Capítulo 384: Transformação

A Anomalia 077, classificada entre as cem primeiras, responsável pelo naufrágio de dezenas de navios e pela morte de milhares de marinheiros em tempestades, possuindo consciência e características de “ser vivo”, uma anomalia perigosa que qualquer cidade-estado trataria com cautela em sua igreja local — simplesmente fechou os olhos e se fingiu de morta na frente de Lawrence, recusando-se a usar seu poder.

Lawrence havia imaginado inúmeras possibilidades após ativar a Anomalia 077 e concebido vários planos para selar novamente o “Marinheiro”, mas ele nunca esperou que isso acontecesse!

O velho capitão ergueu a cabeça e trocou um olhar com seu primeiro-imediato. Ambos sentiram que a situação da múmia à sua frente não correspondia ao que estava registrado nos documentos, e ao mesmo tempo se perguntavam o que havia dado errado. Mas logo, o rugido das colunas de água do mar próximo e o som dos canhões de defesa do Carvalho Branco interromperam seu espanto.

Agora não era hora de ficar atônito, o “Andorinha do Mar” já estava quase os alcançando!

Lutar era inútil, fugir era impossível. O “Marinheiro”, com sua habilidade de teletransportar navios, era a única esperança do Carvalho Branco para escapar do perigo.

Lawrence baixou a cabeça, encarando fixamente a múmia que se fingia de morta com os olhos fechados. Não importava o que tivesse dado errado com essa coisa, ele precisava encontrar uma maneira de fazê-la cooperar e perder o controle!

“Acorde!”, Lawrence estendeu a mão e agarrou o colarinho da Anomalia 077, sacudindo-o. Ter um contato tão próximo com uma múmia era sem dúvida repugnante, mas naquele momento ele não podia mais se preocupar com isso. “Eu sei que você já está fora do selo. Ouça, este navio está sob seu comando! ‘Marinheiro’, você não tem o instinto de controlar navios? Você não tem uma tendência ativa de perder o controle? Aja! Assuma o controle deste navio, leve-nos para longe daqui!”

A múmia deitada no chão foi sacudida, emitindo um som estranho de atrito das articulações, mas ainda mantinha os olhos fechados. No entanto, o movimento óbvio de seu peito não podia enganar ninguém. Ao mesmo tempo, o som contínuo das explosões ao redor do Carvalho Branco deixava Lawrence cada vez mais irritado. Ele finalmente não pôde deixar de dar um tapa na múmia: “Eu sei que você está acordado!”

A múmia no chão finalmente não aguentou mais. Em meio a uma série de sacudidas, ela abriu os olhos, mas sua primeira reação ainda foi se esquivar para o lado, enquanto tentava evitar o olhar de Lawrence e gritava: “Não brinque! Não brinque! Eu volto a dormir, eu volto a dormir, tudo bem?! O senhor não pode fazer esse tipo de brincadeira! Este navio não pode ser tocado, não pode ser tocado!”

O que Lawrence se importava com isso? Ele viu a múmia abrir os olhos e imediatamente a arrastou para cima, puxando-a e arrastando-a em direção ao leme. Vários marinheiros ao lado reagiram e, os mais corajosos, correram para ajudar. Várias pessoas praticamente prensaram o corpo seco do “Marinheiro” na frente do leme. O primeiro-imediato ao lado gritou: “Pressione-o no leme! Assim a habilidade dele funciona mais rápido!”

No entanto, a Anomalia 077 emitia gritos agudos e lutava com uma violência anormal: “Me soltem! Me soltem!

“Vocês não podem fazer isso! Socorro, socorro!

“Que tipo de pessoas vocês são… por favor, por favor!”

“Você só precisa tocar no leme!”, Lawrence gritou enquanto usava toda a sua força para pressionar a múmia no leme. “Vai acabar logo!”

