentemente normal, mas cheia de detalhes bizarros e inexplicáveis, como se de repente estivéssemos vivendo em um sonho onde a verdade e a falsidade são indistinguíveis. Ocasionalmente, vislumbramos as cenas terríveis na beira do sonho, mas nossas mentes mortais patéticas se recusam a entender tudo isso, e isso nos impede de ver a verdade que está bem diante de nós… Você tem essa sensação? Como se… a distorção estivesse bem na nossa frente, mas estivéssemos sempre de olhos fechados.”

    “Eu não entendo…”, Agatha hesitou. “Você quer dizer, interferência cognitiva? Essa interferência já afetou nosso julgamento?”

    O Bispo Ivan não respondeu. Apenas após vários segundos de silêncio, ele de repente mencionou um tópico aparentemente não relacionado: “Agatha, eu já te contei sobre a ‘Última Guarda da Rainha’ de cinquenta anos atrás? Já mencionei a ‘Segunda Via Fluvial’ nas profundezas da cidade-estado?”

    “Segunda Via Fluvial?”, Agatha ficou surpresa, e algumas informações surgiram em sua mente. “Eu sei um pouco sobre isso. Fazia parte da vasta instalação subterrânea que a Rainha de Geada construiu para a cidade-estado, mas com o fim da era da Rainha, esta instalação inacabada foi abandonada. Hoje, devido a graves desabamentos e enorme pressão financeira, ela continua abandonada. A maioria das pessoas nem sabe de sua existência.”

    “Sim, abandonada. Apenas pessoas como você, uma Guardiã do Portão, ou velharias como eu, ainda sabem disso”, disse o Bispo Ivan, balançando a cabeça.

    “E o que é essa ‘Última Guarda da Rainha’?”, perguntou Agatha. “Por que você mencionou isso de repente?”

    “A Última Guarda da Rainha foi uma tropa que se recusou a se render depois que o exército rebelde invadiu o palácio da Rainha, e lutou até o fim usando as instalações subterrâneas da cidade-estado”, a voz do Bispo Ivan era baixa, como se ele estivesse perdido em memórias. “Seu último reduto foi a entrada da Segunda Via Fluvial. Depois disso, eles explodiram todos os poços de conexão e se enterraram no subsolo. E a razão pela qual mencionei isso hoje… é porque de repente me lembrei de um boato daquela época.”

    O olhar de Agatha tornou-se sério: “Um boato?”

    “Diz-se que… quando os poços foram explodidos, os soldados que atacavam o subsolo de repente ouviram sons estranhos vindos das profundezas. No subsolo completamente desabado, a Última Guarda da Rainha de repente começou a gritar, como se estivessem atacando alguém”, o Bispo Ivan relembrou lentamente. “Por muito tempo depois disso, muitas pessoas relataram ter ouvido sons de gritos de guerra e cargas vindos das profundezas. Eventualmente, surgiu o boato de que a ‘Última Guarda da Rainha’ havia se transformado em uma legião mutante nas profundezas, lutando diariamente na escuridão, com a fúria fervendo, apenas esperando o momento mais vulnerável da nova ordem estabelecida pelos traidores para emergir do subsolo e acertar as contas do passado…”

    A expressão de Agatha tornou-se grave: “O momento mais vulnerável da nova ordem… você disse agora que estamos enfrentando uma crise além da compreensão, e que a cidade está impregnada de uma atmosfera semelhante à de cinquenta anos atrás. Seria este o momento mais vulnerável? Aquela lendária ‘Guarda da Rainha’ emergirá do subsolo? Você acredita que essa lenda é verdadeira?”

    “Eu não acredito nessa lenda. A Guarda da Rainha foi completamente aniquilada, eu vi com meus próprios olhos. Mesmo que…”, o Bispo Ivan parou de repente, como se pensasse em algo, mas balançou a cabeça. “Mesmo que houvesse alguns sobreviventes que viveram temporariamente na Segunda Via Fluvial, eles não poderiam ter vivido até hoje. Os poucos descendentes que sobreviveram no mundo não podem abalar o governo da cidade-estado, mesmo que estejamos enfrentando uma crise agora.”

    Agatha não falou por um tempo. Após mais de dez segundos de silêncio, ela disse de repente: “A lenda da ‘Última Guarda da Rainha’ pode ser falsa, mas é verdade que existem grandes áreas descontroladas no subsolo de Geada. Você não está preocupado com a Guarda da Rainha que desapareceu há cinquenta anos, mas com outra coisa escondida na Segunda Via Fluvial?”

    “Nós já vasculhamos toda a cidade por um longo tempo. Embora tenhamos capturado muitos Aniquiladores, todos eram peixes pequenos e insignificantes, e a maioria não possuía técnicas de ocultação muito fortes. Com eles, seria impossível criar tantas ‘cópias’ e ‘contaminação por Primal’ na cidade-estado, muito menos causar a anomalia na Ilha Adaga”, o Bispo Ivan assentiu. “Agora parece que os peões que pegamos são mais como soldados desgarrados que ‘vazaram’ de um grande ninho. A maioria das áreas da cidade já foi vasculhada mais de uma vez. Se tivermos que dizer que há algum lugar que não foi procurado… receio que seja apenas nas profundezas do subsolo.”