“Eu não! Socorro!”, a força de resistência da Anomalia 077 era surpreendentemente grande, a ponto de vários marinheiros corpulentos do Carvalho Branco não conseguirem segurar seus braços. Enquanto lutava freneticamente, ela se esforçava para virar a cabeça e olhar para o lugar onde estava deitada. “Me deixem voltar! Por favor! Vocês colocam aquela corda no meu pescoço, só um toque, e eu durmo obedientemente, nunca mais acordo! Ou então me deem a corda, eu me enforco… não me deixem tocar nisso!”

A ponte de comando estava um caos. A cena era bizarramente estranha ao extremo. A Anomalia 077, famosa entre os capitães e marinheiros do Mar Infinito, lutava e implorava por misericórdia como uma vítima sequestrada, enquanto os tripulantes do Carvalho Branco, em situação desesperadora, pressionavam ferozmente o braço da “anomalia” no leme. Essa cena, nem mesmo os loucos com a razão zerada em seus delírios mais selvagens poderiam imaginar, mas agora estava acontecendo de verdade no Carvalho Branco.

No entanto, Lawrence não tinha mais tempo para refletir sobre o quão errada era a situação. Ele só sabia que a silhueta do Andorinha do Mar estava cada vez mais perto, e sua precisão de tiro também estava aumentando rapidamente. O costado do Carvalho Branco já havia sido atingido continuamente, e um grande incêndio ardia na popa. Se o próximo projétil atingisse a casa de máquinas, o depósito de munição ou até mesmo a ponte de comando, estaria tudo acabado!

E enquanto pensava nisso, um assobio agudo entrou de repente em seus ouvidos. Ouvindo a direção da queda do assobio, a mente de Lawrence ficou em branco por um instante.

‘Péssimo.’

No segundo seguinte, uma explosão ensurdecedora varreu o convés superior. Uma enorme bola de fogo subiu e explodiu rente à ponte de comando. O tiro do Andorinha do Mar atingira o lado da ponte do Carvalho Branco. Este golpe… era fatal.

A onda de choque atingiu com um estrondo. Metal e vidro foram despedaçados pelo poder do projétil, e as estruturas das paredes que voavam por toda parte se tornaram estilhaços mortais. A visão de Lawrence se iluminou com um clarão ofuscante. Em seguida, ele viu seu primeiro-imediato voar, seu corpo sendo instantaneamente consumido pelas ondas de fogo que se aproximavam. Em seguida, foram os outros marinheiros na ponte, e depois ele mesmo.

O fogo consumiu tudo. Lawrence viu a bola de fogo se expandir, engolindo toda a ponte, viu seu próprio corpo queimar gradualmente nas chamas. O tempo pareceu desacelerar. Ele assistiu a tudo acontecer com clareza, até mesmo vendo as chamas se espalharem centímetro por centímetro no ar, e pouco a pouco adquirirem um tom verde-espectral. ‘Verde-espectral?’

A mente de Lawrence ficou subitamente confusa. Ele mal teve tempo de perceber o que estava acontecendo quando viu a bola de fogo vermelha que invadira a ponte se transformar instantaneamente em um mar de fogo verde-espectral. A chama espiritual lambia tudo à vista, metal, madeira, vidro, couro…

Tudo o que era queimado pela chama adquiria uma aparência semitransparente, como se fosse um corpo espiritual. E os tripulantes que haviam sido engolidos pela bola de fogo caíram no chão, um por um. Eles foram envolvidos pela chama espiritual, sua carne e ossos translúcidos como calcedônia. Então, um por um, eles se levantaram como se nada tivesse acontecido e, em meio ao choque, entreolharam-se.

Esta cena… era idêntica ao primeiro encontro com o Banido.

Como se a cena de terror que ocorrera no Carvalho Branco naquele dia estivesse se repetindo.

Uma sensação de pisar em terra firme o atingiu, e Lawrence despertou abruptamente de seu torpor. Viu que, sabe-se lá quando, já estava em frente ao leme, e seu corpo também queimava com uma chama espiritual intensa. Ele estendeu a mão para a frente instintivamente, e sua mão agarrou o leme.