    Agatha ponderou por um momento e disse, incerta: “Mas, de acordo com os registros, a maior parte da Segunda Via Fluvial está gravemente desabada, isolada em uma rede mortal de túneis. Somando-se a isso a contaminação por substâncias tóxicas e as vastas áreas de escuridão, é impossível sobreviver lá embaixo. Os Aniquiladores também são seres vivos. Exceto por alguns poucos sacerdotes que quase se transformaram em demônios das Profundezas, a maioria dos Aniquiladores ainda precisa de um ambiente de vida humano normal… Como eles poderiam se esconder naquele lugar o tempo todo?”

    “Pelo menos deveríamos procurar”, disse o Bispo Ivan lentamente. “Começando a busca pelos pontos de desabamento ao redor da Mina de Ouro Fervente.”

    Agatha pensou um pouco e assentiu levemente: “Isso exigirá a cooperação da prefeitura. Equipamentos de proteção, maquinário para trabalho subterrâneo, pessoal de engenharia profissional… a Grande Catedral não tem reservas disso.”

    “Eu irei negociar”, o Bispo Ivan assentiu. “Liste o pessoal e o equipamento de que precisa, eu encontrarei uma maneira de conseguir para você.”

    “Certo, vou te dar a lista antes do meio-dia”, Agatha não foi cerimoniosa. “Além disso, antes que o pessoal e os suprimentos cheguem, quero ‘conversar’ um pouco mais com os Aniquiladores que já foram capturados, para ver se eles podem revelar alguma informação útil…”


    A noite recuou, e o céu clareou. O Fenômeno 001 começou a se erguer da borda da cidade-estado, o sol brilhante subindo gradualmente no céu. O anel duplo de runas varreu as altas torres e telhados, e a luz do sol trouxe calor, dissipando o frio acumulado durante a noite.

    Na entrada do Cemitério Nº 3, o pesado portão de ferro forjado e entalhado se abriu com um rangido. O portão varreu a neve no chão, deixando dois arcos em forma de asas abertas. O velho guarda, vestindo um casaco velho, parou em frente ao portão aberto do cemitério, respirou fundo e olhou para o céu que havia clareado.

    O céu estava claro, mas por alguma razão, aquela manhã ensolarada não conseguiu acalmar a inquietação em seu coração. O velho guarda olhou na direção das ruas da cidade, e o som fraco de carros e cavalos que chegava aos seus ouvidos parecia turvo e barulhento, como o vento inquieto da noite anterior.

    Até mesmo o céu claro do momento parecia falso.

    Ele resmungou algumas queixas e depois olhou para a rampa em frente ao cemitério.

    As rugas no rosto do velho se suavizaram por um momento, mas no segundo seguinte, todas as rugas se contorceram novamente, e sua testa franziu-se com força.

    Ele viu uma pequena figura aparecer na rampa, caminhando em sua direção com dificuldade, mas cheia de energia. Ao notar o olhar do velho, a figura parou deliberadamente e acenou alegremente em sua direção.

    O velho guarda fez uma cara séria.

    Ele esperou a outra se aproximar e, depois que Anne começou a bater a neve das calças e das botas, ele falou com uma expressão hostil: “Você veio de novo. Ontem tive um dia de paz, pensei que você finalmente ficaria em casa. Hoje veio de novo?”

    “Ontem eu também queria vir”, Anne mostrou a língua. “Mas mamãe disse que havia muita neve na estrada ontem, e eu só poderia sair depois que o limpa-neve limpasse a avenida principal…”

    Depois de falar, sem esperar o velho abrir a boca, ela já pegou um pequeno pacote com familiaridade e o entregou: “Biscoitos!”

    “…Estou comendo biscoitos todos os dias agora”, o velho olhou para o que ela lhe entregava, sua pálpebra tremeu, mas ele ainda pegou. “Agradeça à senhora Beroni por mim.”

    Anne sorriu feliz.

    “O que mais?”, o velho guarda olhou para a menina à sua frente. “Hoje o cemitério não está aberto para visitas.”

    “Nada, só vim conversar com o senhor”, disse Anne com um sorriso largo. “Sabia? Recentemente, alguns novos hóspedes se mudaram para a nossa casa. Adivinha quem são?”

    Uma criança de doze anos realmente não é boa em guardar segredos.

    “Não estou interessado”, o velho guarda se sentiu inexplicavelmente irritado e acenou com a mão, impaciente. “A casa é de vocês, podem alugá-la para quem quiserem. O que isso tem a ver comigo?”

    “É aquele tiozão alto, todo enfaixado e de roupa preta!”, Anne não se importou com a resposta do velho, seu sorriso tornou-se ainda mais radiante, com um tom de orgulho inexplicável. “Aquele do portão do cemitério da outra vez… Vovô guarda, o senhor está bem?”

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