Em um instante, ele sentiu:

Ele sentiu tudo sobre o Carvalho Branco, de um único parafuso a uma janela, a uma corda. Tudo estava tão claramente refletido em sua mente quanto seu próprio corpo.

Ele convivera com este navio por tantos anos, mas nunca estivera tão intimamente ligado a ele como hoje.

E junto com essa sensação, uma intenção particularmente forte invadiu sua mente. Era como se uma voz cheia de majestade infinita lhe anunciasse seu destino:

‘Agora, você é um membro da Frota do Banido. Vá e sirva lealmente ao Capitão Duncan.’

Lawrence segurava o leme, atônito, sentindo o Carvalho Branco girar agilmente com sua intenção, e pouco a pouco apontar a proa para o “navio inimigo” que se aproximava rapidamente à distância.

A Anomalia 077 ainda estava lá. A múmia estava praticamente encolhida em um canto perto do leme, tremendo enquanto observava a chama espiritual subir ao redor, e gemendo sem parar: “Eu disse que não ia tocar, o senhor insistiu para eu tocar. Eu ouso tocar? Um marinheiro que usurpa o poder é amarrado a uma bala de canhão e jogado no mar! Eu conheço as regras do navio! Eu sou um marinheiro!”

Lawrence baixou lentamente a cabeça e olhou para o “Marinheiro”. Na verdade, ele ainda estava profundamente confuso, sem entender o que estava acontecendo. Mas seu olhar fez a Anomalia 077 ficar em silêncio instantaneamente.

A múmia fechou a boca, levantou-se cautelosamente e olhou para a situação ao redor. A ponte de comando, que fora dilacerada pelo bombardeio, estava se recuperando rapidamente sob a queima da chama espiritual. Todos os tripulantes estavam em seus postos. Essas pessoas agora pareciam fantasmas, mas o instinto e a razão remanescente ainda os fizeram retornar a seus postos imediatamente, esperando a próxima ordem do capitão.

“Capitão…”, a Anomalia 077 se virou, olhando nos olhos de Lawrence. “O que o senhor pretende fazer a seguir…”

Lawrence ficou atônito por um momento e, em seguida, como se sentisse algo, baixou lentamente a cabeça.

“A Frota do Banido foi atacada… revidar.”

“Revidar!”, a Anomalia 077 gritou imediatamente. “Revidar!”

“Revidar!”, a voz do primeiro-imediato, Gus, também soou do lado. Ele estava envolto em chamas, e sua voz se misturava com o crepitar do fogo. “Ordem do capitão, revidar!”

“Revidar!”

Na ponte de comando, os tripulantes gritaram em uníssono. E em cada canto do Carvalho Branco, cada tripulante transformado em fantasma “ouviu” simultaneamente a ordem do capitão. Este navio, que se transformara em chamas, agiu imediatamente. Seu núcleo a vapor rugiu, todos os seus canhões começaram a girar, e uma sirene estridente misturada com um urro ecoou pela superfície do mar!

O navio sob seus pés começou a acelerar em direção ao Andorinha do Mar. E, quase ao mesmo tempo, Lawrence viu outra sombra ao lado do Carvalho Branco. Era outro navio, um navio quase que apenas uma silhueta escura, envolto em névoa densa e fumaça.

Seu contorno era vagamente semelhante em sete ou oito partes ao do Carvalho Branco, claramente um navio irmão do mesmo tipo.

O navio sombrio navegava lado a lado com o Carvalho Branco, acelerando e atacando o Andorinha do Mar.

Através da chama espiritual que subia constantemente, Lawrence olhou atônito para o navio de guerra fantasmagórico que aparecera de repente ao lado, no mar. Após um tempo desconhecido, ele pareceu sussurrar seu nome em um sonho:

“Carvalho Negro… Masha?”